Corrupto: quem não é?


por Luis Fernando Veríssimo

O Tribunal Federal da Suíça afirmou, num documento recém-publicado, que João Havelange e Ricardo Teixeira receberam suborno para influenciar a Fifa na decisão de quem faria a transmissão das Copas do Mundo de 2002 e 2006 e em outros acordos da Fifa e da CBF.
O documento custou a ser publicado porque os advogados da Fifa argumentaram, em defesa de Havelange e Teixeira, que o pagamento de suborno é pratica comum na América do Sul e na África, onde a propina faz parte do salário “da maioria da população”.
Foi publicado agora porque o presidente da Fifa, Joseph Blatter, que deve seu cargo ao Havelange, resolveu usar seu ex-chefe e Teixeira como exemplos de que está combatendo a corrupção. Antes abraçava os dois e seu esquema, agora os apunhala pelas costas com o relatório finalmente liberado da justiça suíça. Gente fina.
Você, eu e a maioria da população brasileira teríamos motivos para nos indignar com a afirmação de que nosso salário é normalmente reforçado por propina, vinda sabe-se lá de onde, e que Havelange e Teixeira só estariam sendo um pouco mais brasileiros do que o normal.
Mas nos mesmos jornais que trazem a notícia da denuncia de Havelange e Teixeira e a revelação de que a Fifa nos considera todos corruptos lemos que o suplente do Demóstenes Torres, cassado pelas suas ligações com o Carlinhos Cachoeira, também tem ligações com o Carlinhos Cachoeira , além de precisar explicar por que deixou de declarar boa parte do seu patrimônio ao fisco. Fica-se com a impressão de que a Fifa tem razão.
Me lembrei do texto que escrevi certa vez sobre a visita de uma comissão a um manicômio. A comissão é recebida por uma recepcionista, que passa a dar instruções desencontradas sobre como chegar ao gabinete do diretor — “Entrem por aquele corredor marchando de costas e cantando a Marselhesa” — até que vem um médico buscá-la, explicando que se trata de uma louca que pensa que é recepcionista. Mas o médico não é médico, também é um louco passando por médico, e que é levado por um segurança. Que não é um segurança, é outro louco que declara ser sobrinho-neto do Hitler, e é levado por um enfermeiro para o seu quarto. Mas o enfermeiro também não é enfermeiro, é um louco que etc, etc. A comissão finalmente chega ao gabinete do diretor — ou alguém que pode ser o diretor ou um louco que se passa pelo diretor. Como saber se é o diretor mesmo?
— Não há como saber — diz o possivel diretor. — Nem eu sei. Mas temos que supor que eu sou o diretor e não outro louco. Senão isto aqui vira um caos!
Temos que supor que nem todos são corruptos, ou afilhados reais ou simbólicos do Carlinhos Cachoeira. Senão isto aqui fica ingovernável.

Dia Internacional do Homem


Quem é obrigado a erguer os pés quando ela está fazendo a faxina? O prestativo homem!
Quem se veste como pingüim no dia do casamento? O humilde homem!
Quem é que, apesar do cansaço e do stress, jamais poderá fingir um orgasmo? O sincero homem.
Quem é obrigado a sustentar a amante esbanjadora? O abnegado homem!
Quem leva bronca, só porque ficou trabalhando até tarde em companhia daquela secretária boazuda? O fiel homem!
Quem, na hora do sexo, fica olhando pro colchão ao invés de desfrutar a maravilhosa decoração do teto? O sacrificado homem!
E na hora do orgasmo, quem tem que agüentar os gritos e os gemidos nos ouvidos? O paciente homem!
Quem se expõe ao stress por chegar em casa e não encontrar a comida quentinha, as crianças de banho tomado, a roupa lavada, a cozinha limpa e o jornal já posto sobre a mesa? O dócil homem!
Quem corre o risco de ser assaltado e morto na saída da boate, cada vez que participa dessas reuniões noturnas com os amigos, enquanto a mulher está bem segura em casa, na sua caminha? O desprotegido homem!
Quem é encarregado de matar as baratas e os ratos da casa? O valente homem!
Quem segura a "cauda do rojão" quando chega em casa com marca de batom na camisa e é obrigado a dar explicações que nunca são aceitas? O incompreendido homem!
Quem é que toma banho e se veste em menos de vinte minutos? O ágil homem!
Quem é que gasta consideráveis somas em dinheiro, comprando presentes no dia das mães, da esposa, da secretária e e em outras ocasiões mais, inventadas pelo homem para satrisfazer a mulher? O dadivoso homem!
Quem é obrigado a ver a mulher com os rolinhos nos cabelos e a cara cheia de cremes? O compreensivo homem!
Quem tem que passar por TPM calado, todo mês? O calmo homem!
Quem está lendo isso às escondidas, para poder dar boas risadas, já que se for surpreendido, corre o risco de levar beliscão e ser até mesmo espancado? O indefeso homem!
Por tudo isso e muito mais há de se criar o Dia Internacional do Homem ou o Dia Internacional do Martírio, com honras.

O caçador cassado


Caçar é um verbo transitivo direto que designa aquele que caça e na quarta acepção do termo, no dicionário do Houaiss, significa, entre outros, apanhar, recolher donativos, procurar insistentemente, catar, buscar (objeto, palavra, emprego, solução etc.) e em futebol, perseguir o adversário com lealdade. Meme foi um termo criado em 1976 por Richard Dawkins no seu best-seller O Gene Egoísta, é para a memória o análogo do gene na genética, a sua unidade mínima. É considerado como uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro, ou entre locais onde a informação é armazenada (como livros) e outros locais de armazenamento ou cérebros. No que diz respeito à sua funcionalidade, o meme é considerado uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma autopropagar-se. 


Dadas as explicações, vamos à caça dos fatos que desde as primeiras fumaças, alertando que havia fogo, nunca foram boatos, e o pior: a fumaça fedia. Demóstenes foi cassado. Preso no emaranhado das acusações sérias que davam conta de suas ligações com um contraventor, talvez na sua inocência ou pela certeza de que havia escudo forte e impenetrável, pela sua condição de senador da República, capaz de livrá-lo da molecagem que veio à tona, Demóstenes apelou para o sentimentalismo, não dos brasileiros de memória curta, mas capazes de se enternecerem com o bandido que chora, pede perdão num derradeiro episódio de sua história sórdida; o sentimentalismo daqueles que são tão frios quanto ele mesmo, quando enfiam a mão, sem dó nem piedade, nos trinta dinheiros que surrupiam dos cristos inocentes que perambulam, principalmente pelas estradas poeirentas ou esburacadas do Nordeste coitado desse Brasil. Dos oitenta senadores, 56 o jogaram no rio para o gáudio das piranhas. 

Devorado Demóstenes até os ossos aparecerem, ficaria mais difícil "excomungar" outro membro da mesma quadrilha tão cedo. Ele não é um coitadinho, mas não foi e nem será o último a se locupletar com as facilidades dos becos atapetados por onde passeiam, lépidos e fagueiros, os átilas da política brasileira, aqueles que por onde estendem seus tentáculos, aprofundam a miséria dos "paraíbas" escarnecidos no sul do Brasil. Dezesseis votaram contra a cassação do senador e cinco lavaram as mãos enquanto o "pobre coitado", em terno bem talhado, barba bem feita, mas com o semblante triste virava "meme" na mesma hora em que deixava o Palácio da Mil e Uma Noites e orgias afundado na certeza de que as tetas da vaca madrinha secaram. Por conta do nível ou da necessidade de manter um retalho de dignidade, não abaixou a cabeça como fazem os marginais comuns quando são detidos pela polícia. Talvez tenha até feito pior, porque pediu, implorou, valeu-se de toda a sua verve para não ser defenestrado da cadeira de couro azul do imenso circo. 

A novela chegou ao fim. Daqui pra frente, a cassação de Demóstenes serve de lição: é preciso ter muito cuidado quando avançar naquilo que não lhe pertence ou tirar vantagens em detrimento de milhões de eleitores. Se tiverem vergonha na cara, os outros membros da quadrilha melhor fariam se se aconselhassem ou introjectassem as lições dadas por um casal de moradores de rua que devolveram os dinheiros que não lhes pertencia por conta de educação modesta que lhes deu a mãe humilde. É oportuno sugerir que a maioria desses senhores de ternos caros e que se arvoram de paladinos da justiça deixem por algum tempo suas barbas de molho ou cuidem de lustrar com discrição suas caras de pau. 
A. CAPIBARIBE NETO - capi@globo.com

Confissão moderna

Foto: ♥ Ana e Claudia ♥    Essa é boa!!!!............................kkkkkkkkkkkkkkkkk..................... 


Tucademospiguiniânus: otimistas irracionais


Especulações e Fatos, por Marcos Coimbra


De uns tempos para cá, começou a ganhar circulação a ideia de que estamos marchando em direção à confluência de duas crises. Ambas graves.
De um lado, uma crise na economia, cujos sinais seriam já evidentes: redução do ritmo do crescimento, diminuição do investimento externo, retração na industria, queda no comércio internacional.
De outro, uma crise política, ainda não explicitada por completo, mas latente. Indicando-a, os recentes problemas no relacionamento político dentro da coalizão governista e uma presumida desarmonia na administração federal. 
Não se estabelece com clareza quando as duas se encontrariam. Mas fica subentendido que antes de outubro de 2014. Ou seja, em tempo de influenciar - ou mesmo revolucionar - o ambiente em que ocorrerá a próxima eleição presidencial.
Trocando em miúdos: a sucessão de Dilma, antes previsível, estaria se tornando incerta. O amplo favoritismo que tem hoje seria engolido pelas crises, uma reforçando e amplificando a outra.
É desnecessário dizer que a tese da “crise perfeita que se avizinha” foi elaborada e está sendo difundida pelas oposições, muito especialmente a oposição não-partidária, na sociedade civil e na imprensa.
É difícil, atualmente, ler algum comentário ou interpretação que não a mencione ao discutir o cenário político atual e suas perspectivas. Tudo passou a ser visto em função dela.
Até coisas que nada têm de real.
Só um otimista irracional acreditaria que a economia brasileira poderia atravessar incólume as intempéries que atingem os países avançados. Vamos pagar um preço por elas e já o estamos pagando em alguns setores.
A questão não é, portanto, se teremos ou não dificuldades econômicas no futuro imediato, mas qual sua intensidade e quais suas consequências na política, mais especificamente na eleição de 2014. É isso que alguns pintam com cores sombrias, pois não gostam da perspectiva que sejam menos agudas.
Para estimar o que aguarda Dilma, convém não esquecer que Lula viveu a manifestação anterior dessa crise na economia global sem solavancos na popularidade.
Entre o final de 2008 e os primeiros meses de 2009, as pesquisas mostraram um expressivo incremento das preocupações da população a respeito de inflação, desemprego e perda de capacidade de consumo. Elas atingiram seu pico em dezembro de 2008, quando, em pesquisa da Vox Populi, 58% dos entrevistados disseram esperar a subida da inflação e 63% o aumento do desemprego.
Enquanto isso, a avaliação positiva do governo Lula sempre se manteve elevada, indo, de acordo com dados do Datafolha, de 55% em março de 2008 a 65% um ano depois, em março de 2009. Em outras palavras, atravessando a turbulência em ascensão.
O que vemos é que não há incompatibilidade entre percepção de problemas econômicos e aprovação governamental. Ao contrário do que pensam alguns, as pessoas são perfeitamente capazes de separar as duas coisas.
Quanto à “crise política”, o que estamos presenciando agora nada tem de diferente do que sempre acontece às vésperas de eleições municipais. Nelas, as alianças e coligações raramente repetem, em cada lugar, os acordos nacionais. Quem anda junto na hora de escolher presidente pode caminhar separado quando se discutem prefeituras.
Assim, as desavenças pontuais entre os partidos da base governista nada sinalizam quanto ao comportamento que adotarão daqui a dois anos. Lá, avançarão unidos - ou não - em função do que estiver acontecendo no momento, sem nem se lembrar que se enfrentaram neste ou naquele município.
Quem lê a imprensa internacional fica com impressão bem diferente do horizonte à nossa frente. Ninguém aposta - ou deseja - a “crise perfeita”.
No fundo, a tese nada mais é que a admissão de que, se nada de catastrófico ocorrer, a política brasileira continuará fundamentalmente como está.
O que equivale a reconhecer a força e a capacidade do “lulopetismo” e a julgar com severidade as oposições e suas lideranças.

Classe C: a celebridade do momento


Sou ex-pobre. Todos querem me vender geladeira agora. O trem ainda quebra todo dia, o bairro alaga. Mas na TV até trocaram um jornalista para me agradar
Eu me considerava um rapaz razoavelmente feliz até descobrir que não sou mais pobre e que agora faço parte da classe C.
Com a informação, percebi aos poucos que eu e minha nova classe somos as celebridades do momento. Todo mundo fala de nós e, claro, quer nos atingir de alguma forma.
Há empresas, publicações, planos de marketing e institutos de pesquisa exclusivamente dedicados a investigar as minhas preferências: se gosto de azul ou vermelho, batata ou tomate e se meus filmes favoritos são do Van Damme ou do Steven Seagal.
(Aliás, filmes dublados, por favor! Afinal, eu, como todos os membros da classe C, aparentemente tenho sérias dificuldades para ler com rapidez essas malditas legendas.)
A televisão também estudou minha nova classe e, por isso, mudou seus planos: além do aumento dos programas que relatam crimes bizarros (supostamente gosto disso), as telenovelas agora têm empregadas domésticas como protagonistas, cabeleireiras como musas e até mesmo personagens ricos que moram em bairros mais ou menos como o meu.
A diferença é que nesses bairros, os da novela, não há ônibus que demoram duas horas para passar nem buracos na rua.
Um telejornal famoso até trocou seu antigo apresentador, um homem fino e especialista em vinhos, por um âncora, digamos, mais povão, do tipo que fala alto e gosta de samba. Um sujeito mais parecido comigo, talvez. Deve estar lá para chamar a minha atenção com mais facilidade.
As empresas viram a luz em cima da minha cabeça e decidiram que minha classe é seu novo alvo de consumo. Antes, quando eu era pobre, de certo modo não existia para elas. Quer dizer, talvez existisse, mas não tinha nome nem capital razoável.
De modo que agora elas querem me vender carros, geladeiras de inox, engenhocas eletrônicas, planos de saúde e TV por assinatura. Tudo em parcelas a perder de vista e com redução do IPI.
E as universidades privadas, então, pipocam por São Paulo. Os cursos custam R$ 200 reais ao mês, e isso se eu não quiser pagar menos, estudando à distância.
Assim como toda pasta de dente é a mais recomendada entre os dentistas, essas universidades estão sempre entre as mais indicadas pelo Ministério da Educação, como elas mesmas alardeiam. Se é verdade ou não, quem pode saber?
E se eu não acreditar na educação privada, posso tentar uma universidade pública, evidentemente. Foi o que fiz: passei numa federal, fiz a matrícula e agora estou em greve porque o campus cai aos pedaços. Não tenho nem sala de aula.
Não que eu não esteja feliz com meu novo status de consumidor, não deve ser isso. (Agora mesmo escrevo em um notebook, minha TV tem cem canais de esporte e minha mãe prepara a comida num fogão novo; se isso não for felicidade, do que se trata, então?)
O problema é que me esforço, juro, mas o ceticismo ainda é minha perdição: levo 2h30 para chegar ao trabalho porque o trem quebra todos os dias, meu plano de saúde não cobre minha doença no intestino e morro de medo das enchentes do bairro.

Leandro Machado

Histórico do STF é negar pedido de suspeição

Mesmo que a defesa de algum réu do "mensalão"" peça a suspeição do ministro Gilmar Mendes no julgamento do processo, a aceitação por parte do tribunal é improvável. Das 61 representações apresentadas que se tem notícia, nenhuma foi acatada pelo colegiado.

A praxe é o ministro se declarar impedido - por razões de foro íntimo -. O que não aconteceu e nem acontecerá com Gilmar Mendes, apesar das declarações - fora dos autos - que ele abusou de prestar ao pig condenando os réus desde sempre. Além de ser do conhecimento do mundo animal, vegetal e mineral que ele é um tucademopigoslpista que está no STF para prestar favores a FHC.