6,2% do PIB vai para a agiotagem


ImageOs dados oficiais sobre o pagamento dos juros da dívida interna, apesar de a relação dívida - PIB ter caído de 40,2% para 39,7% no primeiro semestre deste ano - são alarmantes. Expressam com clareza que nem sempre os dados macro econômicos traduzem a realidade. Um observador descuidado diria que estamos melhorando, já que a relação dívida - PIB caiu, dando maior segurança ao detentor da dívida publica. A realidade, no entanto, é outra.

O país paga o equivalente a 6,2% do PIB de juros da dívida interna. São R$ 119,7 bi. Isso mesmo, o dobro do que o Brasil investe e gasta em educação por ano. Há o agravante de que todo esse recurso é renda, descontada a inflação. Esse volume de recursos está diretamente associado à alta taxa básica dos juros de nossa economia, no caso 12,50% ao ano.

Como o governo emite títulos remunerados pela Selic - pré-fixados e por uma cesta de índices - pagamos uma média um pouco maior do que a Selic. Todo esse dinheiro sai do Orçamento Geral da União, ou seja, dos impostos que pagamos. Ele recai sobre empresas, famílias e cidadãos.

Esses recursos poderiam ter outros destinos

São recursos que poderiam ser investidos para pagar parte da dívida, ou para reduzir impostos, por exemplo, da exportação e da produção. Com isso, aumentaríamos duas vezes nossa a competitividade: de um lado, com a redução dos juros e dos impostos; de outro, com mais recursos para financiar novos investimentos em educação, inovação e em infraestrutura.

Essa é a verdadeira questão da nossa economia. Claro, há o câmbio valorizado, mas a alta taxa de juros é a grande responsável por limitar nossa competitividade. Devemos analisar os fatos e os números. É fato que o Tesouro, no caso, a Secretaria do Tesouro Nacional (STN), tem administrado o acréscimo de endividamento com medidas positivas.

O órgão tem aumentado o seu prazo médio; reduzido a dívida de curto prazo; substituído – gradualmente e sem desequilibrar o mercado de títulos públicos - os papéis remunerados pela Selic por outros com rentabilidade pré-fixada, ou vinculados a índices de preços; e tem mantido a construção de uma estrutura a termo das taxas de juros nos mercados interno e externo para ampliar a liquidez de seus papéis.

Maior eficácia à política monetária

Tudo isso melhorou o estoque da dívida pública, reduzindo a participação dos papéis indexados à Selic, que representam quase 1/3 do total (algo em torno de R$ 550 bilhões), e permitirá uma maior eficácia aos efeitos da política monetária do Banco Central.

Mas o fato é que, no mandato da presidente Dilma Rousseff vencem 80% do estoque da dívida financiada à taxa Selic. A questão é como reduzir substancialmente o financiamento à taxa Selic e, assim, não destinar 6,2% do PIB para pagamento do serviço da dívida interna. E como desvincular o aumento dos juros, para efeito de política monetária, dos gastos do serviço da dívida interna.

PAC: 89% dentro do orconograma


A reportagem exibida ontem pelo Jornal Nacional é um primor de “urubologia”.

Com uma edição digna de programa eleitoral do PSDB, com números negativos exibidos em computação gráfica e imagens de obras supostamente paradas.

Numa tentativa de transformar o sucesso em fracasso, não há uma palavra sobre 89% das obras monitoradas estarem em ritmo adequado, enquanto 8% estão em estado de atenção, 2% têm execução preocupante e 1% já foi concluído, até porque são obras pesadas, que não se fazem com um estalar de dedos. Esse é o número em valor, o critério mais adequado, porque não distorce o quadro, misturando pequenas obras com grandes projetos.

Em resumo: 90% está dentro do planejado e 10% apresenta problemas. Mas a Globo faz matéria apenas sobre os 10%.

Nem uma palavra sobre já estarem contratados R$ 25 bilhões para obras de saneamento, 87% deles em obras cuja execução está em torno de 50% realizada.

Nem um segundinho para a informação de já entraram no sistema elétrico brasileiro 2 mil megawatts gerados por obras do PAC 2. Ou que 83% dos projetos de urbanização em áreas precárias estão em andamento, satisfatoriamente.

Mas muito tempo para o senador Alvaro Dias – aquele vice “viúva Porcina” de Serra, o que foi sem nunca ter sido – e para um economista da “Contas Abertas” (aquela mesmo cujos fundadores estiveram às voltas com os problemas panetônicos do Governo de José Roberto Arruda, no Distrito Federal.

A gente posta aí em cima o vídeo da apresentação feita pela Ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para você ver, em detalhes, o que a emissora não deu. Quem quiser ter acesso ao balanço completo, pode acessá-lo aqui.

A Globo, por aí, vai sangrar na veia da saúde do Governo Dilma.

Porque ela pode ter defeitos, mas um deles certamente não é o de ser incapaz ou tolerante com atrasos e incompetência na gestão de projetos.

Mas isso tem dois aspectos bons.

O primeiro, que a Globo pode distorcer a realidade, mas não é capaz de revogá-la.

O segundo, o de que está se encarregando de mostrar que a comunicação do governo não pode ser baseada no que a grande mídia chama de “liberdade de expressão”, que é ela falar sozinha.

Quem sabe assim o pessoal de lá se convence de que precisa falar claro, mostrar os fatos e dar à imensa rede de solidariedade ao projeto que Dilma os meios para combater a “urubologia” global?

do Tijolaço

por Luis Fernando Verissimo

Fada Boa contra Fada Má

O jantar anual da associação dos correspondentes estrangeiros em Washington é uma oportunidade para políticos locais dizerem coisas que normalmente não diriam e rirem de si mesmos.
Começando pelo presidente da República, que é sempre convidado a falar e sempre fala no tom autodepreciativo que se espera de um cara legal, gente como a gente.
Num desses jantares mostraram um clip, especialmente gravado para a ocasião, do George Bush no gabinete da Presidência olhando dentro de gavetas, atrás das cortinas e embaixo dos móveis e dizendo: “Aquelas armas de destruição em massa têm que estar em algum lugar...”
Seria mais engraçado se a invasão do Iraque ordenada por Bush, motivada pelas armas de destruição em massa que não estavam lá, já não tivesse matado alguns milhares de pessoas. No mesmo jantar, Bush fez outra piada tática.
Falou da elite econômica americana, dos milionários e dos arrogantes barões de Wall Street, “que vocês chamam de gatos gordos e insensíveis e eu chamo de... meu eleitorado”. Risos. Palmas. O cinismo faz muito sucesso nos tais jantares.
Bush não decepcionou seu eleitorado. Foi fiel à tese de que deixando os gatos gordos se lambuzarem com concessões e privilégios, como cortes dos seus impostos e pouco controle dos seus excessos, algum benefício escorreria para a maioria.
A famosa trickle-down economics da era Reagan ainda perdura, e Bush tornou o melado ainda mais doce para os ricos. Essa briga entre os republicanos e o Barack Obama sobre elevar ou não o teto para o endividamento americano e como fazer para diminuir o déficit nacional é — ou era, imagino que já tenha se resolvido, ou dado empate — entre o legado de Bush e a mínima ação do Obama de defender o seu eleitorado do poder da ganância.
Um lado quer diminuir o déficit cortando gastos sociais e mantendo intocados os privilégios dos ricos, o outro quer manter os gastos sociais e taxar mais os ricos.
O Obama não está sendo, no governo, exatamente o que seu eleitorado esperava. Compreende-se, tem que ser mais flexível do que coerente para lidar com um Congresso hostil e cuidar da sua sobrevivência, não só política mas — a julgar pela retórica cada vez mais furiosa da direita contra ele — física também.
Mas na questão de quem deve pagar pelo déficit nenhuma flexibilidade era possível. Tratava-se de escolher entre leite para crianças e mais lucro para banqueiros, Fada Boa contra Fada Má.
Mas estou escrevendo antes do desfecho da briga, não sei se o Baraca cedeu. As Fadas Boas andam em recesso no mundo todo.

Multiculturalismo: A farsa intelectual

Os atentados na Noruega deram um gás ao debate sobre o multiculturalismo. O conceito propõe validar as diversas culturas no mesmo nível, rejeitar a ideia de umas estarem acima de outras.

E portanto rejeitar a prerrogativa de umas imporem normas e restrições a outras.

Em geral a crítica ao multiculturalismo é "ocidentecentrada". Uma forma extrema foram os terríveis atentados de Oslo. O maluco -no grau em que ainda for diagnosticado- imbuiu-se da missão de guerrear contra a presença islâmica na Europa.

Um parêntese. Não é por o sujeito ser maluco que seus atos estão imunes à análise política. Aliás, sanidade mental nunca foi requisito para a atividade.

De volta. Agora na Noruega um sujeito decidiu pelo terror contra o multiculturalismo.

Ainda que o assassino possa recusar o rótulo. Dizer que é guerra, não terror. Nem é tão novidade assim. O terrorismo sempre encontra uma justificativa, uma maneira de apresentar-se legítimo.

De um lado e de outro, se for mesmo para dividir a coisa em dois lados antagônicos, como propôs a mente perturbada de Anders Behring Breivik.

Entrar na polêmica sobre o multiculturalismo é complexo. O debate costuma vir carregado de sentimento de culpa ocidental-cristão. Ou judaico-cristão.

Assim, as demais culturas e religiões ganham legitimidade adicional para se apresentar como formas de resistência.

No Brasil tolera-se que índios matem seus filhos portadores de deficiência. É olhado como traço cultural a respeitar. Porque são índios.

É capaz de o mesmo sujeito numa hora criticar, com razão, os governantes incapazes de providenciar acessibilidade e na outra defender o indígena cuja cultura autoriza matar crianças deficientes.

E se olhássemos os atos do maníaco de Oslo pelo ângulo do multiculturalismo? Ainda que apenas como exercício intelectual? A conclusão seria aterradora. Em vez de simplesmente condenar, estaríamos obrigados a “tentar entender”.

Condenados a “combater a origem do problema, e não suas manifestações" extremistas.

Assim como “tentamos entender”, ou tentávamos, o Exército Republicano Irlandês (IRA), o Pátria Basca e Liberdade (ETA). Ou o Hamas. Ou o Hezbollah. Ou a insurgência iraquiana. Ou o terror curdo contra a dominação turca.

Ou talvez o Unabomber.

Supostos motivos para o terrorismo sempre haverá, sempre será possível formulá-los, construí-los sobre os alicerces da vitimização.

Pode ser o Islã vitimizado diante de um Ocidente sedento de petróleo. Ou pode ser a Europa vitimizada por uma invasão bárbara.

Note-se que a posição de vítima, por essa linha, é fonte suficiente de legitimidade para praticar a violência não-estatal, para romper o monopólio estatal da violência. Daí a batalha por esse nicho, o do vitimizado.

É uma guerra central de nossa época. Se a vítima pode tudo, ser vítima confere uma vantagem insuperável.

O portador da insígnia dominará uma posição estratégica, autorizado a usar todo tipo de arma contra o inimigo. E sem a recíproca.

Essa disputa pelo spot de vítima tem base lógica, talvez na autodefesa da espécie, porque o multiculturalismo para todos seria, no limite, completamente disfuncional. Como se deduz do caso norueguês.

Para a sobrevivência de alguma civilização, uns precisariam ter mais direito ao multiculturalismo que outros. Ou, aí sim, viria a barbárie.

No multiculturalismo para todos, o assassino de Oslo deveria, na preliminar, receber a mesma carga de compreensão piedosa reservada, por exemplo, aos insurgentes iraquianos.

E em vez de condenação talvez merecesse concessões.

Idem os agentes iranianos que explodiram o centro comunitário judeu em Buenos Aires.

Eis por que o dito multiculturalismo é forte candidato a farsa intelectual.

Ou seria para todos ou para ninguém. Mas quem defendesse a primeira opção estaria obrigado, entre outras barbaridades, a sair em defesa do assassino de Oslo.

Banda Huaska - O machete

Copa de 2014

Dilma exalta Pelé e fala em Copa histórica

Com a participação de astros da música e da tevê, a cerimônia de sorteio das eliminatórias do próximo mundial de futebol, realizada no Rio de Janeiro, ganhou tom político no pronunciamento da presidente Dilma Rousseff. Diante do dirigente máximo da Fifa, Joseph Blatter, ela prometeu uma edição histórica do torneio e enalteceu Pelé, embaixador honorário do evento, chamando-o de "meu querido". Sentado na primeira fila, o "rei" acabou roubando a cena, sendo aplaudido efusivamente.


Uma frase antológico

“A corrupção nasceu com Adão, implementou-se com Eva e só termina quando o último homem sair da face da terra, levando pela mão a última mulher”, Jarbas Passarinho