Lula dá nó na oposição

Pesquisas de opinião mostram que a privatização é um tema maldito para os entrevistados. De pouco adianta argumentar a favor da venda do antigo sistema Telebras, lembrando como eram raros e caros os telefones. Muitos avaliam que a privatização da Companhia Vale do Rio Doce foi um erro. Enfim, uma parcela significativa do eleitorado acredita que a privatização significou oportunidade de enriquecimento de grupos privados à custa do patrimônio público.

Ciente disso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tira proveito desse sentimento no debate sobre as reservas de petróleo do pré-sal. Antes de continuar, um registro: Lula está convencido mesmo de que um modelo exploratório mais estatizante é o correto. Acredita na tese. Essa crença dá credibilidade ao seu discurso público. Ele fala porque acha realmente que está certo.

Logo, ao debater com a oposição os projetos que enviou ao Congresso propondo uma nova Lei do Petróleo, Lula navega num mar favorável. Encurrala a oposição. Não é casual o governador de São Paulo, José Serra, economizar palavras ao tratar do pré-sal. Serra quer dialogar com o eleitorado de Lula para ganhar a eleição presidencial do ano que vem. O tucano acredita que o modelo atual, menos estatizante, é melhor do que o proposto por Lula. No entanto, não deverá entrar de cabeça nesse debate.

O papel de contraponto a Lula acaba sendo feito por outras lideranças tucanas e democratas. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), e o presidente do DEM, deputado federal Rodrigo Maia (RJ), abriram fogo publicamente.

Opinião: é um debate perdido do ponto de vista da oposição. Lula sabe disso. Ao rejeitar a retirada da urgência dos projetos que enviou ao Congresso, o presidente quer dar gás às críticas da oposição à sua proposta para o pré-sal. Isso tende a ser bom para a eventual candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).

Nas disputas políticas, ditar a agenda do debate é fundamental. Encontrar um assunto favorável, melhor ainda. Lula deu um nó na oposição. Parece que está difícil desatá-lo.

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Lula x FHC

A estratégia de comunicação de Lula no pré-sal reforça a tese de plebiscito nas urnas em 2010 entre os oitos anos do petista e os oito anos do tucano Fernando Henrique Cardoso. Eleitoralmente, essa comparação é favorável ao atual governo.

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Kennedy Alencar, 41, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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