no Tijolaço: Aécio vai para cima de Marina. E a mídia, irá com ele?As pesquisas dirão
Diz que o próprio comando marinista prevê “perda de substância” da candidata nas próximas pesquisas de intenção de voto. A ordem no comitê pessebista, porém, é manter o ânimo e a defensiva para levá-la ao segundo turno, mesmo diante de uma desidratação da ex-senadora”.
Aécio, sem ligar para seu telhado de vidro com as histórias do “mensalão mineiro”, segue em seu discurso anti-Dilma cada vez mais violento, mas dispara suas baterias, agora, também contra Marina Silva.
Não é que se tenha convencido de que pode voltar a existir na disputa eleitoral, mas a de que precisa, desesperadamente, disso.
E começou a fazer, como você vê aí na reprodução da página do PSDB que está na web esta manhã.
Para variar, porém, da maneira errada, porque é incrível a incapacidade de sua marquetagem de fazer qualquer discurso que não seja de doentia agressividade, agora que aposentaram a platitude do “vamos conversar?”
É tão obvio que Marina faz, justamente, de sua imagem de “vítima” o carro-chefe de sua projeção marqueteira que só mesmo a esquipe de Aécio não o vê.
Como a percepção do óbvio, porém, é a mais democrática das capacidades humanas, fique certo o caro leitor e a estimada leitora de que há outras ofensivas, muito mais discretas, em gestação no conservadorismo.
E que só não estão em curso porque não há consenso de que serão vitoriosas ou, pior, se não comprometerão o plano central de derrubada de um governo nacionalista.
Não há maneira de realizar o sonho de tirar Dilma do segundo turno e, ao que parece, nem mesmo evitar que seja ela a primeira colocada na eleição inicial.
E um plano de ressurreição de Neves só tem chance de progredir se for forte e pesadíssimo o processo de desconstrução de Marina, que terá, necessariamente, de passar pela “descanonização” de Eduardo Campos.
O que faz dela, apesar das posições que assume e do ódio doentio que tem de Dilma e Lula, uma complicada e menos efetiva aliada num turno final.
Como disse ontem o Painel da Folha, é verdade que estão “repensando”, mas a baliza deste “repensamento” serão as pesquisas que se encerram hoje.
Vão testar o “efeito-queda” em Marina?
Não sei, e não me aventuro a prever.
Afinal, discutir eleições que, nos meios de comunicação, se limitam a ibopes e denúncias e não no processo de formação das opções eleitorais coerentes com as aspirações políticas da população não é tarefa simples.
Mas de uma coisa estou certo: assim como sentem que “erraram a mão” a maior no processo de criação da “Onda Marina”, sabem que não podem errar na velocidade e profundidade de sua desconstrução.
por Fernando Brito
Dilma: “Vamos continuar focados em emprego e valorização dos salários"
Sabatina com a candidata à reeleição foi realizada no Palácio do Planalto, ontem segunda (8).Sabatina com a candidata à reeleição foi realizada no Palácio do Planalto, nesta segunda (8). Dilma referiu-se às declarações que deu na semana passada sobre mudanças na sua política econômica, destacando que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por questões pessoais, já informou que não vai permanecer num eventual governo, caso reeleita. “Vai haver mudanças. Porque eu acho que o país se preparou para esta mudança. Temos condição agora de diminuir alguns incentivos. Vamos continuar focados em emprego e valorização de salário. Não concordo, como alguns, que a razão da inflação é a política de valorização do salário mínimo. Estamos recuperando a queda brutal que houve no Brasil no período anterior ao Lula.”
Diante da crise econômica internacional, Dilma reafirmou que o país passará para um novo ciclo de desenvolvimento. “Temos todas as condições robustas para passar para uma nova fase. Não estamos mais naquele momento em que tínhamos que segurar o país com as duas mãos, senão desempregávamos. A Europa fez uma política duríssima de austeridade e não dá um único passo à frente. Garantimos que o salário se valorizasse... fazemos políticas industriais e apostamos na inovação”, disse.
“Eu nunca negociei contra os interesses do país. Eu tenho uma convicção que sem reforma política, sem participação popular, sem regras de financiamento de campanha, não tem essa questão de nova política. A nova política implica termos o povo participando por meio de um plebiscito. Temos que retomar tudo o que foi dito nas manifestações.”
Petrobras
“Chegamos a 81 mil empregos em julho, e no ano que vem vamos chegar a 100 mil na indústria naval. É fruto da Petrobras, e a força dela são seus trabalhadores, sua imensa capacidade de produzir petróleo, de gerar energia. É a maior empresa deste país”, afirmou.
Questionada sobre um possível tarifaço, propagado pelos alarmistas de plantão, Dilma reafirmou que considera a proposta “um absurdo”. “Querem vincular o preço do petróleo ao mercado internacional. A quem isto interessa?”, questionou a presidenta.
Dilma foi indagada sobre a “matéria” publicada na revista Veja que tratou do depoimento da delação premiada de Paulo Roberto Costa. Dilma destacou que ele foi um diretor, um quadro de carreira dentro da Petrobras e em governos anteriores foi gestor da Gaspetro.
Especulações da Veja
“Quem faz a acusação é uma reportagem feita pela imprensa. Quem tem a informação é a imprensa, o Ministério Público. Os processos estão criptografados e dentro do cofre. O vazamento pode significar a não validade das provas. Eu fiz um ofício ao procurador-geral da República para ter acesso a essas informações para poder tomar todas as providências e tomar medidas baseada em informações oficiais”, declarou.
Dilma criticou o fato de a revista ter acesso a tais informações. “É uma coisa engraçada. Um órgão da imprensa sabe as informações, e nós, que somos os acusados, não sabemos. Isso é inadmissível. Eu não quero dentro do meu governo quem esteja envolvido. Mas não quero dar à imprensa um caráter que ela não tem diante das leis brasileiras. Eu quero a informação a mais aprofundada possível”, ressaltou. “É possível ficar divulgando sem a Justiça homologar a delação premiada?”, questionou.
Plataforma de R$ 1,5 bi afundou no governo FHC
Dilma ressaltou que em seu governo – diferente do passado tucano – foram desmontados “muitos esquemas”, como resultado da política de combate à corrupção e autonomia da Polícia Federal e do Ministério Público. “Nosso procurador-geral nunca foi um 'engavetador'. Fizemos algumas leis importantíssimas: Lei da Ficha Limpa, Lei de Acesso à Informação e por último a lei que pune também o corruptor”, lembrou a presidenta.
“O que me estranha é que outros esquemas de corrupção não tiveram o mesmo tratamento. É o caso do mensalão do DEM. A plataforma, de R$ 1,5 bilhão, é duas vezes Pasadena. Ela afundou no governo FHC e ninguém investigou. Não é próprio das plataformas sair por aí afundando. Teve a troca de ativos da Repsol e não foi investigada. Estou dando dois exemplos que não tiveram o mesmo tratamento”, disse.
Os jornalistas do Estadão voltaram a questionar a presidenta sobre a propaganda de TV que criticou a política do “eu sozinho” proposta por Marina. Dilma reafirmou que suas criticas fazem parte do debate político.
“Quem governa sem partido geralmente tem uma pessoa muito poderosa por trás, geralmente os mais ricos. Isto não é nova política, é a política que levou o país a um tipo de visão de que a democracia pode ser feita apenas por uns poucos”, rebateu Dilma.
A presidenta lembrou que negocia com os diversos partidos e enfatizou a necessidade de uma reforma política que amplie a participação da população nos rumos do Brasil. Ela destacou que a população quer mudanças na forma de financiamento das campanhas. Mas “sem respaldo da população, ninguém tem força para fazer nenhuma alteração”, agregou.
Apoio de Lula
A presidenta Dilma reiterou a confiança mútua entre ela e o ex-presidente Lula. “Nós garantimos juntos tudo o que foi feito nesse país. Eu lutei ao lado dele... Estarei com ele quando for necessário.”
A economia sob a ótica de um Marinático
"Não vemos a economia como um fim em si mesmo, ela é pré-condição para uma vida melhor para todos, de uma realização mais plena. O sonho que nos move é que a economia deixe de ocupar o lugar de proeminência que ela ocupa hoje no debate brasileiro para que a gente possa focar em questões ligadas à cidadania, à realização humana, à felicidade".
Eduardo Giannetti
'VELHA POLÍTICA' Quem ganha e quem perde com a 'escandalização' da delação premiada
por Helena Sthephanowitz
Faltando menos de um mês para a eleição, Aécio Neves (PSDB) parece tão desesperado quanto o próprio delator.
Há uma escandalização da delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa. Coberta de sigilo, com as gravações dos depoimentos criptografados, segundo o noticiário, nomes de políticos suspeitos – alguns são os suspeitos de sempre – estão nas páginas de uma revista, mas provas, que é bom, não foram mostradas.
Antes de mais nada, a delação é bem-vinda. Quem cometeu crimes que responda por eles. Mas precisa ter consistência. Até programas sensacionalistas de TV mostram exame de DNA quando há casos de "delação" de suposta paternidade.
O que não é bem-vindo é a escandalização forçada em matérias recheadas de adjetivos e suposições sem provas, sem o equivalente ao exame de DNA, ainda mais na véspera de irmos às urnas, o que ganha feições de golpes baixos de campanhas eleitorais sem escrúpulos.
Faltando menos de um mês para a eleição, Aécio Neves (PSDB) parece tão desesperado quanto o próprio delator, ao se lançar como beneficiário da escandalização. Isso porque no listão de políticos suspeitos montado pela revista Veja – sem nenhum documento, nem referência a fontes – não aparecem tucanos, por ora. O alvo da reportagem foi Dilma Rousseff (PT), por haver políticos da base governista, e Marina Silva (PSB), por incluir o nome do ex-companheiro de chapa, Eduardo Campos, entre os três governadores citados como envolvidos no suposto esquema.
Como Dilma é presidenta da República, o que ela deveria fazer? Exigir que a Polícia Federal (PF) investigue. Ué, mas isso já está sendo feito há muito tempo. Inclusive a delação acontece justamente nas dependências da PF, onde o delator foi preso há meses. Nesse contexto, Dilma tem como neutralizar o efeito político tentado contra sua candidatura, pois pode lembrar ao eleitor que as instituições de combate à corrupção em seu governo funcionam e existe um processo de depuração na política que nunca houve em governos anteriores. E é incomum haver em governos estaduais, fora da jurisdição federal. Talvez essa depuração seja a verdadeira "nova política", pelo menos em parte, pois outra parte depende de reforma constitucional no sistema político.
A candidatura de Marina sofre danos com essa escandalização porque vinha surfando no discurso da pureza na política e vê líderes de seu partido acusados de praticar tudo de ruim que ela chama em seu discurso de "velha política". Mesmo que Marina não apareça envolvida diretamente, o discurso da pureza é abatido pela convivência em um ambiente partidário contaminado.
Aécio Neves, que se lança como beneficiário da escandalização, pode se sair pior do que pensa. Campanhas de ataque, de demonização da política, atingem seus adversários mas atingem também seu próprio perfil e produz severas baixas entre seus próprios aliados, o que pode desagregar mais ainda sua campanha nos estados.
Apesar dos esforços da imprensa tradicional de pautar a campanha eleitoral com esta escandalização, é questionável se o efeito no eleitorado beneficia a oposição. Em vez de recolocar Aécio na disputa pelo segundo turno, pode apenas aumentar a rejeição a todos os candidatos, fazendo crescer o número de votos nulos, brancos e abstenções.
Dilma é quem tem menos a perder, pois já sofreu incontáveis desgastes, bombardeada com um noticiário sistematicamente adverso, e o piso de votos dela mostra-se resistente nos níveis que as pesquisas têm mostrado. Aécio pode estancar sua queda em um primeiro instante, mas deve voltar a cair em seguida, pois seu partido e sua candidatura não convencem como bastiões da ética e o eleitor não vota em quem só ataca adversários. Marina pode perder intenções de votos para nulos ou para a própria Dilma. Afinal se Marina tem problemas com seus aliados tanto quanto Dilma, as conquistas de prosperidade nos últimos anos e a campanha propositiva podem falar mais alto e definir o voto de muita gente.
Paradoxalmente, se Aécio e a imprensa que o apoia conseguirem emplacar a pauta da escandalização, o quadro eleitoral pode voltar a ser parecido com aquele que havia antes da morte de Eduardo Campos, com Aécio e Marina caindo nas intenções de votos, nulos crescendo, Dilma mantendo-se estável e com chances de superar a soma de votos dos adversários, o que a levaria à vitória em primeiro turno.
do Tijolaco: GOVERNO DILMA JÁ TINHA ABERTO INVESTIGAÇÃO SOBRE NEGÓCIOS PAULO ROBERTO COSTA – EDUARDO CAMPOS
Os nossos jornais, bons em escândalo e muito ruins em juntar pecinhas, deixam de informar aos seus distintos leitores as razões de Paulo Roberto Costa, o autor da tal delação premiada, ter arrolado Eduardo Campos como sua testemunha de defesa e, depois, desistido de seu depoimento.
Que negócios, afinal, os uniam?
Quem quiser uma boa pista, procure saber da investigação, aberta há três meses – dia 9 de junho – pela Controladoria Geral da União sobre o uso da antecipação de recursos feita pela Petrobras ao Governo do Estado de Pernambuco, para que este fizesse as obras de modernização do Porto de Suape e do entorno da Refinaria Abreu e Lima, próxima a ele.
E por razões que vêm lá de longe e não se pode separar do "rompimento" entre Eduardo Campos e o Governo Federal.
Vou fazer uma rememoração de fatos, quem sabe haja algum "jornalista investigativo" ainda capaz de seguir as pistas.
Que, afinal, estão todas publicadas nos jornais, esperando apenas que alguém as reúna.
Em 2008, Eduardo Campos e Paulo Roberto Costa assinaram, com direito a ampla cobertura da mídia, um acordo pelo qual a Petrobras anteciparia ao Governo de Pernambuco, R$ 475 milhões para obras de ampliação e aprofundamento de Suape, como antecipação das tarifas portuárias que teria de pagar pelo uso futuro de suas instalações.
Nada de errado nisso, faz parte do processo federativo delegar obras e prover recursos.
Só que isso colocava diretamente sob o controle do Governo estadual as licitações, contratações e pagamentos, cabendo à Petrobras, simplesmente, repassar recursos à media em que o projeto avançasse, no que, em administração pública, chamamos de "cronograma físico-financeiro".
Mas a coisa, em Pernambuco, não andou. E só em 2011, com a interveniência da Secretaria Especial de Portos do Governo Federal – comandada, aliás, pelo PSB – foi dada a ordem de serviço para o início das obras de dragagem, festejada pelos socialistas.
Elas foram licitadas e contratadas com base apenas no projeto básico e tiveram um reajuste de R$ 62 milhões no preço, de R$ 275 milhões para R$ 337 milhões.
Em maio de 2013, a obra de dragagem – ganha pela holandesa Van Oord – foi interrompida por falta de pagamento.
A Secretaria de Portos da Presidência (SEP) parou na metade o repasse de verbas, porque rejeitou as prestações de contas apresentadas pela administração do porto, ligada ao governo estadual.
Além disso, como narrou, na época, o Estadão, "a SEP diz que os custos de mobilização e desmobilização da obra em Suape são muito superiores aos praticados em 14 portos brasileiros. O valor orçado é quase o dobro do maior preço pago em outras unidades. Gestores do porto alegam que os equipamentos usados ali são diferenciados, o que eleva os preços.
O Governo Dilma não recuou diante das pressões de Campos pela liberação e é o próprio jornal paulista quem diz que o episódio Suape " foi causa de embate entre Dilma e Campos".
E o processo avançou para o inquérito aberto pela CGU, órgão diretamente subordinado à Presidência, com base naquele antigo documento, de 2008, " assinado pelo então diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, hoje preso no Paraná por conta de supostos desvios de recursos públicos empregados na refinaria de Abreu e Lima; o então governador de Pernambuco, Eduardo Campos, candidato do PSB à Presidência da República; e o presidente do Porto de Suape na época, Fernando Bezerra Coelho, ex-ministro de Integração Nacional no governo da presidente Dilma Rousseff, aliado de Campos e candidato ao Senado por Pernambuco".
Fernando Bezarra Coelho, aliás, tem irmão, cunhada e filho na lista do doleiro Albetyo Youseff.
Todas as informações elencadas aqui são públicas e publicadas antes do acidente fatal de Eduardo Campos, que podia se defender delas.
Restringem-se a fatos e processos administrativos e não contêm, como reclama Marina, qualquer "ilação".
Mas provam, de maneira inequívoca e factual como o Governo Dilma, há mais de um ano, investigava a regularidade dos negócios de Paulo Roberto Costa e, especificamente, aqueles em que teve entendimentos com o então governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Como a imprensa brasileira faz política eleitoral e não jornalismo, ainda está avaliando se "deixa" que este quebra-cabeças seja montado aos olhos de seus leitores, aguardando para ver se "interessa" ou não aos seus planos políticos.
Mas, pessoalmente, acho que não dá para "segurar".
Em tempo: o amigo navegante há de se lembrar da batalha para aprovar a MP dos Portos, que o Anthony Garotinho, da tribuna da Câmara chamou de "MP dos Porcos" ou "MP do Tio Patinhas". Lembra que o Roberto Comunista Freire, o Dudu, e o Pauzinho do Dantas se uniram para impedir que a MP fosse aprovada ? A Dilma ganhou. E vai ganhar de novo… Ah…, entendeu, Bláblá, ou precisa desenhar ? Por falar nisso: quem é o dono do jatinho ?
O eleitorado da "Mudança" que aponta para o atraso
Os altos índices de Marina Silva nas pesquisas de intenção de voto parecem representar um eleitorado híbrido. A candidata teve 20 milhões de votos em 2010 e parece agora ter a perspectiva de aglutinar mais alguns milhões. Nesta multidão de marinistas estão, entre outros, jovens "modernos" descrentes dos mecanismos tradicionais de representação, ao lado de eleitores que refletem alguns dos traços mais atrasados de nossa cultura política. Aos primeiros, a candidata se diz capaz de implementar uma "nova política", organizada a partir de estruturas horizontalizadas e flexíveis, distintas do estilo dos políticos tradicionais, com seus partidos hierarquizados e burocratizados e seus comportamentos auto interessados e eleitoreiros.
Com esse discurso, o Marinismo seduz boa parte de uma juventude indignada, mas, no fundo, despolitizada. São jovens que não se sabem arrastados pelo senso-comum udenista anticorrupção propalado diariamente pela velha mídia e, por isso, acham que Lula é como Sarney. Assim, enxergam na ex-ministra do Meio Ambiente do Lulismo uma alternativa renovadora e crítica à polarização PT/PSDB e uma possiblidade de combate ao "tudo que está aí" – essa abstração desinformada.
Desinteressada pelo universo da política institucional, essa fatia do eleitorado talvez não leve em consideração o fato de Marina não ter um partido ou coligação capaz lhe dar sustentação parlamentar para governar. Aqui, quando confrontada com perguntas sobre a realidade prática do funcionamento da relação entre Executivo e Legislativo, Marina se sai com divagações distantes da política real: afirma que governará com os melhores de cada partido e garante que não fará alianças com o fisiologismo.
O curioso é notar que essas abstrações marinistas, típicas de discursos de campanha, são compreendidas por esse eleitorado como uma forma nova de fazer política. No entanto, tal discurso não é novo. Trata-se de uma versão repaginada – com embalagem pós-moderna e ecológica – de características históricas do imaginário conservador nacional: a tendência à conciliação para evitar rupturas e transformações profundas, a aversão à admissão do conflito ideológico e a aposta num moralismo que esvazia a Política e afirma a possibilidade de um grande acordo social e moral, "acima" das disputas de poder no congresso e no cotidiano. Neste ponto, Marina se mostra eficiente ao recorrer a este imaginário, incorporando o legado tucano e petista ao seu discurso sobre a realidade brasileira: "FHC conquistou a estabilidade e Lula, a inclusão social. Agora é hora de ir adiante, levando em conta esses dois avanços", diz a candidata.
No entanto, apesar desta suposta equidistância de tucanos e petistas, parece claro que num eventual governo, a inclinação natural do Marinismo seria para o campo liberal-conservador, comandado atualmente pelo PSDB, presidido por Aécio – o candidato oficial da direita de quem os jovens eleitores de Marina tanto querem fugir. Tal inclinação é visível no programa de governo da candidata: menos intervenção do Estado na economia, institucionalização da independência do Banco Central, um tratamento do Pré-Sal mais simpático aos agentes privados e uma política econômica centrada mais na contenção da inflação do que na geração de emprego e renda. Aqui, cabe lembrar a presença de dois ex-tucanos e da proprietária de um dos maiores bancos privados do país na equipe econômica da candidata do PSB.
Por outro lado, ao mesmo tempo em que ativa esperanças nesta juventude pouco escolada na luta política tradicional e em questões econômicas, Marina conquista o também conservador eleitorado evangélico, com quem compartilha bandeiras regressivas no que se refere ao campo dos costumes: a manutenção da criminalização da maconha e do aborto, e a proibição do casamento homoafetivo.
O perverso de tudo isso é constatar como uma candidata com um projeto liberal na economia e conservador nos costumes pode ser vista por boa parte do eleitorado como alguém em quem se vota por "mudança" ou "protesto". Isso talvez aconteça porque, depois de 12 anos enfrentando um noticiário negativo calcado no moralismo anticorrupção, o projeto lulista apresente sinais de fadiga no que se refere à manutenção de um eleitorado cativo – apesar dos 34% de Dilma. Uma vez que a "nova classe C" naturaliza sua ascensão social, sem mais associá-la eleitoralmente ao governo petista, como em 2006 e 2010, começa a ganhar corpo um vago desejo de transformação, que curiosamente aponta para trás: é lá que está Marina Silva.
Autor:
Gabriel Gutierrez - cientista político e músico.