Lá nas gringas, houve um período no qual o rock perdeu a ingenuidade. Os palcos foram ficando maiores, as drogas mais pesadas, as mortes dos artistas se tornando frequentes. Houveram retornos, tentativas de retomada da velha pureza. Veio o punk e derivados, com sua veia ainda mais transgressora. Mas mesmo ele foi incorporado.
As pessoas e os artistas começaram a notar que ir até os extremos tem um preço e tudo pode ser empacotado e vendido. Entre altos e baixos, o rock tomou as atuais proporções e ocupou os comerciais de quaisquer empresas que queiram ser um pouco mais descoladinhas. Os alarmes foram acionados nos corações das pessoas e parece que todo mundo está notando que tem algo errado.
O rock realmente parece um pouco mais morto.
Porém, talvez isso não seja tão verdade assim. É provável que, pelo contrário, o rock (aliás, não só ele) está, mais do que nunca, na linha de frente, na vanguarda de si próprio, nos lugares onde a vanguarda é feita: os pequenos bares, guetos e periferias.
Como Martin Scorsese diz em sua carta à sua filha, estamos em um dos melhores períodos da história para a criatividade e a arte. Temos equipamento acessível, podemos gravar material de qualidade dentro de casa, temos video-tutoriais por todo lado na internet.
Não faltam recursos, não falta o conhecimento. Porém, mais do que nunca, o fator humano conta. Os fatores limitantes não são mais tão logísticos.
O rock n’ roll sempre deu voz aos excluídos. Não que eles fizesse m rock, mas sempre falavam pra eles ou com eles. Jovens, trabalhadores, mulheres, indígenas mexicanos. A facilidade em tocar e absorver melodia e mensagem, a catarse de se cantar junto, de se movimentar, de inspirar e cuspir frustração e hormônio sempre foi o catalizador do rock.
Hoje, o rap, o hip-hop, o funk tomaram essas qualidades de assalto. Não confunda “não entendi” com “não gostei”. Se você não gosta desses novos estilos, é porque eles não são para você. Liberdade da sexualidade, o desabafo da violência na cidade, música “fácil” feita deles para eles.
O rock já foi assim um dia.
Hoje, o rock