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O natal dos deuses

...digo, dos juízes brasileiros

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, ao comentar o caso do juiz João Carlos de Souza Corrêa, pego na blitz da lei Seca e que acabou ganhando uma indenização da agente que ousou dizer que ele não “era Deus”, disse que “juiz é um homem comum, um cidadão como outro qualquer”.
Mas não é o que parece, quando se lê o artigo publicado pelo professor de Direito Constitucional Leonardo Sarmento, no Jusbrasil.
Ele elenca os “benefícios” extra-vencimentos previstos na minuta do Estatuto da Magistratura, que rege direitos e deveres dos magistrados.
–  prêmio por produtividade, uma única vez por semestre,ao juiz que, nos seis meses anteriores, proferir mais sentenças do que o número de processos recebidos mensalmente. Um salário, que anda na faixa de R$ 25 mil brutos (antes do reajuste)  a mais por semestre;
– 5% mensais de auxílio-transporte, quando não houver carro oficial. Hoje, R$ 1,250, o suficiente para pagar a prestação de um ótimo automóvel;
– mais 5% por dependente, como  auxílio-creche ou auxílio-educação,, quando houver filho até 24 anos;
– outros 5% de auxílio-alimentação, inclusive nas férias de 60 dias;
– mais 10% para ajudar a pagar plano de saúde próprio, com a mulher incluída, e mais  5% para cada filho ou dependente;
– se fizer cursos de especialização, de mestrado ou doutorado, mais 10% do subsídio ou 20%, caso este seja no exterior;
– e se tiver tempo para aposentar-se e quiser continuar, recebe “5% do total da remuneração, por ano de serviço excedente, até o limite de 25%”.
– pra terminar, ainda tem direito a um   adicional por prestação de serviços de natureza especial se participar de mutirões de conciliação, treinamentos, projetos sociais, fiscalização de concursos públicos.
Tudo isso, é claro, além das indenizações funcionais por deslocamento, transferências e “difícil acesso”.
E de todas as outras, dadas a todos os servidores, muito justas.
Com todo o respeito ao professor Sarmento, não acreditei e fui conferir.
E é isso mesmo o que está escrito na minuta do  projeto, segundo o jornalista Felipe Recondo, aquele que trabalhava no Estadão quando foi mandado “chafurdar no lixo” pelo ex-presidente do STF Joaquim Barbosa.
Parece, pelo teor do que revelou, que Recondo foi mesmo.
Ainda bem que a moralidade do país está em mão de gente tão desinteressada, republicana, que acredita que todos são iguais perante a lei.
Exceto aqueles que são 5% mais iguais, mais 5% iguais, mais 10% iguais.
E que sofrem, solidários aos sofrimentos do povo brasileiro, sem poder comprar ternos em Miami a toda hora, como é indispensável para a boa administração da Justiça.
 PS. A imagem da foto é da Supremo Tribunal do Canadá e nada tem a ver com o “bom velhinho”. Mas é irresistível…
por Fernando Brito - Tijolaço

Paulo Nogueira - edição envenenada da Globo

O veneno da edição da entrevista de Venina

600 milhões de reais por ano para a Globo fazer um jornalismo como aquele que se viu na entrevista com Venina no Fantástico. Um mensalão eterno de 50 milhões.
Foi minha primeira reflexão depois de ler a transcrição da entrevista.
A edição é venenosa à sua maneira. A Globo, para se preservar, não grita como a Veja. Só que cuida de despejar sobre sua audiência o mesmo tipo de veneno, apenas mais sutilmente, mas com o mesmo resultado e com a mesma finalidade.
O veneno não estava em Venina. Ela está contando sua história, e cabe averiguar.
A maldade estava na maneira como Venina foi usada.
Dilma, no final, é citada – pela Globo. 
Numa tentativa de desmoralizá-la, a Globo diz que Dilma afirmou que não existe uma “crise de corrupção”.
No meio de uma entrevista que trata exatamente de corrupção, a frase de Dilma parece o triunfo do cinismo.
Mas o cinismo é da Globo. É mais uma tentativa, como Roberto Marinho fez tantas vezes primeiro contra Getúlio e depois contra Jango, de rotular como corruptos regimes que não garantem a manutenção de mamatas e privilégios a um pequeno grupo.
A Globo faz assim, tradicionalmente: cala quando a corrupção é amiga. Na ditadura, quando a empresa virou um gigante, corrupção não existia, numa troca macabra de favores.
Sob Sarney e FHC, amigos e aliados, também não. Para a Globo, sequer a compra de votos da reeleição de FHC foi notícia.
Agora, o amigo Aécio também goza de imunidade. Que cobertura a Globo deu ao aeroporto de Cláudio? E ao helicóptero com meia tonelada de pó dos Perrelas, amigos fraternais de Aécio? A Globo é assim: também os amigos dos amigos recebem tratamento especial.
A este tipo de comportamento delinquente jornalístico se junta o descaro com que a Globo sonega – uma forma de corrupção que, se não combatida, destrói a economia de qualquer país.
Claro que Lula não poderia também escapar da edição da entrevista.
Venina repete uma frase segundo a qual seu chefe, em certo momento, teria olhado para um retrato de Lula e dito que ela estava colocando em risco muita coisa.
Este alegado olhar numa alegada conversa é o bastante para a Globo, na edição, incluir Lula na trama.
Lula, o espectador do Fantástico, não quis conceder entrevista sobre o assunto.
Que a Globo esperava? Que ele dissesse que aquele não era seu retrato? Que se o presidente fosse FHC jamais seria citado? Que a Globo devia mostrar o Darf?
Fora isso, o que se viu foi o jornalismo preguiçoso e declaratória. Venina diz que contratou os serviços da empresa do então namorado e depois marido porque ela era realmente “boa”. Foram mais de 7 milhões de reais para a empresa do namorado, sem licitação. Por que a Globo não foi investigar a suposta excelência da empresa favorecida?
De novo: 600 milhões por ano em dinheiro público, via propaganda federal, para a Globo fazer este tipo de jornalismo.
Você certamente conhece a tese da “servidão voluntária”, de um grande amigo de Montaigne, La Boetie.
Ele dizia que povo nenhum estava obrigado a aturar tirania nenhuma. Bastava se insurgir.
O governo do PT, ao financiar por iniciativa própria a Globo et caterva, pratica exatamente a servidão voluntária de que La Boetia falava.
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Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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Parecia amor

[...] mas era apenas fogo debaixo da saia

Casal hétero não pode ser apenas "bons amigos"

Um estudo científico analisou a amizade entre um homem e uma mulher heterossexuais e descobriu, surpreendentemente, que esta relação é vivida de forma muito diferente por cada um deles: enquanto que para os homens a atração sexual é sempre uma constante, as mulheres vivem com a ideia tranquila de que essa relação não tem nada de sexual.
A amizade inocente entre um homem e uma mulher heterossexuais – e dizemos inocente porque não pressupõe qualquer intenção sexual – é um comportamento que é comum ser considerado irrealista, impossível, platónico e quando acontece, há quem diga que esconderá sempre um intenso desejo sexual, normalmente partilhado entre ambos.
Este dilema foi recentemente revisto por um grupo de cientistas da Universidade de Wisconsin-Eau Claire, Estados Unidos, para saber quanto de verdade existiria nesse pressuposto empírico.
O estudo consistiu em reunir 88 casais de estudantes universitários, individualmente e em par, e fazer-lhes uma série de perguntas sobre os sentimentos românticos que podem ou não ter tido com o respectivo amigo(a).
As respostas foram classificadas em três categorias: nenhuma atração, moderadamente atraídos e extremamente atraídos, distinguindo também entre estima, atração e desejo. Tentaram fazer um registo o mais completo quanto possível: da interação diária que cada participante tinha com o outro sexo, as circunstâncias em que tinham conhecido os(as) amigos(as) (trabalho, escola, crianças, etc.), a duração da amizade, as emoções envolvidas na ligação e outras variáveis, tais como a partilha de aventuras ou outros tipos de relacionamentos de apoio.
De acordo com os resultados obtidos, o mais interessante desta relação é que sua percepção muda muito consoante o género do participante ou seja, homens e mulheres diferem muito quanto aos parametros que suportam a relação com o seu par.
Assim, algo que não é de todo surpreendente, são os homens que se sentem muito mais atraídos pelas suas amigas. São também os homens mais propensos a pensar que as suas amigas também são atraídos por eles, um mal-entendido que, aparentemente, se alimenta apenas no sexo masculino, ao ponto de o “cegar” à verdade de que o seu interesse não está ao mesmo nível que o da sua amiga. Paradoxalmente, as mulheres em geral são o ponto exatamente oposto: sentem pouca ou nenhuma atração pelos amigos homens e assumem que essa falta de atração é mútua. Por outro lado, parece que os homens sofrem muito mais do que as mulheres o estatuto de “só amigos”.
“Os homens consistentemente superestimam o nível de atracção sentida por suas amigas e por sua vez as mulheres subestimam o nível de atração sentida pelos seus amigos do sexo masculino”, diz Adrian F. Ward no site da Scientific American, resumindo nesta nesta fórmula o desacordo a que parecem condenadas as relações de amizade entre homens e mulheres.
Mas, para além de fortalecer ou enfraquecer o estereótipo ou clichêt, este estudo mostrou também as diferenças entre homens e mulheres no que diz respeito aos seus relacionamentos pessoais: ambos vivem num platonismo – o homem pensa que eventualmente “tudo pode acontecer” e por sua vez a mulher tranquilamente não vê qualquer possibilidade de algum envolvimento íntimo.


Em suma, será que homens e mulheres podem ser “só amigos”? Ora, se todos pensássemos como as mulheres, claro que sim, mas se pensássemos como os homens decerto que o planeta terra estaria num caso crítico de superpopulação.
Estudo completo pode ser acessado aqui.
 

Zé Dirceu: os desafios do segundo mandato do PT e de Dilma

No Brasil para o lançamento de seu best-seller “O Capital no Século XXI” – sobre riqueza, desigualdade e distribuição de renda – o economista e escritor francês Thomas Piketty, ao afirmar que crescimento e combate à desigualdade não são excludentes, poderia estar se referindo ou não ao Brasil. Mas a indicação da nova equipe econômica e as reações à esquerda e à direita aos indicados trouxeram os dois temas para o centro do debate político nacional. Na verdade as duas questões colocadas pelo especialista expressam uma demanda e uma necessidade no Brasil de hoje.

O combate à desigualdade é uma demanda da sociedade que se expressou e confirmou sua exigência de distribuição de renda e combate à pobreza no Brasil por quatro vezes nas urnas – nas eleições nacionais de 2002, 2006, 2010 e neste ano.
Já o crescimento é uma necessidade dentro de nosso projeto de desenvolvimento nacional. Ao mesmo tempo o binômio colocado por Piketty está intrinsecamente ligado: não há como sustentar o crescimento de uma economia como a brasileira (uma das maiores do mundo, madura e desenvolvida, apesar de desigual) sem um mercado interno forte e sem distribuir renda.
Os limites do nosso modelo
O mercado interno é um elemento básico na nossa estratégia de desenvolvimento, bem como a distribuição de renda em todos sentidos (ainda que difícil, mas não impossível), começando pela renda propriamente dita e avançando pela distribuição da riqueza e da propriedade. E social e politicamente falando, todo modelo de crescimento sem distribuição de renda é inviável e está fadado ao insucesso numa democracia.
Na discussão dos limites do nosso modelo de desenvolvimento apoiado na distribuição de renda, mercado interno e no Estado, sempre virão à tona as questões do excesso de demanda e custo trabalhista; da política de aumento dos salários e benefícios previdenciários; da expansão do crédito e estímulos ao consumo; e dos gastos públicos, com a redução dos superávit e endividamento do Estado para sustentar o crescimento e enfrentar crises cíclicas e mundiais.
O verdadeiro custo de nossa economia – o financeiro, o da dívida interna (5% do PIB) – nunca é colocado na agenda sempre dominada pelos custos trabalhistas, tributários e da logística.
Acrescida, agora, dos custos da energia, uma evidente distorção ideológica favorável ao capital financeiro e rentista que se sustenta a partir de uma política de juros que mantém um spread bancário entre 28% a 32%. Um escândalo em qualquer país do mundo hoje, onde os juros em geral são negativos.
Solução conservadora a la europeia é inviável para o Brasil
No Brasil é inviável a solução conservadora a la europeia: corte de gastos, aumento de juros e superávit, recessão, desemprego e desvalorização dos salários. Rejeitada nas urnas, fracassada na Europa sempre e apresentada pelos opositores ao nosso modelo como uma saída inevitável, de curta duração e virtuosa ao garantir a retomada do crescimento a curto prazo, a teoria é desmentida na prática pela própria experiência europeia rejeitada mundialmente hoje.
Resta, portanto, à nova equipe econômica, sem abandonar nosso projeto de desenvolvimento, viabilizar as contas públicas de forma gradual, sem abandonar a política de emprego e renda e buscando um crescimento que ao mesmo tempo preserve o social (a distribuição de renda, virtuosa para o crescimento) e retome superávits paulatinamente, começando com 1,2%, como o anunciado pelo novo ministro da Fazenda para 2015. Mas é preciso reduzir os juros e por um fim aos elevados custos da nossa dívida interna, do consumo e do investimento, únicos no mundo.
E fazê-lo evitando uma recessão, mantendo os investimentos públicos e a atuação dos bancos oficiais no patamar atual, ainda que sem novos aportes do Tesouro para capitalizar, por exemplo, o BNDES. Também não haverá salvação para nossa indústria com juros altos e dólar barato. Nenhum esforço de aumento da produtividade e redução de custos, por mais rápido que aconteça, pode enfrentar a concorrência chinesa e americana-europeia com a atual taxa de câmbio.
Não é impossível vencer o desafio
O país tem tudo para retomar o crescimento com base em seu mercado interno, nas concessões no setor de infraestrutura e nos investimentos na área de energia e gás, particularmente no pré-sal. Dispõe de todas as condições para sustentar um longo período de crescimento com investimentos na infraestrutura social, mobilidade urbana e geral, saneamento, habitação, resíduos sólidos, meio ambiente, lazer, cultura e esportes.
O Brasil pode e deve expandir as exportações com base na integração regional, começando pela criação de um verdadeiro banco de exportação e importação que financie nossas exportações principalmente de capital, tecnologia e serviços.
Manter a dívida pública bruta no atual patamar e trazer a inflação para o centro da meta não é uma tarefa incompatível com a distribuição de renda e o combate a pobreza.
Pelo contrário, pode ser uma condição, desde que avancemos nas reformas política e do Estado. E na reforma tributária, que taxe os ricos, as grandes fortunas e heranças, os lucros extraordinários, que realmente cobre impostos progressivos sobre a renda e o patrimônio (uma demanda e agenda que vêm do século XIX), e não impostos indiretos sobre o consumo que fazem com que quem ganha menos pague mais impostos.
Vencer esse desafio não e impossível como já demonstrou o agora ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, com sua proposta de ajuste lento, seguro e gradual, que preserva nosso modelo e estratégia de desenvolvimento nacional. Quem viver verá.
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