Precisão cirúrgica

J.Augusto disse...

O ataque à Sarney vem sendo feito da forma que ACM chamava de precisão cirúrgica. Ou seja visa atingir apenas Sarney, sem afetar o entorno no Senado.

Só que, para dar certo, é preciso contar com dois
fatores:

  1. A recusa do povo exercitar sua inteligência e capacidade crítica.
  2. Combinar com os russos (na expressão do Garrincha). Os russos, no caso, é o PMDB.

Quando ouvi as gravações com o pedido de emprego, minha primeira
reação foi: acabou? o que vem seguida? qual a próxima conversa?
Um presidente do Senado, ex-presidente da República, com poder de indicar ministros, tratando de assuntos como faz qualquer deputado do baixo-clero?
A conduta é reprovável, como foi reprovável o caixa-2 do
mensalão. Mas o povo vota pelo conjunto da obra, e não por um item que ele não gosta.

Além disso, ninguém acredita que
Sarney seja uma ovelha desgarrada, em meio a um Senado virginal.

E aí repete-se o
mensalão. Quando esgotou o estoque de escândalos contra o PT, as baterias se viraram contra as origens do esquema no PSDB, então houve uma operação abafa, percebida pelo povo. Muitos preferiram votar no PT que, bem ou mal, exorcizou seus erros, respondem à processos, do que naqueles partidos que praticaram a impunidade para os seus membros.

Na cabeça do povo, o
mensalão não acabou em pizza para o PT, e acabou em pizza para o PSDB.

O mesmo pode se repetir com
Sarney. Uma hora o estoque de escândalos contra Sarney se esgota, nem que seja por fadiga de material jornalístico. O povo vê que familiares de Sarney foram alcançados pela Polícia Federal (olha o discurso pronto do grupo de Lula para qualquer embate em 2010), mas o povo percebe que os demais Senadores estão tendo uma blindagem que Sarney não teve, e que não vem do governo, pois muitos são senadores da oposição. É o mesmo ciclo que aconteceu com o PSDB no mensalão.

O povo preferirá votar no grupo político de Lula, onde existe menos impunidade e controle da imprensa, do que no grupo político da oposição, onde a impunidade impera.

Por fim, faltou "combinar com os russos" e virá o contra-ataque do
PMDB, partido de velhas raposas e calculistas políticos. Enquanto Sarney vislumbrou que não era interessante acirrar os ânimos, ficou na retranca. Quando vê que o confronto é irremediável (e parece que já viu), irá "socializar" o escândalo entre os demais (inclusive mostrando "isentismo" na CPI da Petrobras quando o alvo for alguém do PT), além de tomar medidas pirotécnicas moralizadoras (e não será tolo de entregar para a oposição o cargo justamente na hora de tomar essas medidas tão ao agrado da platéia). Assim entregará os anéis, sem perder os dedos, mais uma vez.

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