Crônica de duas farsas que se entrelaçam no cinismo e na covardia



Os bombardeios da Líbia liberaram os poderosos para novas agressões



  “Eu não sei o que será da Líbia nas próximas horas. Mas lamento profundamente que os governos pusilânimes com assento no Conselho de Segurança da ONU tenham cedido às pressões da França, Inglaterra e Estados Unidos, aprovando uma resolução que permite tudo, inclusive a intervenção militar, para o gáudio dos senhores das armas desse ocidente decadente e sem pudor. Fal
ar de zona de exclusão aérea é balela, é eufemismo típico de quem não tem o menor recato e acha que tem algum mandato divino para meter o bedelho no país dos outros, sobretudo quando esse país dos outros é um reservatório incomensurável de petróleo”.
Da minha coluna de 17 de março de 2011  


Confesso que estou em dúvida sobre qual farsa comentar: se a representação burlesca protagonizada pelo preposto do grande ditador invisível, que destacou a renúncia gaiata de nossa soberania, estuprada pelo FBI por dois dias; ou essa macabra tragédia que configura a mais pérfida agressão estrangeira de alguns países sob batuta da fina flor do crime oficial.

Os dois embustes se entrelaçam até fisicamente: Barack Obama deu a entender que determinou os bombardeios da Líbia (já decididos antes mesmo da Resolução do Conselho de Segurança)  quando trocava figurinhas com nossa surpreendente presidente Dilma.  Em ambos os casos, que consagram o cinismo e a covardia, nossa mídia deu mostras da sua essência irresponsavelmente mercenária e irremediavelmente comprometida, ao ponto de noticiar o massacre de inocentes em Trípoli como ações para proteger civis.

Desde o sábado, dia 19 de março, mergulhei numa profunda crise existencial provocada pela mais dramática impotência. Quarenta e oito horas antes havia escrito que aquela resolução da ONU era uma carta branca para dar um verniz “legal” à agressão tramada desde  as primeiras agitações no mundo ára be. Disse que a agressão estava em marcha.

Tinha razão e isso me abalou. Mergulhei numa terrível depressão ao constatar que nada podia fazer para mudar o rumo dos acontecimentos. Entre uma data e outra fiz aniversário, sem festas, como seria aconselhável. Mas a folhinha andou. E mostrou que hoje o mundo está mais degenerado do que antes. O desrespeito pela verdade campeia como uma massa envenenada irradiada aos quatro ventos. A vida humana se animalizou na renúncia dos valores essenciais que sempre serviram de bússolas.

Tudo o que vi e ouvi nesses dias me provocou torturantes sensações de vômito. Teve um certo momento em que tive vontade de chorar. Não podia imaginar jamais que o nosso governo se agachasse a tanto. Um vexame. Policiais alienígenas revistando ministros de Estado brasileiros, aqui, onde se crêem autoridades.

O histrião foi recebido num ritual da mais flagrante insolência. Exibiu-se e foi-se sem dizer a que veio. Não disse ele, nem disseram igualmente seus anfitriões. Mas a gente conseguiu ler nas entrelinhas o grande golpe que armou e que só explicitou entre quatro paredes no secreto colóquio com a nossa inexperiente chefa do Estado brasileiro. 

Ele veio aqui em busca do ouro e faz qualquer negócio para dele se apoderar, inclusive brindar algumas vantagens pessoais para os que facilitarem a cobiça. Está mal na fita por lá e conta com uma reviravolta às nossas custas. Faz bico com as nossas pretensões e joga pesado com a idiotia que grassa.

Já nossa chefia parece que bebeu e ainda está de porre. Quer por que quer um apoio a algo que decididamente significa COISA NENHUMA.Ou você vê algum ganho significativo em sentar como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU?

Se souber, pelo amor de Deus, me informe. Até prova em contrário, essa parece uma tremenda conversa fiada, uma cortina de fumaça, & nbsp;um desejo diversionista absolutamente despropositado. Mas que é usado com a chancela até de professores de relações internacionais, que, igualmente, não explicam patavina, revelando as fábricas de encher linguiças em que se transformaram nossas universidades.

Mesmo se fosse top de linha, o Conselho de Segurança da ONU não confere a nenhum país permanente poderes capazes de melhorar a vida dos seus cidadãos. Não tem serventia conforme sua carta e ainda só serve para dar uma casca protetora ao decidido no complexo de poder das grandes corporações, representadas por indignos chefes de Estado, sempre de olho no alheio e no mar das propinas em dólares.

Agora mesmo, esse Conselho de Segurança, com o Brasil presente e acovardado, chancelou a fraude bélica que está tentando o que uma súcia de mercenários não conseguiu: afastar os obstáculos à conquista dos poços de petróleo líbios, instalando naquele país um governo títere e manso, como no Iraque e nesses sultanatos de nababos devassos e opressores.

Não adianta aqui repetir o óbvio sobre o cinismo que reveste a violação da soberania de um Estado constituído. Todo mundo sabe que a gana do Ocidente é a Líbia, que estava reconquistando uma posição proeminente no mundo do petróleo, graças a investimentos consideráveis em sua infra-estrutura, na educação e nas áreas sociais.

A derrubada de Muamar Kadhafi e a implantação de um regime fantoche têm preocupações mais qualitativas do que quantitativas. Obtém-se com o milionário bombardeio (cada míssil custa um milhão e meio de dólares) o repeteco da “legitimação” do “direito de agressão internacional”, conferido aos Estados Unidos e associados.

A próxima bola da vez, se essa agressão vingar, será a Síria e, no embalo, o Irã. Por estas paragens, a Venezuela está na mira, tanto como Cuba, que nunca teve paz e sossego e vive até hoje sob o mais criminoso bloqueio econôm ico. Tenho medo de estar certo mais uma vez. Infelizmente, porém, a voracidade dos poderosos não tem freio.

Enquanto isso, uma corriola de imbecis encastelados continuará possuindo o controle da mídia e inundando de sandices as descuidadas mentes cidadãs.

E mais: veja em Porfírio Livre cenas que a mídia não mostra: a execução de soldados líbios prisioneiros dos insurgentes que se apresentam como a inocente população civil. 

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