As verdades e as fantasias em torno do ministério da presidente Dilma Roussef

por Paulo Nogueira - Diário do Centro do Mundo


Há um imenso alarido em torno do ministério de Dilma.
Pela esquerda, floresceu um sentimento de indignação assim que se surgiram nomes como o de Joaquim Levy e, mais ainda, Kátia Abreu.
Em sua coluna de hoje na Folha, o ativista Guilherme Boulos sugeriu, dado o andar da carruagem, que Dilma também levasse para sua equipe Lobão, Bolsonaro e Reinaldo Azevedo.
Fora do campo do humor político, intelectuais lançaram um manifesto para que seja seguido por Dilma o programa vitorioso nas urnas.
Joaquim Levy foi sublinhado, no manifesto, como um típico representante das ideias derrotadas pelos eleitores.
Pela importância do cargo de ministro da Fazenda, o inconformismo da esquerda se concentra em Levy, mais que em Kátia Abreu.
Quanto há de realidade no medo de que Dilma, afinal, faça o que Aécio faria caso ganhasse?
Pouco, ou nada.
Nomear Levy é um problema muito mais de simbologia do que de qualquer outra coisa.
É verdade que simbologia conta, e provavelmente se deva à reação negativa a Levy que Dilma venha protelando sua confirmação no cargo, algo que deveria ter ocorrido na sexta passada.
Mas, concretamente, Levy, ou quem for, vai obedecer ao comando presidencial. Suas decisões só serão materializadas com o aval de Dilma.
Imagine uma empresa.





Você tem, nela, um presidente. E tem também, sob sua supervisão, um diretor financeiro.

O diretor de financeiro vai obedecer às diretrizes do presidente. Ele tem que ser competente para executar as ordens e sugerir medidas. Mas a decisão está um degrau acima.

Essa empresa hipotética tem que cortar despesas, porque elas estão acima das receitas, e isto é insustentável.

Compete ao presidente escolher onde cortar. O diretor financeiro pode e deve fazer sugestões. Mas os cortes serão feitos onde o presidente determinar.

É exatamente esta a lógica que vai dominar também a relação entre Dilma e seja quem for o novo ministro.

Ele não terá autonomia, por exemplo, para ceifar programas sociais – algo que fatalmente ocorreria sob Aécio.

Como e onde você corta faz toda a diferença num ajuste fiscal.

Há áreas que pedem por cortes que não terão efeito nenhum sobre a sociedade. Por exemplo, entre 2002 e 2012 os gastos do governo com publicidade dobraram. Passaram de cerca de 1 bilhão de reais para 2 bilhões, aproximadamente.

Há, aí, 1 bilhão fácil de podar.

Outros bilhões você encontrará, sem grandes dificuldades, em outras áreas.

Um bom método para isso – amplamente usado em empresas eficientes mundo afora – é o chamado orçamento zero. Você não parte do orçamento anterior para montar o novo. Parte do zero para verificar o que é, realmente, necessário gastar.

Outro método vital para equilibrar as contas, nas empresas, é explorar ao máximo as receitas.

O Brasil tem um problema dramático de evasão fiscal. Outros países também têm, mas eles estão claramente empenhados em resolvê-lo.

No G20, combater o uso de paraísos fiscais por grandes empresas foi um dos temas dominantes nas discussões.

No Brasil, paira um silêncio inaceitável sobre este tema. Lutar contra a sonegação é algo que tem que ser liderado pelo governo, mas até aqui nenhum pronunciamento sobre o assunto foi feito nem por Dilma e nem por ninguém no poder.

Obama vem falando disso, Cameron também, Hollande também, e assim outros líderes de países que sofrem com os paraísos fiscais – mas Dilma não.

Você chega a situações bizarras.

Levy é do Bradesco – que semanas atrás apareceu num episódio de evasão, via Luxemburgo. O repórter Fernando Rodrigues, em seu último trabalho na Folha, teve acesso a documentos que mostram que o Bradesco “economizou” 200 milhões de reais com o deslocamento de dinheiro para Luxemburgo.

Isto foi ponderado na decisão de convidar Levy? Provavelmente não, uma vez que o primeiro convite foi feito ao chefe de Levy, Trabuco, o presidente do Bradesco.

No campo das receitas, não faz sentido esperar o cerco à sonegação pelos paraísos fiscais, diante do convite a Trabuco e a Levy.

Mas no terreno dos cortes é um erro de avaliação considerar que Levy, ou qualquer outro, vá ter liberdade de ação para fazer o que quiser.

Tudo isso somado, vai-se chegar, no segungo governo de Dilma, ao que caracterizou o primeiro: avanços sociais expressivos – mas aquém do que seria desejável para um país tão desigual quanto o Brasil.

Não é o ideal, mas poderia ser muito pior caso Aécio ganhasse.

Petismo de resultados

Ou
Vestindo o uniforme?

Pra desopilar

Zé Dirceu: Presidenta reitera que abertura ao diálogo será ponto alto de seu novo governo

Temos todos os motivos para aplaudir, nós e todos os segmentos sociais brasileiros  – nem há como não fazê-lo – a disposição manifestada pela presidenta Dilma em encontro com o teólogo Leonardo Boff e com o frade dominicano Frei Beto de “a partir de agora ter como um ponto alto do seu governo um diálogo permanente, orgânico, contínuo, com os movimentos sociais, e com a sociedade em geral”, segundo a declaração da chefe do governo reproduzida por Boff.
Esperamos que a reunião da presidenta da República com os dois religiosos seja o ponto de partida, o primeiro de muitos encontros dela com as entidades e lideranças da sociedade – como é óbvio numa democracia – particularmente dos que a apoiaram ainda que não exclusivamente com estes.
A campanha e a disputa eleitoral terminaram há exatos 31 dias, no 26 de outubro pp e a partir dali, reeleita, ela é a presidenta de todos os brasileiros. Dos que votaram nela e dos que votaram na oposição. No nosso caso, infelizmente a oposição recusou a proposta de diálogo da chefe do Estado e preferiu tentar um 3º turno já derrotado.
Presidenta se ocupava muito até agora com gestão de grandes projetos
Na tarde de ontem, no Palácio do Planalto, a presidenta estreou essa sua nova forma de governar recebendo o teólogo e intelectual Leonardo Boff, o frade dominicano e escritor Frei Beto e mais quatro e quatro integrantes do grupo Emaús (movimento da Igreja Católica em que Boff atua), que entregaram-lhe uma carta-manifesto com 16 reivindicações edemandas da sociedade para ela analisar o cumprimento em seu 2º mandato.
Na avaliação deles – Boff falou pelo grupo – após a vitória da presidenta Dilma nas eleições, nas quais havia um “risco” de que o “projeto popular do PT” não continuasse à frente do país, é necessário maior diálogo com a sociedade. Isso foi colocado à chefe do governo que, segundo a análise de Boff está determinada a promover este diálogo em seu 2º mandato presidencial.
Boff acentuou que a própria presidenta reconheceu a falta de contato com as bases em seu 1º período de governo. “(Dilma) se ocupava muito com a administração dos grandes projetos. Ela disse que a partir de agora será um ponto alto do seu governo um diálogo permanente, orgânico, contínuo, com os movimentos sociais, e com a sociedade em geral”, reproduziu o teólogo.
Ela promete começar já na próxima semana encontros com movimentos sociais
“O Brasil que Queremos”, título do documento-manifesto assinado por 34 integrantes do Movimento Emaús e entregue à presidenta alinha reivindicações políticas, econômicas, sociais e ambientais.  De acordo com o relato de Boff, a presidenta tomou nota das sugestões levantadas na conversa e foi incisiva: quer discutir mais os detalhes das questões com toda a sociedade.
Ao grupo, no encontro, a presidenta disse: “Eu prefiro escutar críticas, do que apenas escutar as coisas boas que eu faço. Porque aí (com as críticas) eu aprendo”. Boff adiantou que a presidenta quer se encontrar mais sistematicamente com o grupo e pretende, também, começar a receber outras lideranças dos diversos movimentos sociais já a partir da próxima semana.
A presidenta prometeu, também, “estudar o documento”, já que não foi possível discutir detalhadamente todos os seus pontos nessa 1ª reunião de ontem. durante a reunião. “O Brasil que Queremos” pede, dentre outros pontos, um modelo econômico mais social e popular; auditoria da dívida pública; proteção do meio ambiente; utilização cada vez maior de energias renováveis; e defesa do direito dos povos indígenas e quilombolas.
Solicita também a restrição a transgênicos e agrotóxicos; democratização dos meios de comunicação; universalização do respeito aos direitos humanos; instituição de uma nova política de segurança pública; valorização dos trabalhadores; o controle social da gestão pública; ética na política; e a realização das reformas política, urbana, agrária e tributária.
O Emaús em que Boff atua nasceu na França há meio século e tem como principal proposta promover maior solidariedade entre os pobres. Uma das principais formas de ação do movimento é recolher, consertar e reciclar objetos para venda a pessoas carentes por preços simbólicos. O Movimento tem como centro e filosofia de seu trabalho o princípio da “força da partilha” e como lema “Injustiça não é desigualdade, injustiça é não partilhar”.
Leiam, aqui, a íntegra do documento “O Brasil que Queremos” entregue á presidenta Dilma nesta 4ª feira (ontem.

Pronatec Direitos Humanos

Pessoas com necessidades especiais, adolescentes cumprindo medidas socioeducativas e moradores de rua agora terão direito a formação, aperfeiçoamento e qualificação profissional. Ontem, quarta-feira (26/11) foi lançado pelo governo federal o Pronatec Direitos Humanos. A nova modalidade será executada pela SDH - Secretaria de Direitos humanos. Leia mais>>>


Briguilina do dia

O importante não é falar da fé, é ter fé.
O importante não é falar do amor, é amar.
O importante não é falar da solidariedade, é a solidariedade.
O importante não é falar, é fazer.
Faça!
#Joel Neto

Copa do Brasil: Cruzeiro teve o que mereceu

por Scott Moore - Diário do Centro do Mundo

Vocês com certeza conhecem a série Breaking Bad. A música que encerra a saga de Walt é de uma sabedoria fulgurante. “Sim, acho que recebi o que merecia”, diz a letra.
Não há lamúrias, não há autocomiseração, não há desculpas. Na letra, o sujeito aceita o preço pelas besteiras que fez, assim como Walt na história.
Pois eu digo o seguinte: o Cruzeiro teve o que mereceu na derrota na final de hoje contra o rival Atlético Mineiro.
Um clube que obriga os torcedores rivais a pagar 1 000 reais por um ingresso revela uma mesquinharia, uma pequenez de espírito patética.
Tamanha falta de caráter tinha mesmo que ser punida como foi: uma surra exemplar num estádio monopolizado por uma só torcida.
Tenho arrepios quando ouço alguém falar nos Deuses do Estádio. Não acredito nisso. Mas respeito Supernatural Jones, o personagem de Nelson Rodrigues que me foi apresentado por Boss.
Tenho para mim que Supernatural – ou Sobrenatural de Almeida, como preferirem – se infiltrou entre os torcedores do Cruzeiro e ali, como um espião com poderes especiais, manejou os cordéis que foram dar no título do Cock. (Nota da tradutora: Galo.)
Ladies & Gentlemen: Boss ficou feliz com a derrota do Cruzeiro por outros motivos. Não entendi direito, mas ele falou num Dustcopter, ou coisa parecida. (Nota da tradutora: Helicóptero do Pó.)
Mas Boss com suas razões e eu com as minhas.
Só eu vi o jogo em Londres, até pelo horário: aqui, era meia noite quando ele começou.
Mas, em minha solidão intransponível, me senti no meio da pequena torcida do Cock que teve os meios para vencer a ultrajante barreira imposta pelo Cruzeiro.
Antes de dormir, ponho para tocar a grande música de Breaking Bad. Canto junto o primeiro verso.
Guess I got what I deserved.
O Cruzeiro teve o que mereceu.


Sincerely.
Scott
Tradução: Erika Kazumi Nakamura
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Sobre o Autor
Aos 53 anos, o jornalista inglês Scott Moore passou toda a sua vida adulta amargurado com o jejum do Manchester City, seu amado time, na Premier League. Para piorar o ressentimento, ele ainda precisou assistir ao rival United conquistando 12 títulos neste período de seca. Revigorado com a vitória dos Blues nesta temporada, depois de 44 anos na fila, Scott voltou a acreditar no futebol e agora traz sua paixão às páginas do Diário