Como sempre antes neste país

Sabe qual é a diferença entre “crítica” e “ataque” numa campanha eleitoral? “Crítica” é o ataque que você faz ao adversário. Já “ataque” é a crítica que o adversário faz a você. 

Espero que você tenha gostado da piada. É a adaptação de um velho jogo de palavras, mas penso que cabe bem. Talvez os jornalistas devêssemos usar o termo “ataque” com mais parcimônia, com muito critério. 

Cada um é livre para escolher seu próprio parâmetro. Para mim, ataque é tudo que você diz de seu adversário mas não pode provar. Índio da Costa disse que o PT tem ligações com o narcotráfico. Teve que recuar, por razões na esfera judicial. Acusar de crime sem ter provas é coisa de amador. 

Já os profissionais atacam de modo mais sofisticado. Atribuem ao adversário coisas que não são crime, mas que tiram voto. Por isso não precisam se retratar, nem recuar. Deixam o adversário enredado na necessidade de explicar-se, e seguem em frente. 

Antes de chegar à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva foi muito atacado por supostamente não defender a estabilidade econômica e a responsabilidade fiscal. Mas é um assunto superado pela vida. 

Esta semana o Banco Central subiu ainda mais as nossas já recordistas taxas de juros. Hoje em dia quem toma cuidado quando fala de juros é a oposição. Entre nós os limites da política estão bem definidos. Brincar pode, desde que não com coisa séria. 

Uma coisa bem séria no Brasil é a espoliação financeira. Tão séria que ninguém de bom senso mexe com ela. Logo depois do anúncio do Comitê de Política Monetária (Copom) as centrais sindicais soltaram as notas de praxe criticando. Mas é inimaginável que essas mesmas centrais movam uma palha para transformar suas críticas em ação. 

O PT ataca quem critica a política monetária, insinua que falar mal do BC é flertar com a instabilidade e a inflação. Já as centrais sindicais que apoiam incondicionalmente a candidata do PT, Dilma Rousseff, criticam acerbamente a mesma política monetária, apresentada por eles como a quintessência do mal. 

Aliás, isso e a exigência da redução da jornada são os dois vetores principais da ação delas. Para encolher a jornada de trabalho as centrais estão dia sim outro também no Congresso. Sobre os juros, limitam-se a soltar notas protocolares. Que ninguém é besta. 

Talvez consigam enganar os historiadores, esta categoria intelectual que dá valor a documentos e a aspas jornalísticas. 

Já na oposição as reações aos juros oscilam do silêncio obsequioso à aprovação entusiasmada. O oposição brasileira age como se o BC fosse seu último reduto de poder. É um desfile permanente de gente a ressaltar a “responsabilidade” e a “competência” da autoridade monetária. 

José Serra até ensaiou alguma rebeldia. As restrições pessoais dele à condução dos juros são conhecidas. E quem já conversou a sério com Dilma sabe como a incomoda o status quo. Mas estão todos agora adaptados aos limites que o establishment coloca para o debate. 

O sujeito defender redução radical de juros no Brasil virou “coisa de maluco”. E candidato nenhum, entre os viáveis, quer ver o rótulo colado nele. 

Estes dias o noticiário trouxe números sobre o grau de endividamento das pessoas. Vai em alta. O brasileiro está otimamente bem colocado no campeonato mundial de quanto os indivíduos e as famílias gastam de sua renda mensal para pagar dívidas. E vai maravilhosamente bem também em outro torneio, o da proporção entre a renda comprometida com o pagamento de dívidas e o quanto o devedor tomou emprestado. O brasileiro paga caríssimo para financiar-se. 

Mas pergunte se algum dos candidatos a nos governar está a fim de colocar a mão nessa cumbuca. Eles seguem o exemplo vitorioso de Lula. Atacam-se, criticam-se, mas não mexem no essencial. 

Como sempre antes neste país. 

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