De olho em 2014

O xadrez eleitoral e o dilema de Dilma
Editorial do Brasil de Fato
A eleição para a Presidência da República do Brasil em 2014 aos poucos vai ganhando contornos de uma disputa acirrada e decisiva. Acirrada porque as forças neoliberais jogam todas as suas fichas na derrota da presidenta Dilma e, por isso mesmo, nesse momento, fazem uma forte ofensiva contra a imagem do governo federal ao pautarem a CPI da Petrobras. E, decisiva, porque o resultado das eleições presidenciais influenciará diretamente na correlação de forças na América Latina.

O neodesenvolvimentismo vigente nos governos Lula e Dilma não politizou e nem inseriu suas conquistas socioeconômicas em torno de um projeto político vinculado à necessidade de organização de uma base social de massas. Melhorar a vida do povo evitando ao máximo o conflito de classes, nisso consiste o caráter ideologicamente conservador do neodesenvolvimentismo. Não é para menos. Hegemonizada pela burguesia interna e institucionalmente pelo PMDB e aliados, a frente neodesenvolvimentista tem como base um sistema político carcomido, avesso às reformas estruturais pendentes na sociedade brasileira.

Blablarina e Blablarino uma dupla do bagulho

Marina faz de Campos um príncipe às avessas

por Josias de Souza

Há seis meses, Eduardo Campos era um candidato convencional à procura de tempo de propaganda na tevê. Negociava com Roberto Jefferson o apoio do PTB, tentava seduzir o PDT oferecendo a Carlos Lupi a primazia de indicar o número 2 da chapa e incluía em seus planos até mesmo o DEM de Ronaldo Caiado.
Nesta segunda-feira, ao confirmar Marina Silva como sua vice, o presidenciável do PSB informará ao país que o político que ele foi até outubro de 2013, antes de a estrela da Rede Sustentabilidade lhe estender a mão, não estava à altura dos novos tempos. Autoconvertido em protótipo da “nova política”, Eduardo Campos entra na briga como uma espécie de personagem de um conto de fadas às avessas.
A leitura convencional sugere que o PSB salvou a Rede da inexistência formal decretada pela Justiça Eleitoral. Na verdade, com seus 27% no Datafolha, Marina assume, por assim dizer, o papel de Branca de Neve dos trópicos. Entra em cena com o propósito de salvar o príncipe de olhos azuis dele mesmo, deslocando-o da lanterninha dos 10% para um segundo turno contra a rainha má Dilma Rousseff.

Deus rezando por nos

Valeu José de Abreu

Sabemos que de um amigo sequer esperamos agradecimento. Mas, agradeço mesmo assim!

Twitteres do Amigo José de Abreu




  • “até que o governo e o PT tomem uma atitude ENÉRGICA contra a prisão POLÍTICA do Zé Dirceu, não contem comigo pra mais nada!”  
  • “Sem Dirceu Lula jamais seria eleito. Dilma nem existiria nacionalmente. Chega de contemporizar. Vou me concentrar na luta pela Justiça”  
  • “Nem venham com o lugar comum de que minha atitude ajuda a oposição, dane-se! Quero ver meu amigo ser defendido pelos Companheiros”
Assino embaixo!
Joel Leonidas Teixeira Neto

Prece

Poesia - o mundo inteiro

A rocha
A pedra
A areia
O pedregulho

O braço, o ombro, o rosto, o queixo
Um buraco pra cavar e uma concha pra guardar

O mundo inteiro é um vasto lugar

O mel, o favo, a abelha, o zumbido
A espiga, o sabugo, o milho assado, o milho cozido

O tomate maduro
A erva de cheiro

O mundo inteiro é um canteiro

O mundo inteiro é novo e antigo
Ancião e menino

Corre, tropeça,  escorrega
Vira, derruba, esparrama
Segue em movimento

O mundo inteiro é frio quente e não descansa um segundo

O mundo inteiro somos nós!
Nós somos o mundo inteiro!

De Liz Garton Scalon

A decadência do Jornal Nacional

Nos anos 1980, quando eu era um jovem repórter da Veja, a redação, no sétimo andar do prédio da Abril na marginal do Tietê, se alvoroçava quando eram 8 da noite.

Uma televisão, no fundo da redação, começava a passar o Jornal Nacional. A redação parava, mesmo em dias de fechamento, e só voltava a funcionar quando o JN terminava.

Não era só a Veja que parava. Era o Brasil. O JN tinha então 70% de audiência, em média. Às vezes mais. Ditava a agenda política e econômica do país. Roberto Marinho — que na busca de favores da ditadura dizia que a Globo era “o maior aliado” dos generais na mídia, conforme mostram documentos de Geisel reunidos em livro —  teria dito que notícia era o que o JN dava.

Para mim, o JN acabaria com minha saída da Veja rumo à Exame, em 1989. Perdi o hábito de vê-lo e jamais senti falta. Não voltei a ver sequer quando trabalhei na Globo, em meados dos anos 2 000. Nas reuniões do Conselho Editorial da Globo, às terças de manhã, eu chegava sem ter a mínima ideia do que o JN dera ou deixara de dar, e tinha uma certa dificuldade em me engajar em algumas conversas.

Muita gente fez o que fiz, por variados motivos. (O meu foi o incômodo em ver tanto foco em desgraças depois de ter visto o JN, na ditadura, mostrar um país paradisíaco aos brasileiros. Também o conteúdo influía bem menos na Exame do que na Veja.)

Todas essas reminiscências me ocorrem ao ler que esta semana o Jornal Nacional bateu seu recorde negativo de audiência ao chegar a 18%.

É uma derrocada notável – e irremediável. Em alguns anos, os 18% parecerão muito diante da audiência que sobrará para o principal telejornal do Brasil.

O que ocorreu?

A tentação é dizer que é a ruindade técnica do JN que afastou o público. Mas, mesmo pobre o jornalismo do JN, não é esta a razão primeira do declínio.

Isto quer dizer que não adiantaria nada – pelo menos no Ibope —  trocar o diretor de telejornalismo da Globo, Ali Kamel, por alguém mais criativo e talentoso. Ou tirar Bonner, que já deve ter mais seguidores no Twitter que espectadores no telejornal que apresenta.

A real causa se chama internet.

A internet é uma mídia que os analistas classificam como “disruptora”: ela não se integra às demais, como sempre aconteceu na história do jornalismo. Ela mata.

As demais mídias – tevê aberta incluída – são progressivamente engolidas pela internet.

A situação do JN é análoga à que enfrenta a Veja. A revista definha em circulação, publicidade, influência, importância – em tudo, enfim. Não adianta nada trocar o diretor de redação. Mesmo que a Veja voltasse a ter a qualidade notável da década de 1980, sob o comando dos diretores JR Guzzo e Elio Gaspari, nem assim os leitores retornariam, porque o produto se tornou obsoleto.

O milagre da Globo, hoje, é conseguir faturar como nunca, com audiências em colapso em todas as frentes, dos telejornais às novelas.

Proporcionalmente, a Globo ganha em publicidade mais do que ganhava quando alcançava três ou quatro vezes mais pessoas.

Isso se deve a uma coisa chamada BV, Bônus por Volume, uma espécie de propina que é paga às agências de publicidade para que anunciem na Globo.

Foi uma invenção de Roberto Marinho, depois seguida pelas outras grandes empresas de mídia do país, mas com resultados insignificantes se comparados aos da Globo.

Hoje, muitas agências dependem do BV para sobreviver.

Graças a isso, com cerca de 20% do mercado de mídia, a Globo tem 60% do bolo publicitário, uma bizarrice.

Isso vai mudar quando os anunciantes – que afinal pagam a conta – se recusaram a pagar tabelas cada vez maiores por produtos que alcançam cada vez menos pessoas.

Quanto ao Jornal Nacional, vive em boa parte das audiências passadas.

Políticos que fizeram carreira vendo-o influir tanto, sobretudo nos anos 70 e 80, parecem guardar dele a imagem poderosa de antes.

É a geração que está hoje no poder. “O pessoal morre de medo de 30 segundos do Jornal Nacional”, me disse recentemente um desses políticos.

Ele estava falando da dificuldade em fazer o Congresso discutir a regulação da mídia. Por isso, mesmo com uma audiência raquítica, o JN continua a ser um fator de obstrução de avanços sociais.

Novas gerações de políticos vão ver o JN não pelo que foi, mas pelo que é: um programa cada vez visto por menos gente e, por isso, menos influente a cada dia.

Que venham as novas gerações, até por isso.

Paulo Nogueira é jornalista, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.