Alerta: haverá uma primeira impressão de vitória avassaladora do impeachment. Quando os deputados de São Paulo (décima quinta unidade da federação, na ordem prevista por Cunha) votarem, a oposição provavelmente estará ganhando por 75% a 25%. Só então é que entrarão em cena estados nordestinos onde se projeta que o governo levará vantagem: Maranhão, Ceará e Bahia. Nesse momento final é que devem surgir os votos definitivos contra o golpe.
Rodrigo Viana - Decisão será por margem estreita, e governo só terá votos pra barrar golpe com estados nordestinos no fim da sessão
Governadores chegam a Brasília, se unem a Lula e criam "onda a favor" do governo
De sexta para sábado, deputados do PP e do PSB começaram a mudar de voto, muito em razão do desembarque de governadores aliados na capital federal
Por Wilson Lima, para Revista Brasileiros
A entrada de governadores da região Nordeste e a intensificação das negociações comandadas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criaram uma espécie de "onda a favor" do governo federal. Desde quando nomes como o dos governadores Flávio Dino (PCdoB-MA), Rui Costa (PT-BA), Wellington Dias (PT-PI) e Ricardo Coutinho (PSB-PB) chegaram a Brasília para tentar convencer deputados a votar contra o impeachment, alguns votos já foram revertidos.
Dentro do PP, o governo alega que conseguiu obter pelo menos 12 votos a partir da influência do deputado Flávio Dino em parceria com o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), um dos aliados remanescentes do governo federal. Os deputados do PP, entretanto, alegam que Fonte e Dino não vão conseguir entregar os 12 votos. Um deles é certo: o do vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (MA), que declarou voto contra o impeachment um dia após ter se manifestado a favor da saída da presidenta da República.
No caso específico do maranhense, a negociação envolveu a promessa de apoio por parte do governo do Maranhão para que ele lance uma candidatura ao Senado em 2018. O deputado também recebeu a indicação de que poderia assumir o Ministério da Integração Nacional, conforme interlocutores do deputado.
Outro cenário que começa a ser revertido pelo governo, segundo aliados do Planalto, é a adesão do PSB ao impeachment. Lula tem convencido aliados do PSB a não apoiar o afastamento de Dilma e pelo menos dois votos da bancada socialista já foram revertidos: Júlio Delgado (MG) e José Reinaldo (MA).
Os governadores também estão pedindo a parlamentares de seus Estados que se ausentem da votação de domingo (18). A estratégia é clara: criar dificuldades para a oposição obter 342 votos a favor do impeachment. Até o momento, dizem interlocutores do governo, a tática tem dado certo. De todas as sessões de debate já realizadas pela Câmara no processo de impeachment, a com o maior quórum foi a da noite de ontem (15), que contou com a presença de 490 parlamentares. Na manhã deste sábado (16), a sessão registrou a presença de 286 deputados.
Em defesa de Dilma, por Paulo Nogueira
Há um clichê sobre Dilma que deve ser rebatido.
Muita gente diz ser contra o impeachment, embora Dilma seja ruim, péssima, incompetente etc.
Falta reflexão a este tipo de consideração.
Dilma sequer teve a chance de ser uma má governanta. Nem saíra o resultado da eleição e ela começou a ser sabotada brutalmente.
Uma aliança imediata entre Aécio e Cunha no Congresso inviabilizou qualquer iniciativa de Dilma.
A mídia se dedicou a desestabilizá-la desde antes da vitória nas urnas. Na véspera da eleição, a Veja deu uma capa que afirmava que um delator dissera Dilma e Lula sabiam de tudo no escândalo da Petrobras.
Era mentira, era crime jornalístico, ficaria demonstrado quando se soube do teor da delação invocada pela Veja.
Mas a revista saiu impune deste que pode ser classificado como o marco zero no processo de desestabilização do governo pela imprensa.
A Globo com suas múltiplas mídias logo passou também a fazer uma guerra aberta contra Dilma.
O Jornal Nacional se transformou numa Veja eletrônica. Protestos contra o governo e pelo impeachment começaram a ser promovidos descaradamente pela Globo. O objetivo era dar a impressão – falsa, como se vê hoje – de que o país estava unido contra o governo.
A cobertura das operações da Lava Jato foi um capítulo à parte na tentativa da Globo e o restante da mídia em derrubar Dilma.
A crise econômica mundial foi ignorada. Os problemas nacionais foram tratados como se fossem uma coisa apenas do Brasil. Éramos, segundo a imprensa, patinhos feios em meio a cisnes maravilhosos em todo o mundo.
A pergunta que faço, diante de tudo isso, é: como governar?
Não dá. Simplesmente não dá. Já é difícil administrar um país quando você não é boicotado todos os dias e todas as horas. Quando é, fica impossível.
Qualquer pessoa que tenha ocupado uma posição executiva numa empresa sabe do que estou falando. Você não consegue fazer nada, numa companhia, se a seu redor conspiram incessantemente contra você.
Acabou acontecendo uma coisa patética. Os golpistas paralisaram o país, e não se pejaram em colocar a culpa da paralisação em Dilma. Foi o triunfo do cinismo. Eu imobilizo você. E depois o acuso de não se mexer.
Steve Jobs não conseguiria administrar o Brasil nas circunstâncias enfrentadas por Dilma no segundo mandato.
Se fôssemos um time de futebol, Guardiola fracassaria se submetido a uma situação como a de Dilma.
Repito: ela sequer teve a chance de ser ruim no segundo mandato.
Isso tudo quer dizer o seguinte.
Não é apenas injustiça acusar Dilma de inépcia. É ignorância.
Xeque mate
Michel Temer: jogando xadrez com a esfinge, de Sérgio Saraiva
Foi escrito no dia 02 de Agosto de 2015