Os escombros da guerra do golpe, por Laurez Cerqueira
O bombardeio das forças neoliberais conservadoras, no assalto que derrubou a presidenta Dilma e o PT do governo, fez do Brasil um país em escombros fumegantes. Magnatas nacionais e estrangeiros encastelados em torres de vidro intactas, fumando seus charutos, fazem grandes negócios com a ajuda de gerentes nativos de interesses externos, protegidos e sustentados pelo sistema judiciário, policial-militar, e pela mídia oligárquica.
A demolição avança sobre a Constituição e as leis, o mais importante esteio institucional do país, no Congresso Nacional, no governo e no Judiciário, com a subtração de direitos, destruição da rede de proteção e inclusão social, na entrega das riquezas do país como petróleo e gás, geração de energia, minérios, terras e água, e na violação de garantias constitucionais.
A justiça, o bem maior da democracia, e o sistema judiciário, se degeneram, dominados por facção partidária articuladas nas ações de perseguição política a adversários e proteção de correligionários.
O encarceramento do ex-presidente Lula, sem prova de nenhum crime, líder disparado nas pesquisas em todos os institutos, com chances de vencer as eleições em primeiro turno, e a proteção ao candidato Geraldo Alckmin, com a retirada do seu processo da operação Lava-jato, por ter perdido o foro privilegiado, é a mais explícita prova de que parte do judiciário trabalha para o aparelho formado para o golpe de estado e não na defesa das instituições e das leis.
A operação Lava-jato se isola e a credibilidade dos seus mais midiáticos agentes descamba ladeira abaixo.
A economia afunda em resultados negativos junto com a ideologia neoliberal conservadora. A população está entregue à própria sorte, na escalada do desemprego estrutural, que chega a 13 milhões de trabalhadores sem emprego.
O Brasil volta ao Mapa da Fome, com aumento de 11% da pobreza extrema, entre 2016 e 2017, num total de 14,8 milhões de pessoas, segundo pesquisa do IBGE.
Depois de golpe, os bancos fizeram a festa. Ostentam os maiores lucros de todos os tempos. Os quatro maiores do país tiveram aumento de 21% nos lucros, só em 2017. Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander embolsaram R$ 64,9 bilhões no ano passado. As projeções para este ano indicam que os lucros podem até dobrar o índice de 2017.
O deserto político também avança pelo ano eleitoral, num cenário desolador para os conspiradores do golpe, que não conseguem apresentar uma candidatura viável, muito menos alguém que defenda Temer e seu governo, rejeitado por mais de 90% dos brasileiros.
As autoridades judiciárias, que atuam na operação Lava-jato, se aproximam cada vez mais do abismo da desmoralização, por terem optado pelo caminho político servil.
O provinciano juiz Sérgio Moro se desespera ao perceber que Lula é um gigante político. Certamente não imaginou que todas as investidas dele contra Lula, em parceria com a mídia oligárquica, com o Supremo, com tudo, num impiedoso massacre, resultaria numa multidão de pessoas em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, no dia da prisão dele, o mesmo sindicato de onde ele saiu preso pelos militares, em abril de 1980, por comandar uma greve de trabalhadores.
Além disso, pesquisa do Instituto Ipsos apurou que 73% da população considera que “os poderosos querem impedir Lula de ser candidato à presidência da República” e que ele é um preso político.
No desespero com a imensa repercussão internacional da prisão do ex-preidente Lula, com a imprensa afirmando que ele é um preso político e que é vítima de perseguição política, o juiz Sérgio Moro sentiu que as palestras que andou dando por aí viraram pó.
Ele e a procuradora Raquel Dodge foram a Harvard, para um evento organizado apressadamente a fim de defender as lambanças judiciárias da Lava Jato . Mas é tarde. A opinião pública mundial se volta contra a perseguição política ao ex-presidente Lula. Comitês e atos em defesa do ex-presidente se espalham por todo o mundo como foi feito para a libertação do líder Nelson Mandela e o fim do “regime do apartheid ” na África do Sul.
No Supremo Tribunal Federal, “as vacas sagradas”, como o ex-senador José Paulo Bisol denominava ministros daquela corte, enroladas em mantos pretos, desfilam soberbas pela casa das vaidades, como se a Constituição e as leis do país fossem enfeites sobre as mesas.
O ministro Luís Roberto Barroso, do alto dos seus sapatos Luiz XV, tomado pelo poder absolutista, lidera uma ala de ministros e ministras, dentre elas a presidente Cármen Lúcia, que despreza as garantias constitucionais individuais e coletivas, para decidir com base em convicções pessoais, como faz o juiz Sérgio Moro.
Negaram o Habeas Corpus ao ex-presidente Lula, permitiram a prisão ilegal dele, e mandaram arquivar processos dos senadores José Serra, Romero Jucá, Aécio Neves, conspiradores do golpe de estado.
Assim está o Brasil de hoje, com instituições fumegantes e autoridades servis, o país do triunfo de cafajestes, de “Terra em Transe”, genialmente imaginado e filmado por Glauber Rocha, há 50 anos.
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