Um (novo) dia na vida do *PIB

por Paulo Nogueira - Diário do Centro do Mundo

Algum tempo atrás escrevi sobre o PIB. O Perfeito Idiota Brasileiro.
Ele ia para o trabalho ouvindo a CBN e antes de dormir via o Jornal da Globo. Nos intervalos, lia Merval, Reinaldo Azevedo e Villa. Tinha por ídolo Joaquim Barbosa.
E agora, nestes trepidantes dias de 2015, o que faz o nosso PIB?
Bem, as leituras se ampliaram, dada a oferta de colunistas dedicados a pessoas como ele.
Agora, pela manhã, a caminho do serviço, ele alterna a CBN com a Jovem Pan. Gosta de ouvir Sheherazade. Que sua mulher jamais saiba, mas às vezes tem sonhos eróticos com Sheherazade.
Aquela voz, aqueles cabelos. Será que ela faria um daqueles comentários durante o sexo? …
Na Jovem Pan o PIB também aprecia os comentários de Marco Antônio Villa.
Um cabeça.
Numa entrevista com Haddad, Villa massacrou-o. Provou que o futuro pertence aos carros, e não às bicicletas.
Londres, Paris, Nova York, Copenhague, Amsterdã, todas elas estão na contramão da história. Investem em ciclovias.
“Villa poderia dar consultoria a elas”, pensou PIB depois de ouvir Villa enquadrar Haddad.
Também aumentou o número de gênios que ajudam PIB a formar sua opinião. Ele agora sempre passa os olhos pelo blog de Constantino, da Veja.

Aprendi

Com sete anos aprendi que meu pai pode dizer um monte de palavras que eu não posso dizer.
Com dez anos aprendi que minha professora sempre pergunta o que eu não sei responder.
Com treze anos aprendi que sempre que deixo meu quarto do jeito que gosto, minha mãe manda eu arruma-lo.
Com dezesseis anos aprendi que não se deve descarregar suas frustrações no irmão menor, porque meu pai tem frustrações maiores e a mão mais pesada.
Com dezenove anos aprendi que se pode fazer num instante algo que vai lhe trazer dor de cabeça a vida toda
Com vinte e dois anos aprendi que nunca devo elogiar a comida da minha minha mãe quando estou comendo algo que minha mulher preparou.
Com vinte e cinco anos aprendi que quando eu e minha esposa temos, finalmente, uma noite sem as crianças, passamos o tempo todo falando nelas.
Com vinte e oito anos aprendi que a época que realmente preciso de férias é exatamente quando volto delas.
Com trinta e hum anos aprendi que se vocês esta vivendo uma vida sem fracassos, é porque não está correndo riscos suficientes.
Com trinta e quatro anos aprendi que camisas e calças caras são um imã para atrair manchas.
Com trinta e sete anos aprendi que para saber quem manda na casa, basta prestar atenção quem sempre fica com o controle remoto.
Com quarenta anos aprendi que o homem tem quatro idades:

  1. Quando acredita em Papai Noel
  2. Quando deixa de acreditar em Papai Noel
  3. Quando começa a se parecer com Papai Noel
  4. Quando é o Papai Noel

Com quarenta e três anos aprendi que seu patrão chega cedo no trabalho, sempre que você chega atrasado.
Com quarenta e sete anos aprendi que não posso mudar o que passou, mas posso deixar pra lá...
Com cinquenta anos aprendi que só aprendo mesmo com minhas experiências, com as experiências dos outros, apenas imagino, exemplo: 
Dizem que com cinquenta e cinco anos o casal nunca devem ir dormir antes de resolver uma discussão.
Dizem que com setenta e hum anos é importante envelhecer, desde que você seja um queijo ou uma garrafa de vinho
Dizem que com oitenta e hum anos a maioria das pessoas que diz "dinheiro não é tudo" geralmente tem bastante.
Dizem que com noventa e hum anos ainda temos muito a aprender.

Texto reestruturado do livro Mensagens para reflexão - Clube dos Autores 


ragmentos de um diário inexistente VII

O poder da palavra, o poder da caneta

De todas armas de destruição em massa inventada pelo homem, as mais poderosas, mais terríveis e covardes são a palavra e a caneta.

Punhais e armas de fogo deixam vestígios de sangue. Bombas abalam edifícios e ruas. Venenos terminam sendo detectados.
Mas a palavra destruidora consegue despertar o Mal sem deixar pistas. Crianças são condicionadas durante anos pelos pais, artistas são impiedosamente criticados, mulheres são sistematicamente massacradas por comentários de seus maridos, fieis são mantidos longe da religião por aqueles que se julgam capazes de interpretar a voz de Deus.
Procure ver se você está utilizando esta arma. Procure ver se estão utilizando esta arma em você. E não permita nenhuma destas duas coisas.
by Paulo Coelho


Brasil, Avante para o futuro

Por mais que eles imaginem estarem correndo para o passado, a verdade é que estamos num caminho sem volta. Aos que desejam o retorno da ditadura e mesmo aos que desejam a volta de tempos bicudos, tenho convicção que eles já passaram. Nós também passaremos. Mas, assim como fomos melhor que eles, outros farão melhor que nós.

Os que lutaram contra a ditadura fizeram uma parte.

Os que lutaram contra a ditadura e colocaram na agenda nacional a inclusão social fizeram mais.

Os que virão construirão sobre alicerces sólidos - democracia e cidadania -, e cada dia seremos menos desigual, e cada dia teremos melhores serviços públicos e melhores condições de vida. Com mais Saúde, mais Educação, mais Segurança, mais tudo de melhor.

Quem imagina que isso seja utopia, sofre de miopia histórica.

A história está aqui, só não vê, o pior cego, aquele que faz questão de não enxergar.



Charge do dia

Realidade
– Charge do Duke, via O Tempo.



"Eu não sabia" joga todos no mesmo saco, por Josias de Souza

Uma das visões mais partilhadas no Brasil em relação aos políticos é a de que são todos uns a cara esculpida e escarrada dos outros. Na linguagem do asfalto: farinha do mesmo saco. Em campanha, declaram-se capazes de tudo para melhorar a vida da coletividade. Eleitos, revelam-se incapazes de todo. Ao menor sinal de escândalo, recorrem a um mesmo e invariável axioma: "Eu não sabia!"

Trata-se de uma desculpa multiuso. Serve para o Lula posar de inocente no mensalão do PT. Serve para o Azeredo se fingir de morto no mensalão do PSDB mineiro. Serve para Dilma reivindicar o papel de cega no petrolão. E passou a servir para que o Alckmin tente desembarcar do escândalo do cartel dos trens e do metrô de São Paulo.

Há dois dias, ganhou as manchetes a notícia de que a Justiça de São Paulo aceitou uma denúncia do Ministério Público sobre o cartel que operava sob as plumas do tucanato paulista. A encrenca envolve 11 empresas. São acusadas de se juntar num conluio para fraudar licitações e obter contratos da CPTM, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos.

A promotoria pede que sejam devolvidos aos cofres públicos R$ 481 milhões —a cifra, ainda sujeita a correção monetária, corresponde ao valor dos contratos e a uma indenização por danos morais. As fraudes citadas no processo ocorreram entre 2000 e 2007. Na maior parte desse período, o governador era Alckmin. Só deixou o cargo em 2006, para ser derrotado por Lula numa peleja presidencial.

Alckmin, você sabe, já declarou que "não sabia" da tramóia. Se houve cartel, costuma dizer o governador tucano, o Estado é "vítima". E vai buscar o ressarcimento. Levando-se em conta tudo o que já havia sido noticiado em 2008, o lero-lero do governador perde substância.

Naquele ano de 2008, autoridades francesas e suíças invadiram os porões da Alstom, outra empresa do cartel. Recolheram sólidos indícios de pagamentos de propinas pelo mundo, algumas delas no Brasil –parte em São Paulo, parte na esfera federal. Em 2009, Alckmin ocupou o cargo de secretário de Desenvolvimento de São Paulo, no governo do correligionário José Serra. Em 2010, reelegeu-se governador. E nada de varejar os contratos.

Além de ser uma impossibilidade genética, a tese segundo a qual todos os políticos são iguais é uma armadilha perigosa. Na prática, desobriga o eleitor. Se são todos iguais, para que votar? Numa democracia ideal, a chave do sucesso está na capacidade de distinguir as diferenças.

A democracia brasileira talvez comece a ser construída no dia em que a plateia se der conta do seguinte: governantes que nunca sabem de nada são tolos ou cúmplices. Em qualquer hipótese, comprar um carro usado na mão deles ou dar-lhes o voto são coisas muitos arriscadas.

P.S o mesmo se aplica aos jornalistas da grande mídia

O amor que confunde a madrugada

por Jader Pires

"Puta que o pariu!". Acordou no sobressalto e assustou sua mulher. Fazia uns olhos de coruja, suores empastavam-lhe a testa em brasas e as mãos se agarravam na realidade do lençol. 
— Mas o que te aconteceu, homem?
— Você tem noção da enrascada que a gente se meteu?
— Como assim?
— Estamos casados!
— Sim, há anos!
Se levantou e abriu a janela. A mulher foi ao seu encontro. Ficaram olhando o conjunto de prédios em miniatura trocando luzinhas, acendendo e apagando, pequenos e rápidos rabiscos em vermelho dos carros que passavam lá longe, na avenida, a quietude sacra da madrugada. Estavam calmos, descalços. 
O homem empurrou sua mão até a mão dela e segurou. Apertou aquele aperto afetuoso, como se quisesse senti-la ainda mais. Enquanto os carrinhos e pessoazinhas viviam suas vidas lá embaixo, ele resolveu se explicar:
— Já reparou como o que temos é complexo?
— Ô.
— Quero dizer, cacete, como a gente se aguenta? Como a gente se atura? Ontem o Douglas, lá do trabalho, veio perguntar da gente, se estava tudo bem. Disse que achava incrível pessoas darem certo juntas, nós dois nos darmos bem juntos. Pudera né. Enquanto o pessoal espera os fogos de artifício cor de rosa de Hollywood, aqui na vida real a gente mata as contas todos os dias da equação doida de doação e anulação e incentivo e troca. 
A mulher sorriu ainda olhando para os movimentos vagos da cidade a sua frente.
— Para e imagina, mulher. As pessoas pensam que, no amor, o casal senta junto na sexta à noite, bota um jazz e leem juntos, felizes da cara, passando as páginas, lendo em voz alta trechos que adoraram, roçando os pés um no outro.
— Mas a gente faz isso.
— Aí é que tá. Quantas camadas de acordos silenciosos nós fizemos pra chegar nesse denominador comum? Você estava ouvindo músicas essas últimas semanas que eu não estava com um mínimo de saco pra escutar. E quando eu pedi pra você levar contigo aquele último do Beck, você sorriu, assentiu com a cabeça e nunca botou no celular.
— Ah, eu não estava muito na pegada de ouvir aquele som calminho não.
— Pois é! A gente não está ouvindo a mesma coisa, mas, juntos, chegamos no ponto exato de saber colocar algo na vitrola que vai pegar os dois de cheio.
— Verdade.
— A janta que a gente faz ou onde vamos comer quando não cozinhamos. O dia da faxina, quem vai fazer o que, qual filme vamos ver, Se a gente vai ver aquele seu amigo que eu acho chato ou se vamos na exposição daquele artista que você acha superestimado. Quando decidimos, então, que vamos sozinhos e conseguimos fazer isso sem que o outro se sinta abandonado ou excluído. Olha a trabalheira que demos pra amaciar esse companheirismo, essa troca interessantíssima, um equilíbrio de Cirque du Soleil. 
— Não é fácil não.
— Não é. Você chega e quer falar sobre as dificuldades do seu trabalho e eu só quero terminar de escrever a minha crônica, você dorme cedo e eu varo a madrugada, você acorda disposta de manhãzinha enquanto eu rastejo perto do almoço a muito custo. Eu corro e você pula, horizontal e vertical, eu sou humanas e você, querida, de exatas. Não é nada simples botar tudo isso em ordem e dormir em paz! 
— Tudo isso é porque eu esqueci de pagar o Netflix, é?
— Eu quero muito ver a nova temporada de House of Cards!
— Eu paguei hoje, homem. Tá liberado lá.
— Sério? Quer ir ver comigo?
— Não. Tô com sono.
O homem, acalentado, deu um beijo em sua mulher. Estavam entendidos em águas buliçosas.

O amor é a confusão de uma noite em claro.
no Papo de Homem