Eu mereço

Chegamos à conclusão que sempre, sempre, que usamos a frase "eu mereço", é porque estamos prestes a fazer uma merda. pior: normalmente é uma merda relacionada ao consumo.

Não dizemos "eu mereço comer uma deliciosa e saudável saladinha orgânica", e sim "eu mereço tomar um milk shake desta mega corporação que paga mal seus funcionários e faz propagandas que remetem à felicidade e padrões de sucesso".

Não pensamos "eu mereço ir caminhar pela praia numa manhã fresca", e sim "eu mereço passar o dia inteiro binge-watching seriados babacas e cheios de violência."

Nossas vidas são programadas para que essa frase seja seguida de consumo. todo dia merecemos enfiar o pé na jaca porque o trabalho foi duro (se não fosse duro, não seria trabalho) ou porque estamos engolindo sapos, ou porque finalmente chegaram as férias.

uma vida que nos esgota menos também nos faz precisar compensar menos. de forma bem prática, vivendo com menos dinheiro e menos demandas, deixamos de "merecer" o consumo, pois ele se torna menos relevante.

Marcos Coimbra - As “previsões” do mercado

Uma das peculiaridades do momento atual é a intensa e despropositada divulgação das especulações do mercado financeiro a respeito da eleição presidencial. Quase todo dia, a mídia oposicionista faz circular prognósticos eleitorais de bancos e consultorias. E trata-os como se merecessem crédito especial. Talvez considere que nessas empresas existam especialistas notáveis da vida política brasileira, cujas opiniões e pontos de vista precisariam ser conhecidos por todos.
Sem subestimar a competência dos profissionais do mercado financeiro, é fantasia imaginar que possuam grande habilidade analítica em assuntos políticos e eleitorais. Ao contrário, a regra é que estejam improvisados circunstancialmente no papel de “analistas políticos”, o que deixarão de ser tão logo passe a eleição. Em três meses, lá estarão de volta aos afazeres que conhecem, na interpretação de cenários do agronegócio no Piauí, da indústria de calçados ou do comércio de bebidas.
Os bancos, as consultorias econômicas e outras instituições financeiras, nacionais ou não, claro está, têm o direito de elaborar análises da situação política brasileira. E não é de hoje que monitoram os processos eleitorais, para avaliar o impacto dos resultados em seus negócios. Desde a eleição de 1994, muitos dos mais importantes tornaram-se clientes de institutos de pesquisa, às vezes por meio da contratação de pesquisas próprias, às vezes na busca de assessoramento técnico.
Duas coisas são diferentes neste ano. De um lado, há uma proliferação de atores menores, pequenas empresas que buscam espaço no campo das “previsões eleitorais”, algumas no esforço de vender um know-how que não possuem. Quem dispuser de dinheiro para jogar fora que as compre.
De outro, e mais importante, temos atualmente, na imensa maioria dessas “análises”, um extraordinário predomínio do desejado em relação ao observado. Nas “previsões eleitorais” disponíveis, o que encontramos é o retrato do que seus autores gostariam de ver, não do que é mais provável.
Isso fica claro no uso seletivo das pesquisas e na relutância em aceitar o que elas mostram de fato. É o inverso do que o mercado fez em eleições passadas, quando recebia os números com a cautela devida, mas não brigava com eles.
Hoje, a regra passou a ser não acreditar no que as pesquisas dizem e procurar pretensos significados “ocultos”, escondidos nas entrelinhas.
A larga vantagem de Dilma Rousseff, que tem, sozinha, mais intenções de voto do que a soma dos adversários? O fato de ela ter o dobro do segundo colocado e quase cinco vezes o obtido pelo terceiro? A constatação de que os “outros candidatos” sempre terminam com desempenho modestíssimo na urna e são irrelevantes para propiciar o segundo turno? A dianteira da presidenta ante todos em um possível segundo turno? Não dizem nada para quem gasta tempo a perscrutar tabulações e cruzamentos de dados à cata de algum sinal negativo para a presidenta.
E nossa história eleitoral, que indica que quem mais cresce quando começa a propaganda eleitoral na tevê e no rádio são os candidatos à reeleição? E a experiência internacional, que mostra que o “tempo de antena” é um fator decisivo nas eleições modernas? Nada, tudo seria irrelevante, pois viveríamos agora em um hipotético mundo pós-televisivo, no qual o eleitorado conheceria e selecionaria os candidatos por meio das redes sociais.
Engraçado: nas pesquisas esses analistas enxergam apenas o que lhes interessa: a “vontade de mudança”, a “rejeição a Dilma”, o “desgaste do PT”. Para isso serviriam, mas, para qualquer outra coisa, poderiam ser desconsideradas.
As “análises eleitorais” do mercado são hoje pouco mais que exercícios de wishful thinking (quando não são armações para lucrar à custa dos incautos). Os responsáveis por elas fazem “previsões” com base nos desejos de um determinado resultado. Preferem a derrota de Dilma e a anunciam ao mundo.
Lembram o que alguns “analistas” brilhantes da mídia oposicionista ofereceram aos diplomatas norte-americanos na última eleição e o WikiLeaks revelou: um monte de interpretações equivocadas e previsões furadas. No fundo, são muito semelhantes aos comentaristas e colunistas da mesma mídia hoje em dia. Apenas torcedores. Nada mais.

O conluio de “Veja” e TV Globo para inventar escândalos, por J. Carlos de Assis

Que “Veja” e Tevê Globo,  por força de seu proselitismo de extrema direita, inventem um escândalo relacionado com a CPI da Petrobrás para desacreditar o Governo, nada de novo. Que os dirigentes do Senado e da dita CPI levem isso a sério, ao ponto de determinar investigações, é extremamente grave. Significa que não há um processo preliminar de avaliação de pseudo-denúncias pelo qual alguém que ostente a credencial de Senador da República acabe passando o recibo de ser um simples idiota.
Já fui secretário de CPI da Câmara dos Deputados. Era comum que fizesse uma lista de perguntas sobre questões específicas aos depoentes. Meu interesse, na condição de auxiliar da instituição CPI, era o esclarecimento de fatos e de situações de seu interesse. Jamais passaria pela minha cabeça esconder minhas perguntas. Não estava num programa de pegadinhas na televisão. Meu interesse não era forçar contradições do depoente, mas colocá-lo diante de questionamentos objetivos para trazer a verdade à tona.
Já auxiliei pessoas a prestarem depoimentos em CPI ou a participarem de debates públicos. Meu papel, nesses casos, tem sido o de simular à exaustão respostas a possíveis perguntas ou respostas a diferentes  questionamentos de conhecimento público, incluindo prováveis provocações por interesses escusos. Só um idiota vai para uma inquirição pública ou debate sem alguma forma de preparação. Em geral, nossa memória é fraca. E numa situação em que há algum nível de hostilidade ideológica, todo cuidado é pouco.
O “crime” postulado por “Veja” e catapultado em nível nacional pela Globo, num conluio explícito para desacreditar o Governo, consiste na afirmação de que depoentes vinculados à Petrobrás tiveram acesso a perguntas que seriam feitas na CPI. Ora, ou essas perguntas são objetivas, visando a algum esclarecimento efetivo, ou são pegadinhas, para forçar contradição do depoente. No primeiro caso, a antecipação da pergunta, se houve, não teria qualquer efeito no esclarecimento dos fatos. Contudo, se é uma pegadinha, não tem  nenhum efeito objetivo sobre o curso da CPI, exceto, talvez, a humilhação episódica do depoente.
Entretanto, essa não é propriamente a questão, mas seu contexto. O fundamental é que não se pode fazer uma investigação no Senado sobre algo que não existe. Acaso seria crime um depoente ter acesso a perguntas a que seria submetido? Acaso preparar um depoente para responder perguntas na CPI seria crime? Onde está a fraude? Preparar-se adequadamente para uma CPI honra a instituição do Congresso. O depoente poderia simplesmente chegar lá e calar-se. Naturalmente que, para “Veja” e Tevê Globo, o espetacular, para mexer com a emoção do povo, seria que alguém, pego de surpresa, cometesse o percalço de confessar algum crime na CPI a fim de que saísse de lá com algemas. Isso, já se viu, não acontecerá na CPI da Petrobrás simplesmente porque não houve crime. Portanto, é preciso inventar algum na sua periferia.
No meu tempo de jornalismo, inaugurei no Brasil o jornalismo investigativo na área econômica denunciando vários escândalos financeiros do período da ditadura, ainda na ditadura. Era um trabalho solitário. Não havia ajuda da Polícia Federal, que na época só se preocupava em prender comunistas; não havia apoio do Ministério Público e da própria Justiça (com raríssimas exceções), serviçais do poder militar;  ou do próprio conjunto da imprensa, que se mantinha omissa com medo do Governo ou do anunciante. Não obstante, com o apoio de meu jornal, pude enfrentar grandes blocos de poder político e econômico pela razão elementar de que tinha uma premissa: na denúncia, é preciso ter um código de ética que leve em conta a solidez das provas, a clareza do crime ou da irregularidade, e a inequívoca identidade dos autores.
O código de “Veja” é diferente. Em vez de provas, basta-lhe uma gravação que algum agente desonesto da Polícia ou um espião privado lhe entreguem comprometendo, num contexto nebuloso, alguma pessoa suspeita de governismo; é totalmente dispensável identificar a ação denunciada como crime ou irregularidade; os autores podem ser difusos, desde que comprometam de alguma forma o Governo. Assim, coma gravação deturpada de um lado e o apoio da Tevê Globo do outro, “Veja” produz um escândalo com som retumbante o suficiente para que o Senado a leve a sério.
Em três livros sobre a patologia dos escândalos da era autoritária – A Chave do Tesouro, Os Mandarins da República e A Dupla Face da Corrupção -, em vez de me limitar à história dos escândalos em si, procurei mostrar a institucionalidade que permitiu sua eclosão. Vou fazer o mesmo, resumidamente, para que se entenda a patologia dos “escândalos” denunciados por Veja. A revolução da informática expulsou os jornais da notícia; como reação, o jornalismo escrito tenta se refugiar na análise. A revista ficou com seu espaço diminuído, porque está distante da notícia (diária) e com pouca eficácia na análise, campo dividido com os jornais. Como consequência, seu campo favorito tornou-se o escândalo. Notem que, de duas em duas semanas,  “Veja” expõe um, às vezes elevando roubo de galinha a categoria de grandes escândalos. Quando nem isso existe, ela inventa. Daí a “fraude” na CPI.
P.S. Para que não me interpretem equivocadamente, devo dizer que não sou governista, não sou do PT nem apoio integralmente a política do PT. Admiro as políticas sociais dos governos Lula e Dilma, mas discordo de sua política macroeconômica, que considero responsáveis pelo mau desempenho da economia brasileira. Não obstante, não saio por aí inventando escândalos para dar suporte a candidatos neoliberais de extrema direita na atual disputa eleitoral.
J. Carlos de Assis - Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB, autor de mais de 20 livros sobre economia política brasileira.

Mensagem do dia


"(...)Daquilo que é óbvio, daquilo que nos faz um tanto bem maior, daquilo que nos faz amadurecer diariamente:
A capacidade que a gente tem de olhar no olho, de agradecer, de poder dialogar, criticar com sensibilidade, com coragem.
Que a gente saiba valorizar cada momento nosso, porque todo mundo aqui já está automaticamente em extinção; 
Só existe um de cada um de nós.
Que a gente saiba cuidar muito disso, por isso, nesse momento, a trupe aqui em baixo se junta com todos vocês e apresenta com muito carinho, vocês:
-Só enquanto eu respirar, vou me lembrar de você, só enquanto eu respirar..."
Fernando Anitelli

Briguilinks do dia

Bom dia!


"O sol está dentro de cada um. 
Sorrir e acreditar em si
É o caminho para alcançar a luz e o brilho que irradia da própria existência 
E acalenta a crença em nós mesmos. 
Acreditemos no próprio sol
Ele mora no “eu” e ilumina o tudo e o todo.
A gargalhada é o sol que varre o inferno do rosto humano."
Victor Hugo

PT abre CPI do metrô e coleta assinaturas para abrir CPI do aecioporto

Incomodado com o bumbo que o PSDB e DEM acionaram para amplificar a denúncia de farsa na CPI da Petrobras, o PT se entendeu com o Planalto e decidiu aderir à tática do barulho. O partido de Dilma Rousseff retomou a seguinte linha: quem com CPI fere, com CPI será ferido.

Em combinação com o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), os operadores do PT marcaram para as 15h desta quarta-feira a instalação da CPI do Metrô de São Paulo. A sessão inaugural será presidida pelo membro mais idoso da comissão, que é o senador Eduardo Suplicy (PT-SP).

Se houver quórum, Suplicy coordenará a eleição de um presidente para a CPI. Em seguida, o eleito assume o comando e indica um relator para a comissão. Está entendido que o presidente deve ser do PMDB. E o relator do PT.

Chama-se Amaury Texeira (PT-BA) o deputado que deflagrou, com a anuência do alto comando do PT, a coleta de assinaturas para abrir uma CPI sobre o aeroporto de Cláudio. Ele ganhou a adesão instantânea da bancada de deputados federais do PT

Na sessão vespertina desta terça, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), escalou a tribuna para discursar sobre a acusação de que a CPI da Petrobras alivia o drama dos investigados enviando-lhes as perguntas com antecedência.

No dizer do líder do PT, a acusação de farsa não passa de "bobajada". Classificou de "legítima'' a troca de informações entre investigados e investigadores. Evocando a CPI do Cachoeira, Humberto Costa disse que o PSDB também "blindou" o governador tucano de Goiás, Marconi Perilo, quando ele foi chamado a depor na CPI sobre suas relações com Carlinhos Cachoeira. "Além de reunir informações, vieram nos pedir civilidade", recordou.

A certa altura, o discurso de Humberto pousou na pista de Cláudio. Ele disse que não vai prejulgar Aécio. Mas acha que o presidenciável tucano deve explicações à sociedade por ter autorizado, como governador, o gasto de R$ 14 milhões na construção de um aeroporto em terra desapropriada de um parente.

Humberto foi aparteado pelos líderes do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP), e do DEM, José Agripino Maia (RN). Ambos reiteraram as críticas ao jogo de cartas marcadas da CPI da Petrobras. Abstiveram-se, porém, de defender Aécio no caso do aeroporto.

Ex-chefe da Casa Civil de Dilma, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) ecoou Humberto Costa ao classificar o barulho sobre a Petrobras de "cortina de fumaça" do tucanato para fugir da polêmica de Cláudio.

Como se sabe, as Comissões Parlamentares de Inquérito tornaram-se o caminho mais longo entre um escândalo e sua investigação. Ninguém ignora que as CPIs da Petrobras e a do metrô paulista darão em nada. A investigação do aeroporto talvez nem saia do papel. Mas quem olha para as relações intoxicadas de tucanos e petistas não acredita mais em paz no oriente médio.

Por Josias de Souza