Discriminação

A meia entrada para estudantes e idosos na Copa de 2014 virou motivo de tensão entre a Fifa e o governo brasileiro. Virou também pretexto para arroubos supostamente patrióticos, como se a soberania nacional estivesse no desconto de 50% para esses dois segmentos.

Mas o debate é bom, pela oportunidade de olhar uma certa modalidade de política social invertida. Em que a pretexto de fazer justiça faz-se o contrário. Tipicamente brasileiro.

Por que motivo o estudante bem situado, de boa renda ou de família abastada, deveria receber o desconto? E a mesma dúvida vale para quem já passou de certa idade mas tem dinheiro suficiente para pagar um ingresso de Copa, sem isso lhe pesar no bolso.

É verdade que a proposta se sustenta em leis brasileiras reguladoras do acesso a bens culturais, mas o caso da Copa introduz um complicador. Como a Fifa não pretende abrir mão de receita, há o risco real de a conta acabar espetada no Tesouro.

Se os ingressos normais fossem majorados para compensar, seria uma opção comercial. Numa esfera rigorosamente privada. Achei caro? Problema meu. Assisto ao jogo pela tevê. Ou, se a raiva for muita, vou fazer outra coisa na hora da partida.

Mas o que se trama aqui é a aberração das aberrações: o contribuinte (grande, médio ou pequeno) pagar a metade do bilhete de alguém que poderia perfeitamente arcar com a despesa integral.

Para que os políticos possam cumprir os compromissos com a Fifa e, ao mesmo tempo, fazer média, demagogia. Às nossas custas.

Será bonito se o governo tomar medidas para dar aos mais pobres acesso aos estádios na Copa do Mundo. Será bacana, por exemplo, se destinar parte das cadeiras aos beneficiados pelo Bolsa Família.

O Brasil gosta de ser reconhecido pelas ações para reduzir a pobreza. Então que faça algo original nesse campo.

Mas não é a proposta. Vemos apenas mais um episódio no qual a pretexto de proteger grupos-alvo de políticas públicas o Estado assume o papel de garantidor de privilégios e socializador do seu custo.

Que o Brasil se entenda com a Fifa. Desde que a conta não sobre no fim para a sociedade. Especialmente para o contribuinte de menor renda, sempre um candidato favorito a arcar com a dolorosa, dada a forte regressividade do sistema tributário brasileiro.

O povão que não tem dinheiro para comprar um ingresso não deve ajudar a subsidiar, por meio dos impostos, o divertimento do rico ou do classe média.

Não existe qualquer problema de princípio em mudar leis para se adaptar a normas que regem eventos como uma Copa, ou Olimpíada. A soberania nacional não será afetada, inclusive porque a decisão de alterar a legislação é, aí sim, soberana de cada país.

A discussão deveria estar focalizada no mérito. É razoável o orçamento público arcar com um privilégio 100% injustificável?

Se querem premiar o estudante pobre e o idoso pobre, tudo bem. É justo. Mas aí aparece uma dúvida. Se é para fazer política social, por que não estender o benefício a todos os pobres?

Por que discriminar?


Religião: Frase do dia

O problema de alguns religiosos é que eles acham que puxar o saco de Deus lhes garante a "salvação".

Compatibilidade de gênios

A mulher entrega a petição de divórcio ao juiz, ele intrigado pergunta: 
— A senhora tem certeza do que esta pedindo?... Quer divórcio por compatibilidade de gênios? Não seria o contrário?
— Não, meritíssimo, é por compatibilidade mesmo. Eu gosto de cinema, o meu marido também, eu gosto de ir a praia e ele também, eu gosto de ir ao teatro e ele também, eu gosto de homem e ele também!

Prá rir

- Sinhô, tem remédio para picada de cobra? pergunta o preguiçoso.
- Tem sim. Por que?
- É que tá vindo uma na nossa direção!

Prá desopilar

- Tia, prá que a sinhora vai pru salão de beleza?
- Prá ficá bunita!
- E purquê num fica, uai?...

O perfeito babaca politicamente incorreto

Concordo [e muito] com várias coisas que estão escritas abaixo. Mas, por que tenho de ser politicamente correto?...

E, " politicamente correto "significa o que mesmo?...


No Brasil, é aquele sujeito que se sente no direito de ir contra as idéias mais progressistas e civilizadas possíveis em nome de uma pretensa independência de opinião. Saiba como reconhecê-lo. Por Cynara Menezes. Foto: Reprodução
Em 1996, três jornalistas –entre eles o filho do Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, Álvaro –lançaram com estardalhaço o “Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano”. Com suas críticas às idéias de esquerda, o livro se tornaria uma espécie de bíblia do pensamento conservador no continente. Vivia-se o auge do deus mercado e a obra tinha como alvo o pensamento de esquerda, o protecionismo econômico e a crença no Estado como agente da justiça social. Quinze anos e duas crises econômicas mundiais depois, vemos quem de fato era o perfeito idiota.
Mas, quem diria, apesar de derrotado pela história, o Manual continua sendo não só a única referência intelectual do conservadorismo latino-americano como gerou filhos. No Brasil, é aquele sujeito que se sente no direito de ir contra as idéias mais progressistas e civilizadas possíveis em nome de uma pretensa independência de opinião que, no fundo, disfarça sua real ideologia e as lacunas em sua formação. Como de fato a obra de Álvaro e companhia marcou época, até como homenagem vamos chamá-los de “perfeitos imbecis politicamente incorretos”. Eles se dividem em três grupos:
1. o “pensador” imbecil politicamente incorreto: ataca líderes LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trânsgeneros) e defende homofóbicos sob o pretexto de salvaguardar a liberdade de expressão. Ataca a política de cotas baseado na idéia que propaga de que não existe racismo no Brasil. Além disso, ações afirmativas seriam “privilégios” que não condizem com uma sociedade em que há “oportunidades iguais para todos”. Defende as posições da Igreja Católica contra a legalização do aborto e ignora as denúncias de pedofilia entre o clero. Adora chamar socialistas de “anacrônicos” e os guerrilheiros que lutaram contra a ditadura de “terroristas”, mas apoia golpes de Estado “constitucionais”. Um torturado? “Apenas um idiota que se deixou apanhar.” Foge do debate de idéias como o diabo da cruz, optando por ridicularizar os adversários com apelidos tolos. Seu mote favorito é o combate à corrupção, mas os corruptos sempre estão do lado oposto ao seu. Prega o voto nulo para ocultar seu direitismo atávico. Em vez de se ocupar em escrever livros elogiando os próprios ídolos, prefere a fórmula dos guias que detonam os ídolos alheios –os de esquerda, claro. Sua principal característica é confundir inteligência com escrever e falar corretamente o português.
2. o comediante imbecil politicamente incorreto: sua visão de humor é a do bullying. Para ele não existe o humor físico de um Charles Chaplin ou Buster Keaton, ou o humor nonsense do Monty Python: o único humor possível é o que ri do próximo. Por “próximo”, leia-se pobres, negros, feios, gays, desdentados, gordos, deficientes mentais, tudo em nome da “liberdade de fazer rir.” Prega que não há limites para o humor, mas é uma falácia. O limite para este tipo de comediante é o bolso: só é admoestado pelos empregadores quando incomoda quem tem dinheiro e pode processá-los. Não é à toa que seus personagens sempre estão no ônibus ou no metrô, nunca num 4X4. Ri do office-boy e da doméstica, jamais do patrão. Iguala a classe política por baixo e não tem nenhum respeito pelas instituições: o Congresso? “Melhor seria atear fogo”. Diz-se defensor da democracia, mas adora repetir a “piada” de que sente saudades da ditadura. Sua principal característica é não ser engraçado.
3. o cidadão imbecil politicamente incorreto: não se sabe se é a causa ou o resultados dos dois anteriores, mas é, sem dúvida, o que dá mais tristeza entre os três. Sua visão de mundo pode ser resumida na frase “primeiro eu”. Não lhe importa a desigualdade social desde que ele esteja bem. O pobre para o cidadão imbecil é, antes de tudo, um incompetente. Portanto, que mal haveria em rir dele? Com a mulher e o negro é a mesma coisa: quem ganha menos é porque não fez por merecer. Gordos e feios, então, era melhor que nem existissem. Hahaha. Considera normal contar piadas racistas, principalmente diante de “amigos” negros, e fazer gozação com os subordinados, porque, afinal, é tudo brincadeira. É radicalmente contra o bolsa-família porque estimula uma “preguiça” que, segundo ele, todo pobre (sobretudo se for nordestino) possui correndo em seu sangue. Também é contrário a qualquer tipo de ação afirmativa: se a pessoa não conseguiu chegar lá, problema dela, não é ele que tem de “pagar o prejuízo”. Sua principal característica é não possuir ideias além das que propagam os “pensadores” e os comediantes imbecis politicamente incorretos.
Cynara Menezes é jornalista. Atuou no extinto "Jornal da Bahia", em Salvador, onde morava. Em 1989, de Brasília, atuava para diversos órgãos da imprensa. Morou dois anos na Espanha e outros dez em São Paulo, quando colaborou para a "Folha de S. Paulo", "Estadão", "Veja" e para a revista "VIP". Está de volta a Brasília há dois anos e meio, de onde escreve para a CartaCapital. 

Sugerir arranca pedaços?

Depois de ser acusada de censura por pedir a suspensão de um comercial de lingerie com a top model Gisele Bünchen, considerado sexista e ofensivo pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, a ministra Iriny Lopes, viu-se envolvida em outra polêmica sobre uma suposta interferência do governo na mídia.
Lopes enviou uma sugestão, na quarta-feira 5, à rede de tevê Globo para que a personagem Celeste (Dira Paes) da novela Fina Estampa, agredida pelo marido, procurasse na trama de ficção a Rede de Atendimento à Mulher e a Central de Atendimento à Mulher, ligando para o número 180.
Em entrevista à equipe do site de CartaCapital na tarde de sexta-feira 7, quando visitou a redação da revista, a ministra se defendeu da enxurrada de críticas e disse que a mídia é míope “por achar que o governo não pode fazer sugestões”. “Sugerir não tira pedaço de ninguém.”
“Como a violência doméstica nessa novela inclui, além da esposa, a filha adolescente, decidimos sugerir, a critério da emissora e obviamente do autor, que, para além da punição, se pudesse abordar um aspecto da Lei Maria da Penha, praticamente desconhecido das pessoas: a reabilitação.”
A ministra se refere ao artigo 35 da lei, que estipula a criação de centros de educação e reabilitação para agressores. “Achamos que era uma boa oportunidade para sugerir a elaboração, por exemplo, de um personagem, um juiz, que determine essa medida com base na legislação.”
Ressaltando sua relação de respeito com a emissora carioca, a ministra disse ter conversado com Luis Erlanger, Diretor da Central Globo de Comunicação, na quinta-feira 6, sobre o assunto. “Ele [Erlanger] me disse que estava com muitos capítulos gravados e não poderia assumir o compromisso de fazer [adotar a sugestão] na opinião da emissora, mas é claro que vai depender sobremaneira do autor [Aguinaldo Silva]”, com quem ainda não teve contato, conforme destaca.
A ministra solicitou, porém, que a direção da emissora repassasse o email com a sugestão a Aguinaldo Silva. “Parece que ele não gostou muito”, disse.
Devido à superexposição da Secretaria nos últimos dias, em decorrência do seu posicionamento contra a campanha de lingerie e também da sugestão feita à emissora carioca, a ministra reforçou a importância de não se banalizar o instrumento de protesto. “É preciso analisar cada pedido que recebemos e ver se há consistência, é uma espécie de filtro.”
Na tarde de sexta-feira, a Rede Globo divulgou uma nota sobre o caso. Com a assinatura de Erlanger, o documento aponta que a emissora não enxerga o ofício da ministra como “uma tentativa de coibir a liberdade de expressão, mas sim uma colaboração dentro do espírito de parceria que tem marcado nosso relacionamento.”
Sobre as agressões retratadas na novela, a nota destaca a necessidade de “focar o lado negativo antes de se construir o desenlace” e sugere a abordagem desse caminho em breve. “Na verdade, a sintonia é tamanha que sua sugestão chega quando os capítulos com desenvolvimento dessa trama em ‘Fina Estampa’ já foram produzidos com boa antecedência.”
Sobre um pedido de retirada do ar de um quadro do programa de humor Zorra Total, também da Globo, situado em um vagão de metrô, o site da Secretaria informa não ter tomado nenhuma atitude nesse sentido, apenas apoiado a ação de protesto do Sindicato dos Metroviários de São Paulo.