O alto comando da campanha de José Serra respira uma atmosfera de pessimismo. Os planos que o tucanato esboçara para a fase de pré-campanha malograram.
Estimara-se que Serra inauguraria o mês de julho saboreando uma vantagem de pelo menos cinco pontos percentuais sobre Dilma Rousseff nas pesquisas.
A previsão não nascera do nada. O partido escorava-se em dados recolhidos da disputa presidencial de 2006.
Naquele ano, levado ao programa partidário em junho, o presidenciável tucano Geraldo Alckmin saltara de 22% para 29% no Datafolha.
Com Serra, porém, deu-se coisa diversa: tinha 37% em maio passado. E, a despeito da superdosagem de TV, oscilou para 39%, dentro da margem de erro do Datafolha.
O QG tucano subestimou, de resto, a capacidade de Lula de eletrificar Dilma Rousseff, agora já vista como uma “ex-poste”.
No Datafolha, Dilma (38%) está emparelhada com Serra. Os operadores da oposição intuíam que ela cresceria. Mas contavam com desempenho mais modesto.
As últimas pesquisas de dois outros institutos –Ibope e Vox Populi— acomodaram Dilma cinco pontos à frente de Serra: 40% a 35%.
Porém, o PSDB só dá crédito ao Datafolha. Por quê? O quadro esboçado pelo instituto condiz com o cenário das sondagens internas do partido.
A campanha de Serra serve-se de entrevistas telefônicas —500 por dia. Não são confiáveis como as pesquisas de campo.
Mas captam os humores diários do eleitorado. De resto, os dados mais frescos são combinados com os anteriores, de modo a refinar o resultado, atualizando-o.
Buscam-se agora explicações para o fato de o junho do Serra-2010 não ter repetido o do Alckmin-2006.
Em conversa com o repórter, na madrugada desta sexta (2), um dirigente tucano ensaiou uma tese.
Disse que Alckmin era menos conhecido nacionalmente do que Serra. Por isso, tinha mais espaço para crescer.
O comentário desconsidera o fato de que o adversário de Alckmin era Lula, não Dilma, até bem pouco tratada como mera coadjuvante.
No momento, o maior desafio da campanha de Serra passou a ser a administração das pressões políticas.
Tenta-se evitar que a atmosfera de inquietação que se espraia pelas lideranças dos partidos que integram a coligação invada a sala do marketing.
Nesse ponto, um dilema de 2006 se imiscui, de novo, na estratégia de 2010. Resume-se numa pergunta: atacar ou não atacar Lula e o governo dele.
A indagação resume o drama da oposição. O adversário real é Lula, não Dilma. O Serra de hoje já está mais apimentado do que o Serra de dois meses atrás.
Antes, chegara a dizer, numa entrevista radiofônica, que Lula estava acima do bem e do mal. Um comentário que instilou irritação no PSDB e, sobretudo, no DEM.
Há 20 dias, na convenção que o confirmou como candidato, Serra pronunciou um discurso que foi lido como um ajuste estratégico.
Comparou Lula ao monarca francês Luis ‘O Estado Sou Eu’ XIV. Disse que, no Brasil de hoje, “não há lugar para luízes assim”.
Desde então, Serra cuida de apontar de modo mais enfático falhas pontuais que enxerga na gestão petista.
A despeito disso, Serra continua aferrado ao plano original. Não abandonou a idéia de privilegiar a comparação de sua biografia à de Dilma.
Cercado de inquietude, Serra repete em privado que a eleição será definida na propaganda eletrônica.
Parece convencido de que mostrará ao eleitor que é mais qualificado do que sua rival para manter o que há de bom no governo e corrigir os erros.
A avaliação de Serra é corroborada pelo seu marqueteiro, o jornalista Luiz Gonzalez, o mesmo que cuidou da campanha de Alckmin em 2006.
Em reuniões internas, Gonzalez sustenta que ataque não ganha eleição. Não exclui a hipótese de bater. Mas trata a pancadaria como acessório, não como algo central.
Gonzalez ecoa Serra. Acha que a partida será decidida em meados de setembro, na bica da eleição. E se empenha para administrar a ansiedade que lhe bate à porta.
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