O que mudaria se a remuneração real dos títulos do governo baixasse para 3%?

Alguém um dia tinha que tomar uma providência. Dilma Rousseff tomou. Deixou o Banco Central numa situação em que o Comitê de Política Monetária não teve como persistir na linha de sempre.

Guerras são assim. Por mais que se planeje, desenhe, considere, pondere, quando ela começa é sempre diferente do previsto. E quem precisa guerrear e fica esperando eternamente pelas condições ideais acaba derrotado sem luta.

Onze entre dez autoridades, economistas, empresários, consultores e jornalistas especializados dizem que o Brasil vai bem. Eu não chegaria a tanto, dado nosso crescimento modestíssimo, na comparação com os primos emergentes.

Mas é verdade que as finanças brasileiras estão razoavelmente em ordem, temos reservas, que aliás custam caríssimo. Temos inflação incômoda, mas o governo diz que vai colocar na descendente. A ser cobrado.

Então por que nossos juros são os maiores do mundo?

Não apenas os que o Estado paga para rolar sua dívida, mas também e principalmente os cobrados do tomador em banco. O infeliz que não conhece o endereço do BNDES nem está pendurado em subsídio.

Já tive oportunidade de escrever que parte da nossa saúde financeira deriva de uma doença.

Nossos bancos estão melhor que os de outras paragens porque emprestam de menos e cobram demais. O brasileiro deve relativamente pouco mas compromete muito da renda com o pagamento das obrigações financeiras.

Os últimos governos tiveram o mérito de controlar a inflação. Parabéns. Mas o controle da inflação não é a parada final do bonde. O objetivo de qualquer país é produzir prosperidade, oportunidades, bem estar.

O Brasil cresce pouco. As bravatas sobre como seria fácil subir o PIB potencial para além de 4% viraram fumaça. Em condições normais de temperatura e pressão, o governo Dilma estará condenado a um porvir medíocre e a um desfecho idem.

Ainda mais se for esperar pelas “grandes reformas” que nunca virão. É uma esperteza dos nababos. Pedir o impossível para justificar o injustificável. Já que não dá para desmontar o welfare state brazuca, melhor não mexer com a banca.

Errado. Um bom método na administração de encrencas é criar o problema para acelerar a solução. Em vez de esperar pelo dia de São Nunca, agir agora. Em vez de se atolar no pântano congressual das reformas supostamente indispensáveis, levantar e andar.

O Brasil pratica um juro básico real de 6%. Aqui, uma pergunta de leigo. O que mudaria se a remuneração real dos títulos do governo baixasse para 3%, num planeta em que os governos dos países desenvolvidos praticam juro real zero ou negativo?

Iríamos à breca? O mundo acabaria? Tenho minhas dúvidas.

Disseram que o mundo ia acabar quando a Constituinte enfiou um monte de direitos trabalhistas e sociais na Carta Magna. A licença-maternidade de quatro meses, por exemplo, provocaria o fim do emprego formal feminino.

Para 2012, o salário mínimo brasileiro tem previsão de ir a quase 400 dólares. Mesmo descontada a hipervalorização do real, é um número glamoroso.

O país, felizmente, não esperou pela solução estrutural definitiva de todos os problemas da previdência para aumentar decididamente o valor do mínimo.

E o Brasil não acabou. Nem vai acabar.

A decisão do Copom de baixar a taxa básica de juros em meio ponto percentual é animadora, ainda mais se for somente o início da caminhada. Pois falta muito. Falta principalmente acabar com a espoliação das pessoas e empresas pelos bancos.

Se Dilma quiser mesmo avançar nessa trilha, e se conseguir, nem que parcialmente, já terá justificado o mandato dela.

Autonomias

Ouvem-se lamentos pela suposta perda de autonomia do Banco Central.

A autonomia não é um fim em si. Qualquer instituição da República recebe o bônus ou paga o ônus pelo exercício das atribuições.

Se age bem, fortalece-se. Se age mal, enfraquece-se.

A Câmara dos Deputados, por exemplo, exerceu sua autonomia ao absolver na terça-feira a deputada Jaqueline Roriz. Os que não gostaram pediram uma limitação na autonomia dos deputados.

Pediram o fim do voto secreto.

O voto no Copom também é secreto. Sabe-se o resultado das votações, mas não se sabe quem votou como.

Contra esse voto secreto não se notam tantas reclamações assim.

Curioso. 
Alon Feurwerker

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