Algumas coisas não foram feitas para serem engolidas duas vezes

Massa desobedece Williams: E outras histórias controversas inesquecíveis da Fórmula 1  
Algumas coisas não são feitas para serem engolidas duas vezes.
A primeira, vai, pode ser no susto, a gente entende. Quem nunca se omitiu quando deveria ter vociferado um belo ¿Por qué no te callas?, daqueles de deixar o rei Juan Carlos orgulhoso? Eu sim.

“Fernando está mais rápido do que você. Confirma que entendeu essa mensagem?”

Em 2010, essa frase transmitida pelo rádio da Ferrari deu início a um dos episódios mais pesados da carreira de Felipe Massa, ao exigirem abrir caminho para Fernando Alonso:

O GP da Malásia nesse domingo, vencido por Lewis Hamilton, ameaçou ser um traumático déja vupara Felipe Massa. A instrução inicial veio idêntica:
Bottas está mais rápido do que você. Não o segure. Ele tem pneus melhores, deixe ele ir.”
O engenheiro do piloto finlândes Valtteri Bottas, companheiro de Massa, disse:
“Ultrapasse-o.”
A intenção do time era dar a Bottas uma chance de atacar Jenson Button, que estava em sexto lugar. Massa ignorou o rádio e pisou fundo. A duas voltas do final, os engenheiros deram novas instruções, “mantenham as posições e apenas tragam os carros para casa”.
O engenheiro-chefe da equipe, Rod Nelson, deu uma declaração furadíssima após a disputa, dizendo terem um improvável plano B em mãos:
“Ele (Massa) não fez o que nós preferíamos que ele tivesse feito. Felipe estava correndo com altas temperaturas em seu motor e estávamos um pouco preocupados com isso. Valtteri tinha pneus muito mais frescos que Jenson. Nós achamos que seria bom dar a Valtteri uma chance de passar Jenson.
Depois, caso ele não conseguisse em duas ou três voltas, nós trocaríamos (a posição de) nossos pilotos novamente e todos ficariam felizes.”
Se eu ainda estivesse no jardim de infância, acreditaria. A entrevista no paddock deixou clara a tensão dos companheiros de equipe:

Questionado sobre sua postura, Massa marcou território:
“Ouvi a mensagem. Lutei até o fim e fiz minha corrida. Valtteri não conseguiu me passar. (…) É justo fazer o melhor que podemos? Temos dois campeonatos (equipes e pilotos). Respeito meu trabalho. Precisamos respeitar uns aos outros.”
Sim, o ideal seria termos um Massa veloz o suficiente para não se ver em sinucas como essas e ponto final. Nenhum piloto de ponta digno de respeito é tratado como coitadinho. Porém, tal linha de pensamento não me serve para justificar uma enrabada desse tamanho, em especial no início da temporada.
Pilotar um Fórmula 1 a 300km/h é, por definição, desobedecer ordens claras da mãe natureza para que permaneça vivo. Não vejo como alguém possa sequer estar nessa modalidade ou aspirar ser campeão da mesma sem ser um hábil atleta na arte de mandartomarnocu.
Aos olhos da imprensa internacional, Massa foi corajoso diante de situação humilhante. Em bom português, ele mandou a instrução da Williams ser enrolada em papel jornal e enviada para uso íntimo por sua chefe.
Claire Williams, atual chefona da equipe, não curtiu
Claire Williams, atual chefona da equipe, não curtiu
Fez bem.
* * *

10 confusões envolvendo ordens de equipe, ao longo da história:

Ordens emitidas pelos times são o elefante rosa da F1. Todos sabem que são prática comum, mas ninguém gosta de falar sobre. Após o triste episódio envolvendo Schumacher e Barrichelo na Áustria, em 2002, elas foram banidas. A partir de 2011, foram permitidas novamente, apesar de continuarem polêmicas.

1.  Luigi Fagioli e Juan Manuel Fangio (França, 1951)


Carros compartilhados eram permitidos na época. A Alfa Romeo instruiu Luigi a trocar seu carro com Fangio, por conta de problemas sofridos pelo argentino no início da prova. Fagioli aceitou e conquistaram a vitória, mas logo após ele se demitiu da equipe.

2. Luigi Musso, Peter Collins and Juan Manuel Fangio (Itália, 1956)


Fangio estava oito pontos à frente de seu companheiro Luigi Muso no campeonato, quando teve um problema com a direção de seu bólido. A Ferrari ordenou a Musso que cedesse seu carro a Fangio, mas ele se recusou. Peter Collins voluntariamente parou e cedeu seu veículo a Fangio, que terminou em segundo, selando a conquista de mais um título mundial.

3. Carlos Reutemann e Alan Jones (Brasil, 1981)

Carlos Reutemann
Carlos Reutemann com expressão típica de quem não está propenso a comer bosta no café da manhã
Reutemann se negou a ceder a liderança do GP do Brasil para seu companheiro Alan Jones, ignorando o comando da Williams. Ao final do campeonato, Carlos ficou em segundo lugar, perdendo a conquista por apenas um ponto, para Nelson Piquet.

4. Gilles Villeneuve e Didier Pironi (San Marino, 1982)


Villeneuve ficou irado com a postura de Didier Pironi ao supostamente desobecer ordens dúbias vindas da Ferrari e ultrapassá-lo. Nas qualificatórias para o GP seguinte, Villeneuve faleceu enquanto buscava bater o tempo de seu companheiro de equipe.

5. Alain Prost e Ayrton Senna (San Marino, 1989)


Por sugestão de Senna, houve um pré-acordo na McLaren para que o piloto que terminasse a primeira volta liderando permanecesse lá. Após um acidente que causou a entrada do safety car e o recomeço da corrida, o próprio Senna ultrapassou Prost. A rivalidade entre os dois ganhava força.

6. Mika Hakkinen e David Coulthard (Australia, 1998)


Ao final da prova, que estava sendo liderada com tranquilidade por David Coulthard, ele permitiu que seu companheiro da McLaren o ultrapassasse. Aparentemente havia um acordo pré-corrida entre eles determinando que o piloto a terminar a primeira curva como líder seria o dono da vitória. Mika não poupou elogios a David, por manter sua palavra.
Após o incidente, foi tornado parte do regulamento o trecho dizendo que “qualquer episódio que interferisse nos interesses da competição deveria ser severamente punido de acordo com o código 151c do International Sporting Code”.

7. Damon Hill e Ralf Schumacher (Bélgica, 1998)


Pela primeira vez na história a Jordan tinha seus pilotos na primeira e segunda posições de uma corrida. No entanto, Ralf Schumacher estava em segundo e mais veloz do que Hill. Hill defendeu seu caso pelo rádio e a equipe decidiu que ele não deveria sofrer tentativas de ultrapassagem.

8. Michael Schumacher e Rubens Barrichello (Áustria, 2002)

Pódium sombrio
Pódium sombrio
Rubinho liderou de ponta a ponta, em uma corrida brilhante. Ao final, a Ferrari ordenou que deixasse Schumacher passar, para que acumulasse a maior quantidade de pontos possível (Schumacher já era líder com sobras nessa temporada). Rubens cedeu a posição a poucos metros da linha de chegada, ocasionando pesadas vaias, que se mantiveram durante o pódio.
Schumacher colocou Rubens no topo e o entregou seu troféu. Ambos pilotos e a própria Ferrari foram multados em U$1.000.000,00 cada.
Após esse incidente, ordens de equipe que afetassem o resultado de uma corrida foram proibidas.

9. Fernando Alonso e Felipe Massa (Alemanha, 2010)

Massa apequenado
Massa apequenado
Mesmo com ordens de equipe proibidas e os rádios abertos, a Ferrari fez novamente. Tentou disfarçar o comando com a famosa frase, “Fernando está mais rápido do que você. Você confirma ter entendido a mensagem?”. Massa cedeu.
Ao fim da temporada, a FIA revogou o banimento das ordens de equipe, alegando ser muito difícil policiá-las.

10. Sebastian Vettel e Mark Webber (Malásia, 2013)


Webber estava em primeiro, quando Sebastian Vettel o ultrapassou, ignorando ordens da equipe para manterem posições. Vettel se desculpou e depois mudou de discurso, dizendo que era uma corrida, estava mais rápido e venceu. Ouch.
* * *
Esses dez episódios, listados pelo Bleacher Report, são apenas os mais conhecidos. E nos lembram como hierarquia é um terreno pra lá de arisco na F1.
Guilherme Nascimento Valadares

Interessado em boas conversas, redes, economia da atenção, em criar negócios que não se pareçam com negócios e no futuro do conteúdo. Formado em Comunicação, trabalha há nove anos com comunidades digitais. Na interseção desses pilares, surgiram o PdH, o Escribas e o lugar.


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Oposição na tocaia

Tá todo mundo de tocaia
Depois que alguns parlamentares dos partidos de sustentação do governo propuseram estender a CPI da Petrobras até o trensalão tucano de São Paulo, com passagem pelo porto de Suape, em Pernambuco, que o assunto CPI da Petrobras desapareceu das manchetes dos grandes jornais do eixo Rio-São Paulo, ou melhor, da mídia.
Repentinamente o assunto amornou, mas provavelmente vai ser requentado a uma temperatura bastante elevada depois do veredicto do STF.  Sim, do STF.  Isso porque o Dudu Campos já disse que vai recorrer ao Supremo para evitar uma CPI tão grande e diversificada, e eu adiciono, do tamanho de um trensalão com vagões superfaturados.
Veja que político ridículo esse tal de Dudu Campos: ele vai apelar para a última cidadela de defesa de uma oposição sem propostas, sem escrúpulos, sem pudor e sem porra nenhuma na cabeça; ele vai apelar para o STF. É a judicialização da política a pedido de alguns políticos da oposição. Isto é razoável?  Fica claro que a oposição quer ganhar mais uma vez no tapetão.   
Naturalmente que o silêncio da mídia tem como objetivo manter o trensalão fora de pauta e o Serra e o Alckmin fora da cadeia, mas também é uma pausa para o realinhamento das forças que já tentaram destruir a Petrobras no governo FHC e que agora acusam o governo Dilma de querer fazer a mesma coisa. 
Gente vagabunda!
Notívagano

Para 65%, a vítima é culpada pelo estupro se usar short, decote ou saia curta

Ela estava pedindo
Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. É uma afirmação forte. Leia novamente, por outro ângulo. Homens que atacam mulheres com shorts, saias curtas ou decotes reveladores não têm culpa nenhuma. Eles não são agressores, apenas respondem a seu instinto humano e animal.

O homem, ao atacar, exerce o direito masculino de se apossar daqueles nacos de carne exibidos. Coxas, umbigo, linha dos seios, costas. Se ela mostrou na rua, em público, estava pedindo, não é mesmo? Nesse caso, se existe algum culpado de ataque sexual, claro, é ela. A fêmea que provoca o desejo do macho.

Se você acha que enlouqueci, saiba que faz parte de uma minoria no Brasil. Também sou minoria. Mesmo ciente do preconceito e do machismo entranhados em nossa sociedade, fiquei escandalizada com o resultado de uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), realizada entre maio e junho do ano passado, com 3.810 pessoas em todo o país.

Segundo o levantamento, 65% dos entrevistados concordam parcial (22,4%)  ou totalmente (42,7%) com a afirmação “mulher que mostra o corpo merece ser atacada”. Não é só homem que acha isso. Muita mulher moralista, hipócrita e ciumenta acha o mesmo. Que queimem no inferno as mulheres fáceis e libertinas...ou apenas sensuais, bonitas e desejáveis que economizam no tecido.

Quinhentas e vinte e sete mil mulheres, adolescentes e crianças são estupradas por ano no Brasil. Isso significa que, a cada dia, ocorrem 1.443 estupros de seres do sexo feminino. São 60 estupros por hora. Um estupro por minuto. Não sei quanto tempo você leva para ler esta coluna. Marque no relógio e, no ponto final, saberá quantas mulheres, adolescentes e crianças terão sido atacadas sexualmente enquanto você pensa se faz parte dos 65% de brasileiros que culpam a vítima.

“Mulher ainda é vista como propriedade no país. Homem pode fazer o que quiser do corpo feminino.” Essa é a visão da socióloga Samira Bueno, diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Está no senso comum que a mulher provoca e, por isso, é estuprada, que ela apanha porque o marido estava nervoso, que ela deve tolerar as agressões para manter o núcleo familiar”, disse Samira ao jornal O Globo.

A pesquisa do Ipea revela um poço de preconceitos. Dá arrepio na alma. Mas prefiro me concentrar na parte mais atroz e cruel: a inversão da culpa nos ataques sexuais. Que explica também por que 58% dos entrevistados acham que, “se as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros”. Eles culpam Eva e seus atributos físicos.

As famílias ajudam a perpetuar o preconceito. Pais e mães que se orgulham do filho “garanhão” e “comedor” e castigam a filha “namoradeira” e sexualmente livre contribuem para visões distorcidas dos gêneros. Ambas as atitudes – o orgulho e a rejeição – são equivocadas.

Escrevi uma coluna, “Os pegadores e as vagabundas”, que descreve exatamente essa dupla moral. O número alto ou baixo de parceiros sexuais não determina o caráter ou o real prazer de ninguém. A rotatividade na cama não deveria ser tachada de devassidão. Não sempre. A busca talvez? Mas o homem pode buscar, e a mulher não... ainda hoje, no ano 2014, ela é malvista.

Em cidades litorâneas e quentes onde se anda semidespido, como o Rio de Janeiro, fica claro, nos calçadões, o código do figurino diferenciado. Homens de todas as idades e corpos caminham de sunga, mas praticamente só as gringas caminham de biquíni, sem nada por cima. As cariocas têm receio de ser atacadas verbalmente ou fisicamente se andarem na calçada de biquíni.

Em São Paulo, passar a mão dentro do metrô e dos trens virou esporte de macho mal resolvido, que quer extravasar as frustrações. Homens foram presos em flagrante, sob acusação de abuso de passageiras jovens e bonitas. Alguns desses abusadores se gabam na internet de usar o transporte público para molestar as mulheres. Há os que se masturbam, que se encostam, que filmam as moças. Uma passageira disse ao Fantástico que anda no metrô com uma chave de fenda, por defesa pessoal. Outra pediu que a sociedade pare de julgar as mulheres pelas roupas. Mas esse dia parece estar longe. Sempre esteve.

Quando eu, garota de praia, estava perto de completar 11 anos, meu pai me proibiu de usar biquíni, porque tinha ficado “mocinha” – eufemismo para a primeira menstruação. Nem “duas peças” podia. Precisava ser maiô inteiro. Era uma ordem. Me senti confusa e humilhada, não protegida. Meu pai também destruiu uma minissaia a tesouradas, para eu não mostrar as coxas. Dizia que era para meu bem. Foi mesmo, porque ali, naquele apartamento de Copacabana, comecei a me rebelar. 

O paranoico do Henfil

[...] 
Não é à toa o sucesso do professor Hariovaldo de Almeida Prado. 
A parte mais interessante do fenômeno não é a capacidade do professor em caricaturizar a paranoia. É o fato dos paranoicos levarem-no a sério porque, na paranoia, não há como diferenciar a ficção do real.

Frase da noite

Nao exija que o proximo seja como voce imagina. Nem voce consegue ser...

Fruta do dia


 Ele está na lista do cardápio antissódio, que previne hipertensão, retenção de líquidos, inchaço e até cálculo renal → http://bit.ly/morango_hoje-MV

Política Análise 'Chantagem' no Legislativo, uma herança do bipartidarismo e da redemocratização frágil

                                                                                                                                            
Boletim de notícias da Rede Brasil Atual - nº13 - São Paulo, 24/mar/2014
http://www.redebrasilatual.com.br/educacao/2014/03/em-sao-paulo-70-dos-estudantes-avaliam-escola-estadual-como-regular-ou-ruim-diz-pesquisa-5400.html

'Chantagem' no Legislativo, uma herança do bipartidarismo e da redemocratização frágil


Passados 50 anos do golpe contra Jango, relações entre os poderes não estão equilibradas. PMDB teve duas décadas de vantagem em relação aos demais partidos e garantiu força desproporcional no Legislativo

Entidades fazem repúdio ao golpe no 'centro de extermínio' da ditadura

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