O vazio da frustração

Por Carlos Chagas
De quando em quando surpreendem-me cobranças de gente séria, amigos e companheiros de longa data, alguns até indignados com comentários de minha lavra, cáusticos para com o ex-presidente Fernando Henrique. Afinal, durante longos anos admiramos a trajetória do Príncipe dos Sociólogos, personalidade que emergia dos porões da ditadura como esperança bem nascida para o Brasil superar os tempos bicudos e obscuros do pensamento único e do enquadramento de nossa sociedade nas jaulas do obscurantismo. Afinal, de jovem participante da campanha do “Petróleo É Nosso” ao professor universitário que contestava o modelo imposto pelo capitalismo selvagem do chamado “Mundo Livre”, sem radicalismos, ele apontava novos rumos para o Terceiro Mundo. Nada de aventuras inspiradas pela justa indignação dos oprimidos de armas na mão, mas um roteiro social aberto à construção do futuro comum onde a Humanidade prevaleceria sobre o egoísmo das elites ensandecidas pela loucura do lucro a qualquer custo.  Por conta de sua pregação igualitária, foi perseguido, obrigou-se a deixar o país, resistindo no Chile, na Sorbonne e depois, antes mesmo da anistia, na cruzada pela redemocratização nacional.  Poucos se deram conta de sua enrustida metamorfose financiada pela Ford Foundation, mas nada havia de pecaminoso em dialogar com os contrários.

MPL: o novo assusta

 
Para entendermos acontecimentos históricos e seu real alcance, o distanciamento trazido pela passagem do tempo geralmente nos dá maior clareza. As recentes manifestações contra o aumento das passagens de ônibus em todo o Brasil mobilizaram milhares de jovens e ainda estamos vivendo o calor deste momento, infelizmente colorido com cenas de bárbara violência orquestrada pela PM de São Paulo. Isso pode dificultar entendermos o que acontece de maneira objetiva.

Para tentar entender as origens desta mobilização pesquisamos na Wikipédia (que sabemos nem sempre ser uma fonte confiável, mas a única com informações históricas disponíveis no momento) seu texto nos diz que o movimento surgiu a partir de manifestações populares contra o aumento de ônibus em Salvador em 2003, que teriam sido encampadas pelo movimento estudantil e parcialmente atendidas. O movimento passa a existir oficialmente a partir do V Fórum Social Mundial em 2005. Seus princípios seriam o apartidarismo, a independência e a horizontalidade e decisões por consenso isto é, todos teriam iguais responsabilidades e direitos, a fim de garantir real democracia.       
        
Pudemos observar através do material de vídeos que encontramos na web que suas práticas são bastante semelhantes à de movimentos como o Occupy Wall Street, que reúne pessoas de várias orientações políticas e procura dar a todos igual participação. Na prática, sabemos que várias organizações de esquerda que militam no movimento estudantil participam de forma ativa do movimento, o que para nós não o desqualifica e explicaremos logo abaixo o porque. Continua>>>

Bem +

Muito mais informação com credibilidade

Senha segura

O sonho de toda mulher

Responsabilidade social em 5 parágrafos

Adaptado de um texto de Portia Nelson (em "Stories for the Heart"): 


  • Eu caminho pela rua. Existe um buraco na calçada. Eu estou distraído, pensando em mim, e caio lá dentro. Sinto-me perdido, infeliz, incapaz de pedir ajuda. Não foi minha culpa, mas de quem cavou aquele buraco ali. Eu me revolto, fico desesperado, sou uma vítima da irresponsabilidade dos outros, e passo muito tempo lá dentro.
  • Eu caminho pela rua. Existe um buraco na calçada. Eu finjo que não vejo, aquilo não é meu problema. Eu caio de novo lá dentro. Não posso acreditar que isto aconteceu mais uma vez, devia ter aprendido a lição, e mandado alguém fechar o buraco. Demoro muito tempo para sair dali.
  • Eu caminho pela rua. Existe um buraco calçado. Eu o vejo. Eu sei que ele está ali, porque já caí duas vezes. Entretanto, sou uma pessoa acostumada a fazer sempre o mesmo trajeto. Por causa disso, caio uma terceira vez; é o hábito.
  • Eu caminho pela rua. Existe um buraco na calçada. Eu dou a volta em torno dele. Logo depois de passar, escuto alguém gritando - deve ter caído naquele buraco. A rua fica interditada, e eu não posso seguir adiante.
  • Eu caminho pela rua. Existe um buraco na calçada. Eu coloco tábuas em cima. Posso seguir meu caminho, e ninguém mais tornará a cair ali.

Corpos estendidos no chão


Esta crônica é praticamente uma cópia xerox da nossa mesmice sem eco, porque trata de um tema ao qual nos habituamos a aceitar sem reagir, sem fazer nada, a não ser levantar as mãos e, para quem acredita na proteção divina, implorar para não ser morto. Coisa que na maioria das vezes não é atendido, a menos que tenha dado a senha do cartão de crédito para o procurador dos céus, o Sr. deputado Feliciano, que afirmou que "não pagou, deus não faz..." 

O povo brasileiro, aquele que está diariamente na fila para ser vítima da violência, aguardando a vez para tremer pela vida diante do revólver covarde de um bandido mais covarde ainda quando escuta a frase aviltante: "perdeu, perdeu, vagabundo..." E vagabundo, a bem da verdade, são os que estão a caminho do trabalho, levando os filhos para as escolas ou que se arriscam a comer um sanduíche até mesmo em lanchonetes de periferia ou os abastados que se atrevem a frequentar restaurantes elegantes. 

Arrastão deixou de ser uma ação de recolher do mar a rede de pesca para ser conhecido como assalto no atacado com violência. Não é a toa que os programas policiais têm a audiência que têm. Uma parte dos telespectadores, numa espécie de atualização da violência urbana que o torna refém mais estressado quando põe os pés fora de casa nem que seja para ir logo ali, na esquina que seja; do lado da bandidagem, para se regozijar dizendo, do alto da sua certeza de impunidade, "é nóis na fita!", comemorando como se fossem gols a morte de um pai de família, uma criança, uma mulher grávida ou não, um idoso, um circunstante que deu azar e encontrou a sua bala perdida.

Nada do que se diga sensibiliza mais as autoridades com seus discursos escritos pela sua assessoria, preocupada apenas com os índices de popularidade de seus clientes. Desculpas esfarrapadas, autoridades explicando o inexplicável, as alegadas faltas de recursos que só faltam porque foram desviadas ou comidas pela gula crescente do superfaturamento. Até aqui, nenhuma novidade. Vai ver somos realmente os "vagabundos", como nos chamam os bandidos quando nos apontam uma arma nervosa alugada com numeração raspada, esperando apenas um piscar de olhos nosso para puxar o gatilho. 

A moda agora é atirar na cabeça e nem precisa que a vítima tenha reagido. É por prazer mesmo, para ganhar mídia, para aparecer bem na fita. A certeza da impunidade da violência brasileira ficou tão conhecida que está se internacionalizando; os direitos humanos estão tão rigorosos na defesa da integridade dos bandidos e na blindagem de menores de idade com dezessete anos, onze meses, trinta dias, 23 horas, cinquenta e nove minutos e cinquenta e nove segundos, que esse holandês experimentou matar uma criança, deixá-la apodrecendo dentro de um quarto de hotel e preparar uma caixa para colocar o corpo e desová-lo em qualquer lugar de Fortaleza que se enfeita para a Copa das Confederações e a outra, a do Mundo.

Os bandidos estão unidos, organizados e "bandido unido jamais será vencido" e nóis, ou tóiss? Ah, "nóis nunca tá bem na fita" porque "nóis", do lado de cá, tá sempre estirado no chão, coberto por um lençol e cercado de curiosos sorridentes vendo o desespero de parentes que depois aparecem dizendo que "só quero justiça!" Que justiça, minha senhora? Que justiça, meu senhor? A dos homens tarda pra caramba e a divina só com a senha do banco.

A. CAPIBARIBE NETO