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2010 está muito longe

Um forasteiro que chegasse ao Brasil na semana passada poderia pensar que a eleição presidencial por aqui vai acontecer no próximo domingo e se limitará à disputa entre Serra e Dilma. Calma, pessoal, que 2010 ainda está muito longe.

Faltam ainda 19 meses e meio para o povo ir às urnas. Muita água vai correr por baixo da ponte, sem falar nesta tal crise economica, que não é mais marolinha, nem tsunami ainda, pelo menos por aqui, e ninguém sabe que bicho vai dar, mas certamente vai influir no ânimo dos eleitores na hora de votar no ano que vem.

Escrevi aqui mesmo no Balaio, no começo do ano: a julgar pelo cenário atual, teremos mais um confronto entre PT e PSDB, como vem acontecendo faz 15 anos, com os dois partidos se alternando no poder central.

Mas, mesmo este quadro, que hoje parece consolidado, pode mudar no longo período que nos separa da eleição de 2010, na medida em que o componente novo e inesperado da crise econômica mundial faz todo mundo rever seus planos e esperar para ver o que vai acontecer, incluindo aí os políticos e seus partidos.

O PT saiu na frente, com o presidente Lula colocando o bloco de Dilma Roussef na rua antes mesmo do carnaval, levando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a exigir que o PSDB faça logo o mesmo, ou seja, lançando já a candidatura do governador José Serra.

O problema é que no meio do caminho tem um outro governador, o mineiro Aécio Neves, que também postula a candidatura tucana e não abre mão das prévias no partido para a escolha do nome do PSDB.

Se Dilma já pode se apresentar nos palanques como a candidata de Lula _ e agora também do PT, que se rendeu à vontade do presidente com 84% de aprovação popular, como vimos em vários eventos da semana passada _, Serra não pode fazer o mesmo. Não pode sair por aí agora como candidato dele mesmo, ou de FHC, embora favorito nas pesquisas. 

O governador de São Paulo vive um dilema, no momento em que a última pesquisa Sensus mostrou um vigoroso crescimento de Dilma, pela primeira vez com dois dígitos, e leve queda nas suas intenções de voto, o que talvez tenha animado o PT a antecipar a campanha eleitoral.

Ao atrair o dissidente Geraldo Alckmin para seu governo, num lance ousado para unir o PSDB em São Paulo, que parecia fortalecer sua candidatura presidencial, ao mesmo tempo Serra deixou Aécio solto no espaço, livre para outros vôos, amuado com o prato feito oferecido pelos tucanos paulistas.

Este é apenas um dado para ninguém se precipitar nas análises feitas agora com vistas a uma eleição ainda tão distante. Basta lembrar que, um ano antes das eleições, ninguém apostava um dólar furado na candidatura de Fernando Collor, em 1989, nem na de Fernando Henrique Cardoso, em 1994.

Os dois entraram tardiamente na campanha e, em poucos meses, foram ultrapassando os favoritos, levados por uma série de circunstâncias favoráveis que mobilizaram o eleitorado a seu favor.

Isto vale também para o presidente Lula, que até o final do ano passado nadava de braçada, praticamente sem oposição, com seus índices de aprovação crescendo na mesma proporção do aumento de emprego e renda no país, no embalo do crescimento econômico.

Agora tudo mudou. Pode não ser o fim do mundo, há meses anunciado por setores da imprensa, mas também não há mais clima para muita festa e rompantes de palanque, no momento em que cresce o número de desempregados no país e se discute de quanto vai ser a queda do PIB este ano.  

Talvez seja o momento de Lula viajar menos e falar menos, dedicando-se mais em Brasília à administração dos efeitos da crise, depois de uma superexposição precoce com sua candidata Dilma, que pode começar a apanhar antes da hora, queimando seu filme de administradora austera.

De outro lado, é mais uma bobagem da oposição recorrer à Justiça para acusar o PT de fazer campanha antes do previsto no calendário eleitoral, na mesma semana em que Serra sobe em trator numa feira de máquinas agrícolas em Cascavel, no Paraná, e seu governo gasta bom dinheiro com propaganda na televisão em outros Estados.

Está na hora de baixar a bola dos dois lados.

Lula e Dilma farão melhor para a campanha dela se cuidarem de governar bem, tomando as medidas necessárias na hora certa para garantir emprego e renda, que é o que vai valer na hora do voto. Quem elege candidato do governo é um bom governo e dinheiro no bolso, mais do que uma boa campanha, por mais brilhantes que sejam os marqueteiros da hora. 

Serra e os tucanos paulistas vão ter que arrumar a casa primeiro, acertar-se com Aécio e com possíveis aliados para 2010, antes de qualquer outra coisa. Quem elege candidato da oposição é governo ruim, também é verdade, mas é preciso apresentar na campanha uma proposta, um projeto qualquer para melhorar o país, que o PSDB ainda não tem.   

Ricardo Kotscho

2010 está muito longe

Um forasteiro que chegasse ao Brasil na semana passada poderia pensar que a eleição presidencial por aqui vai acontecer no próximo domingo e se limitará à disputa entre Serra e Dilma. Calma, pessoal, que 2010 ainda está muito longe.

Faltam ainda 19 meses e meio para o povo ir às urnas. Muita água vai correr por baixo da ponte, sem falar nesta tal crise economica, que não é mais marolinha, nem tsunami ainda, pelo menos por aqui, e ninguém sabe que bicho vai dar, mas certamente vai influir no ânimo dos eleitores na hora de votar no ano que vem.

Escrevi aqui mesmo no Balaio, no começo do ano: a julgar pelo cenário atual, teremos mais um confronto entre PT e PSDB, como vem acontecendo faz 15 anos, com os dois partidos se alternando no poder central.

Mas, mesmo este quadro, que hoje parece consolidado, pode mudar no longo período que nos separa da eleição de 2010, na medida em que o componente novo e inesperado da crise econômica mundial faz todo mundo rever seus planos e esperar para ver o que vai acontecer, incluindo aí os políticos e seus partidos.

O PT saiu na frente, com o presidente Lula colocando o bloco de Dilma Roussef na rua antes mesmo do carnaval, levando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a exigir que o PSDB faça logo o mesmo, ou seja, lançando já a candidatura do governador José Serra.

O problema é que no meio do caminho tem um outro governador, o mineiro Aécio Neves, que também postula a candidatura tucana e não abre mão das prévias no partido para a escolha do nome do PSDB.

Se Dilma já pode se apresentar nos palanques como a candidata de Lula _ e agora também do PT, que se rendeu à vontade do presidente com 84% de aprovação popular, como vimos em vários eventos da semana passada _, Serra não pode fazer o mesmo. Não pode sair por aí agora como candidato dele mesmo, ou de FHC, embora favorito nas pesquisas. 

O governador de São Paulo vive um dilema, no momento em que a última pesquisa Sensus mostrou um vigoroso crescimento de Dilma, pela primeira vez com dois dígitos, e leve queda nas suas intenções de voto, o que talvez tenha animado o PT a antecipar a campanha eleitoral.

Ao atrair o dissidente Geraldo Alckmin para seu governo, num lance ousado para unir o PSDB em São Paulo, que parecia fortalecer sua candidatura presidencial, ao mesmo tempo Serra deixou Aécio solto no espaço, livre para outros vôos, amuado com o prato feito oferecido pelos tucanos paulistas.

Este é apenas um dado para ninguém se precipitar nas análises feitas agora com vistas a uma eleição ainda tão distante. Basta lembrar que, um ano antes das eleições, ninguém apostava um dólar furado na candidatura de Fernando Collor, em 1989, nem na de Fernando Henrique Cardoso, em 1994.

Os dois entraram tardiamente na campanha e, em poucos meses, foram ultrapassando os favoritos, levados por uma série de circunstâncias favoráveis que mobilizaram o eleitorado a seu favor.

Isto vale também para o presidente Lula, que até o final do ano passado nadava de braçada, praticamente sem oposição, com seus índices de aprovação crescendo na mesma proporção do aumento de emprego e renda no país, no embalo do crescimento econômico.

Agora tudo mudou. Pode não ser o fim do mundo, há meses anunciado por setores da imprensa, mas também não há mais clima para muita festa e rompantes de palanque, no momento em que cresce o número de desempregados no país e se discute de quanto vai ser a queda do PIB este ano.  

Talvez seja o momento de Lula viajar menos e falar menos, dedicando-se mais em Brasília à administração dos efeitos da crise, depois de uma superexposição precoce com sua candidata Dilma, que pode começar a apanhar antes da hora, queimando seu filme de administradora austera.

De outro lado, é mais uma bobagem da oposição recorrer à Justiça para acusar o PT de fazer campanha antes do previsto no calendário eleitoral, na mesma semana em que Serra sobe em trator numa feira de máquinas agrícolas em Cascavel, no Paraná, e seu governo gasta bom dinheiro com propaganda na televisão em outros Estados.

Está na hora de baixar a bola dos dois lados.

Lula e Dilma farão melhor para a campanha dela se cuidarem de governar bem, tomando as medidas necessárias na hora certa para garantir emprego e renda, que é o que vai valer na hora do voto. Quem elege candidato do governo é um bom governo e dinheiro no bolso, mais do que uma boa campanha, por mais brilhantes que sejam os marqueteiros da hora. 

Serra e os tucanos paulistas vão ter que arrumar a casa primeiro, acertar-se com Aécio e com possíveis aliados para 2010, antes de qualquer outra coisa. Quem elege candidato da oposição é governo ruim, também é verdade, mas é preciso apresentar na campanha uma proposta, um projeto qualquer para melhorar o país, que o PSDB ainda não tem.   

Ricardo Kotscho

Cúpula tucana impõe Serra

Atento à movimentação da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o comando do PSDB está decidido a precipitar o lançamento da candidatura do governador José Serra à Presidência. Serra, porém, resiste. Sob o argumento de que, graças à colocação nas pesquisas, ele sairia vitorioso da disputa interna, tucanos chegam a insistir para que Serra enfrente o governador de Minas, Aécio Neves, em prévias partidárias.

Numa reunião com o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso alegou que, se não lançar candidato o ´quanto antes´, a oposição ficará sem um porta-voz no país. Uma das avaliações é que, se fosse escolhido, o candidato já poderia monopolizar o programa partidário. Agora, terá que dividir o tempo com outros governadores.

Ao longo da semana, FHC pediu para que o partido trabalhe para convencer Aécio Neves a abrir mão da disputa. O comando tucano defende ainda que Serra viaje mais pelo Brasil, numa tentativa de ampliar seu capital político fora das regiões Sul e Sudeste.

Serra argumenta, porém, que o eleitorado de São Paulo rejeita a idéia de o governador deixar o Estado num momento de crise para se dedicar à campanha a um ano e sete meses das eleições. Ele teme ser criticado caso estoure um problema em São Paulo durante uma viagem, e manifesta o receio de se transformar, prematuramente, em alvo do PT de São Paulo. ´O governador não pode deixar o Estado´, pondera o vice-governador, Alberto Goldman. Além disso, Serra afirma que não há como se lançar sem o apoio de Aécio. Enquanto ele hesita, o PSDB promete aprovar, dentro de dois meses, o regulamento da prévia do partido. Guerra tenta convencer Serra de que a prévia é benéfica para o partido: ´Se o Aécio quiser, teremos prévia. Isso movimenta o PSDB´, diz Guerra.

´Pelo bem do partido, Serra e Aécio, têm de viajar pelo país´, diz Guerra. Ele avalia que seria melhor lançar o candidato no segundo semestre, porque antes a direção do partido precisa costurar a aliança nos Estados. A data de lançamento da candidatura divide os serristas: o deputado federal Luiz Paulo Velloso Lucas (PSDB-ES) acha que, diante da movimentação de Dilma, ´não dá mais para esperar 2010´.

Mas o deputado federal Jutahy Jr. (PSDB-BA), discorda. Para ele, a escolha tem de ficar para 2010, pois os candidatos -incluindo Dilma- poderão pagar um preço alto caso antecipem a disputa: ´Em 2009, os governadores de São Paulo e Minas têm de administrar seus Estados, e o presidente, o país. Antecipar o processo eleitoral num momento de crise é um desserviço´.

José Serra participou sexta-feira do Show Rural Coopavel, em Cascavel (PR), onde cumprimentou visitantes, beijou crianças e posou para fotos. Rodeado de lideranças tucanas do Paraná, ele negou que sua visita seja uma antecipação da campanha: ´Eu não vim aqui falar em política eleitoral. Acho que está sendo muito antecipado no Brasil esse assunto todo, inclusive pelo próprio governo federal e pelo próprio PT´.

´A gente tem que, nesse momento, se debruçar para administrar bem, cumprir as responsabilidades e enfrentar a crise. Essa é a minha prioridade neste momento, e não a política eleitoral, de verdade´, afirmou.

O governador justificou sua presença na feira paranaense por se tratar de um dos maiores eventos do agronegócio e aproveitou para criticar a política econômica: ´O mundo inteiro enfrenta a crise procurando tornar o crédito mais barato, mais acessível. O Brasil se mantém em direção contrária´.

Cúpula tucana impõe Serra

Atento à movimentação da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o comando do PSDB está decidido a precipitar o lançamento da candidatura do governador José Serra à Presidência. Serra, porém, resiste. Sob o argumento de que, graças à colocação nas pesquisas, ele sairia vitorioso da disputa interna, tucanos chegam a insistir para que Serra enfrente o governador de Minas, Aécio Neves, em prévias partidárias.

Numa reunião com o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso alegou que, se não lançar candidato o ´quanto antes´, a oposição ficará sem um porta-voz no país. Uma das avaliações é que, se fosse escolhido, o candidato já poderia monopolizar o programa partidário. Agora, terá que dividir o tempo com outros governadores.

Ao longo da semana, FHC pediu para que o partido trabalhe para convencer Aécio Neves a abrir mão da disputa. O comando tucano defende ainda que Serra viaje mais pelo Brasil, numa tentativa de ampliar seu capital político fora das regiões Sul e Sudeste.

Serra argumenta, porém, que o eleitorado de São Paulo rejeita a idéia de o governador deixar o Estado num momento de crise para se dedicar à campanha a um ano e sete meses das eleições. Ele teme ser criticado caso estoure um problema em São Paulo durante uma viagem, e manifesta o receio de se transformar, prematuramente, em alvo do PT de São Paulo. ´O governador não pode deixar o Estado´, pondera o vice-governador, Alberto Goldman. Além disso, Serra afirma que não há como se lançar sem o apoio de Aécio. Enquanto ele hesita, o PSDB promete aprovar, dentro de dois meses, o regulamento da prévia do partido. Guerra tenta convencer Serra de que a prévia é benéfica para o partido: ´Se o Aécio quiser, teremos prévia. Isso movimenta o PSDB´, diz Guerra.

´Pelo bem do partido, Serra e Aécio, têm de viajar pelo país´, diz Guerra. Ele avalia que seria melhor lançar o candidato no segundo semestre, porque antes a direção do partido precisa costurar a aliança nos Estados. A data de lançamento da candidatura divide os serristas: o deputado federal Luiz Paulo Velloso Lucas (PSDB-ES) acha que, diante da movimentação de Dilma, ´não dá mais para esperar 2010´.

Mas o deputado federal Jutahy Jr. (PSDB-BA), discorda. Para ele, a escolha tem de ficar para 2010, pois os candidatos -incluindo Dilma- poderão pagar um preço alto caso antecipem a disputa: ´Em 2009, os governadores de São Paulo e Minas têm de administrar seus Estados, e o presidente, o país. Antecipar o processo eleitoral num momento de crise é um desserviço´.

José Serra participou sexta-feira do Show Rural Coopavel, em Cascavel (PR), onde cumprimentou visitantes, beijou crianças e posou para fotos. Rodeado de lideranças tucanas do Paraná, ele negou que sua visita seja uma antecipação da campanha: ´Eu não vim aqui falar em política eleitoral. Acho que está sendo muito antecipado no Brasil esse assunto todo, inclusive pelo próprio governo federal e pelo próprio PT´.

´A gente tem que, nesse momento, se debruçar para administrar bem, cumprir as responsabilidades e enfrentar a crise. Essa é a minha prioridade neste momento, e não a política eleitoral, de verdade´, afirmou.

O governador justificou sua presença na feira paranaense por se tratar de um dos maiores eventos do agronegócio e aproveitou para criticar a política econômica: ´O mundo inteiro enfrenta a crise procurando tornar o crédito mais barato, mais acessível. O Brasil se mantém em direção contrária´.

Os obstáculos pra Serra chegar lá

À primeira vista, o governador de São Paulo, José Serra, vive uma situação confortável como potencial candidato à Presidência da República em 2010. Lidera as pesquisas em todos os cenários sobre a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. Faz um governo bem-avaliado. Tem dinheiro em caixa para investimentos. Possui laços fortes com o grande empresariado --o que é fundamental para o financiamento de campanha.

Mas esse conforto é apenas aparente. Serra anda tenso. Deseja ser ungido logo o candidato do PSDB, mas o governador de Minas, o tucano Aécio Neves, não aceita fato consumado e quer uma disputa em prévias pelo país. Se a escolha fosse hoje, Serra venceria. Mas a que custo?

Em 2006, ele ficou com medo de concorrer contra Lula, que já se recuperara do escândalo do mensalão (2005). A divisão do partido pesou e alimentou o temor de disputar. Cedeu a vez para o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. A história é conhecida. Lula venceu.

Serra não pode tratorar Aécio. Se o fizer, o governador poderá cruzar os braços no segundo colégio eleitoral do país, a exemplo do que fez em 2002. Principal articulador da candidatura de Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deseja que Aécio apoie logo Serra. E deseja mais: que o mineiro seja candidato a vice-presidente na chapa do colega de São Paulo. Por ora, Aécio resiste.

Serra sofre também embaraços externos. Qual será o seu discurso de campanha? Ele se aproximou do presidente, com quem tem tido boa parceria administrativa. Vai falar mal de Lula em 2010? Poderá ouvir do presidente que até outro dia o tucano frequentava o Palácio do Planalto e o elogiava.

A crítica de Serra à política monetária (juros altos) do Banco Central não é unânime nem no seu partido. Ainda que fosse, renderia votos? O que Serra mudaria na política econômica? Essa mudança teria apelo eleitoral? Há fundadas dúvidas a respeito desta última indagação.

Qual será o discurso na área social? Vai manter o Bolsa Família, mas com melhoras, procurando uma "porta de saída", para usar um chavão? Isso o atual governo já promete que fará. Por que o eleitorado confiaria na oposição para melhorar o Bolsa Família e não em um candidato da situação? Enfim, há um monte de perguntas no meio do caminho de Serra.

Enquanto o PSDB está dividido e não tem um discurso de campanha consistente, Lula usa a crise como oportunidade para lançar medidas que podem render dividendos políticos à sua provável candidata, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Nessa toada, o presidente tem boa chance de viabilizar a vitória de Dilma.

Há ainda a contradição de ser um político com cabeça de centro-esquerda com uma base de centro-direita. O DEM, antigo PFL, é o aliado preferencial do governador paulista. Lula e o PT adoram associar o PSDB ao PFL, numa jogada retórica para dizer que se trataria de uma volta ao passado (governo FHC). Quando Serra atribui alguma manifestação dos movimentos sociais a interesses políticos-eleitorais, faz um discurso conservador. Criminalizar os movimentos sociais não combina com um político de centro-esquerda, mas é música aos ouvidos de políticos de centro-direita.

Outro problema: a administração de Gilberto Kassab começa a patinar. Não se sabe se o prefeito paulistano entregará as principais promessas da campanha municipal de 2008. Serra será cobrado pelo desempenho de seu afilhado político.

Por último, vem o famoso temperamento de Serra. O desejo obsessivo de ser presidente ajuda por um lado, mas atrapalha por outro. Ele tem procurado demonstrar mais jogo de cintura. Melhorou a relação com a imprensa. Aproximou-se de desafetos --integrar Geraldo Alckmin ao secretariado e se aliar a Orestes Quércia são exemplos disso. Mas ainda mantém uma certa tendência autoritária a querer controlar o noticiário, a tentar evitar perguntas embaraçosas, a editar jornais, rádios e TVs.

Não faltam obstáculos para o favorito Serra chegar lá.

Leia as colunas anteriores

Kennedy Alencar, 41, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve paraPensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

Os obstáculos pra Serra chegar lá

À primeira vista, o governador de São Paulo, José Serra, vive uma situação confortável como potencial candidato à Presidência da República em 2010. Lidera as pesquisas em todos os cenários sobre a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. Faz um governo bem-avaliado. Tem dinheiro em caixa para investimentos. Possui laços fortes com o grande empresariado --o que é fundamental para o financiamento de campanha.

Mas esse conforto é apenas aparente. Serra anda tenso. Deseja ser ungido logo o candidato do PSDB, mas o governador de Minas, o tucano Aécio Neves, não aceita fato consumado e quer uma disputa em prévias pelo país. Se a escolha fosse hoje, Serra venceria. Mas a que custo?

Em 2006, ele ficou com medo de concorrer contra Lula, que já se recuperara do escândalo do mensalão (2005). A divisão do partido pesou e alimentou o temor de disputar. Cedeu a vez para o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. A história é conhecida. Lula venceu.

Serra não pode tratorar Aécio. Se o fizer, o governador poderá cruzar os braços no segundo colégio eleitoral do país, a exemplo do que fez em 2002. Principal articulador da candidatura de Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deseja que Aécio apoie logo Serra. E deseja mais: que o mineiro seja candidato a vice-presidente na chapa do colega de São Paulo. Por ora, Aécio resiste.

Serra sofre também embaraços externos. Qual será o seu discurso de campanha? Ele se aproximou do presidente, com quem tem tido boa parceria administrativa. Vai falar mal de Lula em 2010? Poderá ouvir do presidente que até outro dia o tucano frequentava o Palácio do Planalto e o elogiava.

A crítica de Serra à política monetária (juros altos) do Banco Central não é unânime nem no seu partido. Ainda que fosse, renderia votos? O que Serra mudaria na política econômica? Essa mudança teria apelo eleitoral? Há fundadas dúvidas a respeito desta última indagação.

Qual será o discurso na área social? Vai manter o Bolsa Família, mas com melhoras, procurando uma "porta de saída", para usar um chavão? Isso o atual governo já promete que fará. Por que o eleitorado confiaria na oposição para melhorar o Bolsa Família e não em um candidato da situação? Enfim, há um monte de perguntas no meio do caminho de Serra.

Enquanto o PSDB está dividido e não tem um discurso de campanha consistente, Lula usa a crise como oportunidade para lançar medidas que podem render dividendos políticos à sua provável candidata, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Nessa toada, o presidente tem boa chance de viabilizar a vitória de Dilma.

Há ainda a contradição de ser um político com cabeça de centro-esquerda com uma base de centro-direita. O DEM, antigo PFL, é o aliado preferencial do governador paulista. Lula e o PT adoram associar o PSDB ao PFL, numa jogada retórica para dizer que se trataria de uma volta ao passado (governo FHC). Quando Serra atribui alguma manifestação dos movimentos sociais a interesses políticos-eleitorais, faz um discurso conservador. Criminalizar os movimentos sociais não combina com um político de centro-esquerda, mas é música aos ouvidos de políticos de centro-direita.

Outro problema: a administração de Gilberto Kassab começa a patinar. Não se sabe se o prefeito paulistano entregará as principais promessas da campanha municipal de 2008. Serra será cobrado pelo desempenho de seu afilhado político.

Por último, vem o famoso temperamento de Serra. O desejo obsessivo de ser presidente ajuda por um lado, mas atrapalha por outro. Ele tem procurado demonstrar mais jogo de cintura. Melhorou a relação com a imprensa. Aproximou-se de desafetos --integrar Geraldo Alckmin ao secretariado e se aliar a Orestes Quércia são exemplos disso. Mas ainda mantém uma certa tendência autoritária a querer controlar o noticiário, a tentar evitar perguntas embaraçosas, a editar jornais, rádios e TVs.

Não faltam obstáculos para o favorito Serra chegar lá.

Leia as colunas anteriores

Kennedy Alencar, 41, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve paraPensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.