Aécio Neves: Ode ao cinismo


Aécio usa mensalão em BH e faz sua ode ao cinismo 
Ao lado de Marcio Lacerda, prefeito de Belo Horizonte que, em 2002, sacou R$ 1,3 milhão das empresas de Marcos Valério, o senador Aécio Neves introduz o mensalão na campanha mineira. Será que esqueceu em que estado, em que governo e em que partido a tecnologia de financiamento de campanhas das agências de publicidade DNA e SMP&B foi criada?
Minas 247 – Era de se esperar que o senador mineiro Aécio Neves não explorasse o tema do mensalão na campanha municipal de Belo Horizonte. Seria mais prudente. Não só porque o esquema foi criado na tentativa frustrada de reeleição do tucano Eduardo Azeredo, correligionário de Aécio, em 1998, mas também porque seu atual aliado, o prefeito Marcio Lacerda, de Belo Horizonte, poderia ter sido um dos réus da Ação Penal 470.
Mas Aécio foi imprudente. Neste sábado, numa carreata em Belo Horizonte, citou pela primeira vez o caso – descumprindo uma promessa que ele próprio havia feito. “O PT tem um viés equivocado ao analisar a questão de investimentos, porque ele trata recursos públicos como se fossem seus. Dinheiro federal, dinheiro estadual, isso é menos importante, é dinheiro do povo, são impostos que todos nós aqui pagamos”, disse o senador. “Mas o PT se apropria das empresas públicas, como fez agora, (como foi) comprovado pelo Supremo Tribunal Federal, em relação ao Banco do Brasil. Uma vergonha, uma instituição secular, um símbolo do Brasil que se desenvolveu, que avançou, e utilizada na forma como foi provada agora pelo Supremo Tribunal Federal para atender a interesses do partido”, disse Aécio.
Em 2002, Márcio Lacerda coordenava a campanha presidencial de Ciro Gomes, que não passou para o segundo turno. Naquela edição, Lula venceu José Serra. A campanha de Ciro, no entanto, deixou dívidas pesadas. E foi Marcio Lacerda quem sacou R$ 1,3 milhão das empresas de Marcos Valério para quitá-las. Não se tornou um dos personagens da CPI dos Correios em decorrência de um acordo político ainda hoje mal explicado.
Em 2008, Lacerda se tornou prefeito de Belo Horizonte, eleito pelo PSB, porque tanto o PT quanto o PSDB decidiram apoiá-lo. Sorte dele, que tem feito boa gestão e foi apontado numa pesquisa recente do Instituto Datafolha como o melhor prefeito do País. Mas se destino tivesse sido mais traiçoeiro – ou mais igualitário em relação aos sacadores de recursos nas agências de Valério – Lacerda hoje estaria sentado no banco dos réus, ao lado de Delúbio Soares, José Genoíno e José Dirceu.
Se isso não bastasse, o mensalão mineiro, ou mensalão tucano, foi abastecido com recursos de várias estatais do Estado, como a Copasa e a Cemig, que adquiriram patrocínios inexistentes num evento de motociclismo chamado de “Enduro da Independência”. Dali saiu boa parte dos recursos da campanha de Azeredo, coordenada por Walfrido dos Mares Guia (que coordena a de Marcio Lacerda), para o chamado mensalão mineiro.
Uma declaração como a de Aécio neste sábado deixa a dúvida: o Brasil está mesmo sendo limpo, purificado, ou é só uma maré de cinismo e hipocrisia?

Artigo semanal de Marcos Coimbra


As recentes pesquisas da Vox Populi, do Ibope e do Datafolha, realizadas nas principais capitais nos últimos dias, revelam um quadro que, em seus traços gerais, era previsível.

Incluindo os números de São Paulo, onde os três institutos apontaram cenário muito desfavorável a Serra. Só seus defensores mais extremados terão se surpreendido, pois as dificuldades que o tucano enfrentaria este ano eram óbvias.

As pesquisas confirmam características conhecidas das eleições municipais brasileiras e do funcionamento atual de nosso sistema político. Indicam coisas que sabíamos:
  • A força da reeleição: em todas as capitais em que os atuais prefeitos buscam a reeleição, eles lideram.

A maior vantagem está no Rio de Janeiro, onde Eduardo Paes (PMDB) tem ampla perspectiva de vitória no primeiro turno, apesar de 
enfrentar diversos adversários de biografia conhecida e respeitável.

Em Belo Horizonte e Curitiba, estão na dianteira os prefeitos Marcio Lacerda e Luciano Ducci, ambos do PSB. O mineiro tem um só concorrente de peso, Patrus Ananias, do PT. No Paraná, a situação é de empate triplo, entre ele, Ratinho Junior (PSC) e Gustavo Fruet (PDT).

São três casos de prefeitos que investiram pesadamente na propaganda de suas administrações ao longo do mandato. Não têm novidades a informar aos eleitores, mas fazem agora, usando a imensa mídia “gratuita”, uma personalização dos resultados de suas gestões.

As obras e programas que o cidadão conhecia como sendo da prefeitura são reapresentadas como de autoria do prefeito. Tudo de bom que aconteceu na cidade é mostrado como resultado de sua ação pessoal (e tudo de mau é suprimido).
Talvez nem todos vençam, mas isso ajuda a explicar sua performance.
  • 2- O declínio dos partidos de oposição: considerando o melancólico desempenho de Serra — que parece que sequer estará no segundo turno, para o qual são favoritos Celso Russomano (PRB) e Fernando Haddad (PT)—, os principais partidos de oposição só têm candidatos próprios bem posicionados em poucas cidades.

Desses, apenas ACM Neto (DEM), em Salvador, é considerado competitivo. Moroni Torgan, seu correligionário que disputa a eleição em Fortaleza, dá sinais de que, em breve, será ultrapassado por Elmano de Freitas (PT) e Roberto Cláudio (PSB) .
Se o quadro atual se confirmar, seria possível dizer que o PSDB terminará vencendo em Belo Horizonte e Curitiba, pois tanto Aécio e Anastasia quanto Beto Richa apoiam os líderes.

Pode ser verdade a curto prazo e, para Aécio, será ainda mais relevante, em face da derrocada de Serra. Mas, para o partido, é ruim atravessar mais uma eleição sem apresentar nomes para disputas futuras. Na política, como na moda, é preciso aproveitar as vitrines para mostrar os lançamentos da próxima temporada.

  • 3— A decisão ilusória: embora essas pesquisas indiquem níveis elevados de “definição de voto”, os profissionais do ramo, analisando outras — especialmente qualitativas —, percebem que as certezas dos eleitores são, a esta altura, provisórias.

As campanhas recém começaram e eles se veem alvo de uma comunicação maciça, tão grande que os deixa desconfiados.

O cidadão comum não se sente pressionado a resolver seu voto agora e nem acha que já tem informação suficiente para fazê-lo. Até a eleição, acredita ter tempo para conhecer melhor os concorrentes e se decidir com calma.

Curiosamente, há candidatos que hoje torcem para que os eleitores não mudem de ideia, com a mesma intensidade com que já torceram, em outras eleições, para que mudassem.

O cidadão comum não se sente pressionado a resolver seu voto agora nem acha que já tem informação suficiente para fazê-lo. Até a eleição, acredita ter tempo para conhecer melhor os concorrentes e se decidir com calma.

Uma criança e três urubus?

A primeira vez que vi esta [abaixo] eu disse: esta é a imagem que define o meu pensamento sobre Deus. E um amigo perguntou:
- Por que, como assim?

- Eu cresci ouvindo minha vó - vovó Alice - dizendo:

" Meu filho o demo existe. O demo tem força, ele é poderoso...Mas, DEUS É O TODO-PODEROSO!"

Um dia - eu tinha de 6 para 7 anos -, ela repetiu isso pela milionésima e uma vez. E de estalo, eu disse: vovó , então Deus é culpado de tudo. Ela espantada, perguntou:

- Como assim?

- Se Ele é o Todo-Poderoso, ele pode tudo. Ele pode fazer o bem e evitar o mal.

- Não meu filho, Deus só faz o bem.

- Se ele pode tudo, então ele é responsável por tudo, pelo bem e pelo mal.

- Deixa de coisa menino, vai rezar, deixa de dizer besteiras, deixa de blasfêmias, é pecado.

- Vovó, se cai um avião com duzentas pessoas e uma escapa, é um milagre né, foi Deus que salvou num foi?

- É um milagre sim. Foi Deus quem salvou, foi Deus um milagre de Deus!

- E, as outras 199 pessoas, por que Deus num salvou?

- MENINO DEIXA DE FALAR BESTEIRA, VAI REZAR. TU TÁ PECANDO!!!

- Pois prá mim é assim vovó: Se Deus é responsável por salvar a vida do que escapou, ele também é responsável pela morte das outras 199 pessoas...Só não levei uma surra porque corri.
Sempre que conto esta história a pessoas religiosas, que creem  em Deus, elas usam o mesmo argumento: Deus nos deu o livre-arbítrio, podemos fazer o bem ou o mal. Cada um pode escolher qual o caminho a seguir...aí eu digo:

- Quem tirou esta foto tinha o livre-arbítrio, podia escolher, espantar o urubu e ajudar a criança ou tirar a foto. Ele optou por não espantar o urubu, não ajudar a criança. Ele preferiu esperar o urubu chegar exatamente aonde ele queria, para ter a foto tecnicamente perfeita, conseguiu. Tirou a foto que tanto procurou...virou as costas e foi embora vender a fotografia que lhe daria o Prêmio Pulitzer - recebeu -. A criança, ficou lá, morreu foi comida pelos urubus - o irracional e o desumano -.

- Esta criança tinha o livre-arbítrio? Não, não tinha! Então, quantos urubus mesmo tem nesta foto?

STF, tribunal de exceção


Segundas impressões do mensalão
Leio e ouço que a decisão da primeira fase do STF mostra que os tempos estão mudando e que a votação de 9 a 2 contra os réus indica uma opção contra a impunidade.
Confesso que sempre gostei de Bob Dylan e sou daqueles que acreditam e torcem por mudanças. Mas não sei se é isso o que estamos assistindo. Mudança, no Brasil, é conseguir o básico. No caso da Justiça, garantir direitos iguais para todos, qualquer que seja sua cor, credo, condição social ou opinião política. Será que é isso que estamos vendo?
Estrelado pelo mesmo esquema, com personagens iguais e outros, equivalentes, o mensalão mineiro segue quieto lá nas Alterosas.
O tratamento desigual para situações iguais é constrangedor. Ao dar uma entrevista a Monica Bergamo, o relator Joaquim Barbosa lembrou que a imprensa nunca deu a mesma importância ao mensalão mineiro. Ele até disse que, quando tocava no assunto, os repórteres reagiam com um “sorriso amarelo.”
Eu acho bom quando um ministro do Supremo se refere ao tratamento desigual que parte da mídia dispensou aos dois mensalões. Mostra que isso não é “coisa de mensaleiro petista ” não é mesmo?
Mas há outro aspecto. O fato da imprensa dar um tratamento desigual é um dado da política brasileira e, no fim das contas, diz respeito a um jornal e seus leitores. Como leitor, eu posso até achar que a imprensa deve tratar todos da mesma maneira, deve procurar ser isenta mas a liberdade de expressão garante que todo jornal e todo jornalista tenha suas preferencias, suas prioridades e opções. Salvo patologias criminosas, todos têm o direito o direito de exercitá-las.
A visão que você lê neste blogue é diferente daquela que vai encontrar em outros lugares. É bom que seja assim.
A justiça não. Esta deve ser tão isenta que a querem cega. E aí, data vênia, quem sorri amarelo, neste caso, é quem desmembrou o mensalão (do PSDB) mineiro e unificou o mensalão petista.
Porque estamos falando de um tratamento desigual para situações idênticas, no mesmo país, no mesmo sistema, no mesmo tribunal. O direito de uns foi reconhecido. O de outros, não. Às vezes, chegou-se a uma situação surrealista.
Nos dois casos, o “núcleo operacional”, para usar a definição do procurador geral, é o mesmo. Marcos Valério, Cristiano Paz e os outros. O Banco Rural também. As técnicas de arrecadação e distribuição de recursos eram as mesmas. Só mudou o núcleo político. Então, me desculpem, o problema está na política. Sim.
Por causa do desmembramento, podemos ter sentenças diferentes para o mesmo caso. “Dois pesos, dois mensalões,” já escreveu Jânio de Freitas.
Se o mensalão petista tivesse sido desmembrado, o deputado João Paulo e outros dois parlamentares acusados até poderiam ser julgados em Brasília, como o deputado Eduardo Azeredo será, quando seu dia chegar. (O mensalão mineiro é mais antigo mas anda mais devagar, também. Ainda estão colhendo depoimentos, ouvindo testemunhas…) Ainda assim, teremos outros prazos e, muito possivelmente outras penas.
Mas em caso de desmembramento, José Dirceu e José Genoíno, para ficar nos nomes mais ilustres e simbólicos, teriam sido reencaminhados para a Justiça comum, com direito a várias etapas de julgamento antes da condenação. O Ibope seria menor. E não estou falando só da repercussão nas eleições municipais de 2012. Por favor: a questão não se resume ao novo candidato do PT a prefeitura de Osasco.
Nós sabemos que o troféu principal do julgamento é Dirceu. O número 2, Genoíno. É por isso que o caso se encontra no STF. Ali tem mais holofotes.
No início do julgamento, Gilmar Mendes chegou a sugerir que as chances dos réus serem absolvidos eram maiores num julgamento desmembrado do que num processo unificado. Concordo.
Mas se isso é verdade, por que mesmo se deu um tratamento diferenciado? Não é preciso sofisticar mais o raciocínio. Como perguntou Eduardo Kossmann, advogado. Considerando que a Constituição diz que todos são iguais perante a lei “como explicar para meu filho de cinco anos?”
Uma sentença do Supremo é um acontecimento duradouro. Repercute hoje, amanhã, no ano que vem e daqui a uma década. Destrói uma vida, aniquila uma reputação.
Como disse Pedro Abramoway, que passou os dois mandatos de Lula em posições importantes no área jurídica, o mensalão propriamente não foi julgado. Aquela denúncia, de compra de consciências, que é o centro da acusação do procurador Roberto Gurgel, ficou para mais tarde.
As provas de que os parlamentares colocavam dinheiro no bolso para mudar seu voto não apareceram até agora.
Isso apareceu quando o deputado Ronnie Von Santiago (olha só, mais um roqueiro no debate) confessou que tinha recebido R$ 200 mil para votar a favor da reeleição de Fernando Henrique Cardoso, há quase 20 anos. Ali foi suborno, foi propina, foi compra de votos. Pelo menos ele disse isso. Os mais de 300 ouvidos no mensalão sempre negaram. Todos.
Até Roberto Jefferson mudou o depoimento na hora em que era para valer.
Mas o caso de Ronnie Von não gerou um processo tão grande. Nada aconteceu com seu núcleo politico, vamos combinar.
E é isso que mostra que tudo pode estar mudando para que nada mude.
O deputado João Paulo Cunha foi condenado a 6 anos de prisão em função de uma prova que pode ser discutida. A de que recebeu uma propina de R$ 50 000 para aprovar um contrato de R$ 10 milhões com as empresas de Marcos Valério. Você pode até dizer que é tudo “parte do mesmo esquema” e dar aquele sorriso malicioso de quem acha todos os argumentos contrários apenas ingênuos ou cúmplices mas vamos combinar que há um pressuposto nessa visão.
O pressuposto é de que não houve nem podia haver outro tipo de pagamento nesta operação. Não podia ser dinheiro de campanha, nem recurso de caixa 2. O problema é que as campanhas costumam ser feitas com caixa 2, que devem ser apurado, investigado e punido. Mas são outro crime.
Caixa 2 não é uma “tese” da defesa. Pode ser “tese” artificial ou pode ser uma “tese” com base na realidade. Mas a sonegação existe, está aí, pode ser demonstrada em vários momentos da vida brasileira, inclusive em campanhas eleitorais. Existem empresas criadas especialmente para ajudar os interessados nesse tipo de coisa.
Acho positivo o esforço de questionar e desvendar o que está por trás das coisas. Mas não sei se neste caso tudo ficou tão demonstrado como se gostaria.
Por exemplo. Os milhões de dólares que Paulo Maluf mandou para o exterior foram comprovados. Funcionários das empreiteiras explicaram, detalhadamente, como o esquema funcionava, como se fabricavam notas frias e como se fazia o desvio dos recursos públicos. No entanto, Maluf hoje em dia não pode viajar por causa de um mandato da Interpol. Mas não cumpre pena de prisão. Foi preso quando havia o risco de fugir.
Outro exemplo. As agências de Marcos Valério foram acusadas de embolsar um dinheiro a que não teriam direito nos contratos com o Visanet, o chamado bônus por volume. O problema é que essa prática é muito frequente no mercado publicitário e, em 2008, foi regulamentada em lei no Congresso. O que não era proibido nem permitido foi legalizado. Mas ontem, o ministro Ayres Britto, presidente do STF, disse que a aprovação dessa lei foi uma manobra para beneficiar os acusados do mensalão. É muito possível. Mas eu acho que um ministro do Supremo não deveria fazer uma acusação gravíssima contra uma decisão de outro poder. Ou pode?
por Paulo Moreira Leite

Silvio Sonso

Aonde foi tirada a foto?

- Não sei.
- Tu sabe aonde foi tirada a foto?
- Não sei nem me interessa saber. O que me interessa é a criança.
- Tu sabe aonde foi tirada a foto?
- Pode ter sido tirada no Sudão, em São Paulo, Fortaleza, Botucatu. Era uma criança morrendo e dois urubus a espreita.
- Se eu encontrasse quem tirou a foto, eu era capaz de matar.
- Tu sabe aonde foi tirada a foto?
- Pensando bem, eu não matava quem tirou a foto. Eu daria a ele o mesmo tratamento que ele deu a criança.   O supremo desprezo.

- TU SABE AONDE FOI TIRADA A FOTO?

- Ah, sei que existem muitos outros urubus atrás de lentes.

Fatiado Gloelbelemos


Autor: 
 
O procurador Joaquim Barbosa deve ter escutado com um sorriso de escárnio suspenso nos lábios a leitura da acusação feita pelo PGR Roberto Gurgel. Era inepta. Gurgel usava de sarcasmo, citava Chico Buarque de Holanda, mas cometia um erro grosseiro, sustentava que uma quadrilha atrevida instalou-se no Palácio do Planalto e do escritório do Ministro da Casa Civil comprava apoio parlamentar - o mensalão. Contudo, terminava de maneira patética a acusação. Pedia a compreensão da Corte por não apresentar provas do que dizia. Provas, como todos ali sabiam, nesses casos são muito difíceis de serem obtidas.
Convenceu um já convencido, desgosto e retirante Ministro Peluzo, que mesmo assim teve de cometer um acidente automobilístico na sua biografia para concordar com Gurgel. Inovou em matéria penal ao admitir que um fato prove outro a ele relacionado por si só, dispensando a apresentação de provas da correlação. Ou a prevalência de tese de que "quem bate atrás é culpado". Nesse momento o ministro Joaquim Barbosa é quem deve ter intimamente gargalhado do argumento rebolativo de seu colega e desafeto. 
O procurador Joaquim Barbosa é muito mais engenhoso, a utilidade do mensalão já havia acabado quando o STF aceitou a denúncia. Para o julgamento usaria outra estratégia. Na verdade a idéia do mensalão voltou a ser útil quando a questão dos réus sem foro privilegiado foi novamente apresentada. O procurador Joaquim Barbosa se encolerizou, isso era questão já decidida, não se volta atrás. Ali a sua estratégia perigou, mas vencido o questionamento o procurador Joaquim Barbosa sorriu vencendor mais uma vez.
A tese do mensalão era útil à acusação apenas como uma imagem que justificasse o STF como fórum do julgamento. Ora, admitindo-se a hipótese de um ministro de estado corrompendo deputados e senadores para obter apoio político, que outro fórum poderia julgar tal delito? E, assim, mesmo réus sem foro privilegiado deveriam ser julgados na ultíssima instância, pois, se divididos em vários tribunais como processos individuais, ainda que entregues aos seus juízes naturais, a interessa das provas e correlação dos atos que comprovavam o mensalão seriam prejudicadas. Esses réus formavam uma quadrilha – Lula lá e seus 40 ladrões.
Esse era o primeiro movimento de engenho e arte jurídica do procurador Joaquim Barbosa. Aceita como tese, a hipótese do mensalão não servia para mais nada, podia ser dispensada. Como peça acusatória era contraproducente, pois teria de ser provada. E o procurador Joaquim Barbosa sabia que era inverossímil malas executivas recheadas de dinheiro circulando pelo plenário do Congresso Nacional, assim como, no mínimo, difícil de acreditar que era necessário corromper congressistas do PT para votar nas propostas do PT.
Logo, o procurador Joaquim Barbosa apresenta ao ministro Joaquim Barbosa e aos outros Ministros do Supremo uma peça acusatória totalmente diferente da do Procurador Geral da República e de modo algum relacionada com o mensalão. Num engenhoso salto mortal, fatia o julgamento. Cada delito agora deveria ser julgado como único, dissociado dos outros e principalmente da idéia de que formavam um conjunto chamando mensalão. 
Estava consumado com sucesso o segundo movimento do procurador Joaquim Barbosa, engenho, arte e contradição calculados.
Assim assistimos decisões sobre peculato, lavagem de dinheiro, propina, corrupção rasteira e genérica. Não ao julgameto do "maior escândalo de corrupção da história deste país", nenhum ministro tendo que se questionar sobre onde estaria comprovada a compra de apoio político ou quais as matérias tiveram suas votações corrompidas.
Mantida assim as teses do procurador Joaquim Barbosa, ao final do julgamento, todos os réus estarão condenados por delitos outros que os apresentados inicialmente como compra de apoio parlamentar. E a condenação é o que interessa à procuradoria, a quem cabe acusar e não julgar o mérito.
Por último, o mensalão restaria provado pela condenação dos réus a ele associados e não porque qualquer prova dele tenha sido apresentada ou mesmo que tenha realmente existido.
Fatiados venceremos.