Os tempos são diferentes, o nível de desenvolvimento brasileiro é outro.
Mas há pontos em comum entre a luta política do período Vargas-Jango e do período Lula-Dilma.
Em comum, o fato da oposição ter escassas possibilidades de tomar o poder pelo voto. Assim, o protagonismo é assumido por grupos que levam a luta política para outros campos, extra-eleitorais.
No caso de Vargas, essa aglutinação da oposição se deu no segundo governo, com a imprensa livre das amarras da censura do Estado Novo. No caso de Lula, na aliança mídia-PSDB que se forma no pós-mensalão.
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Havia duas maneiras de enfrentar o clima pre-conspiratório. A primeira, compondo alianças, diluindo pressões, apostando na normalização econômica e política, até ser aceita pelo status quo; a segunda, partindo para o confronto.
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Dilma Rousseff claramente está apostando todas suas fichas no primeiro caminho.
Do período pré-posse à queda, Jango balançou entre esses dois movimentos: o da conciliação, típico da sua personalidade, e da radicalização, conduzido pelo cunhado Leonel Brizola. Sua indefinição derrotou-o.
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Quando Jânio renunciou, dos obstáculos apareceram para a posse de Jango.
O primeiro, uma enorme dívida junto ao Banco do Brasil; o segundo, a resistência de setores empresariais e militares, que articulavam desde a campanha presidencial que elegeu Vargas.
A dívida junto ao BB foi resolvida de forma habilidosa e até hoje não revelada, envolvendo troca de chumbos entre bancos privados e o BB.
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Já a resistência dos conspiradores foi enfrentada com uma operação heroica, comandada a partir de Porto Alegre por Leonel Brizola.
No Rio, ocorriam as negociações. Fechou-se um acordo pelo qual Jango assumiria se dentro de um regime parlamentarista e tendo na Fazenda um Ministro responsável, que impedisse loucuras populistas.
A escolha recaiu sobre o banqueiro Walther Moreira Salles.
Os dois episódios mostram que Jango estava totalmente despreparado quando o cavalo da presidência passou encilhado por ele.
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Moreira Salles renunciou, depois que Jango tentou empurrar goela abaixo um plano econômico preparado por seu assessor Cibilis da Rocha Viana. Mais tarde, Jango reconquistou o presidencialismo, atropelando o acordo político inicial. E indiciou Carvalho Pinto para Ministro da Fazenda tentando recuperar a confiança. E foi oscilando assim até o fim.
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A Revolução Cubana foi o fator determinante para os problemas da época.
Reforçou, na oposição, o discurso da subversão, contra um presidente que, em toda sua vida, jamais foi adepto de soluções de força. E, no PTB, a ideia de resistir ao golpe através da mobilização popular.
Em nenhum momento Jango cuidou de preparar-se, junto às demais forças de Estado, como as Forças Armadas. Permitiu manifestações de que ajudaram a reforçar o discurso dos conspiradores, de quebra da hierarquia.
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No caso de Dilma, sua estratégia é baixar a fervura da água.
Faz isso com uma política econômica desenvolvimentista mas cautelosa, na qual o combate à inflação ainda é prioritário; com declarações, até à exaustão, de fé nas instituições, inclusive na mídia.
Se é a estratégia correta, o tempo dirá. Se a economia for bem, a estratégia será eficaz.
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