Saul Leblon: Dilma pode escolher

Ser Francisco ou Berbóglio

na Carta Maior

A história não é fatalidade. Um exemplo de quem mudou suas circunstâncias? O Papa, que deixou de ser Bergóglio para se tornar Francisco.


A incerteza que  antecede as definições do segundo governo Dilma mantém o Brasil em suspenso à direita e à esquerda.


Mercados financeiros giram feito barata tonta ao sabor dos mais desencontrados boatos.


Vendidos suplicam por um boato baixista; comprados dão a vida por uma puxada nas cotações. Ganha-se na diferença diária entre um zunzum e outro.


Especulações sobre o comando da economia oscilam entre o tudo e o nada, muito pelo contrário.


Há lastro.


Dilma, escuta o Zé

Oposição perdeu eleição mas quer que governo aplique seu programa recessivo


Seu candidato derrotado à presidência da República, senador Aécio Neves (PSDB-MG), mesmo em sua condição de presidente nacional de seu partido, admite que ainda não sabe quais são as medidas em estudo pelo PSDB frente à questão. Mas anuncia que o partido vai entrar na justiça contra alteração da meta de superávit.
É reforçado nessa linha errática pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para quem a presidenta Dilma está quebrando o país ao tentar flexibilizar a meta fiscal.  “A situação do país é difícil, eles não têm como cumprir o superávit fiscal. Eles têm que reconhecer isso. Dilma disse que eu quebrei o Brasil três vezes. Não sei quando, mas agora ela está quebrando”, afirmou ontem o ex-presidente.
Como ele mesmo lembrou, de quebrar o país ele entende, já demonstrou saber fazer como ninguém, tem autoridade no assunto: quebrou o Brasil três vezes durante seu governo e foi de pires na mão pedir dinheiro, socorro ao FMI.


E vem com estultices jurídicas e políticas…
Os dois contam com o socorro do ministro Augusto Nardes, presidente do TCU – hoje um reconhecido e notório aparelho da oposição – que vive exigindo transparência nas contas públicas e agora entra na campanha do contra e vem com essa história de que é preciso “acabar com a contabilidade criativa no governo”.
Engrossam o coro, entram todos na campanha do contra justo agora que a presidenta da República encaminha para o Congresso uma proposta de mudança da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) assumindo o superavit zero. Ou seja, que o pais não fará superávit e não terá déficit operacional. Portanto, em outras palavras, assume que o país não se endividará para pagar os juros da dívida interna.
O governo simplesmente adota uma medida necessária para não agravar o baixo crescimento e para evitar uma recessão com desemprego, queda da renda e da arrecadação, agravamento da dívida e do déficit públicos. E quando o governo faz isso legalmente, aberto, transparente e dá todas as explicações, a oposição articulada com o presidente do TCU e a mídia ameaça o governo com obstrução no Congresso e medidas judiciais com base na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
É demais! Coincidentemente a oposição e o presidente do TCU vem a público e propõem a mesma estultice jurídica e política! A questão, então, amigos, é uma só: a oposição perdeu a eleição, no entanto pretende e quer na marra que o governo aplique o seu programa recessivo. Pode um negócio desses?

Briguilinas do dia


  • Do mensalão e do cerco a Petrobras, Marx diria que é a primeira vez que uma farsa se repete como tal - Napoleão Brumário
  • A Marta Suplicy será uma menina do Jô - March
  •  Alguns juízes acham que são deuses. Os donos da mídia tem certeza - Revenger




Recadinho do dia

Lu, para você sempre lembrar

Ciro Gomes: Ele é o Picareta Mor

[...] Este cara deve ser assim, entre mil picaretas, o Picareta Mor!


Eu conheço esse cara desde o governo Collor. Ele operava no escândalo do PC Farias na Telerj. Depois tava enrolado no fundo de pensão da Cedae do governo Garotinho e aí vem vindo. Depois tava enrolado no governo Lula com Furnas e agora enrolado até o gogó em tudo em quanto. E ele é o que banca os colegas. Todo mundo sabe disso. Antigamente, o picareta achava a sombra, procurava ali o bastidor, ia fazendo as picaretagens dele escondido. Agora não! Quer ser o presidente da Câmara. Se o PT mais a Dilma aceitarem, eu rompo e vou pra oposição. Claramente. Pouco importa a boa-fé do meu irmão Cid Gomes. Eu enchi”...




Palavras de ministros, por Jânio de Freitas

no Folha de São Paulo

Aos olhares simplificadores, as atitudes da ex-ministra Marta Suplicy e do Gilberto Carvalho pareceram críticas de igual intenção. E até de igual importância. Muitos precisam alegrar-se com o que apareça, para reconstruir-se depois de lançarem a desconstrução como programa eleitoral. E ruírem.

Se alguém esperasse que Marta Suplicy se demitisse com uma carta de agradecimento pela oportunidade recebida, poderia supor também algum significado maior na carta pontiaguda que cravou na presidente e, claro, divulgou na internet. Mas Marta Suplicy foi só a Marta Suplicy.

Gilberto Carvalho também foi Gilberto Carvalho. Calmo, delicado, com a franqueza de sempre, disse verdades sobre o governo, sobre a Presidência de que é o secretário-geral e sobre Dilma Rousseff. Suas constatações resultam em críticas que são inquestionáveis no fundamento e não ficam nas estreitezas temáticas dos economistas e dos jornalistas.

Dilma Rousseff não lidou bem com os políticos, de fato, em seu primeiro mandato. A par da maneira de ser, e de ter com políticos uma experiência sobretudo de convívio entre companheiros, Dilma sucedeu o traquejo e flexibilidade de Lula. Contraste estiolante. O mesmo em relação ao que Gilberto Carvalho chamou de "movimentos sociais", em cujas "demandas [Dilma] avançou pouco". Nesse quesito, Dilma e o governo apegaram-se a poucas diretrizes, com realce para a distribuição de renda pelos salários e a saúde pelo Mais Médicos. O demais ficou por conta dos seus responsáveis, com resultados variáveis.

O apoio para tornar os assentamentos produtivos pode ter aumentado, mas a reforma agrária como um todo "não foi o que os movimentos esperavam". Muito longe disso. E mais longe ainda, sem possibilidade de ressalva alguma, foi o descaso com a demarcação de terras indígenas e com a proteção devida às aldeias sob o tiro de tomadores de terras, quando não caem por fome e doença mortíferas.

O crescimento da "resistência ideológica e econômica fortíssima à questão indígena" leva Gilberto Carvalho a uma conclusão mais ampla, como causa: "A direita cresce porque cresce". Mas a verdade é pior. No problema dos indígenas, a ação "da direita" cresceu porque o governo lhe cedeu espaço e força. E é duvidoso que busque recuperá-los.


Gilberto Carvalho acentua a deficiência, com resultados graves, "de diálogo com os principais atores na economia", por falta de "competência e clareza" do governo. Sem dúvida. Nesse caso, ainda que mantido o diagnóstico do ministro, a responsabilidade deve ser compartilhada pelos dois lados. Os "principais atores na economia" investiram muito na pressão e na chantagem. No país em que ter dinheiro é tudo, os portadores deste justificado sentimento, ainda por cima, chegaram a Dilma viciados por 16 anos de Fernando Henrique e Lula e respectivas curvaturas.

Nesse capítulo, cabe um acréscimo à deficiência de diálogo citada pelo ministro: a deficiência de comunicação com o país foi imensa. Dilma e o governo pagaram, pagam e pagarão muito por isso. E o país também.

A propósito, Gilberto Carvallho fez, à margem do seu tema, uma afirmação também útil, quando indagado se continuaria ministro: "Qualquer ministro que falar qualquer coisa [sobre o novo ministério] estará falando bobagem". Imagina os jornalistas.

Charge do dia