VÍTIMA DE VEJA E FOLHA, ERENICE É INOCENTADA

247 – Tida como braço direito e “irmã” da presidente Dilma Rousseff, a ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, foi alvo de um tiroteio pesado durante a campanha presidencial de 2010. Contra ela, havia canhões apontados pela revista Veja e pela Folha de S. Paulo.

Da Abril, partiu uma das mais estranhas reportagens da história recente. Chamava-se “Caraca, que dinheiro é esse?” e relatava entregas de pacotes de até R$ 200 mil, dentro da Casa Civil, que era comandada por Erenice Guerra. Tudo a partir de relatos em off. Eurípedes Alcântara, publicou até um editorial chamado “O dever de publicar”, em que afirmava que o papel da imprensa era ter coragem de noticiar – mesmo que pudesse vir a ser acusada de tentar influir em resultados eleitorais. Mais recentemente, soube-se que Veja engavetou uma entrevista com José Roberto Arruda, também no período eleitoral, porque o ex-governador do Distrito Federal acusava o ex-senador Demóstenes Torres de tentar obter vantagens no GDF.




Da Folha, as acusações também foram inacreditáveis. Um sujeito que se apresentava como consultor, chamado Rubnei Quícoli, mas tinha extensa ficha criminal, afirmava que o filho de Erenice lhe cobrava uma propina de 5% para liberar um empréstimo bilionário no BNDES para uma empresa de fundo de quintal.

Para evitar danos maiores à campanha presidencial, Erenice Guerra foi demitida, ainda que as acusações fossem totalmente inconsistentes.

Nesta quarta-feira, no entanto, a mesma Folha que ajudou a derrubá-la noticia que o inquérito foi arquivado pela Justiça Federal. O motivo: falta de provas.

Este caso chegou até a ser abordado pelo ex-presidente Lula, numa crítica recente ao comportamento eleitoral de parte da imprensa. “Erenice foi execrada, acusada de tudo quanto é coisa”, disse ele. “Quando terminou a campanha, o acusador em Campinas retirou a acusação na primeira audiência e a imprensa, que a massacrou, não teve coragem sequer de pedir desculpas à companheira Erenice”.

Na reportagem desta quarta-feira, a Folha reconhece que “o escândalo tirou votos de Dilma e acabou contribuindo para levar a eleição ao segundo turno”.


Quando a propaganda tem razão, por Paulo Moreira Leite

Historia da recessão européia mostra que autonomia do Banco Central foi indispensável para uma política contra vontade da maioria da população





A reação negativa diante da propaganda de Dilma que denuncia a independência do Banco Central só se explica pelas razões da pequena política. O anúncio tem razão de ser e estimula um debate indispensável depois que Marina Silva se comprometeu com a medida na campanha.

Vamos deixar o estilo de lado, que talvez seja um tanto sombrio demais. O tom é panfletário? Sem dúvida — mas estamos falando de propaganda, certo? Também podemos dizer, avaliando o roteiro com um tom um pouquinho pedante na voz, que o problema das relações entre os bancos privados, os governos de cada país e a prosperidade das famílias “é mais complexo” do que se vê na tela.
Vamos combinar: quando fica difícil sustentar uma divergência frontal, sempre se pode dizer, a respeito de qualquer coisa, que ela é “mais complexa” do que parece — até um exercício de matemática elementar do ensino fundamental.

Ainda assim, a verdade é que a independência do Banco Central assegura um poder fora de todo controle democrático, aos bancos e ao sistema financeiro. Você pode ir até a urna e escolher o governo que quiser, com o projeto que achar melhor. Um Banco Central independente pode desfazer tudo isso e seguir o caminho posto. Seus dirigentes têm um mandato por tempo determinado, com a soberania intocável de um ministro do Supremo Tribunal Federal. Eles não deliberam sobre a Justiça, a culpa, a inocência. Decidem sobre o emprego, o salário, a renda.

Se você examinar a triste situação da Europa nos dias de hoje verá que pertence ao reino das grandes mistificações da política brasileira de 2014 a visão que aponta Marina Silva — a candidata que defende independência do Banco Central — como expressão dos protestos de junho de 2013.

Suas alianças, seus assessores e especialmente a autonomia do BC não tem nada a ver com os protestos, que guardam várias semelhanças com o descontentamento do Velho Mundo, que inclui acampamentos nas grandes capitais, ocupação de edifícios públicos, boicote aos partidos políticos e assim por diante.
São elementos que Marina procura capitalizar com a conversinha de Nova Política mas pouco tem a ver com a realidade de sua campanha.

Gostem ou não os aliados de Marina, a autonomia do Banco Central Europeu foi um instrumento indispensável para que o sistema financeiro saísse preservado da crise de 2008 no Velho Mundo, levando a população a enfrentar uma recessão prolongada, que o mundo não conhecia desde 1929. Centro de gravidade da crise mundial, a União Européia abriga o maior PIB do planeta, o maior mercado consumidor, as sociedades com renda melhor distribuída, e mesmo assim não consegue sair do lugar.

No centro da crise, encontra-se o Banco Central Europeu, que é independente dos eleitores dos países-membros e funciona como um colegiado autônomo. Manda sim mais que os presidentes de cada país, como diz a propaganda de Dilma, e foi assim que o Velho Mundo afundou e permanece prostrado. Se você acha que estou exagerando, consulte os Premios Nobel Joseph Stiglitz e Paul Krugman, que sabem muito mais do que eu.

Instalado na presidência do Banco Central no momento da crise, intocável pela autonomia regulamentar, o francês Jean-Louis Trichet administrou a bancarrota do velho mundo sem peso na consciência. Enquanto milhões de cidadãos, especialmente jovens, iam à rua em protestos contra o desemprego, o corte nos gastos públicos e em investimentos, o BCE permanecia impassível e praticava uma política contrária.
A população gritava por seus direitos. O desemprego dos jovens bateu em 25% e até mais. Os serviços públicos viraram fumaça.
O argumento do BCE, próximo do delírio, é que se deveria tomar cuidado com a alta da inflação, que nunca chegou a 1%.

Impotentes, sem instrumentos para interferir na economia, mesmo que quisessem, os governos europeus foram derrubados pela austeridade de Trichet. Caíram como peças de dominó, na Grécia e na Espanha, em Portugal e na Italia. Seus sucessores pouco puderam fazer, enquanto os eleitores descobriam que haviam votado por uma coisa — mas o BC determinava outra. A política se reduzira a um faz-de-conta incapaz de interferir no núcleo de decisões econômicas, dominado pela troika, constituída pelo BCE, pelo FMI e pela Comissão Européia.

Aqueles países que foram exemplo de civilização não se levantaram até hoje. A França foi a penúltima a rolar pelo despenhadeiro. Maior potência continental, a Alemanha se encontra agarrada nas bordas.

O destino da crise, no Brasil, foi outro. Nos primeiros meses, o BC até elevou os juros, atendendo a pressão dos mercados — mas seus dirigentes, por vontade ou por conveniência, se uniram ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva no esforço para criar estímulos para garantir a retomada do crescimento, permitindo que as empresas fizessem empréstimos, o consumidor voltasse as compras e os empregos ficassem garantidos. O resto da história nos conhecemos: ainda que seis anos depois a economia esteja caminhando de lado — e é possível apontar varias causas para isso — o desemprego segue baixo e os salários foram preservados.

Dá para entender por que o pessoal quer autonomia do Banco Central também no Brasil, certo?

Paulo Moreira Leite é diretor do 247 em Brasília. É também autor do livro "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA, IstoÉ e Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".


Briguilinks do dia

Ceará: Camilo Santana e Eunício Oliveira empatados

Pesquisa do Ibop - Instituto Briguilino de Opinião Pessoal - realizou a 2ª pesquisa para governador do Ceará.

Se a eleição fosse hoje, seriam esse os números do 1º turno:
Camilo Santana (PT) 48%
Eunício Oliveira (PMDB) 48%
Eliane Novaes (PSB) 03%
Aílton Lopes (Psol) 01%

O instituto divulga os números como faz o TSE - votos válidos -.

A margem de erro será divulgada apenas na pesquisa de boca-de-urna.

O IC - Índice de Confiança - da pesquisa é de 100%. Isso significa que se forem realizadas 100 levantamentos hoje, darão o mesmo resultado.


Marina Silva: aquela que mudou de lado, por Leonardo Boff

Já vai acalorada a campanha presidencial com uma disputa aberta entre Dilma Rousseff, atual Presidenta e a pretendente Marina Silva. Trata-se, na verdade, do confronto de dois projetos: a manutenção por parte do PT de um projeto progressista, marcado por fortes políticas públicas que permitiram integrar uma Argentina inteira na sociedade organizada. A prática política, imposta pelas elites, era de os governos fazerem políticas ricas para os ricos e pobres para os pobres. Mas aconteceu uma viragem em nossa história. Alguém do povo chegou ao centro do poder e conferiu outra direção ao Estado. Não se pode negar que o Brasil numa perspectiva geral, especialmente na ótica dos pobres, melhorou muito. Negá-lo é mentir à realidade.

A este projeto progressista se opõe o que a candidata Marina chama de “nova política”. Quando observada de perto, porém, não passa de um projeto conservador e velho que beneficia os já beneficiados e que alinha o país à macroeconomia voraz que faz com que 1% dos americanos possua o equivalente ao que juntos 99% da população ganha. Esse projeto visa a conter o processo progressista, evidentemente, sem anulá-lo, porque haveria, sem dúvidas, uma rebelião popular.

As opções do PSB e de Marina Silva representam um retrocesso do que havíamos ganho em 12 anos. A centralidade não será o Estado republicano que coloca a “coisa (res) pública” em primeiro plano, o estado dinamizador de mudanças que beneficiam as grandes maiorias a ponto de ter em 12 anos diminuído a desigualdade social em 17%. Agora com Marina, o foco é o Estado menor para conceder maior espaço ao mercado, ao livre fluxo de capitais sem lei, reafirmando as teses neoliberais: o aumento do superavit primário, que se faz com corte dos gastos públicos, com arrocho salarial e desemprego para assim controlar a inflação e finalmente impondo a autonomia do Banco Central. Especialmente este último ponto é grave porque um presidente foi eleito também para gerenciar a economia (que é parte da política e não da estatística) e não entregá-la às pressões dos capitais, dos bancos e dos rentistas. Seria um atentado à soberania monetária do país.

Este projeto velho, foi aplicado no Brasil pelo governo do PSDB, não deu certo, quebrou a economia da União Européia e lançou o mundo numa crise da qual ninguém sabe como sair. O efeito imediato será, como referimos, o arrocho salarial e o desemprego com o repasse de grandes lucros para os donos do capital financeiro e dos bancos.




Marina quer governar com os melhores da sociedade e dos partidos, por cima das alianças inevitáveis no nosso presidencialismo de coalização. As alianças se farão, provavelmente, com o PSDB e com o PMDB e terá assim que engolir José Sarney, Renan Calheiros e Fernando Collor que ela tanto abomina. Sem alianças, Marina corre o risco de não ver passar no parlamento, os projetos que propõe, por falta de base de sustentação.

Quem a escuta e lê seu programa parece que fez um passeio pelo Jardim do Eden: tudo é harmonioso, todos são cooperativos e não há conflitos por choques de interesses. Esquece que vivemos num tipo de sociedade de mercado (e não apenas com mercado) que se caracteriza pela competição feroz e por parca cooperação. Estimo que Marina, religiosa como é, se inspira no sonho do paleo-cristianismo dos Atos dos Apóstolos onde se diz que “a multidão era um só coração e uma só alma;ninguém considerava sua a propriedade que possuía; tudo entre eles era comum”(At 4,32).

Estas opções mostram claramente que ela mudou de lado. Antes quando estava no PT do qual é uma das fundadoras falava-se na opção pelos pobres, por sua libertação e se denunciavam os faraós de hoje. Construía no canteiro dos explorados e injustiçados. Agora ela constroí no canteiro dos seus opressores: os endinheirados, os bancos, o capital financeiro e especulativo. Leva a eles o tijolo, o cimento e a água. Seus assessores na economia são todo neoliberais. Os seringueiros do Acre rechaçarem o fato de Marina colocar entre as elites a figura de Chico Mendes, pois sabem que foram agentes dessas elites que o assassinaram; por isso, protestaram veementemente e reafirmaram a tradição do PT apoiando a candidata Dilma.

Minha suspeita é de que Marina persegue o poder e visa a alcançar a presidência, por um projeto pessoal, custe o que custar. Diz-se por ai, que uma profetiza de sua igreja evangélica, a Assembléia de Deus, profetizou que ela, Marina, seria presidenta. E ela crê cegamente nisso como crê no que, diariamente lê na Bíblica, passagens abertas ao acaso, como se aí se revelasse a vontade de Deus para aquele dia. São as patologias de um tipo de compreensão fundamentalista da Bíblia que substitui a inteligência humana e a busca coletiva dos melhores caminhos para o país.

Sou duro na crítica? Sou. E o sou para alertar os eleitores/as sobre a responsabilidade de eleger uma presidente com tais ideias. Já erramos duas vezes, com Jânio e com Collor. Não nos é mais permitido errar agora em que a humanidade passa por uma grave crise global, social e ambiental e que reverbera em nosso país.

Não devemos desistir do que deu certo e avançou. Mas devemos cobrar que se inaugure um novo ciclo que aprofunde, enriqueça e inove para além do que já foi incorporado pela população. Creio que o projeto do PT com Dilma, não obstante os erros e as decaídas que aconteceram e que podem e devem ser resgatadas, é ainda o mais adequado para o povo brasileiro. Por isso apoio Dilma Rousseff.


Ciro Gomes: Marina é o moralismo difuso...o vazio absoluto!

Marina Silva simplesmente é vista por esse ambientalismo difuso, por esse amor que eu também tenho pelos calangos, pelos bagres. E as pessoas acham no Brasil, o eleitor jovem, classe média, zona sul do Rio de Janeiro, o cara da avenida Paulista acha que tudo bem.
Mas o Brasil precisa gerar energia.
Não temos outra saída.



Ela é um vazio absoluto.
Ela interpreta o moralismo difuso, que é a chave da crise.
Jânio era isso: moralismo difuso.
Collor era isso: moralismo difuso.



Dilma e a corrupção: coragem para bater de frente na televisão

por Fernando Brito - Tijolaço

Desde que me entendo por gente, nunca vi um programa de propaganda de quem está no governo se dedicar a tratar, sem meias-palavras, o problema da corrupção.
Mas foi o que, ousadamente, fez hoje o programa de Dilma Rousseff (se você não viu, assista ao final do post).
Didático, com informação mas, sobretudo, com coragem.
Sem mi-mi-mi, mostrando que combate à corrupção não é retórico, não é na base da “garantía soy yo” , mas na criação de mecanismos institucionais de controle.



Foi, claro, uma “trava” na exploração do caso da denúncia premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, que a mídia explora seletivamente contra a Presidenta, mesmo sabem do que foi ela quem o afastou e que não tergiversa, pessoalmente, com qualquer tipo de desvio.
Não tenho, sob o aspecto da efetividade, como avaliar este tipo de mensagem, até porque é raríssima no campo da comunicação.
Mas posso afirmar que o programa não passa a ideia de alguém que está encurralada, amedrontada, assustada com a situação criada na mídia.
E, ao contrário, fecha o discurso com a denúncia da hipocrisia, da suposta “moralidade” que encobre a maior das imoralidades: a entrega do país ao controle dos que têm dinheiro, muito dinheiro.
Não sei se dá certo, mas sei que dá gosto.
E quando se vive e se fala as coisas com gosto, em geral se acerta.