Algo parece bastante desarrumado na condução política do governo Dilma Rousseff. E aqui não vai qualquer observação sobre ministros, ou ministras, porque conduzir politicamente o governo é tarefa indelegável do presidente da República. Ou da.
Consta que o futuro ex-ministro da Defesa andou falando mal da colega da articulação política, desdenhou da capacidade de ela cumprir a tarefa.
Desmentir é de praxe, mas na política a verdade e a verossimilhança dançam de rosto colado. Na glória e na desgraça.
Ministros falarem mal uns dos outros para jornalistas (com o compromisso de não publicar, claro) é mais previsível e corriqueiro em Brasília do que a seca.
Talvez algum dia as mudanças climáticas façam chover torrencialmente aqui nesta época do ano. Mas nesse dia continuará a haver, com 100% de certeza, algum primeiro escalão atrás de coleguinhas da imprensa para falar mal de outro.
O que importa a opinião de Nelson Jobim sobre Ideli Salvatti? O mesmo tanto que a opinião dela sobre ele. Nada. E qual a importância de a chefe da Casa Civil "não conhecer Brasília"?
Ela não é a secretária de Turismo do Governo do Distrito Federal. É a ministra-chefe da Casa Civil. Com a caneta na mão, certamente encontrará quem lhe explique rapidamente tudo o que deve saber. E o que não.
Como um dia alguém explicou ao próprio Jobim.
Perceba o leitor a desimportância do tema. Eu nem deveria estar escrevendo sobre isso. Para não desperdiçar o seu precioso tempo com desimportâncias. Aliás, a respeito das ditas cujas quem deu o tom correto foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, animal político até o último átomo.
Quando discorreu sobre o (ir)relevantíssimo tema de quem votou em quem na eleição.
A presidente da República degusta nas semanas recentes um cardápio variado de encrencas. Todas elas compatíveis com sintomas de envelhecimento governamental.
Porque o governo Dilma é novo, mas também velho, visto que sua excelência aceitou a hegemonia absoluta do vetor de continuidade.
Agora colhe os resultados. Ou então ela própria os provoca, ao abrir caminho para a amplificação das crises.
Justiça se faça, é admirável ela ter obrigado as autoridades acusadas de malfeitos a comparecer ao Congresso Nacional para prestar contas. Merece aplausos. É uma bela contribuição aos hábitos políticos nacionais.
Mas é também evidente que Dilma vai surfando nas ondas -as importantes e as desimportantes- com o objetivo de livrar-se do pedaço, ou dos pedaços, que a incomodam na herança.
E, assim, o método que parece uma bagunça pode ser lido como portador de alguma racionalidade. Inclusive no uso inteligente da opinião publicada.
E o desimportante adquire estatura ao lado do importante.
Comecei esta coluna notando que algo parece bastante desarrumado na condução política do governo Dilma. E que a responsabilidade nesses casos é sempre do chefe.
Quem está desarrumando o governo é a própria.
Num extremo, o subestimador dirá que ela vem engolfada pelas ondas sucessivas. No outro, o superestimador defenderá a suposta genialidade estratégica da chefe do governo.
A verdade, como sempre, deve estar em algum ponto intermediário.
A presidente, antes de tudo, parece ciosa do poder dela. Numa combinação de instinto, intuição, cérebro e fígado vai ajudando a desfazer o que recebeu, vai empurrando para fora do barco quem cujo peso representa risco para a embarcação.
E, unindo o útil ao agradável, lança ao mar também quem se acha mais capaz que ela de ocupar o posto de comando.
O risco é sabido. Reunir no campo adversário uma massa crítica com capacidade de desestabilizar o governo.
Com o grau de confiança que exibe, sua excelência certamente avalia baixo esse risco.
Inclusive porque as cisões na oposição oferecem múltiplos possíveis pontos de apoio do lado de lá.
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