Um bom retrato do papa Francisco

Elio Gaspari, O Globo

Quantos pares de sapatos o cardeal Jorge Bergoglio levou para Roma em março? Um, preto e velho, o único que tinha. Para quem quiser entender o que vem por aí, saiu um livraço nos Estados Unidos, é "Pope Francis — Untying the knots" ("Papa Francisco — Desatando os nós"), do jornalista inglês Paul Vallely. Está na rede por US$ 9,99.

Ele conta que, no conclave de 2005, Bergoglio chegou à terceira votação com 40 votos, mas o cardeal Ratzinger teve 72. Faltariam cinco para que atingisse os dois terços, e seus aliados avisaram que iriam até o 34º escrutínio, no qual bastaria a maioria absoluta, que já tinham.

A demora exporia uma Igreja dividida, e Bergoglio desistiu. Como arcebispo de Buenos Aires, a Cúria deu-lhe para comer o pão de Asmodeu. Rejeitavam suas indicações para bispados.

O livro explica como um personagem tradicionalista na doutrina e reformador em questões da Igreja, tendo sido um algoz da esquerda católica dos anos 70, tornou-se um mensageiro dos pobres. Bergoglio apoiou a ditadura argentina que matou dez mil pessoas, inclusive um bispo. Ajudou-a ao ponto do arrependimento.

Exagerando, fez um percurso semelhante ao de D. Hélder Câmara, fascista dos anos 30, herói de letra de samba a partir dos 50.

O simpaticão da Avenida Atlântica é um homem reservado, de poucos amigos, meditador solitário. Cozinhava suas refeições, mas comia sozinho. Quando tem que resolver uma questão, começa perguntando-se o que não deve fazer. Quando decide, medita de novo.

O mérito do livro de Vallely está na busca da alma de Francisco. Ele vai do par de sapatos para explicações muito mais complexas e documentadas. É uma biografia simpática, talvez passasse pelo crivo de Roberto Carlos.

No conclave de março, D. Odilo Scherer, o cardeal de São Paulo apresentado como um nome do Terceiro Mundo, era na realidade uma aposta da Cúria. Foi pouco votado no primeiro escrutínio, no qual Bergoglio teve 20 votos, e o favorito da imprensa italiana, o cardeal Scola, arcebispo de Milão, teve 35.

Na segunda votação, os aliados de Scherer foram para Bergoglio. Scola entalou e, no quarto escrutínio, o argentino ultrapassou-o. No quinto, foi eleito.

Em La Plata, o bispo Héctor Aguer, seu adversário na Argentina, proibiu o tradicional dobre de sinos.

Marina representa o "novo"?

?.. ela faz um discurso apelativo em termos de demandas da contemporaneidade(algumas meros modismos), a exemplo de horizontalidade, Rede, sem faltar, é claro, no surrado "economia sustentável", seus seguidores embevecidos a transformam na deusa das transformações. Será mesmo?

Por que "novo"? Mesmo na dimensão da retórica, o que se extrai nas suas elucubrações que efetivamente prenunciariam inflexões de caráter político-ideoloógico, econômico, social ou cultural? Será que ser contra a bipolaridade no atual processo político brasileiro, de resto criticado à torto e à direito por quem tem um mínimo de bom senso, a faz uma novidade? Outros candidatos em eleições passadas, já aventaram isso.

Recuperar a política como atividade idealista? Ou, simplesmente, concretizar utopias? Há quase dois séculos a humanidade levanta e convive com essa proposta. O que desejam anarquistas, socialistas, comunistas e mais uma miríade de agrupamentos ideológicos?

Democratizar a democracia? Mero jogo de palavras. A democracia ou é ou não é. Seria o mesmo que dizer "matar a morte". Nem como metáfora serve. A pretensa inovadora Marina, num acesso verborrágico, afirma que é preciso defender a democracia na democracia. Já não ouvimos isso diariamente desde 2003 quando o PT assume o Poder? Marina não plagia, nesse sentido, o estamento conservador e seus canais, a exemplo da grande imprensa e do Instituto Millenium?

Olhar para o futuro? Apelação manjadíssima e vituperada na bôca de dez entre dez políticos carreiristas. O importante não é olhar, é transformar.

Como pretende materializar essas mudanças, ela não diz, nem escreve. Sabe por quê? Porque  não sabe. Não tem a mínima idéia. Ou talvez, vamos ser condescendentes, pense que a REDE sozinha irá dar sustentáculo para uma eventual governança da sua ora coligação. A democracia também prevê concessões. Negá-las apenas para florear discursos é pior que demagogia: é desonestidade.

E por falar em desonestidade, por que lhe falta o pudor ao proferir que a União com o PSB "foi uma defesa da democracia"? Por que e em que a nossa democracia necessita dessa defesa? Onde ela foi ou está ameaçada? Será porque negou o registro do seu partido dado as graves irregularidades, a começar pela falsificação de assinaturas?

Nada que inicia com mentiras, falsificações, autocomiserações, desonestidades, pode prosperar. Marina é um engodo, um embuste.
Diogo Costa

Eleição 2014 - para Dilma e o PT nada mudou

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Aécio e o PSDB perdem feio e Serra volta do além-túmulo. Marina ganha no jogo da dança das cadeiras e Eduardo Campos está no pique aguardando para entrar na brincadeira.

A primeira pesquisa de intenção de votos da Folha de São Paulo para as eleições de 2014, publicada neste sábado - 12/10, após o "fator Marina-PSB" mostrou que tudo mudou para ficar como era antes.

Quem votava em Dilma ou no PT desde sempre continua votando e, aos poucos, sem a forte campanha midiática negativa do primeiro semestre, ela retoma os votos dos que não têm partido definido.

Quem não votava em Dilma ou no PT continua não votando, mas aqui ocorre a mudança. Os anti-petistas deixaram o PSDB e seus candidatos e adotaram Marina Silva.

Ou seja, nada mudou no que diz respeito à capacidade de Dilma e do PT levarem a eleição no 1º ou 2º turno, dependendo do cenário, mas o PSDB perdeu grande parte de sua base de apoio.

Como Aécio e Serra ficam, ambos, atrás de Marina, respectivamente 29X17 e 28X20, a perda é do PSDB e não de algum candidato específico. Ainda que Serra se saia um pouco melhor devido provavelmente ao voto paulista que o mineiro não conseguiu conquistar.

Independente dos números, cabe notar se a qualidade dos votos de Marina. Marina vence entre os que têm maior renda e maior escolaridade. Esse é o perfil do eleitor que votava e ainda vota com o PSDB. Logo, a parcela desse eleitorado que migrou para Marina foi a anti-petista mas que já não se identifica mais com o PSDB também. E essa parcela não é pequena, 12 pontos percentuais no caso de Aécio Neves e 8 pontos em relação a Serra, aqui outra vez, provavelmente, devido ao voto paulista citado acima.

Como Marina ganha também entre os eleitores mais novos – de 16 a 24 anos, ou seja, os sonháticos, é a sua presença que cria o único cenário onde pode haver um segundo turno, independe da presença de Serra ou Aécio.

Agora vejamos, ainda em relação à qualidade desse eleitorado: anti-petistas, desiludidos e sonháticos formam uma "3ª via" política ou são um ajuntado circunstancial?

Essa é uma questão que cabe ao PSDB responder. Como em uma eleição de 2 turnos, no primeiro turno, o terceiro colocado briga com o segundo, Marina deve começar a apanhar dos tucanos e de seus aliados.

Dilma e o PT, neste instante, estão na confortável situação de aguardar o desafiante sobrevivente.

Detalhe importante, Eduardo Campos melhorou muito sua porcentagem, foi de 8% para 15%. Foi o "fator Marina" ou foi o fato de Eduardo ter entrado na campanha e a sua exposição na mídia que lhe trouxe essa melhoria? Aguardemos as próximas pesquisas. A sorte de Marina ou de Eduardo na chapa do PSB depende desse índice.

Ah, a pesquisa de intenções de voto no 2º turno insinua que Marina, por hora, não transfere votos para Eduardo Campos, explico abaixo. Sua melhora seria, portanto, até aqui, por méritos próprios.
2º turno, Marina prende e os outros soltam.

A pesquisa sobre a intenção de votos no 2º turno mostra mais ainda essa opção do anti-petismo por Marina. Embora Dilma ganhe em todos os cenários de 2º turno, é contra Marina que obtém o resultado mais apertado. Perigosos 47 X 41. Ou seja, Marina agregaria no 2º turno boa parte dos votos que no 1º turno teriam sido dados ao PSDB.

Dilma venceria Aécio por 54 a 31 e venceria Serra por 51 a 33. Quando Marina não está presente, seus votos migram majoritariamente para Dilma e não para Eduardo Campos. Em um hipotético 2º turno entre Dilma e Eduardo Campos, Dilma venceria de 54 a 28.

Marina e a detergente luz solar.

Outro fator a se considerar é o índice de conhecimento dos eleitores em relação aos candidatos.

Dilma e Serra são muito conhecidos - 99% e 97%. A opinião dos eleitores em relação a eles e, portanto, o seu índice de rejeição, não deve mudar. Melhor para Dilma - 27% e pior para Serra – 36%.

Surpreendentemente Aécio ainda é pouco conhecido. Dele 57% do eleitorado ou não o conhece (22%) ou só o conhece de ouvir falar (35%). Isso é um péssimo sinal. Aécio esteve muito exposto na mídia há pouco tempo, protagonizou as inserções do programa do PSDB na televisão. Parece que poucos aceitaram seu convite para conversar.

Outra surpresa é o índice de rejeição de Eduardo Campos – 25%. Considerando que 75% do eleitorado ou não o conhece (43%) ou o conhece só de ouvir falar (32%), esse índice é estranho. É muita rejeição para quem é tão pouco conhecido. Como propaganda eleitoral é para falar bem do candidato e não mal, no decorrer da campanha esse índice pode mudar para melhor.

O oposto se dá com Marina Silva. Ela tem a menor rejeição – 17%. Ocorre que Marina Silva apesar de muito conhecida – 88%, tem apenas 23% do eleitorado que declara que a conhece muito bem, só para termos de comparação, 56% do eleitorado declara conhecer Dilma muito bem. 35% do eleitorado diz conhecer Marina um pouco, 31% a conhece só de ouvir falar e 12% não a conhece. Logo, 77% desse eleitorado ainda tem o que conhecer a respeito de Marina.

Qual o problema? O problema é que Marina cultiva para si mesma junto ao eleitorado uma figura mítica. Algo como a sacerdotisa ou fada madrinha da floresta, pura e benfazeja. Mas Marina, como política, é um poço de contradições.

É a ecologista evangélica criacionista e é a progressista conservadora que defende o direito das mulheres e minorias, mas é contra a descriminação do aborto e contra o casamento ou mesmo o relacionamento homo-afetivo. É a participativa intolerante, é a verborragia "propositiva e programática" sem proposta e é a "sustentabilidade da nova política horizontalizada em rede", mas filiada a um partido político tradicional e suas alianças nem sempre alicerçadas em "coerência ideológica".

A campanha não levará Marina a ser mais conhecida, mas o eleitor a conhecer melhor Marina e as suas contradições.

O que acontecerá então? Não sei. Mas sei que os votos que migram de Marina vão para Dilma.

Pelo menos, é o que mostra a pesquisa da Folha deste sábado.

Sérgio Saraiva

Eduardo Campos é um infeliz. Prega uma moral que não prática

A chegada de Marina Silva ao PSB fez de Eduardo Campos um personagem paradoxal. Na corrida presidencial, ele passou a enfatizar a tese segundo a qual é preciso combater o status quo, adotando novas práticas políticas. No governo de Pernambuco, administra o status sem mexer no quo.

A caminho do término do seu segundo mandato, Eduardo Campos nunca se deu ao luxo de moralismos e ideologias na composição do seu secretariado. Conforme relata o repórter Jamildo Melo, a gestão dele é apoiada por um condomínio partidário de 14 siglas. Desse emaranhado não sai coelho. Sai jacaré, Inocêncio Oliveira (PR), cobra, Severino Cavalcanti (PP)…

Inocêncio Oliveira, um ex-pefelê que se alojou no PR do mensaleiro Valdemar Costa Neto, é um político de muitas façanhas. A mais memorável foi ter recorrido ao Departamento Nacional de Obras contra a Seca, o Dnocs, para cavar poços em dois empreendimentos de sua propriedade – uma clínica médica e uma revendedora  de motocicletas. Fez isso numa época em que presidia a Câmara.

Aliado de Eduardo Campos desde a campanha de 2006, Inocêncio foi premiado no primeiro mandato com duas vistosas secretarias: Agricultura e Transportes. Nesta última, acomodou um primo: Sebastião Oliveira. No mandato atual, Inocêncio indicou apaniguados para a Secretaria de Turismo e para o Porto de Recife.

Severino Cavalcanti, outro ex-pefelê, esse alojado no PP de Paulo Maluf, também é personagem de façanhas múltiplas. Eleito presidente da Câmara numa sublevação do baixo clero parlamentar, pediu a Lula "aquela diretoria da Petrobras que fura poço."

Antes de ser posto a nocaute por um concessionário de restaurante de quem cobrava um mensalinho, levou uma descompostura de Fernando Gabeira, então deputado do PV, por defender numa entrevista que a turma do mensalão recebesse da Câmara apenas "censuras", não a cassação dos mandatos.

Gabeira foi ao microfone de apartes do plenário numa hora em que Severino presidia a sessão. Dedo e língua em riste, disparou: "Vossa Excelência está se comportando de maneira indigna." Recordou que Severino já havia defendido até uma destilaria pernambucana que explorava trabalho escravo.

"Vossa Excelência está em contradição com o Brasil. A sua presença na presidência da Câmara é um desastre para o Brasil e para a imagem do país", esculachou Gabeira, amigo de Marina Silva.

De fato, o Brasil revelou-se grande demais para Severino. Ele desceu do comando da Câmara para a prefeitura de João Alfredo, sua cidade. Mas encontrou espaço na megacoligação de Eduardo Campos, que nomeou sua filha, Ana Cavalcanti, para o comando da Secretaria de Esportes.

O arcaísmo político de Eduardo Campos materializou-se também numa cruzada que empreendeu há dois anos. Com 222 votos, a então deputada Ana Arraes (PSB-PE) venceu a disputa por uma poltrona no TCU. Seu principal rival, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) só obteve 149 votos.

Advogada e servidora licenciada do Tribunal de Contas de Pernambuco, Ana prevaleceu graças a outra credencial: sua condição de mãe, uma carreira que dispensa exames psicotécnicos, cursos universitários e antecedentes funcionais. Virou ministra do TCU graças ao esforço do filho Eduardo.

Nepotismo?, indagaram os repórteres à mãe do governador. E ela: "Se o nepotismo é feito pelo povo, então é o voto do povo. [...] É uma honra criar um filho como Eduardo. […] Pergunte ao povo de Pernambuco como ele está satisfeito. Ele [Eduardo] tem 92,5% de satisfação da população."

A chegada de Ana ao TCU fez aniversário de dois anos no mês passado. O salário é bom: R$ 25 mil mensais. As férias, generosas: dois meses por ano. Os benefícios assemelham-se aos que ela tinha quando era deputada: gabinete bem estruturado, carro oficial e cota de passagens. A diferença é que o posto é vitalício.

Ao tomar posse, assistida pelo filho e por Dilma Rousseff, a mãe de Eduardo Campos disse logo a que veio. Fiscalização do TCU não pode resultar na paralisação de obras públicas, ela declarou na época. "O controle deve servir para aperfeiçoar a gestão dos governos e não para paralisá-la, quando não inviabilizando-a, pois é fugaz o tempo de quem governa."

Menos de um ano depois da posse, em julho de 2012, guiando-se por um voto da ministra Ana Arraes o TCU considerou "regular" um contrato celebrado pela agência de propaganda DNA, que pertencia a Marcos Valério, com o Banco do Brasil. Um negócio de R$ 153 milhões anuais, que vigorou entre 2003, primeiro ano de Lula, e 2005, quando estoutou o escândalo do mensalão.

Na denúncia que deu origem à ação penal do mensalão, a Procuradoria Geral da República sustentara que parte do dinheiro que financiara o mensalão viera de irregularidades praticadas nesses contratos. O próprio TCU já havia apontado irregularidades na transação. Porém, a ministra Ana Arraes deu de ombros para os relatórios do corpo técnico do tribunal e para o parecer do procurador Paulo Bugarin, representante do Ministério Público junto ao TCU.

dali a poucos dias, o julgamento do mensalão, a notícia de que o TCU desqualificara uma das provas da Procuradoria repercutiu mal. Poucos dias depois, o próprio TCU suspenderia os efeitos da decisão. A representação do Ministério Público no tribunal recorrera contra a decisão. E o recurso tinha efeito suspensivo.

Em 20 de setembro de 2012, quando os ministros do STF já se debruçavam sobre o mensalão, Eduardo Campos imprimiu suas digitais num manifesto em que o PT acusava a oposição de transformar o mensalão num "julgamento político, golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula". Agora, o aliado de Marina enrola-se na bandeira da decência na política e diz que o PT precisa se atualizar.

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A mãe faz o filho sofrer

O parto da girafa é feito com ela em pé, de modo que a primeira coisa que acontece com o recém-nascido é uma queda de aproximadamente dois metros.

Ainda tonto, o animal tenta firmar-se nas quatro patas, mas a mãe tem um comportamento estranho: ela dá um leve chute, e a girafinha cai de novo ao solo. Tenta levantar-se, e é de novo derrubada.

O processo se repete várias vezes, até que o recém-nascido, exausto, já não consegue mais ficar de pé. Neste momento, a mãe novamente o instiga com a pata, forçando a levantar-se. E já não o derruba mais.

A explicação é simples: para sobreviver aos animais predadores, a primeira lição que a girafa deve aprender é levantar-se rápido. A aparente crueldade da mãe encontra total apoio em um provérbio árabe: "às vezes, para ensinar algo bom, é preciso ser um pouco rude".

Marina e Campos - a coalizão do ódio

Mais uma saraivada de verdades da metralhadora verborrágica de Ciro Gomes

O rancor e ambição pessoal unem Marina Silva a Eduardo Campos
Causou surpresa ao meio político e à mídia o anúncio do acordo entre Eduardo Campos, legatário do PSB, e Marina Silva, líder da assim chamada Rede Sustentabilidade, aquele partido que viria para revogar “tudo que está aí” e fundar uma nova forma de fazer política. Fui colega dos dois no ministério do primeiro governo Lula. Conheço razoavelmente ambos. Vou dar um palpite que o futuro definirá se válido ou não.
O cimento dessa abrupta reunião é um dos mais sólidos que a natureza humana pode oferecer: o ódio. Neste caso crescente e que ambos alimentam pela coalizão liderada pela presidenta Dilma Rousseff.
O choque de Marina Silva com o PT tem a ver com uma porção de coisas, mas fundamentalmente tem a ver com a disputa entre ela e Dilma nos tempos do ministério. Uma encarregada de Energia e Minas, a outra do Meio Ambiente. Só para que se tenha uma ideia, Marina queria que o Brasil assinasse uma convenção internacional declarando não renovável a energia hidráulica, pondo sob suspeita de insustentabilidade praticamente toda a base produtiva brasileira.

O elefante e a corda

Eis o procedimento adotado pelos treinadores de circo, para que os elefantes jamais se rebelem – e eu desconfio que isso também se passa com muita gente.

Ainda criança, o bebê-elefante é amarrado, com uma corda muito grossa, a uma estaca firmemente cravada no chão. Ele tenta soltar-se várias vezes, mas não tem forças suficientes para tal.

Depois de um ano, a estaca e a corda ainda são suficientes para manter o pequeno elefante preso; ele continua tentando soltar-se, sem conseguir. A esta altura, o animal passa a entender que a corda sempre será mais forte que ele, e desiste de suas iniciativas.

Quando chega a idade adulta, o elefante ainda se lembra que, por muito tempo, gastou energia à toa, tentando sair do seu cativeiro. A esta altura, o treinador pode amarrá-lo com um pequeno fio, num cabo de vassoura, que ele não tentará mais a liberdade.
Paulo Coelho