PAC: 89% dentro do orconograma


A reportagem exibida ontem pelo Jornal Nacional é um primor de “urubologia”.

Com uma edição digna de programa eleitoral do PSDB, com números negativos exibidos em computação gráfica e imagens de obras supostamente paradas.

Numa tentativa de transformar o sucesso em fracasso, não há uma palavra sobre 89% das obras monitoradas estarem em ritmo adequado, enquanto 8% estão em estado de atenção, 2% têm execução preocupante e 1% já foi concluído, até porque são obras pesadas, que não se fazem com um estalar de dedos. Esse é o número em valor, o critério mais adequado, porque não distorce o quadro, misturando pequenas obras com grandes projetos.

Em resumo: 90% está dentro do planejado e 10% apresenta problemas. Mas a Globo faz matéria apenas sobre os 10%.

Nem uma palavra sobre já estarem contratados R$ 25 bilhões para obras de saneamento, 87% deles em obras cuja execução está em torno de 50% realizada.

Nem um segundinho para a informação de já entraram no sistema elétrico brasileiro 2 mil megawatts gerados por obras do PAC 2. Ou que 83% dos projetos de urbanização em áreas precárias estão em andamento, satisfatoriamente.

Mas muito tempo para o senador Alvaro Dias – aquele vice “viúva Porcina” de Serra, o que foi sem nunca ter sido – e para um economista da “Contas Abertas” (aquela mesmo cujos fundadores estiveram às voltas com os problemas panetônicos do Governo de José Roberto Arruda, no Distrito Federal.

A gente posta aí em cima o vídeo da apresentação feita pela Ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para você ver, em detalhes, o que a emissora não deu. Quem quiser ter acesso ao balanço completo, pode acessá-lo aqui.

A Globo, por aí, vai sangrar na veia da saúde do Governo Dilma.

Porque ela pode ter defeitos, mas um deles certamente não é o de ser incapaz ou tolerante com atrasos e incompetência na gestão de projetos.

Mas isso tem dois aspectos bons.

O primeiro, que a Globo pode distorcer a realidade, mas não é capaz de revogá-la.

O segundo, o de que está se encarregando de mostrar que a comunicação do governo não pode ser baseada no que a grande mídia chama de “liberdade de expressão”, que é ela falar sozinha.

Quem sabe assim o pessoal de lá se convence de que precisa falar claro, mostrar os fatos e dar à imensa rede de solidariedade ao projeto que Dilma os meios para combater a “urubologia” global?

do Tijolaço

por Luis Fernando Verissimo

Fada Boa contra Fada Má

O jantar anual da associação dos correspondentes estrangeiros em Washington é uma oportunidade para políticos locais dizerem coisas que normalmente não diriam e rirem de si mesmos.
Começando pelo presidente da República, que é sempre convidado a falar e sempre fala no tom autodepreciativo que se espera de um cara legal, gente como a gente.
Num desses jantares mostraram um clip, especialmente gravado para a ocasião, do George Bush no gabinete da Presidência olhando dentro de gavetas, atrás das cortinas e embaixo dos móveis e dizendo: “Aquelas armas de destruição em massa têm que estar em algum lugar...”
Seria mais engraçado se a invasão do Iraque ordenada por Bush, motivada pelas armas de destruição em massa que não estavam lá, já não tivesse matado alguns milhares de pessoas. No mesmo jantar, Bush fez outra piada tática.
Falou da elite econômica americana, dos milionários e dos arrogantes barões de Wall Street, “que vocês chamam de gatos gordos e insensíveis e eu chamo de... meu eleitorado”. Risos. Palmas. O cinismo faz muito sucesso nos tais jantares.
Bush não decepcionou seu eleitorado. Foi fiel à tese de que deixando os gatos gordos se lambuzarem com concessões e privilégios, como cortes dos seus impostos e pouco controle dos seus excessos, algum benefício escorreria para a maioria.
A famosa trickle-down economics da era Reagan ainda perdura, e Bush tornou o melado ainda mais doce para os ricos. Essa briga entre os republicanos e o Barack Obama sobre elevar ou não o teto para o endividamento americano e como fazer para diminuir o déficit nacional é — ou era, imagino que já tenha se resolvido, ou dado empate — entre o legado de Bush e a mínima ação do Obama de defender o seu eleitorado do poder da ganância.
Um lado quer diminuir o déficit cortando gastos sociais e mantendo intocados os privilégios dos ricos, o outro quer manter os gastos sociais e taxar mais os ricos.
O Obama não está sendo, no governo, exatamente o que seu eleitorado esperava. Compreende-se, tem que ser mais flexível do que coerente para lidar com um Congresso hostil e cuidar da sua sobrevivência, não só política mas — a julgar pela retórica cada vez mais furiosa da direita contra ele — física também.
Mas na questão de quem deve pagar pelo déficit nenhuma flexibilidade era possível. Tratava-se de escolher entre leite para crianças e mais lucro para banqueiros, Fada Boa contra Fada Má.
Mas estou escrevendo antes do desfecho da briga, não sei se o Baraca cedeu. As Fadas Boas andam em recesso no mundo todo.

Multiculturalismo: A farsa intelectual

Os atentados na Noruega deram um gás ao debate sobre o multiculturalismo. O conceito propõe validar as diversas culturas no mesmo nível, rejeitar a ideia de umas estarem acima de outras.

E portanto rejeitar a prerrogativa de umas imporem normas e restrições a outras.

Em geral a crítica ao multiculturalismo é "ocidentecentrada". Uma forma extrema foram os terríveis atentados de Oslo. O maluco -no grau em que ainda for diagnosticado- imbuiu-se da missão de guerrear contra a presença islâmica na Europa.

Um parêntese. Não é por o sujeito ser maluco que seus atos estão imunes à análise política. Aliás, sanidade mental nunca foi requisito para a atividade.

De volta. Agora na Noruega um sujeito decidiu pelo terror contra o multiculturalismo.

Ainda que o assassino possa recusar o rótulo. Dizer que é guerra, não terror. Nem é tão novidade assim. O terrorismo sempre encontra uma justificativa, uma maneira de apresentar-se legítimo.

De um lado e de outro, se for mesmo para dividir a coisa em dois lados antagônicos, como propôs a mente perturbada de Anders Behring Breivik.

Entrar na polêmica sobre o multiculturalismo é complexo. O debate costuma vir carregado de sentimento de culpa ocidental-cristão. Ou judaico-cristão.

Assim, as demais culturas e religiões ganham legitimidade adicional para se apresentar como formas de resistência.

No Brasil tolera-se que índios matem seus filhos portadores de deficiência. É olhado como traço cultural a respeitar. Porque são índios.

É capaz de o mesmo sujeito numa hora criticar, com razão, os governantes incapazes de providenciar acessibilidade e na outra defender o indígena cuja cultura autoriza matar crianças deficientes.

E se olhássemos os atos do maníaco de Oslo pelo ângulo do multiculturalismo? Ainda que apenas como exercício intelectual? A conclusão seria aterradora. Em vez de simplesmente condenar, estaríamos obrigados a “tentar entender”.

Condenados a “combater a origem do problema, e não suas manifestações" extremistas.

Assim como “tentamos entender”, ou tentávamos, o Exército Republicano Irlandês (IRA), o Pátria Basca e Liberdade (ETA). Ou o Hamas. Ou o Hezbollah. Ou a insurgência iraquiana. Ou o terror curdo contra a dominação turca.

Ou talvez o Unabomber.

Supostos motivos para o terrorismo sempre haverá, sempre será possível formulá-los, construí-los sobre os alicerces da vitimização.

Pode ser o Islã vitimizado diante de um Ocidente sedento de petróleo. Ou pode ser a Europa vitimizada por uma invasão bárbara.

Note-se que a posição de vítima, por essa linha, é fonte suficiente de legitimidade para praticar a violência não-estatal, para romper o monopólio estatal da violência. Daí a batalha por esse nicho, o do vitimizado.

É uma guerra central de nossa época. Se a vítima pode tudo, ser vítima confere uma vantagem insuperável.

O portador da insígnia dominará uma posição estratégica, autorizado a usar todo tipo de arma contra o inimigo. E sem a recíproca.

Essa disputa pelo spot de vítima tem base lógica, talvez na autodefesa da espécie, porque o multiculturalismo para todos seria, no limite, completamente disfuncional. Como se deduz do caso norueguês.

Para a sobrevivência de alguma civilização, uns precisariam ter mais direito ao multiculturalismo que outros. Ou, aí sim, viria a barbárie.

No multiculturalismo para todos, o assassino de Oslo deveria, na preliminar, receber a mesma carga de compreensão piedosa reservada, por exemplo, aos insurgentes iraquianos.

E em vez de condenação talvez merecesse concessões.

Idem os agentes iranianos que explodiram o centro comunitário judeu em Buenos Aires.

Eis por que o dito multiculturalismo é forte candidato a farsa intelectual.

Ou seria para todos ou para ninguém. Mas quem defendesse a primeira opção estaria obrigado, entre outras barbaridades, a sair em defesa do assassino de Oslo.

Banda Huaska - O machete

Copa de 2014

Dilma exalta Pelé e fala em Copa histórica

Com a participação de astros da música e da tevê, a cerimônia de sorteio das eliminatórias do próximo mundial de futebol, realizada no Rio de Janeiro, ganhou tom político no pronunciamento da presidente Dilma Rousseff. Diante do dirigente máximo da Fifa, Joseph Blatter, ela prometeu uma edição histórica do torneio e enalteceu Pelé, embaixador honorário do evento, chamando-o de "meu querido". Sentado na primeira fila, o "rei" acabou roubando a cena, sendo aplaudido efusivamente.


Uma frase antológico

“A corrupção nasceu com Adão, implementou-se com Eva e só termina quando o último homem sair da face da terra, levando pela mão a última mulher”, Jarbas Passarinho

Artigo semanal de Delúbio Soares



---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Ruy Nogueira <ruy.sapucahy@gmail.com>
Data: 29 de julho de 2011 18:52
Assunto: Artigo semanal de Delúbio Soares
Para:







REVIVENDO BERNARDO SAYÃO

 

 

Delúbio Soares (*)

 

 

Percorrer os caminhos de Goiás é sempre um prazer para os olhos e um privilégio inigualável. A paisagem natural é rica, o cenário humano é formidável. Melhor que a terra, só seu povo. E já lá se vai meio século de vida em que a convivência com terra e povo, com sua cultura e sua história, suas tradições, esperanças e lutas, me faz a cada dia mais goiano.

 

Quem conhece Goiás sabe o que significa percorrer as formas retilíneas da BR-153, a extraordinária "Belém-Brasília". Cortando nosso território de sul a norte, a imponente rodovia vai de Itumbiara até Porangatu, integrando o Estado e sua gente. Para os goianos do Vale do São Patrício e da região norte, a epopéia da sua construção ainda está muito viva na memória. O trabalho hercúleo de adentrar o cerrado, rasgar o caminho que integraria o sul rico à ainda desconhecida Amazônia, passando pelo então empobrecido centro-oeste, naquele novo Brasil que estava nascendo pela determinação férrea de JK e pelas mãos dos candangos, coube a um carioca nascido no bairro da Tijuca. Foi ele, Bernardo Sayão, um engenheiro agrônomo dado a desafios e que não rejeitava as missões que lhe eram confiadas, quem desempenhou o papel de último bandeirante em solo goiano.

 

Bernardo Sayão formou-se em 1923 na Escola Superior de Agronomia de Belo Horizonte, aos 22 anos, e visitou Goiás pela primeira vez em 1939. Saiu do Rio de Janeiro e tomou o rumo de terra com a qual teria uma relação histórica, num velho Ford. Trazia junto dele a mulher, os filhos, muita determinação e capacidade de trabalho. Assim acampou às margens do Rio Araguaia. Esta façanha chegou ao conhecimento do presidente Getúlio Vargas, que em 1941 designou o jovem engenheiro para implantar a Colônia Agrícola Nacional de Goiás (CANG), que se tornaria a cidade de Ceres. Lá se deu uma de nossas primeiras experiências de reforma agrária: as glebas eram doadas para casais, que se comprometiam a cultivá-las, criar suas famílias, colonizar o interior goiano, gerar riqueza. Em suma, um projeto visionário e generoso no Brasil ainda pobre e sertanejo dos anos 40. Uma das facetas de Sayão: não era um reacionário preso às velhas estruturas oligárquicas, senão um progressista em busca de soluções para os nossos problemas.

 

Para consolidar o projeto da "Marcha para o Oeste", em 1944 Sayão conclui os 142 quilometros ligando Ceres à cidade de Anápolis. Em 1954 seria eleito vice-governador com mais votos que o governador eleito! Logo em seguida foi nomeado pelo presidente Juscelino para a diretoria da Novacap, trabalhando ao lado de Israel Pinheiro na epopéia da construção de Brasília. Em 1958 JK encarrega Sayão de tocar as obras da indispensável rodovia Belém-Brasília. Não era homem de se ater, apenas e tão somente, ao comando: punha a mão na massa e se irmanava aos peões no trabalho braçal, com vontade, irradiando liderança e companheirismo. Era um líder nato e admirado por todos. Faltando duas semanas para a inauguração da rodovia, em 15 de janeiro de 1959, é vítima de um brutal acidente: uma árvore, derrubada na beira da estrada, cai sobre a barraca onde se encontrava. O destino foi ingrato com um homem jovem e em seu pleno vigor, que ainda tinha muito a oferecer à Goiás e ao Brasil. Seu nome é relembrado e seu trabalho reconhecido. Em todas as cidades ao longo da rodovia as homenagens se sucedem: são ruas, praças, avenidas, escolas ou prédios públicos que levam, merecidamente, o seu nome. A pujança que a região exibe faz jus à memória do destemido engenheiro, e ao visitá-la sua imagem e tudo o que lí sobre ele me vem à memória. Recordá-lo é não apenas prestar um tributo à figura de um grande brasileiro, mas reafirmar o compromisso que nós, goianos, temos com o progresso e o desenvolvimento.

 

Ceres é hoje uma cidade rica, de economia pujante, que se destaca na prestação de serviços. Uruaçu vive um "boom" imobiliário com negócios em torno do turismo e dos esportes náuticos às margens do Lago de Serra da Mesa. Porangatu é um pólo na atração de empresas, chamando atenção pelos investimentos chineses que estão criando uma nova fronteira para a soja nas planícies que permeiam as cadeias de serras que compõe aquele Município e toda a rica região do Vale do Rio Araguaia. Certamente, Bernardo Sayão se orgulharia de ver sua obra concluída. Seu espírito desbravador se rejubilaria com outra artéria de desenvolvimento que corta a região: os trilhos da Ferrovia Norte-Sul. De JK a Lula, o Médio-Norte Goiano ganhou incentivos perenes para seu desenvolvimento. Mas vale lembrar também outro reforço rodoviário: a BR-080. No governo Dilma a sua pavimentação corre célere e já liga o Distrito de Luís Alves a Brasília, e o objetivo final é que chegue a São Miguel do Araguaia. Prosseguirá adentrando os Estados de Mato Grosso, Rondônia e Acre, e depois de rasgar o ventre da Amazônia no Brasil e no Peru, encontrará a Cordilheira dos Andes e descerá rumando para os portos de Ilo/Callao, no Oceano Pacífico.

 

Sul e norte de Goiás têm paisagens distintas, povos com costumes que se diferenciam em algumas particularidades, mas unem-se nas aspirações de desenvolvimento e de progresso. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos Municípios do norte goiano não param de subir. Respira-se progresso por onde se passa. Os empreendedores mudam a face do antes pacato interior goiano, dando-lhe ares de um novo Eldorado do agronegócio. Os dois mandatos do presidente Lula tiveram uma significação especial para Goiás e o seu desenvolvimento e há em cada cidadã e cidadão goianos que trabalham e investem no desenvolvimento de sua terra um espírito desbravador, otimista e vitorioso. Em cada goiano há um Bernardo Sayão redivivo.

 

(*) Delúbio Soares é professor

www.delubio.com.br

www.twitter.com/delubiosoares