O que petista paga, você vê aqui.
Queremos ver os grandes sonegadores pagarem o que devem ao fisco.
Globo, Itaú, Natura...mostrem o DARF?
O que petista paga, você vê aqui.
Queremos ver os grandes sonegadores pagarem o que devem ao fisco.
Globo, Itaú, Natura...mostrem o DARF?
E perspectiva é que nos faz ver as coisas como nos parece ser.
O raciocínio, o estudo é que nos faz enxergar como ela de fato são.
“Existe uma militância política que não precisa ser paga – e que até paga, ela própria, do jeito que pode – para apoiar um partido, porque apóia as ideias e o significado destas ideias sobre a vida dos brasileiros.”
Artigo publicado no Tijolaço
Os jornais não disfarçam seu espanto com as doações públicas para que José Genoíno, primeiro, e agora Delúbio Soares paguem as multas que receberam do Supremo Tribunal Federal.
Claro que pode até haver alguma mutreta de algum depósito feito por gente “muy amiga” para desmoralizar a arrecadação de fundos, e é bom que se verifique isso.
Mas nenhuma eventual “armadilha” nesta “vaquinha” esconde o seu principal ensinamento.
Se o protagonismo de José Genoíno nas lutas contra a ditadura, seu drama pessoal de saúde e a comovente solidariedade de sua família – sua filha Miruna tornou-se um símbolo de integridade e amor filial – o que poderia explicar o apoio público de Delúbio Soares, um colaborador de segundo escalão do PT e o que mais foi vilanizado em toda essa história do chamado “mensalão”.
A lição preciosa deste episódio é algo que, ao longo do tempo, boa parte da direção do PT parece ter se esquecido.
A de que existe uma militância política que não precisa ser paga – e que até paga, ela própria, do jeito que pode – para apoiar um partido, porque apóia as ideias e o significado destas ideias sobre a vida dos brasileiros.
A de que existe, fora da mídia e do mercado, gente que tem opinião e valores, que entende que existe uma luta de afirmação deste país e que está aí, pronta e ansiosa por quem a mobilize por uma causa, mesmo que a espinhosa causa de apoiar quem foi condenado num processo que, embora político até a medula, foi sentenciado num tribunal.
A “vaquinha” não foi contra a justiça nem por piedade humana.
Foi um gesto político, mostrando que há milhares de pessoas prontas a deixar seu conforto, seus interesses pessoais e a se expor, corajosamente, por uma causa que não é a figura de Delúbio ou mesmo a de José Genoíno, com todo o brilho e respeito que ela merece.
A causa é o processo de transformação do Brasil.
Pela qual, meu deus, parece que muitos dirigentes políticos, acham inútil levantar orgulhosamente a bandeira.
Reduzem a política a acordos, posições, verbas, favores, influência e – sejamos sinceros – recursos para candidaturas.
É claro que na prevalência dantesca que o dinheiro assumiu na vida política brasileira, só um tolo teria a ilusão de que uma campanha – sobretudo as majoritárias – pudesse funcionar apenas com “vaquinhas”.
Os grandes doadores, com a impureza de intenções com que doam, continuarão a ser fonte essencial de financiamento de campanhas, enquanto não se adotar o financiamento público que a direita tanto combate.
As pequenas doações desta “vaquinha”, porém, revelam algo além de seu valor monetário e que não deve ser comemorado, mas ser, sim, objeto de reflexão.
Há quanto tempo o PT e o governo que, sob sua legenda, o povo brasileiro elegeu e reelegeu, não faz uma “vaquinha cívica” pelas causas que o levaram até lá?
Há quanto tempo não se dirigem à opinião pública para dizer que precisam da pequena mobilização que cada um pode dar para criar um caudal de vontade que sustente as mudanças?
Onde está a polêmica, a contestação ao que o coro da mídia diz – como disse dos acusados no “mensalão” – de que tudo está errado e o status quo é perverso, mau e contrário aos direitos do povo brasileiro?
Não é preciso ser radical ou furioso, mas é preciso ser firme e claro.
Os líderes políticos – e os governos que sob sua liderança se erigem – têm um papel didático e mobilizador a desempenhar para com o povo brasileiro.
Sem bandeiras, ele não se une, mas está pronto a unir-se quando estas se levantam, mesmo que absolutamente “contra a maré”, como ocorreu nestes casos.
Precisamos, urgentemente, de uma “vaquinha cívica” pelo Brasil.
Pelo projeto de afirmação que se expressa no desenvolvimento, onde o Estado – e apenas ele – é o fio condutor de políticas eficazes e justas, porque o “santo mercado” é, historicamente, incapaz e mesquinho para tudo o que não seja dinheiro rápido e cego para qualquer visão estratégica de Nação.
Assistimos o Estado brasileiro e suas ferramentas de progresso econômico – a Petrobras, o BNDES, a Caixa, a Eletrobras, o Banco Central – serem diariamente massacradas nos jornais e nas tevês e não vemos, quase nunca fora das campanhas eleitorais, buscar-se a solidariedade da população.
Uma solidariedade que existe e que vive adormecida pela incapacidade – ou opção errônea – de não ser anunciada aos quatro ventos, em lugar de serem gaguejadas explicações e “desculpas” aos senhores do poder real: o poder econômico.
Uma solidariedade que precisa ser despertada, sob pena de que também os nossos sonhos venham a ser condenados.
Eduardo Fagnani [1]
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) acabou de lançar o Relatório de Monitoramento Global Educação para Todos. [2]
O documento tem por objetivo avaliar os progressos mundiais no cumprimento dos seis objetivos estabelecidos por 164 países reunidos no Foro Mundial sobre Educação realizado em Dakar em 2000. Na ocasião foi aprovado o “Marco de Ação de Dakar 2000”, intitulado “Educação para Todos: Cumprir nossos compromissos comuns”.
O relatório é leitura obrigatória para aqueles que lutam pela promoção da educação de qualidade como direito universal. Com mais de 500 páginas, o documento apresenta os progressos obtidos em cada um dos seis objetivos fundamentais estabelecidos em Dakar. [3] As demais partes abordam temas específicos como financiamento, crise da aprendizagem, qualidade do ensino e estratégias para capacitação dos docentes. Na parte final são feitas recomendações específicas sobre diversos aspectos. O ponto crítico do relatório é que nenhum dos seis objetivos estabelecidos será cumprido globalmente até 2015.
Apontado diversas vezes como exemplo positivo, o Brasil conseguiu atingir as metas de "educação primária universal" e "habilidade de jovens e adultos", mas ainda precisa avançar para melhorar a qualidade do ensino e diminuir os índices de analfabetismo. Ao apresentar o relatório a coordenadora da UNESCO no Brasil assinalou alguns dos problemas crônicos da educação nacional. Todavia, ressaltou que “não podemos negar os grandes avanços que o Brasil apresentou" (UNESCO aponta má qualidade como principal problema da educação no Brasil. 29/01/2014; www.terra.com.br).
Ignorando a riqueza do relatório, os “pessimistas crônicos” voltaram ao ataque. Resumiram as 500 páginas do documento na seguinte manchete, reproduzida em uníssono pelos meios de desinformação: “Brasil é o 8° país com maior número de analfabetos adultos, diz UNESCO”.
Se não estiverem mirando nas eleições de 2014, essa “síntese analítica” revela dois traços dos controladores da informação. Primeiro, o analfabetismo funcional corre solto. Leem textos, mas não os compreendem perfeitamente.
Segundo, a incompetência para analisar dados. O Brasil é o quinto país mais populoso do mundo. É óbvio que em termos absolutos tem mais analfabetos que Nauru, o segundo país menos populoso do mundo. A lógica elementar sugere que o fenômeno seja analisado em relação à população total do país em questão (taxa de analfabetismo).
O mais impressionante é que essa manchete não está escrita no documento da UNESCO. O relatório apenas ressalta que “em 10 países vivem 557 milhões de adultos analfabetos, o que representa 72% da população de adultos analfabetos do mundo” (página 82). No gráfico que ilustra o texto (“72% da população mundial de adultos analfabetos se concentra em 19 países”) o Brasil aparece acompanhado de alguns dos países mais populosos do mundo (China, Índia, Indonésia, Paquistão e Nigéria, entre outros).
Esse duplo equívoco também foi cometido pela ex-senadora Marina Silva (FSP, 31/01/2014): “A UNESCO divulgou relatório que coloca o Brasil – entre 150 países pesquisados – em 8º lugar no número de analfabetos adultos”. Esse dado contestaria as afirmações de Dilma Rousseff em favor da educação nacional feitas no Fórum Econômico Mundial. “O Brasil fica longe de Davos”, sentencia. A ex-senadora aponta ainda que “os investimentos do Ministério da Educação caíram 13% de janeiro a novembro de 2013 em relação ao mesmo período do ano anterior”.
Sabemos todos que a educação no Brasil tem raízes históricas profundas (CARVALHO, 2001) que não foram enfrentados pelos curtos períodos de democracia do século passado. A partir da Constituição de 1988 o Brasil tem feito um enorme esforço para enfrentar o inaceitável quadro da Educação Nacional. Entre 1992 e 2011 a taxa de analfabetismo (15 anos e mais) caiu de 17,2 para 8,4% (IBGE/PNAD). É provável que a meta estabelecida em Dakar (6,3%) para 2015 não será atingida. Mas fizemos avanços e estamos próximos dela.
É importante observar que a taxa de analfabetismo é crescente a partir dos grupos etários com mais de 30 anos, atingindo 11,1% para as pessoas entre 50 a 59 anos e 24,5% para quem tem 60 anos e mais. O fato positivo é que o analfabetismo das pessoas mais jovens é relativamente menor. Entre 12 e 14 anos, por exemplo, a taxa caiu de 12,1 para 1,2 % entre 1992 e 2011.
Em relação aos gastos com educação, a ex-senadora deveria saber que entre 2003 e 2010 os gastos federais mais que dobraram (valores constantes), passando de R$ 18,8 para 45,5 bilhões (IPEA, 2012). Dentre as ações empreendidas, destacam-se, especialmente, os esforços para a universalização do ensino infantil: entre 2003 e 2011 o percentual de crianças de 5 a 6 anos que não estava na escola caiu de 21,3 para 8,4%. Aprofundar esse esforço é um importante antidoto contra o analfabetismo ao mesmo tempo em que favorece a educação de qualidade.
Apesar dos avanços nas últimas décadas, a educação nacional ainda acumula desigualdades e ausências. A escolaridade media da população é baixa em relação aos parâmetros internacionais. O analfabetismo de jovens e adultos permanece elevado. A universalização da oferta ainda apresenta lacunas no ensino infantil, médio e superior. Estar na escola não garante o aprendizado e a questão da qualidade permanece viva.
Para enfrentar esses desafios temos que nos distanciar de Davos, ao contrário do que prega a ex-senadora.
Referências:
CARVALHO, José M (2001). Cidadania no Brasil: o longo caminho. RJ: Civilização Brasileira.
IPEA, (2012). Gasto Social Federal: uma análise da prioridade macroeconômica no período 1995-2010. CASTRO, J.A e outros; Brasília. Nota técnica 9.
[1] Professor do Instituto de Economia da Unicamp, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e do Trabalho (CESIT/IE-UNICAMP) e coordenador da rede Plataforma Política Social – Agenda para o Desenvolvimento (www.politicasocial.net.br).
[2]http://www.unesco.org/new/es/education/themes/leading-the-international- agenda/efareport/reports/2013/
[3] De forma sintética: 1) Estender e melhorar a educação integral da primeira infância;
2) Garantir o acesso ao ensino primário gratuito e obrigatório de boa qualidade;
3) promover as necessidades de aprendizagem de todos os jovens e adultos;
4) Reduzir pela metade a taxa de analfabetismo dos adultos;
5) Garantir a igualdade entre géneros com relação à educação;
6) melhorar todos os aspectos qualitativos da educação.