por Carlos Chagas


APOIO INDISCUTÍVEL, PROBLEMAS INSOLÚVEIS

Nem tudo são flores no governo Dilma Rousseff. Apesar de sua popularidade indiscutível, revelada nas primeiras pesquisas divulgadas após sua posse, existem problemas aos montes diante dela. Todos exigem pronta resposta, mesmo que as soluções demorem, estendendo-se pelo seu mandato. Vale alinhar alguns, sem ordem de premência ou prioridade.

O MST é um deles. Apesar de sucessivos pedidos de audiência, a presidente não marcou data para receber seus líderes. Passados cem dias de governo, João Pedro Stédile, Gilmar Mauro e outros comandantes do movimento decidiram desencadear o “abril vermelho”, programando cem invasões de terras, aliás, já iniciadas na Bahia. Fará o quê, o governo federal,  se de uma dessas aventuras resultarem vítimas? Já aconteceu no passado e ainda que pela Constituição  a preservação da ordem fique por conta dos governos estaduais, será impossível lavar as mãos. Em especial se acontecerem invasões e depredações de prédios públicos urbanos. Agilizar a reforma agrária sem recursos suficientes valerá po


Os militares também constituem dificuldades. Até agora Dilma agiu com mão de ferro, levando o chefe do Gabinete de Segurança  Institucional, general José Elito,  a desmentir-se logo nos primeiros dias de governo, bem como instruindo o ministro da Defesa, Nelson Jobim, a proibir conferência do general Augusto Heleno, de exaltação ao movimento de 1964. A instalação da chamada Comissão da Verdade, no Congresso, representará outro obstáculo para o bom relacionamento do palácio do Planalto com as forças armadas. A presidente já se pronunciou favorável  à apuração de responsabilidades nos atos de tortura praticados à sombra do regime militar, mas silencia diante da reivindicação castrense, de que se for para apurar, mesmo sem punir, que se apurem os crimes cometidos pelos terroristas e subversivos da época. Não parece confortável a situação do ministro da Defesa, mas muito mais difícil será encontrar-lhe um substituto.

A impunidade diante de atos de corrupção praticados à sombra dos últimos oito anos é outro problema. Ainda agora surgem novas peças no processo que se arrasta contra os mensaleiros,  no Supremo Tribunal Federal. Pior do que uma eventual punição de companheiros do PT envolvidos na roubalheira e formação de quadrilha será a absolvição deles. Para a opinião pública, o Executivo  não terá como ficar de fora das decisões do Judiciário. Acresce ser a impunidade um estado de espírito nacional, ressaltando-se que até hoje, desde a posse da presidente, nenhuma denúncia surgiu,  de implicação de seus ministros e auxiliares.  Mas pela própria natureza humana, será questão de tempo, aguardando-se então sua reação.  Estará mais para Itamar Franco, inflexível na demissão de acusados, ou para Lula, complacente com a sua turma?

No PMDB e no Congresso situam-se previsões nada confortáveis para Dilma. Apesar de suas declarações de que só nomearia gente capaz e ilibada para o ministério e o segundo escalão, precisou ceder às pressões  partidárias,  com ênfase também para o PT. Evitando  o constrangimento de fulanizações, salta aos olhos a presença de alguns ministros que nada tem a ver com os ministérios que exercem. Aliados derrotados nas eleições passadas tem sido aquinhoados com postos na administração federal, não obstante a relutância com que a presidente atende às indicações. O difícil será, atendendo uns, desatender outros, se as exigências vem acompanhadas de ameaças quanto às votações no Congresso. Existem pelo menos seis ministros, dos 37, que até hoje não foram recebidos em audiência por Dilma, coincidentemente aqueles de indicações partidárias.

Dificuldades são previstas caso a reforma política se desenvolva, da mesma forma como surgiriam no caso de seu congelamento. Irá a presidente adotar a tendência majoritária do PT,pela adoção de voto em lista fechada nas eleições para a deputado federal e estadual? Não seria uma castração do direito do eleitor de escolher o seu candidato? Como justificar a concordância de Dilma com essa proposta impopular? Tem mais: num período de ampla contenção de despesas públicas, estaria o governo disposto a endossar o financiamento público das campanhas?

Na política externa situa-se outro nó a desatar pela presidente. Apesar de haver adotado posições diversas daquelas seguidas pelo Lula, como no caso do Irã e dos direitos humanos, a presidente  frustrou-se com o diálogo verificado com o presidente Barack Obama. Nenhuma de nossas reivindicações mereceu a devida atenção, como a diminuição das barreiras alfandegárias aos  produtos brasileiros  de exportação. Há quem, julgue que se sobrevierem resultados concretos  da visita de Dilma à China, a iniciar-se sexta-feira, surpresas poderão acontecer em termos de política externa.

A reforma tributária dá a impressão de haver sido acometida de poliomielite. Se o ministro Guido Mantega trabalha nela,  assim como a “Conceição”, ninguém sabe, ninguém viu, apesar de ter-se constituído numa das promessas de campanha, lembrada até mesmo no discurso de posse. As elites financeiras puxam de um lado, a equipe econômica de outro, mas se vencer a proposta de aumento de impostos, em especial para a classe média e para   os menos favorecidos, é certo que cairão sólidos percentuais nos índices de popularidade da presidente. Os governadores também mantém-se na expectativa: poderão criar dificuldades na hipótese de perderem receita ou se tiverem contrariados seus interesses regionais.

O combate à miséria e à pobreza permanece o grande objetivo do governo Dilma, mas ela já declarou tratar-se de tarefa capaz de ultrapassar os limites de seu governo. Muito mais fácil foi prometer do que está sendo cumprir. O desemprego diminui, conforme as estatísticas oficiais, mas o número de crianças sem escola aumenta, assim como o analfabetismo mantém-se  em constrangedor patamar.  Na área da saúde pública multiplicam-se as filas nos hospitais, faltam remédios e há carência de médicos e pessoal técnico, até por conta do congelamento de  recursos para o  setor.

Enfim, são grandes e agudos os problemas da presidente da República, mesmo em  meio ao apoio  recebido da população, porque  muitas outras pedras no caminho dele não vem sendo removidas. Pelo contrário, avolumam-se.

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