Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva entram na briga pelo apoio da nova classe média

César Fonseca
cesarsfonseca@gmail.com
  Redação Jornal da Comunidade
A mobilidade social que cria a nova classe média representa fenômeno não apenas brasileiro, mas mundial e seu reflexo, sem dúvida, produzirá efeito determinante na campanha eleitoral que movimenta as três candidaturas em disputa: a da ex-ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, do PT; do ex-governador de São Paulo, José Serra, do PSDB, e da ex-ministra do Meio Ambiente, senadora Marina Silva, do PV.

De 1990 a 2004, essa categoria social dobrou de tamanho. Estima-se que 400 milhões de pessoas pertençam a ela, sendo projetada outras 2 bilhões a serem incorporadas até 2030, correspondendo, aleatoriamente, mobilização das classes E e D, que se transferem para as integrantes das C e B, com variação salarial em reais entre R$ 1.115 a R$ 4.807.

O Brasil é parte expressiva desse megaprojeto de mobilidade social que se traduz em 30% da população brasileira, proporção comparável à de países com nível similar de renda per capita, como México (29%), China (31%), Argentina (34%) e Chile (45%), embora bastante inferior à da classe média dos países desenvolvidos, como Estados Unidos e Suécia (90%).
Principais candidatos (Serra, Dilma e Marina) à Presidência preparam propostas para a nova classe médiaFotos: DivulgaçãoPrincipais candidatos (Serra, Dilma e Marina) à Presidência preparam propostas para a nova classe média

A nova classe média brasileira passou de 44% da população em 2002 para 52% em 2008. Tais números e projeções encontram-se em “A classe média brasileira - Ambições, valores e projetos de sociedade”, de Amaury de Souza e Bolívar Lamounier, patrocinado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e editado pela Campus.

Trata-se de algo em torno de 30 milhões de pessoas, cuja participação política terá papel decisivo no processo eleitoral de 2010, segundo o presidente da CNI, deputado Armando Monteiro (PTB), candidato ao Senado por Pernambuco.

Maior organização política

Maior participação social e disponibilidade para mais intensamente agir socialmente, de forma organizada, politicamente, eis a característica mais marcante e essencial da nova classe média, assim considerada não porque sua renda tenha subido ao patamar daquela que é tradicionalmente considerada classe média, com renda relativa mais alta do que a vigente no intervalo entre R$ 1.115 e R$ 4.807, mas porque passa a ter acesso ao crédito direto ao consumidor de forma generalizada, capaz de alavancar consumo médio, propriamente dito.

Comprar carro, celulares e aparelhos eletrônicos em geral, na base do crediário, permite a nova classe alcançar, psicologicamente, o mesmo volume de informação da velha classe média, cuja característica essencial era a de ser mais conservadora e politicamente reacionária.

Em vez de ser conduzida por líderes políticos, como aconteceu, em 1964, quando os conservadores manipularam a velha classe média para apoiar o golpe militar contra a democracia, a nova classe média tende a conduzir os acontecimentos, por ser mais participativa, graças a sua organização sindical e por meio de associações de toda a natureza, com perfil comunitário. É mais politizada e exigente, relativamente aos temas dos seus interesses reais.

Tal classe média em ascensão, fundamentalmente, é fruto, na avaliação dos autores do livro, da evolução política que se intensifica, no país, especialmente, depois do advento do Plano Real, no Governo Itamar Franco, seguido no Governo FHC, como plataforma mais importante da renovação dos costumes.

Base da poupança interna
A evolução política, pedagogicamente, influenciada pelas conquistas dos direitos sociais inscritos na Constituição de 1988, tem seu ponto de inflexão na base da melhor distribuição da renda, com o incremento dos programas sociais, a partir da Era FHC, intensificando-se na Era Lula. Atualmente, a classe social mais baixa, a classe D, já vai ao banco pedir empréstimos, sinalizando, gastos da ordem de R$ 380 bilhões em 2010, de acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), segundo informa o Valor Econômico, nessa sexta 28. O acesso ao consumo das classes economicamente baixas movimenta a demanda dos supermercados à indústria, para renovação de estoques de alimentos. Por sua vez, a indústria demanda a agricultura.

Tal movimento impulsiona os transportes, produzindo circulação de mercadorias pelo país afora, agilizando a indústria automobilística e de caminhões, bem como aumento do consumo de combustíveis. O resultado final do incremento do consumo das classes E, D, C, B é o aumento da arrecadação de impostos, que eleva o investimento público, embora este tenha sido insuficiente para romper o estrangulamento da infraestrutura, na qual se investiu pouco, apesar da propaganda governamental de que houve maciços investimentos.

Em abril, a arrecadação bateu recorde e, ao contrário do que estavam prevendo os críticos, foi possível gerar superávit primário bem acima do inicialmente previsto, atenuando preocupações antecipadas segundo as quais o déficit em contas correntes estava caminhando para sair do controle. A taxa de desemprego, no ritmo em que a economia cresce, sinalizando PIB de 7%, aproximadamente, em 2010, apresenta-se na casa dos 7% a 8%, média histórica mais baixa registrada nos últimos 20 anos, segundo o IBGE.

Eis o resultado da emergência da nova classe média nacional, que determinará quem será eleito em outubro. Ela é a principal responsável por garantir ao Brasil a estabilidade macroeconômica, no auge da grande crise global, em curso, aprofundando catástrofe capitalista, simplesmente, porque representou o esteio para expansão do mercado interno, que consome os estoques, evita formação de excedentes e reduz possibilidade de desvalorização para promover exportações, afastando, consequentemente, pressões inflacionárias.

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