O caso da psicanalista demitida ou o poder da imprensa brasileira

Os principais jornais brasileiros são anti-Lula e Dilma Rousseff
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Por Alexandra Lucas Coelho, no Rio de Janeiro – Público - Portugal

Maria Rita Kehl entra no Teatro Nelson Rodrigues, puxando a sua mala de rodinhas. Vem de São Paulo, onde mora, para falar aqui, no centro do Rio de Janeiro. Todo o Brasil anda a discutir o caso dela, pelo menos o Brasil ligado à Internet. Mas Maria Rita não mudou o que estava planeado: vir falar neste palco, a convite do grupo fundado por Augusto Boal, um mito do teatro brasileiro.
Foi para Boal que Chico Buarque escreveu Meu Caro Amigo (”Aqui na terra tão jogando futebol ?/ Tem muito samba, muito choro e rock”n”roll / Uns dias chove, noutros dias bate sol / Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta”). Era a ditadura no Brasil e Boal estava exilado em Portugal (”um beijo na família, na Cecília e nas crianças”, mandava Chico).
E cá está Cecília, viúva de Boal, a dar agora um beijo de boas-vindas à amiga Maria Rita. Daqui a pouco, quando subir ao palco, Cecília vai contar como Boal escolheu Maria Rita como primeira leitora de todos os seus textos, e como seria o primeiro a homenageá-la hoje, tantos anos depois da ditadura: “Hoje, uma colega nossa foi censurada. Era isso que eu queria dizer em nome do Augusto e meu.”
Cecília é uma das divulgadoras do abaixo-assinado que se solidariza com Maria Rita. O primeiro signatário é Antonio Candido, decano dos ensaístas brasileiros, logo depois vem Francisco Buarque de Hollanda, e à hora de fecho desta edição havia mais 1100 nomes assinando por baixo disto: “Consideramos perigoso e estarrecedor que um órgão de imprensa importante como o “Estadão”, com 135 anos de lutas em prol da liberdade democrática, um jornal avesso à censura por história e tradição, que este mesmo jornal se sinta hoje à vontade para afastar um de seus colaboradores apenas por manifestar opiniões que desagradam à sua direcção.”
Maria Rita Kehl é o caso da psicanalista que foi demitida pelo diário “O Estado de São Paulo”, vulgo “Estadão”, depois de uma crónica que deu brado. “Censura, claramente”, apontam os críticos. “Uma histeria” aproveitada politicamente, diz o jornal.
O caso expõe bem os dois Brasis que nesta segunda volta se continuam a confrontar. De um lado, o Brasil do povo, que vê em Lula sobretudo um líder que tirou 30 milhões da pobreza. Do outro, o Brasil das elites, que vê em Lula sobretudo um populista saloio. Cenas da luta de classes, em 2010. Continua>>>
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