A hora da sístole

Olhar um governo exige técnicas de diagnóstico. Há situações em que você pode enxergar diretamente o objeto. Se aparece um documento, uma gravação, algo dotado de materialidade.

E há situações em que você precisa deduzir.

A dedução é útil quando a matéria prima são conversas. Você nunca deve acreditar em tudo que dizem. Mas ouvir sempre é bom. Tampouco deve descartar nada. Se alguém lhe mente, a mentira embute pelo menos uma verdade: o fato de alguém ter mentido para você.

Procure a razão pela qual o sujeito decidiu mentir, talvez haja aí algo útil.

Luiz Inácio Lula da Silva falava muito em público. O roteiro do governo dele podia ser alinhavado a partir da produção verbal do presidente. Sabia-se a cada momento quais eram os propósitos, quem eram os inimigos, onde estavam as barreiras a suplantar.

Foi um período repleto de comunicação. O sujeito podia gostar ou não do que Lula dizia, ou de como dizia, podia concordar ou não com ele, mas ninguém reclamava da falta de sinais orientadores. Todos conheciam o sentido do fluxo e do contrafluxo.

Já Dilma Rousseff fala economicamente, e tampouco se conhecem porta-vozes. Daí que olhar o governo dela exiga outras técnicas propedêuticas. A energia maior será necessariamente dispendida em procedimentos interpretativos a partir de sinais indiretos, fragmentados, contraditórios.

A crise corrente no Ministério dos Transportes, por exemplo, pede um exercício de interpretação complexo. A etapa pública da crise foi desencadeada pelo próprio governo, na reunião de enquadramento entre os palacianos e a turma da pasta.

Reunião que depois foi objeto de apuração jornalística e veio a público.

E o governo agiu -e vem agindo- numa rapidez impecável, passando o bisturi com a perícia de quem conhece em detalhe os tecidos a remover. Há os constrangimentos da política, mas eles não têm sido definitivos. A presidente não parece disposta a deixar a onda passar.

Surfa nela com gosto.

O movimento dela é duplo. Procura naturalmente remover os focos de eventuais problemas administrativos, que sempre tenderão a tomar dimensão política, mas há também uma operação política propriamente dita a rodar.

Dilma busca reorganizar o governo com parâmetros menos dispersos, mais centralizados. Busca concentrar poder.

O que implicará menos autonomia ainda para os políticos e movimentos políticos instalados nos ministérios e demais órgãos dotados de capacidade de investimento. Manterão a capacidade, mas perderão autonomia.

Aqui, o delicado processo de centralizar e descentralizar é quase uma reprodução da sístole e da diástole cardíacas. Assim bate o coração de qualquer governo. Centraliza-se e divide-se o poder, conforme a força e a necessidade.

O mandato de Lula começou bem sistólico. Se havia alguma distribuição de poder, era entre as correntes do PT. Para os demais, postos formais e a obrigação de tomar a bêncão a cada passo. O símbolo dessa lógica foi o então presidente ter desfeito a entrada do PMDB no governo, desfazendo o acordo costurado por José Dirceu.

E a coisa funcionou no primeiro ano, com o Planalto vencendo votações decisivas no Congresso Nacional, em assuntos delicados como a previdência social e os impostos.

Mas a concentração de poder também significou concentrar potenciais dores de cabeça. Quando veio a crise, ela estourou bem no coração do governo.

Como resultado, e para sobreviver, Lula enveredou pela longa diástole que o levaria a concluir o primeiro mandato, a reeleger-se e a eleger a sucessora.

Que por sua vez herdou um governo orçamentariamente distribuído, no qual os muitos pilares de apoio mantinham cada um a capacidade de alavancar recursos para a reprodução do próprio poder.

Daí para o descontrole é um passo. Eis por que Dilma produz agora a nova sístole. Uma recentralização.

Vai funcionar? Provavelmente. Manda quem pode e obedece quem tem juízo. Até o dia em que o poder, de tão concentrado, fique instável o suficiente para exigir uma nova diástole.

E, de crise em crise, a vida seguirá.
do Blog do Alon

A vocação do BNDES

O episódio Casino-Pão de Açúcar forneceu um bom álibi para discutir a visão estratégica do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Nos últimos anos o BNDES deu um salto fundamental, aumentando seu capital de forma exponencial. E terá papel central na próxima década, para sustentar os grandes investimentos que o país demanda.

Mas é necessário dar foco à sua atuação. Faria bem o presidente Luciano Coutinho em abrir uma discussão interna para repor o banco no caminho correto.

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Inicialmente, o BNDES era apenas de fomento, de financiamento. A partir dos anos 90 passou a investir no capital das empresas, através do BNDESPar (BNDES Participações). Esse modelo surgiu na gestão Luiz Carlos Mendonça de Barros, encolheu na gestão Carlos Lessa e voltou a crescer na gestão Demian Fiocca.

A lógica era simples. Com a economia se recuperando, o país exigiria grandes investimentos – seja em infra-estrutura ou na internacionalização das empresas brasileiras. Havia limites em ampará-las apenas com financiamento. As empresas ficariam muito "alavancadas" (isto é, com muito passivo) atrapalhando sua avaliação pelas agências de risco e dificultando a captação em outras fontes. Decidiu-se então uma fórmula que casasse os financiamentos com a participação acionária.

Mas em todos esses momentos prevaleceu uma regra: todo esforço do banco deveria ser no sentido de agregar capacidade produtiva ao país. Por isso mesmo, não deveria apoiar projetos de fusão – que não agrega capacidade de produção.

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Fusões e aquisições se justificariam apenas em duas ocasiões especialíssimas.

A primeira, quando houvesse risco de quebra de uma grande empresa. Nesse caso o banco poderia financiar candidatos a compradores.

Foi assim quando apoiou a venda da Aracruz para o grupo Votorantim, impedindo a quebra da empresa.

Aliás, é curioso que O Globo tenha dedicado críticas a esta operação, em tudo similar à injeção de capital adicional do BNDESPar na Net – ameaçada de quebra durante a crise financeira das Organizações Globo.

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A segunda exceção é em compras de ativos no exterior, dentro de estratégias de internacionalização das empresas brasileiras. Não há maneira mais eficiente de entrar em outros países do que comprar operações existentes – ainda mais em períodos de crise, com os ativos estrangeiros depreciados.

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Fora essas duas situações especiais, não há justificativa para o banco financiar fusões e aquisições. Não havia nada na operação Pão de Açúcar-Casino que justificasse sua interferência. Sequer seria adquirida a operação internacional do Carrefour. A operação permitiria apenas a Abílio Diniz manter sua posição de controlador na operação brasileira.

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Passado o episódio, com todo desgaste inútil que provocou, é hora do banco se debruçar sobre suas prioridades: o apoio aos setores estratégicos, definidos no PDP (Programa de Desenvolvimento Produtivo), o foco na inovação, a ênfase nas pequenas e médias empresas, os grandes investimentos em infra-estrutura.

por Luis Nassif


Blogueiros independentes

[...]  A grande novidade da blogosfera são os blogueiros independentes, aqueles que estão à margem dos jornalões, que não têm rabo preso com ninguém, a não ser com a própria consciência. Mês passado conheci dezenas deles que, assim como eu, usam a Internet para veicular opiniões e debater visões de mundo negligenciadas pela mídia, ou a ela contrárias. Esse universo de autores ousaram, inclusive, discutir, em Brasília, durante II Encontro de Blogueiros Progressistas, o papel político da mídia tradicional.

Naquela ocasião, durante três dias, blogueiros, militantes de movimentos sociais e representantes do poder público debateram os caminhos e desafios da Internet. E a fantástica experiência de, a despeito da velha imprensa, ser um autor independente na Internet, com uma relação direta com milhares de leitores, sem qualquer mediação.

Como diz o ex-presidente Lula, o papel da blogosfera é ser uma alternativa para que a sociedade formule e veicule suas próprias ideias. Para ele, este é um espaço em que o cidadão pode exercer o seu direito de ser também um formador de opinião pública.

Democratização da comunicação

Aproveito, aqui, para retomar as bandeiras defendidas no II Encontro de Blogueiros Progressistas: a democratização dos meios de comunicação, um novo marco regulatório no setor e a difusão da internet banda larga no país. Na blogosfera, além dos blogueiros independentes, o que há de mais importante é o debate que eles propiciam.
Zé Dirceu

Bill Gates pretende reinventar o banheiro



Bill Gates

O maior acionista da Microsoft decidiu investir US$ 42 milhões para ajudar a criar um banheiro mais barato e capaz de melhorar a higiene em países pobres.
A Bill and Melinda Gates Foundation investirá em pesquisas para desenvolver uma privada que transforme os dejetos humanos em energia, água limpa ou nutrientes. A ideia é que o novo vaso sanitário não utilize água encanada, esgoto ou energia elétrica.
Atualmente, 40% da população do planeta não tem acesso a vasos sanitários com descarga. 



Anualmente, 1,5 milhão de crianças morrem por doenças causadas por falta de saneamento.

A fundação vai priorizar conveniência e preços baixos nas soluções. 



Os vasos sanitários deverão ser fáceis de instalar e custar menos do que US$ 0,05 por dia de manutenção.

O melhor amigo


Carlos Franklin de Araújo

A melhor amiga deste influente advogado gaúcho é sua ex-mulher Dilma Rousseff. E vice-versa. Companheiros desde o tempo da luta armada, eles se falam quase todo dia

"Nega, você precisa aparecer por aqui", diz Araújo, ao telefone, minutos antes de começar a conversa com a Revista do Brasil. Nega é a presidenta Dilma Rousseff. A relação dela com o ex-marido transcende a amizade. Ambos foram casados por quase 20 anos, tiveram uma filha, Paula, hoje procuradora do Trabalho, e viveram momentos de grande felicidade e sofrimento. Foram presos e torturados durante a ditadura – eram importantes quadros da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, a VAR-Palmares. Dilma caiu primeiro. Passou dias no pau de arara, tomando choques elétricos, mas não entregou o companheiro. Araújo faria o mesmo por Nega.

Quando Dilma recebeu o convite para assumir o Ministério de Minas e Energia, sua primeira providência foi pegar um avião para Porto Alegre e conversar com Araújo. A viagem se repetiu quando foi indicada para chefiar a Casa Civil e, depois, para disputar a sucessão de Lula. Nas crises, ela também apareceu. Araújo, do alto de sua modéstia, nega o papel de "conselheiro". Acha exagero. Diz conversar com Dilma mais sobre artes plásticas e literatura do que política. É difícil de acreditar.



10 motivos para selic ser maior


  1. Porque a inflação está em alta.
  2. Porque a inflação está em baixa.
  3. Porque o mercado de trabalho está aquecido.
  4. Porque o mercado de trabalho está desaquecido.
  5. Porque o desemprego está em alta.
  6. Porque o desemprego está em baixa.
  7. Porque o dólar está barato.
  8. Porque o dólar está caro.
  9. Porque a China está crescendo muito.
  10. Porque a China está crescendo pouco.
Deixem nos comentários mais motivos para o Brasil pagar a maior taxa de juros básica do mundo.