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Desfiles de moda e manequins
O mundo não tem jeito mesmo, deixa o mundo para lá. Não se preocupe em se distrair e ficar desinformado: quando o mundo chegar ao fim, com um estrondo ou uma inalação, nós saberemos. Fique descansado, ele não acaba sem você. Vamos às banalidades, portanto.
Por exemplo: o que acontece com os seios à mostra quando saem das passarelas? Em todos os desfiles de moda pelo menos metade das modelos mostra roupas transparentes em que os seios aparecem. Mas é raro encontrar alguém na, digamos, vida civil usando as mesmas roupas, ou roupas com a mesma transparência.
Os seios não aparecem na mesma proporção, quando as roupas saem das passarelas para a realidade. Ou eu é que ando frequentando a realidade errada?
Pode-se argumentar que os desfiles são representações de um ideal impossível de ser reproduzido no cotidiano.
Num desfile de modas todas as mulheres são lindas, altas e magras. São, por assim dizer, mulheres destiladas, ou a mulher como ela sonha ser — e andar, e brilhar, e vestir roupas caras. Desta maneira os seios à mostra nos desfiles também seriam idealizações. Só seriam seios reais se viessem junto com o vestido, e a mulher, usando sua transparência, automaticamente ficasse com seios de manequim.
As manequins são como aqueles desenhos nos cartões à sua frente nas poltronas dos aviões, de pessoas ajustando o colete salva-vidas, colocando as máscaras de oxigênio, assumindo a posição adequada para o caso de queda do avião, atirando-se pelo tobogã para sair do avião acidentado — enfim, em situações de emergência.
E nos cartões ninguém tem cara de quem está numa situação de emergência. Não estão exatamente sorrindo, mas suas expressões é de quem enfrenta emergências com naturalidade, até com um certa indiferença. São pessoas que seguiriam as instruções de respirar normalmente depois de colocar as máscaras de oxigênio — coisa que você e eu nunca faríamos.
As manequins são assim. Desfilam como se ser magnífica, com seios magníficos, fosse uma coisa comum. Na vida real, poucas mulheres podem usar uma roupa cara como a roupa cara merece, como manequins. Na vida real, ninguém respira normalmente com máscaras de oxigênio caindo sobre sua cabeça.
Luis Fernando Verissimo
O sineiro do sertão
Um homem pobre e analfabeto trabalhava na igreja de uma pequena cidade do interior do Ceará. Seu trabalho era limpar a igreja e tocar o sino quando precisava.
Porém, as coisas mudaram: o bispo da região resolveu exigir que todos os funcionários das suas paróquias tivessem no mínimo o curso primário. Pensava desta maneira que estava estimulando a educação pública; mas para o velho sineiro, que era analfabeto, aquilo foi o fim do seu trabalho.
Recebeu uma pequena indenização, os agradecimentos de sempre, e uma carta dando por encerrada suas atividades na igreja.
Na manhã seguinte, sentou-se no banco da praça para preparar seu cigarro de palha - e notou que o fumo estava no fim. Pediu um pouco emprestado aos amigos aposentados que se encontravam por ali, mas todos estavam com o mesmo problema: era preciso ir até a cidade vizinha comprar mais fumo.
"Você tem tempo de sobra" - disse um dos amigos. "vá comprá, e lhe daremos uma gratificação".
O ex-sineiro passou a fazer isso regularmente, com o tempo viu que faltavam muitas outras coisas em sua pequena cidade, e começou a trazer isqueiros, jornais, etc. Então resolveu montar uma pequena loja, para vender de tudo.
Como era um homem interessado na satisfação dos seus clientes, a loja prosperou, ele ampliou seus negócios, e terminou se transformando em um dos mais rico comerciante da região.
Lidava com muito dinheiro, e foi necessário abrir uma conta bancária.
O gerente recebeu-o de braços abertos, o velho retirou um saco repleto de notas de alto valor, sua ficha foi preenchida, e no final pediram sua assinatura.
- Desculpe - disse ele. - Mas sou analfabeto.
- Então o senhor conseguiu tudo isso sendo analfabeto?
- Consegui com trabalho, esforço e dedicação.
- Meus parabéns! E tudo sem frequentar a escola! Imagine o que seria de sua vida se tivesse conseguido estudar! O velho sorriu:
- Imagino muito bem. Se eu tivesse estudado, ainda estaria tocando sinos naquela pequena igreja que o senhor pode ver desta janela.
Porém, as coisas mudaram: o bispo da região resolveu exigir que todos os funcionários das suas paróquias tivessem no mínimo o curso primário. Pensava desta maneira que estava estimulando a educação pública; mas para o velho sineiro, que era analfabeto, aquilo foi o fim do seu trabalho.
Recebeu uma pequena indenização, os agradecimentos de sempre, e uma carta dando por encerrada suas atividades na igreja.
Na manhã seguinte, sentou-se no banco da praça para preparar seu cigarro de palha - e notou que o fumo estava no fim. Pediu um pouco emprestado aos amigos aposentados que se encontravam por ali, mas todos estavam com o mesmo problema: era preciso ir até a cidade vizinha comprar mais fumo.
"Você tem tempo de sobra" - disse um dos amigos. "vá comprá, e lhe daremos uma gratificação".
O ex-sineiro passou a fazer isso regularmente, com o tempo viu que faltavam muitas outras coisas em sua pequena cidade, e começou a trazer isqueiros, jornais, etc. Então resolveu montar uma pequena loja, para vender de tudo.
Como era um homem interessado na satisfação dos seus clientes, a loja prosperou, ele ampliou seus negócios, e terminou se transformando em um dos mais rico comerciante da região.
Lidava com muito dinheiro, e foi necessário abrir uma conta bancária.
O gerente recebeu-o de braços abertos, o velho retirou um saco repleto de notas de alto valor, sua ficha foi preenchida, e no final pediram sua assinatura.
- Desculpe - disse ele. - Mas sou analfabeto.
- Então o senhor conseguiu tudo isso sendo analfabeto?
- Consegui com trabalho, esforço e dedicação.
- Meus parabéns! E tudo sem frequentar a escola! Imagine o que seria de sua vida se tivesse conseguido estudar! O velho sorriu:
- Imagino muito bem. Se eu tivesse estudado, ainda estaria tocando sinos naquela pequena igreja que o senhor pode ver desta janela.
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