Vaidoso, safado, conspirador e ladrão tem sido alguns adjetivos com os quais o enigmático político Ciro Gomes tem presenteado o impostor Michel Temer. Às vezes, esses mimos vêm acompanhados da gentileza com a qual torcedores costumam agraciar juízes de futebol. Tudo, entretanto, muito aquém do abominável e indescritível que possa representar esse ser repudiado por 95% dos brasileiros. Das supostas falcatruas no porto de Santos às urdiduras nos bastidores do golpe, nada serve de perfil para definir um político que mandou “bilhetinho” para Dilma Rousseff, deixou vazar discurso de posse antes do golpe e hoje empenhado em defenestrar da história um partido que ousou enfrentar a miséria do País.
Michel Temer (Fora!) encarnou o papel de barqueiro do Aqueronte - rio que no Inferno de Dante é apontado como a fronteira do Inferno. Abandonado pelos Marinhos, que já cavam sua sepultura, sente o gosto da traição e o cheiro de podre que exala do covil tucano. O impostor não consegue ajustar as placas tectônicas do terremoto provocado por Joesley Batista. Gravações, jatinhos e malas com dinheiro sugerem crimes de obstrução da justiça, prevaricação, de responsabilidade, organização criminosa, corrupção ativa e passiva. Tudo isso a se somar a um obscuro passado, já que entre 1996 e 1998, teria seu nome associado a suspeitos US$ 345 mil. Nem Sérgio Moro conseguiu ajudar, indeferindo 21 perguntas de Eduardo Cunha.
Além de queda coice, diziam os avós diante das tragédias. Agora, o usurpador moribundo se vê às voltas com os levianos ataques da revista Época. Não, leitor. Não é defesa do impostor, mas crítica ao jornalismo calhorda que de tão técnico não pode sequer ser tratado como amador. O veículo deu voz a Joesley Batista para vomitar fatos graves que dependem de prova, repetindo o leviano estilo contra Lula, Dilma PT. Entretanto, jornalismo “escatológico” à parte, para Temer não é fácil ser capa de revista como destronador de Eduardo Cunha. O barqueiro do Aqueronte acordou como o "Chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil", segundo Joesley (com aval de Época/Tio Sam). Mesmo sem provas, a necrose se alastra e abala o governo golpista.
Se de um lado o ilegítimo treme na base, outro não é o sentimento de Aécio Neves, hoje exilado em si mesmo. Já telefonou para a irmã (hoje presa), para o governador do Paraná Beto Richa, Gilmar Mendes, Leandro Daiello (chefe nacional da PF), para o senador Perrela e outros. O playboy irresponsável que aglutinou os ódios mais primários para chegar à Presidência da República sofre. Insatisfeito com a derrota, pediu a bênção de Tio Sam, levou uma horda de paneleiros às ruas e varandas para pedir a volta ao século 19. Pato murcho, 50 milhões de votos diluídos, amarga o ódio que estimulou. Vive sob ameaça de prisão, perder o mandato e com a pecha de quem quis matar o primo.
Aécio está ilhado, exilado na egolatria, no autismo político e ao mesmo tempo sedado por coisas que só o imaginário coletivo explica. Não dá pra supor como seria se assim não fosse, se reconhecesse a derrota e não estimulasse o ódio/golpe. Mas, de que adiantaria se tinha como aparente padrinho a Farsa Jato? Os vazamentos foram seletivos a serviço do golpe até que os cheques começaram a voltar sem fundos. Das brigas internas e impublicáveis no MBL (amigos de Aécio) às brigas explícitas entre Joice Hasselmann e Reinaldo Azevedo; da guerra surda Janot x Moro ao racha tucano; das denúncias vazias às ações controladas, eis o retrato cruel de uma democracia mutilada.
Talvez tudo isso explique a prisão de Sérgio Moro. Não falo da prisão sonhada pelos seus desafetos, diante dos constrangimentos sofridos para delatar. Nem das sentenças de três minutos, inovações legais, “lawfare”, convite coercitivo, prisão de blogueiro ou de acompanhante de paciente em tratamento de câncer num hospital, violação de conversa presidencial, engajamento político, fotos com Aécio, Dória, Temer. Sequer é de se falar no proposital assassinato da esperança de brasileiros que começaram a comer, vestir e sonhar. Falo da prisão a um aparente e inconfessável pacto dele sabe-se lá com quem. Deus ou USA? Moro está preso.
O tema prisão de Sérgio Moro veio à tona após assistir um suposto vídeo gravado num aeroporto (https://www.youtube.com/ watch?v=DNNUCBQec-w). Deu pena. Parecia ser ele mesmo sentado, com tique nervoso como que a estalar dedos e esfregando as mãos. Um insólito olhar perdido quase em direção à câmera. Protegido por agentes da PF, o ex-herói nacional parecia desconfiado, como se a qualquer momento pudesse sofrer um ataque da terra ou do além. É como se um homem-bomba do Estado Islâmico estivesse perto ou como se a mala que se supõe ser dele fosse o próprio explosivo. Um quê de atônito, olhar as esgueiras e de solaslaio, parecia preso ao que criou ou ajudou a criar. Que importa se era ele ou não? É de se supor que num mundo em guerra onde predomina a insanidade, não se pode distinguir herói de bandido, clones de originais.
Quem ousaria dizer que a Farsa Jato não revelou os pilares de uma sociedade de patos e paneleiros? Do mesmo modo, quem ousaria dizer que não é disso que ela se alimenta? Quem ousaria contrariar Giuseppe Tomasi di Lampedusa, quando disse ser “Preciso que tudo mude para que tudo se mantenha como está”? Quem ousaria dizer que o PT não errou? Eis, pois que, Temer, Aécio e Moro são estranhos personagens engajados no triunfo do capital em detrimento da miséria pulsante de uma sociedade escravizada.