A gravidade da crise mundial, agora revelada com a queda dos preços do petróleo, exige que, no Brasil, nosso governo venha a público e exponha ao país a real situação de nossa economia e seus limites para a recuperação imediata. Mas, principalmente, apresente as medidas a serem adotadas em 2015 para enfrentar a crise global e superar os graves problemas de nossa economia, começando pela retomada do crescimento para manter o emprego e a renda dos brasileiros com distribuição de renda, sem abrir mão dos direitos trabalhistas, sociais e previdenciários a duras penas conquistados nos últimos 12 anos — e sem medidas de austeridade ou aumento de impostos que recaiam apenas sobre os trabalhadores, como era a tradição no país.
Não estamos em 1988, mas a crise é grave. Nosso país não está endividado em dólares, nosso câmbio é flutuante, temos reservas e nossa dívida pública está sob controle, tendo crescido não por outra razão, mas para evitar uma recessão e suas consequências sociais e políticas que seriam muito mais nocivas. A começar pelo desemprego que assola o mundo e pela queda da renda das famílias. Não estamos fora do risco de sermos tragados por ela, se não adotarmos as medidas adequadas na hora certa.
Sem abrir mão das conquistas dos últimos 12 anos, devemos buscar saídas políticas para a crise. Caso contrário, as forcas hegemônicas na economia e na sociedade se imporão com um ajuste fiscal e monetário que levará, inevitavelmente, à queda da participação do trabalho na renda nacional, colocando em sério risco as conquistas sociais e trabalhistas, como tem acontecido na Europa e como é tradição ocorrer no Brasil.
É urgente e necessário que a presidenta assuma a liderança para construir um acordo político a partir de um diálogo nacional para pactuar as saídas para a atual crise. É preciso expor ao povo a real situação do mundo e suas prováveis e graves consequências para o nosso país, com coragem e clareza para expor nossos impasses, mas também apresentando as propostas para superá-los.
Sem medo e sem esconder, não apenas nossos problemas fiscais e de gestão, mas esclarecendo, por exemplo, o gravíssimo problema do custo da dívida interna (6% do PIB, ou R$ 265 bilhões em 2015), os elevados spreads com os quais convivemos (de 28% a 32%) ou os juros reais de 6% aos investidores externos, em um momento em que o mundo passa por um período de recessão, praticando juros negativos, quando não deflação (casos do Japão e da Europa, onde o fantasma da deflação já é real).
Para além da continuidade dos investimentos em infraestrutura social e econômica, no Pré-Sal, na Educação e inovação, na aposta no nosso mercado interno. Na disputa de mercados externos o país precisa enfrentar o agravamento da situação internacional num cenário de queda dos preços do petróleo, das commodities e do comércio internacional. Um contexto em que há aumento do protecionismo e de medidas como a administração do câmbio, crescimento da disputa de nosso mercado interno e dos nossos mercados externos de manufaturados e máquinas e equipamentos pela China, Europa, Japão e EUA.
É improvável, mesmo que avancemos na redução dos custos de logística, em Educação e inovação, que consigamos enfrentar esse quadro desfavorável e essa conjuntura de crise dentro dos marcos atuais de nosso modelo econômico, marcado por custos financeiros altíssimos, custos crescentes de energia e sistema tributário injusto e irracional.
Fazer uma reforma política é fundamental, mas também promover reformas administrativa, tributária e financeira, são condições para sobrevivermos aos novos tempos sem abrir mão da distribuição de renda, do fortalecimento de nossa indústria e do mercado interno. Sem uma nova política cambial, nossa indústria, apesar de todas as medidas do governo, como o programa Brasil Maior, continuará a definhar frente à concorrência, muitas vezes predatória, dos importados.
Uma agenda de reformas e de enfrentamento da crise mundial que inclua um ajuste em nossas contas internas e externas pressupõe, antes de mais nada, um diagnóstico compartilhado com a sociedade e o povo. Exige a pactuação de medidas econômicas de emergência e de amplas reformas que mudem a distribuição da renda e da riqueza no país, começando pela tributária, para viabilizar a ampliação dos investimentos públicos e a manutenção do Estado de bem estar social que estamos construindo. Reformas que exigem ampla mobilização social para fazer prevalecer no Congresso Nacional não apenas a expressão do poder econômico e da mídia, mas das forcas populares, democráticas, nacionalistas e de esquerda —daqueles que elegeram e reelegeram Lula e Dilma.
Esse é o desafio que nos espera em 2015 e que dependerá da unidade política, não apenas no PT e do partido, mas de todas forcas políticas de esquerda e da sociedade que nos delegaram pela quarta vez a tarefa de governar o país e nosso povo.