Em público, o tucanato recobre seus presidenciáveis, Serra e Aécio, com um manto de otimismo. Nos subterrâneos, dá-se coisa diversa.
O PSDB passou a ruminar o receio de que os sócios minoritários do consórcio partidário da oposição troquem Serra/Aécio por outra candidata.
Legendas como DEMO, PPS e PV já flertam com a opção petista: a ministra Dilma Rousseff - PT -.
Aliados mais à esquerda –PDT e PCdoB— passaram a considerar a hipótese de se agregar à caravana de Ciro Gomes (PSB).
O reboliço é tonificado pelo desempenho de Serra e Aécio nas pesquisas de opinião.
Desde que Marina Silva (PV) entrou na briga, o candidato de FHC exibe posição descendente, com viés de baixa.
Dilma também caiu. Mantém, contudo, uma posição confortavel. Em movimento inverso, Ciro cresce. O PSDB enxerga nas sondagens um retrato permanente e inreversível.
Não há, por ora, tucano que se anime a contemplar a hipótese da ausência de Serra ou Aécio no segundo turno de 2010. Porém...
Porém, o tucanato inquieta-se com o fato de Serra ter caído num instante em que, pelos planos originais, deveria crescer.
Justamente a hora em que os partidos começam a se embrenhar nas negociações que resultarão nas alianças de 2010.
FHC e o PSDB/DEMO haviam idealizado para Serra um cenário de prestígio crescente. Em escalada progressiva, bateria, entre dezembro e janeiro, na casa dos 50%.
Algo que seria facilitado pelo estrago causado pela crise e pela impressão das digitais do Ibopig nos programas e jornais da tucadempiganalhada.
O temor do PSDB não é infundado. Embora ocorram abaixo da linha d’água, os primeiros movimentos partidários já começam a ganhar a superfície.
Integrantes da cúpula do PSDB detectaram as seguintes pegadas:
1. Bourhausen e o governador de Brasília Roberto Arruda, tricotam com PPS e PV.
Na seara comunista, participam das conversas Freire (PPS) e Fernando Gabeira (PV).
No PDT, o flerte se dá com o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força Sindical.
2. O deputado cassado Roberto Jefferson (RJ), presidente do PTB, move-se em todas as direções, menos no rumo tucano.
Tentou, sem sucesso, empinar uma candidatura presidencial de Henrique Meirelles, presidente do BC. Em privado, revela pendores tucanos.
Jefferson tem uma queda política pelo governador tucano de Minas, Aécio Neves. Acha-o um candidato leve. Mas demonstra aversão por Serra.
3. O deputado cassado Valdemar da Costa Neto, espécie de dono do PR, passou a difundir a versão de que a canoa de Serra furou. Como opção, cita Dilma.
4. O senador Francisco Dornelles (RJ), presidente do PP, revela-se, entre quatro paredes, irritado com o assanhamento do Fernando Gabeira.
Deputado Federal, Gabeira ameaça candidatar-se ao governo do Rio mesmo contra a vontade de Aécio. Algo que deixa Dornelles desalentado.
Diz-se no PT que, se o PSDB já tivesse optado por Aécio, sobrinho de Dornelles, o PP seria caso perdido.
Para complicar, os partidos pequenos e médios abrigados sob o guarda-chuva de FHC irritam-se com a preferência que o ex-presidente e o PSDB dão ao DEMO.
Há dois dias, o grão-pemedebê Michel Temer (SP) esboçou com Dilma um pré-acordo eleitoral a ser celebrado em outubro.
PPS e PV , legendas que frequentam a beirada direita da oposicinista, sentem-se alijadas.
A eventual migração de aliados para quintais vizinhos preocupa sobretudo porque transferiria de Serra para candidatos rivais valiosos minutos de tempo de televisão.
O PSDB planeja reagir em duas frentes. Vai cobrar de Serra e Aécio o retorno à vitrine.
De resto, pretende-se voltar os olhares para além dos limites do DEMO. Foi para o beleléu a pretensão de fazer de 2010 uma salada de frutas, e não o "futuro" contra a "volta ao passado".
Até por isso, passou-se a considerar que o desprezo aos parceiros supostamente menos relevantes é coisa que escapa ao bom senso.