Babaquices de complexados

Há esperança, mas não para nós – Fátima Bernardes, Miguel Falabella, Carlinos Brown e as negas

1. Naquela oportunidade da entrevista com a patricinha fanática por seu clube não havia nenhum negro para participar do debate sobre o episódio de racismo contra Aranha, já no programa em questão, além do percussionista baiano, a plateia estava cheia de outras “negas lindas” assentindo com movimentos de cabeça a todas as bobagens ditas pelos presentes.
2. Fátima, meio entusiasmada, a certa altura afirma: “elas [as negas] conquistaram isso porque se capacitaram”; alusão à meritocracia, isto é, se os negros quiserem e se dedicarem eles conquistarão seu espaço, simples assim. O preconceito estrutural não causaria nenhum óbice aos negros, deve ser isso o que pensa a apresentadora impensante.
3. As atrizes-cantoras negras se afirmam por meio dos seus cabelos, por sua alegria de viver, apesar das pessoas do mal, desde o alto de seus tamancos que pisam o chão da Cidade Alta carioca. Todas elas sustentaram até o término do programa matutino um sorriso largo e obediente.
4. O Falabella tem uma camareira negra que o inspirou a criar uma personagem da série: isso é amor.
5. Carlinhos Brown, ao menos no que diz respeito a uma abordagem estapafúrdia do problema racial no Brasil, é o substituto imediato do Edson Arantes do Nascimento.
6. Parece não haver saída.
QUEM MANDOU GOSTAR DOS POEMAS DA ELISA LUCINDA

Paulo Moreira Leite: Cadê a denúncia?

Na triste coleção de denúncias sem base real, destinadas a criar fatos políticos capazes de prejudicar o governo Dilma na reta final do primeiro turno, será difícil encontrar um caso mais notável do que a distribuição pelos Correios de 4,8 milhões de panfletos no interior de São Paulo.
É o caso clássico da anedota do sujeito que se chamava João e morava em Niterói — até que se viu ele não se chamava João nem morava em Niterói.
Não se questiona o pagamentos pelo serviço, no montante de R$ R$ 786 000, ou 16 centavos por panfleto, conforme a empresa já divulgou oficialmente. Também não se aponta para nenhuma irregularidade, desvio, ou abuso.
A tese é dizer que os Correios teriam “aberto uma exceção” em suas normas de funcionamento para ajudar Dilma a pedir votos em São Paulo sem cumprir uma formalidade — a chancela dos panfletos, que comprova que houve a postagem oficial do material distribuído aos eleitores do mais populoso estado brasileiro. A falta da chancela seria, é claro, uma prova de “uso da máquina” para ajudar a presidente na reeleição. Ridículo.

Só na campanha de 2014, os Correios distribuiram 134 000 panfletos eleitorais sem chancela — em Minas Gerais. O cliente foi o PSDB. Os 134 000 panfletos tucanos estão lá, nos registros da entidade. Claro que isso não impediu que, com inocência angelical e indignação teatral, tucanos de alta plumagem já se dediquem a denunciar o caso.
Também foram distribuídos, semanas atrás, 380 000 panfletos (sem chancela) em nome do PMDB de Rondonia. Edinho Araujo, do PMDB paulista, distribuiu 50 000 panfletos nas mesmas condições. Outro deputado paulista, o tucano Mauro Bragato, fez duas distribuições (s/c) assim. Gilson de Souza, do DEM paulista, também realizou serviços, nas mesmas condições (s/c),para distribuir 120 000 panfletos.
Isso acontece porque a entrega de material sem postagem nada tem de irregular e muito menos ilegal. Já frequenta a lista de práticas de atendimentos usuais nos Correios há bastante tempo — quem sabe há duas décadas, calculam funcionários graduados da empresa — e envolve clientes de todo tipo. Para conservar sua posição no mercado,a entrega s/c é aceita sem maiores dificuldade. A formalidade, que foi cumprida com os panfletos de Dilma, é garantir que um funcionário de nível executivo autorize a operação.
Os mesmos registros que mostram a entrega para Dilma, para o PMDB de Rondonia, para tucanos mineiros e paulistas, também apontam para serviços prestados a estelecimentos comerciais comuns. Na lista de sem postagens recentes é possível encontrar a Pet Rações, para quem os Correios distribuíram 5000 panfletos (s/c) em Salto, no interior de São Paulo. O Sindicato dos Metalúrgicos de Jundiaí, para quem o Correio o fez 3870 entregas (s/c) em sua cidade. Em Junqueirópolis, a Regina Modas enviou material s/c para 990 possíveis clientes. Os dados estão lá, oficiais.
O sem-chancela se explica por um calculo econômico banal. Em luta permanente para manter receitas capazes de compensar, ao menos em parte, as perdas imensas provocadas pela internet, os Correios não acham razoável abrir mão de clientes que acabariam batendo às portas da concorrência de empresas privadas que fazem o mesmo serviço.

Mais complicado do que entender o que ocorre nos Correios é explicar por que uma notícia dessa natureza foi publicada sem a devida checagem. Não podemos generalizar, é verdade.
O Jornal da Cidade, de Bauru, recebeu a mesma notícia no início de setembro — 16 dias antes dela sair nos jornais nacionais — e cumpriu sua obrigação. Ouviu o outro lado e avaliou que a entrega sem chancela sequer poderia ser considerada ilegal — esclarecendo o fato para seus leitores, em notas internas, sem procurar um escândalo onde não havia.

Não disputo vaga de ombudsman mas cabe reconhecer que este episódio não é um caso isolado. Faz parte da prática cotidiana de boa parte dos meios de comunicação desde a AP 470, o processo de provas fracas e penas fortes que criou o mito do maior escândalo do século — sem que ninguém tivesse acesso à íntegra das investigações, nem a documentos oficiais que desmentem desvios e abusos, sem a necessária separação entre interesse político-eleitoral e aplicação da Justiça.
De lá para cá boa parte de nossos veículos assumiram-se como organismos políticos. Não separam os fatos das opiniões e retratam a realidade conforme aquilo que interessa a sua visão de mundo e aos políticos de sua preferência.




Vivemos uma era de impunidade — na mídia meus amigos.
Em breve, em função de sua própria inconsistência, o factóide dos Correios será esquecido, suas contradições serão ignoradas, e um episódio que só entre aspas poderia ser chamado de denúncia será colocado embaixo do tapete. Não se quer esclarecer, nem explicar. O que se busca é o efeito eleitoral, enfraquecendo uma candidatura a que a mídia se opõe através da dúvida, da negatividde, porque não consegue combater no terreno das ideias, propostas e realizações ocorridas no país de 2003 para cá.
Aprendi, desde meus tempos de centro acadêmico, que eleição é debate de propostas.
A busca permanente do escândalo é um sintoma claro de fraqueza política, acima de tudo.Em vez de debater ideias de um panfleto, o que faz parte do processo democrático, o máximo que os adversários do governo conseguem no momento é tentar usar a mídia para questionar como ele foi distribuído. Fraco, né?

Dilma deu um show

Devo me desculpar pelo que disse anteriormente sobre a inabilidade da Presidenta Dilma Roussef em matéria de comunicação de massa: ela deu um show de competência televisiva no Bom Dia Brasil da Globo, nesta segunda-feira, revertendo sobre a cabeça dos entrevistadores o verdadeiro massacre que estava preparado pela emissora para desqualificá-la politicamente. O circo armado com Ana Paula Araújo e Chico Pinheiro, reforçado pelas baterias de Miriam Leitão, caiu sob a própria lona numa capitulação forçada e sem graça.

É evidente que a presença de Miriam, supostamente competente em números, era para estraçalhar a Presidenta no meio de um cipoal de estatísticas enviesadas. Acostumada a manipular informações em artigos de jornal, sem o incômodo do contraditório, ela esbarrou numa serena exposição de fatos que a deixou simplesmente desarticulada. Quis passar ao telespectador a opinião absurda de que o Brasil se encontra em pior posição em matéria de crescimento econômico do que os países da Europa. Dilma fulminou seus argumentos.

É interessante notar que a Presidenta, em seu horário eleitoral, se torna às vezes cansativa quando desfila um grande número de estatísticas e dados numéricos. É da natureza dela, trazida de seu tempo quando devia comportar-se sobretudo como gerente. Na entrevista da Globo, contudo, quem colocou números na mesa foi a entrevistadora. Isso gerou uma controvérsia. E, como se sabe desde Platão, a dialética é esclarecedora. Confrontada com números falsos ou capciosos Dilma respondeu na ponta da língua com seus próprios dados, e a coisa toda funcionou a seu favor.




A Presidenta está muito bem informada sobre o que acontece na economia mundial. Rechaçou com números as alegações de que o crescimento do Brasil está num nível inferior ao da Alemanha. Ela tem razão. O crescimento da Alemanha no segundo trimestre foi de 0,8%, na mesma faixa do Brasil. Isso, contudo, não é o mais importante. O significativo é que o crescimento econômico em toda a Zona do Euro foi de 0% no segundo trimestre, bem abaixo do Brasil. E, nos países individualmente, o ritmo nos últimos 12 trimestres tem sido o de contração em oito deles, e crescimento perto de zero em apenas quatro. No Brasil, até o momento, não houve contração trimestral.

A acusação de Miriam relativa ao emprego de jovens é outra tentativa de afirmação capciosa: ela não comparou as taxas de desemprego de jovens no Brasil ao desemprego nessa faixa etária de outros países, sobretudo na Europa. Jogou um número, 13,7%. Se tivesse acrescentado que o desemprego de jovens em países como a Espanha e Grécia chega a mais de 60% seria fácil concluir que a situação no Brasil é ainda tolerável. De fato, a situação mais grave de desemprego é quando atinge os adultos, os chefes de família. E, nessa faixa, a ocupação no Brasil tem batido recordes, com uma taxa de desemprego das mais baixas do mundo.




A boa performance de Dilma coloca em xeque um tipo de jornalismo tendencioso e agressivo que, sendo ele próprio um fenômeno de manipulação, tenta conduzir a campanha presidencial segundo suas próprias preferências. Isso está disseminado na mídia eletrônica, que opera sob concessão pública e portanto deveria ser mais discreta em manifestar preferências. É o jornalista que quer aparecer, quer brilhar e, no caso, servir aos gostos políticos do patrão sob o pretexto de informar ao eleitor.

Ninguém quer um jornalismo subalterno nem absolutamente imparcial. Mas é essencial, para a democracia, um jornalismo honesto. Tenho suficientes décadas de jornalismo para aconselhar os mais jovens a seguir o exemplo dos entrevistadores da revista alemã “Der Spiegel”, para mim os mais competentes do mundo, que conseguem extrair tudo do entrevistado, com absoluto rigor profissional, sem, entretanto, pretender desqualificá-lo e agredi-lo. Infelizmente, nossos entrevistadores de televisão estão seguindo por escrito o caminho dos paparazzi italianos!

J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.

Briguilinks do dia passado a limpo

Dilma foi à TV pedir um teste de DNA no programa de governo de Marina

Dos teatros da vida, por Jader Pires

É inútil voto útil em Marina

Eu não voto em Dilma para derrotar Aécio ou Marina

Voto útil do PSDB em Marina se tornou inútil

Recordar é viver

TPM: Terrorismo Midiático Programado

Marina Neves?

Poesia da noite

Paulo Nogueira: Como Dilma mudou o debate da corrupção ao sair da defensiva para a ofensiva

Com Lula, Dilma e o PT os pequenos crescem mais

Onde estão os partidos?

Dilma tritura a Urubóloga

Festival de hipocrisia que assola o País

O amor à ambiguidade

O pig atarentado com a dissolução de Marina

Paulo Nogueira: Como Dilma mudou o debate da corrupção ao sair da defensiva para a ofensiva

Humor - Magrina Silva

Eleitor, o voto é a sua arma. Mas não adianta sair por aí dando tiro nos candidatos!

Humor - Aético Neves

Humor - Dilma Roskoff

Ação do governo Dilma conteve disparada no valor da conta de luz

Economia real, por Roberto Locatelli

Pra desopilar

Laerte e o amor à ambiguidade, por Rosane Pavam - Carta Capital


'Presidenta Dilma abre debate de Alto Nível da 69ª Assembleia Geral da ONU

A presidenta Dilma Rousseff abrirá, na quarta-feira (24) em Nova Iorque, o
debate geral da 69ª sessão da Assembleia Geral da ONU, que terá
participação de chefes de Estado e de governo de todo o planeta. O tema
central deste ano é a construção de uma agenda de desenvolvimento pós-2015
que traga resultados concretos na [...]

Você pode ler o artigo completo em:
http://blog.planalto.gov.br/presidenta-dilma-abre-debate-de-alto-nivel-da-69a-assembleia-geral-da-onu-nesta-quarta-feira/

Aécio será interrompido 82 duas vezes hoje no Bom Dia Brasil?

Se as constantes interrupções de Bonner e Poeta na entrevista de Dilma ao Jornal Nacional, no mês passado, já foram preocupantes, a Rede Globo conseguiu bater o recorde ontem pela manhã. Na entrevista ao Bom Dia Brasil, Miriam Leitão, Ana Paula Araújo e Chico Pinheiro fizeram OITENTA E DUAS interrupções à fala de Dilma durante os 30 minutos e meio de entrevista. Se considerarmos que por mais de 8 minutos desse total a palavra foi dos jornalistas, Dilma foi interrompida, nos pouco mais de 22 minutos restantes, em média, uma vez a cada 16 segundos. É quase o dobro do que ocorrera no Jornal Nacional, quando havia uma interrupção a cada 29 segundos.


A campeã de interrupções é Miriam Leitão, que responde por quase metade das 82. As intervenções dos três jornalistas chamaram tanto a atenção e atrapalharam tanto o andamento da entrevista que Dilma teve que avisar: “Deixa eu acabar de responder, pelo amor de Deus? O debate é comigo, não é?”. Era quase impossível a presidenta concluir seu pensamento, poucas falas não eram interrompidas.



Foi tanta vontade de interromper a presidenta que cenas bizarras chegaram a acontecer,  como a sincronizada interrupção tripla a 18 minutos de entrevista e a interrupção da interrupção, quando a 23min30s, Miriam Leitão pede licença para Ana Paula para poder falar mais um pouco.
A cena é recorrente. Dilma é a entrevistada, mas nenhum jornalista quer ouvir o que ela tem a dizer. Preferem ficar perguntando em círculos, sem ouvir as respostas e ignorando os dados que apresentam os avanços do país. Quase deixam de lado o papel de entrevistadores; viram debatedores.

Mais um texto para galeria da série "Babaquices de complexados"

Há esperança, mas não para nós – Fátima Bernardes, Miguel Falabella, Carlinos Brown e as negas
1. Naquela oportunidade da entrevista com a patricinha fanática por seu clube não havia nenhum negro para participar do debate sobre o episódio de racismo contra Aranha, já no programa em questão, além do percussionista baiano, a plateia estava cheia de outras “negas lindas” assentindo com movimentos de cabeça a todas as bobagens ditas pelos presentes.
2. Fátima, meio entusiasmada, a certa altura afirma: “elas [as negas] conquistaram isso porque se capacitaram”; alusão à meritocracia, isto é, se os negros quiserem e se dedicarem eles conquistarão seu espaço, simples assim. O preconceito estrutural não causaria nenhum óbice aos negros, deve ser isso o que pensa a apresentadora impensante.
3. As atrizes-cantoras negras se afirmam por meio dos seus cabelos, por sua alegria de viver, apesar das pessoas do mal, desde o alto de seus tamancos que pisam o chão da Cidade Alta carioca. Todas elas sustentaram até o término do programa matutino um sorriso largo e obediente.
4. O Falabella tem uma camareira negra que o inspirou a criar uma personagem da série: isso é amor.
5. Carlinhos Brown, ao menos no que diz respeito a uma abordagem estapafúrdia do problema racial no Brasil, é o substituto imediato do Edson Arantes do Nascimento.
6. Parece não haver saída.
QUEM MANDOU GOSTAR DOS POEMAS DA ELISA LUCINDA
Sempre achei os poemas da Elisa Lucinda muito chatos e algo afetados. A rigor nem são poemas, mas textos onde rimas aparecem como penduricalhos e que são ditos (com competência) por uma boa atriz, só isso. Ainda que esse preâmbulo não tenha a ver, ao menos aparentemente, com o assunto do meu comentário, me pareceu oportuno fazer a menção, pois ele dá um colorido especial tanto ao que vem a seguir, quanto ao seu desfecho.
Não faz muito a atriz postou em seu perfil no facebook um texto em defesa do ator e diretor Miguel Falabella e do tal seriado “Sexo e as negas” do qual Falabella é o idealizador. De forma bem sucinta pretendo comentar alguns tópicos do arrazoado de Elisa Lucinda. Então vejamos.
A defesa da atriz invoca, em primeiro lugar, a necessidade de espaço para os atores negros (mas a que custo?) na TV e na teledramaturgia brasileiras. Até aí tudo bem, todos já estamos cansados de assistir atores negros fazendo papel de negro, como se não fossem talhados para outra coisa a não ser repetir os estereótipos que a sociedade espera deles.
Esses atores fazem parte de uma espécie de “núcleo étnico”. Curioso é que o conceito de “étnico” não inclui atores brancos de ascendência europeia. Mas, paradoxalmente, diante desse quadro, Elisa sugere que os atores negros não podem desperdiçar qualquer oportunidade de trabalho, inclusive porque, segundo o adágio popular que serve de base ao seu raciocínio, neste caso poderíamos suspirar algo do tipo “dos males o menor”. Como se os negros que hoje decoram o televisivo “Esquenta” estivessem em situação melhor do que as remotas mulatas do Sargentelli.
Mas pior do que essa posição colaboracionista de Elisa Lucinda é sua justificativa para tolerarmos Falabella. Elisa diz que a mente do Falabella é suburbana ou simpática ao imaginário desse povo alegre, isto é, que ele teria o feeling para falar da comunidade e que, além disso, sempre escalou atores negros em suas produções e projetos.
Resta saber que tipo de representações esses atores negros encarnaram ou ainda encarnam? Por isto, tais fatos não significam que este cidadão não traga em seu coração esteticamente suburbano concepções preconceituosas, racistas e misóginas, afinal, o racismo e o machismo também estão, sim, nas comunidades.
A cor de pele no Brasil faz as vezes de um patrimônio (assim como o gênero), onde quer que estivermos a branquitude e o masculino se impõem como bônus. Então, Miguel Falabella até pode ser sensível ao sabor suburbano, mas disso não se segue que não seja um reprodutor dos tradicionais preconceitos contra o negro e a mulher.
Em outro momento de sua postagem Elisa Lucinda repete o batido chavão da censura ao humor a propósito dos críticos do seriado “Sexo e as negas”, e propõe, em tom de manifesto, que devemos tirar o band aid dos traumas, insiste no valor do chiste como purgação dos medos, enfim, Elisa se utiliza de uma enfiada de clichês conciliatórios.
Por outro lado, me pergunto: que humor covarde é esse que se compraz em colocar na alça de mira do seu riso reacionário aqueles que tradicionalmente, na escala social, são relegados à subalternidade ou à invisibilidade?
Não é um humor em sentido forte – que subverte a convenção –, trata-se apenas de um humor classe média, votado a manter tudo e todos no mesmo lugar, um humor cujos alvos são sempre os mesmos: negros, homossexuais, gordos, pobres, mulheres, enfim, tudo isso que se transforma na zorra total patrocinada pelos filósofos do subúrbio cenográfico.
Por fim, uma referência confusa que não entendi. Elisa Lucinda parece colocar em pé de igualdade ou estabelece uma analogia desse movimento de repúdio ao seriado “Sexo e as negas” com o ato criminoso e isolado do sujeito (os jornais o descrevem como sendo “de cor parda”) que tentou atear fogo à casa da torcedora racista envolvida no episódio com o jogador Aranha. Elisa lembrou que isso remete às técnicas de combate da Ku Klux Klan. Nossa! Tal comparação é de uma leviandade sem cabimento.
Com essa tirada Elisa Lucinda se comporta, ao menos para mim, como uma mucama da casa-grande defendendo o seu sinhozinho a qualquer custo. Ou seja, aqueles que querem a punição para quem chama um negro de “macaco”, aqueles que percebem o preconceito sugerido num título como “Sexo e as negas”, seriam, portanto, os verdadeiros intolerantes com o bom humor e o combateriam usando os métodos mais racistas e violentos de que temos notícia? Impressionante.
Minha cara, Elisa Lucinda, só tenho uma coisa a lhe dizer: por enquanto você é menos deletéria para o pensamento fazendo sua poesia. Ainda que sua poesia seja ruim, ao menos enquanto você se dedica a este afazer acaba atrapalhando menos.
EPÍLOGO
Em vista dos últimos acontecimentos referentes ao racismo no Brasil e devido a uma série de comentários adjacentes proferidos por muitos negros e brancos que acham que é melhor perdoar as ofensas – já que as ofensas, ao menos neste país, não visam ofender – e aceitar de bom grado uma visibilidade entre cafajeste e servil para os negros no espaço da mídia, pois isso seria melhor que nada, enfim, em vista de tudo isso, começo a ficar cada vez mais pessimista com o quadro.
Tanto que, outro dia, enquanto assistia a um documentário sobre Antonio Callado, reparei na fala de um contemporâneo do escritor que dizia que Callado era de uma geração que em relação às questões de fundo do Brasil (as desigualdades e contradições), lutou todas as lutas importantes de seu tempo e, entretanto, perdeu todas elas. Assim, em relação ao racismo e, naturalmente, dentro dos meus modestos limites de intervenção e discussão, não me espanta que, aos cinquenta e três anos da minha idade, eu comece a experimentar uma análoga sensação de fracasso.
Talvez eu esteja sendo dramático. É verdade que muitos estão reagindo, ótimo. Por outro lado, não consigo esquecer que Kafka escreve, em algum lugar e frente a um vertiginoso pesadelo, que deve haver esperança, sim, mas não para nós. Só que no pesadelo do qual não consigo escapar, esse “nós” não parece reunir uma mínima cota que seja de brancos.
Ronald Augusto nasceu em Rio Grande (RS) a 04 de agosto de 1961. Poeta, músico, letrista e crítico de poesia. É autor de, entre outros, Homem ao Rubro (1983), Puya (1987), Kânhamo (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Decupagens Assim (2012) e Empresto do Visitante (2013). Despacha no blog www.poesia-pau.bolgspot.com e é colunista do website www.sul21.com.br/jornal/