A oposição aposta num fantasma

ROBSON BARENHO
   A parcela da mídia que lidera as oposições ao Governo Lula acrescentou um fantasma, neste ano, à antologia de ficção eleitoreira. Na fantasia, é chamado de “grupo de inteligência”, algo semelhante a uma equipe dedicada a espionar e reunir acusações contra José Serra e outros adversários de Dilma Rousseff. Na realidade, não se assemelha a coisa nenhuma, porque não existiu e não existe.
    A construção do fantasma começou em meados de março, com a invenção de que a campanha da petista tinha um grupo de “guerrilheiros da internet” para atacar adversários. Era uma mentira produzida, escrita e publicada muito menos por ignorância do que por má fé. Até porque, todo mundo sabe que a única candidatura que usa uma equipe de produção e divulgação de baixarias – grande e bem paga – não foi e não é a de Dilma. Nem a de Marina Silva.
     Do esboço de março resultou em maio, enfim, o fantasma – o “grupo de inteligência” da campanha de Dilma. Personagem produzido pela parceria oportunista de dois jornalistas criativos com um ex-delegado fanfarrão e três ou quatro mercenários petistas com domicílio em São Paulo e ambições em Brasília, foi exposto, como só podia ser, num texto fantasioso publicado por uma revista panfletária. Na aparente reportagem, uma suposta tentativa de formar o tal “grupo de inteligência” fora abortada, ou seja, o grupo supostamente cogitado não fora criado. Assim, como a realidade não atendia os interesses do suposto jornalismo, tornou-se indispensável recorrer à ficção. Já que não havia o “grupo de inteligência” da campanha de Dilma, haveria o fantasma, disponível e manipulável a qualquer momento, sustentável sem qualquer prova e dissociado de qualquer base real.
     Mais recentemente, os manipuladores do fantasma têm atribuído à criatura a  espionagem de documentos fiscais sigilosos de Eduardo Jorge Caldas Pereira, vice-presidente do PSDB. Ex-assessor do Governo Fernando Henrique Cardoso,  EJ não detém o mais ínfimo grau de importância política e, muito menos ainda, de influência eleitoral.  Fora do âmbito do Ministério Público, que o investiga, o que ele fez ou deixou de fazer, faz ou deixa de fazer, não desperta o menor interesse em nenhum ambiente político ou eleitoral. Em resumo, se chegou a ser um ator político nos mandatos de FHC, Eduardo Jorge tornou-se depois, na hipótese mais generosa, um figurante, agora promovido ao centro do cenário como alvo ou vítima de um fantasma.
     Se a campanha de Dilma mantivesse um “grupo de inteligência” que se dedicasse a investigar Eduardo Jorge, teria necessariamente que demitir todos os seus integrantes, no mínimo por burrice e por desperdício de tempo. Mas até – e principalmente – os manipuladores do fantasma sabem que a campanha de Dilma não teve e não tem rigorosamente nada a ver com a espionagem das contas de Eduardo Jorge. Na verdade, os ficcionistas estão usando o fantasma para encobrir alguém interessado ou alguns interessados em acusar a campanha de Dilma. Nos meios jornalísticos esse procedimento é chamado de “lavagem” de fonte. Trata-se de um recurso de baixo nível que consiste em proteger uma fonte transferindo a outra a origem da informação. Com um fantasma à disposição, fica facílimo.
      O duplo problema que desafia os ficcionistas mais ou menos improvisados não é, evidentemente, assegurar a sobrevivência do fantasma e nem espalhar que ele existe. Isso é barbada. Há muito papel acumulado nas gráficas para impressão de qualquer fantasia, muito espaço disponível na internet e em outras mídias. O duplo problema é convencer a maioria do eleitorado de que o fantasma existe e de que a salvação só é possível votando contra ele. É uma aposta insensata e desesperada, mas parece que é tudo o que as oposições conseguiram imaginar para sua campanha.

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