A grande maioria dos brasileiros deposita apenas nas mãos da presidente eleita, Dilma Rousseff, os destinos do País pelo menos nos próximos quatro anos. Mas esquece que o sucesso ou a decepção não dependem apenas dela e de sua equipe de governo. O perigo mora ao lado e pode ser visto da janela do gabinete presidencial. Está no Congresso Nacional, onde a futura presidente vai dispor de uma invejável maioria, capaz de tudo. Mas, ao contrário do Executivo, onde já se vislumbra uma radical mudança no estilo de governar, o Congresso continua o mesmo.
Sob certos aspectos até pode ter piorado, se levarmos em conta que um em cada quatro dos novos deputados eleitos em novembro responde a processos na Justiça e agora vai desfrutar das benesses do foro privilegiado no Supremo. É gente que já chega com a ficha suja, dizendo a que veio.
Para ter sucesso, dona Dilma não deve esperar o mesmo quadro de seu antecessor, herdeiro de uma herança bendita que foi a política econômica de FHC, bafejado com uma conjuntura econômica internacional favorável ao Brasil e de ouros golpes de sorte. Mas Lula, como FHC, nem chegou perto de construir os verdadeiros alicerces do Brasil que os nossos cidadãos merecem.
Ambos constataram que a ampla maioria no Congresso só vale para quinquilharias. Tanto que nenhum conseguiu apoio dessa mesma maioria - sustentada a peso de ouro - para aprovar qualquer das grandes reformas institucionais de que o País carece. Onde estão as reformas tributária, eleitoral, previdenciária, do Judiciário, das legislações penal e processual penal, só para citar algumas? Apenas alguns remendos apareceram ao longo de todo esse tempo.
Vamos torcer para que dona Dilma tenha jogo de cintura para dobrar o nosso viciado legislativo, de onde emanaram praticamente todos os diplomas que dão legitimidade aos privilégios, à corrupção e à impunidade neste País. Os nossos deputados e senadores, que aprovaram praticamente todas as medidas provisórias editadas desde Sarney - a grande maioria gritantemente inconstitucional - não mostram a mesma docilidade quando a intenção é consertar o País.
O certo é que as coisas podem mudar muito no Executivo, já que dona Dilma aos poucos vai mostrando que não será uma versão imberbe de Lula. Mas não prometem ser diferentes no Legislativo, onde praticamente nada mudou com as últimas eleições, nas quais o povo brasileiro consagrou pelo voto praticamente todas as figuras mais nefastas da política brasileira. Diante disso, se fracassar, ao final de quatro anos dona Dilma poderá dizer, com razão: a culpa é do povo.
Rangel Cavalcante
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