De Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Começam a sair as pesquisas da reta final deste segundo turno da eleição presidencial. Só faltam 10 dias e, de agora em diante, serão muitas.
Depois do que aconteceu no primeiro turno, as pesquisas perderam a centralidade que tiveram ao longo do processo sucessório. Aqui, como em outros países, a opinião pública e imprensa se acostumaram a lhes atribuir uma importância talvez exagerada, concentrando a discussão sobre as eleições no acompanhamento dos números a respeito do sobe e desce dos candidatos. Com isso, vieram para o primeiro plano, lugar onde não deveriam estar.
Elas continuam, contudo, a ser o que de melhor existe para conhecer o que pensam fazer os eleitores no dia da votação e não há outro meio nem parecido a elas nessa capacidade. Não estamos maravilhosamente bem servidos por elas, mas seria pior se não as tivéssemos.
As pesquisas disponíveis contam uma mesma história sobre a primeira quinzena do segundo turno. Com variações insignificantes, todas as que foram divulgadas (e as chamadas “pesquisas internas”) são coerentes no quadro que pintam.
Logo após o primeiro turno, em que Dilma perdeu votos tanto para Marina (em maior proporção), quanto para Serra (em menor), houve uma reacomodação do eleitorado. Foi um movimento que beneficiou Serra, sem que se pudesse dizer que prejudicasse Dilma.
O principal deslocamento foi do contingente de eleitores que Marina havia incorporado na segunda quinzena de setembro. Esse voto fez com que ela alcançasse os 20% que obteve na urna, dobrando o tamanho que as pesquisas lhe davam antes.
Ao contrário da primeira metade (a que pode ser chamada “verde”), esses novos eleitores de Marina não chegaram a ela por afinidade com sua agenda. O que os levou à candidata do PV foi uma crescente rejeição a Dilma, fundada em razões ideológicas ou na antipatia à sua postura e discurso, misturando “valores cristãos” (habilmente manipulados), decepções provocadas pelas “denúncias” e frustrações com a campanha petista.
O fato é que essas pessoas não tiveram que se perguntar o que fariam no segundo turno. É provável que, na hora em que souberam que Dilma disputaria com Serra, aderiram ao candidato do PSDB imediatamente. Mais por rejeitarem Dilma que por admirá-lo, a quem conheciam, mas em quem não tinham pensado antes em votar.
As pesquisas feitas nos dias seguintes a 3 de outubro já mostravam Serra chegando a 40%, tendo agregado aos seus 30% os 10% desse contingente. E Dilma quase que apenas mantendo os 47% que obtivera, com mais um ou dois pontos.
Mas, assim que essa mudança se processou, as intenções de voto se estabilizaram. Ou seja, a campanha do segundo turno, os novos apoios que Serra e Dilma receberam, a propaganda eleitoral, os debates na televisão, o noticiário da imprensa, tudo teve pouco efeito, a não ser deixá-los nas posições de largada. Nenhum dos dois cresceu ou caiu.
Dai se deduz, também, que o vasto esforço “subterrâneo” das campanhas, particularmente a “guerra santa” das igrejas conservadoras contra Dilma, junto com a escalada religiosa de Serra, não conseguiram (pelo menos por enquanto) convencer novos eleitores. Pode-se dizer que quem tinha que ser tocado por esses argumentos já o foi.
Entramos na reta final, no entanto, com indícios de que a estabilidade dos últimos dias está se alterando. As novas pesquisas sugerem mudanças, desta feita favoráveis a Dilma.
A pesquisa Vox Populi mais recente é um exemplo: nela, a diferença de Dilma para Serra nos votos válidos se amplia, passando de 8 para 14 pontos, no período de 10 a 17 de outubro.
Faltando dez dias até a eleição e considerando o que ocorreu no primeiro turno, é cedo para dizer que o quadro está definido, mesmo com a melhora da posição de quem já liderava. Mas parece que Dilma entra na fase decisiva melhor que Serra.
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