O grampo sem áudio: que devemos lembrar sempre

[...] até que tenhamos a certeza que foi uma amação ou não.

autor Luis Nassiff

À medida em que vão sendo reveladas as influências políticas múltiplas do bicheiro Carlinhos Cachoeira, é hora de tirar outros fantasmas do armário. Especialmente enquanto vai se desnudando a imagem pública do senador Demóstenes Torres.
Um deles talvez seja a mais grave suspeita a pairar sobre a política brasileira: a de que foi engendrada uma falsificação envolvendo o próprio presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a maior revista do país, dando munição para uma CPI, servindo de instrumento de ameaça ao próprio presidente da República. Uma armação que, na história do país, tem o mesmo nível do Plano Cohen e das Cartas Brandi.
Trata-se do grampo sem áudio da conversa de Demóstenes Torres com Gilmar Mendes divulgado pela revista Veja.

A suspeita mais forte é a de que houve uma ligação de Demóstenes para Gilmar, acompanhada presencialmente por um repórter da Veja. O repórter teria anotado em detalhes as falas de Demóstenes; mas de Gilmar captou apenas frases curtas e soltas, conforme pode-se perceber na reconstituição do diálogo. Além disso, quem liga é Demóstenes, é ele quem dá o mote para a conversa. O que reforça a suspeita de que a transcrição só tinha acesso à fala de Demóstenes - por estar assistindo e anotando a conversa - e reconstituiu posteriormente a de Gilmar.
Aparentemente, Gilmar foi o incauto nessa história e acabou endossando a farsa, inebriado que estava pela catarse montada em torno da Satiagraha, que o colocou no centro de todos os holofotes.
É uma suspeita que não pode ser varrida para baixo do tapete. A CPI do Grampo foi prorrogada devido a esse episódio. Nem parlamentares, nem Ministério Público Federal nem Polícia Federal têm o direito de ignorar essa farsa.
Abaixo, a íntegra da conversa captada pelo suposto grampo:
 
Gilmar Mendes – Oi, Demóstenes, tudo bem? Muito obrigado pelas suas declarações.
Demóstenes Torres – Que é isso, Gilmar. Esse pessoal está maluco. Impeachment? Isso é coisa para bandido, não para presidente do Supremo. Podem até discordar do julgado, mas impeachment...
Gilmar – Querem fazer tudo contra a lei, Demóstenes, só pelo gosto...
Demóstenes – A segunda decisão foi uma afronta à sua, só pra te constranger, mas, felizmente, não tem ninguém aqui que embarcou nessa "porra-louquice". Se houver mesmo esse pedido, não anda um milímetro. Não tem sentido.
Gilmar – Obrigado.
Demóstenes – Gilmar, obrigado pelo retorno, eu te liguei porque tem um caso aqui que vou precisar de você. É o seguinte: eu sou o relator da CPI da Pedofilia aqui no Senado e acabo de ser comunicado pelo pessoal do Ministério da Justiça que um juiz estadual de Roraima mandou uma decisão dele para o programa de proteção de vítimas ameaçadas para que uma pessoa protegida não seja ouvida pela CPI antes do juiz.
Gilmar – Como é que é?
Demóstenes – É isso mesmo! Dois promotores entraram com o pedido e o juiz estadual interferiu na agenda da CPI. Tem cabimento?
Gilmar – É grave.
Demóstenes – É uma vítima menor que foi molestada por um monte de autoridades de lá e parece que até por um deputado federal. É por isso que nós queremos ouvi-la, mas o juiz lá não tem qualquer noção de competência.
Gilmar – O que você quer fazer?
Demóstenes – Eu estou pensando em ligar para o procurador-geral de Justiça e ver se ele mostra para os promotores que eles não podem intervir em CPI federal, que aqui só pode chegar ordem do Supremo. Se eles resolverem lá, tudo bem. Se não, vou pedir ao advogado-geral da Casa para preparar alguma medida judicial para você restabelecer o direito.
Gilmar – Está demais, não é, Demóstenes?
Demóstenes – Burrice também devia ter limites, não é, Gilmar? Isso é caso até de Conselhão.
(risos)
Gilmar – Então está bom.
Demóstenes – Se eu não resolver até amanhã, eu te procuro com uma ação para você analisar. Está bom?
Gilmar – Está bom. Um abraço, e obrigado de novo.
Demóstenes – Um abração, Gilmar. Até logo.

3 comentários:

  1. A covardia do governo no episodio do grampo foi tamanha, principalmente com a demissão do delegado chefe, que pareceu mais um confissão de culpa que qualquer prova apresentada! o Lula foi um banana tremendo ao ser chamado as falas pelo Gilmar e depois recebendo ele no planalto, faltou ao lula a grandeza de um lider verdadeiro!

    se o governo não tinha culpa deveria ter investigado a fundo e destruido essa conspiração obvia, pois qualquer boçal sabia que foi armação quando da ligação do Demostenes ter ao lado pessoas para testemunhar que a ligação ocorreu, pessoas claramente inocentes!

    num governo serio e sem o rabo preso, essa jogada não teria prosperado!

    ResponderExcluir
  2. Cara, vai na farmácia e compra um memoriol. Não foi assim o que aconteu, houve sim um grande e pesado complô pró-Dantas, que incluiu desde a Suprema Corte do país até o Ministro da Defesa(O tucano Nelson Jobim) mais a grande imprensa em peso, a CPI do Daniel Dantas, com Marcelo Itagiba no comando etc etc. Vc queria Lula fizesse o que mesmo, até parece que o nosso presidencialismo não vive à reboque do Parlamento e de outras forças tais como Judiciário vendido, imprensa bandida...

    Uma coisa tem que ficar bem clara para os deputados e senadores: Carlinhos Cachoeira não era apenas bicheiro, inclusive o mesmo foi acusado por vários crimes, sendo o de exploração de jogo do azar o menor, além deste: Formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, quebra de sigilo profissional, dentre outros, fora os que ainda virão à tona.

    ResponderExcluir
  3. Assis Ribeiro17 março, 2012

    Uma matéria destas não era para vir a Post durante o fim de semana que o movimento do blog é menor.

    Se houve armação, e tudo indica que houve, a participação conjunta da revista, do senador Demóstenes e do presidente do STF Gilmar Mendes foi clara. Foi um movimento orquestrado, de objetivos claros.

    Tendo acontecido desta maneira foi uma concepção de golpe com envergadura semelhante a qualquer golpe de Estado.

    Um movimento que envolve todo o STF através do seu presidente e o senado, movimento repercurtido pela revista de maior circulação foi pactuado com o objetivo ou de esconder algo que faria não só o governo cair, mas que "faria toda a república cair" ou mesmo derrubar o governo.

    Naquele momento Lula não teria outra forma de conduzir o episódio senão o de afastar a cúpula dos envolvidos no declarado grampo.

    Mas, com a continuidade do processo, a conclusão do inquérito que foi acompanhado pelo próprio Senado e STF negando que tenha havido grampo (?) abrui -se uma grande lacuna no nosso processo democrático e que não pode ficar aberto sob nenhum argumento.

    Crime cometido por altas esferas do executivo, afirmado pelo presidente do STF e por membro do senado não pode ficar sem respostas.

    Neste caso, bem específico, ou o executivo cometeu o grave crime de escutas ilegais do presidente do STF e do senador, ou o próprio presidente do STF e o senador cometeram grave crime.

    Uma pena que a nossa democracia ainda seja bastante torta, que o aparato de segurança jurídica nunca funciona adequadamente contra crimes cometidos pela chamada elite.

    ResponderExcluir