Madrasta do texto ruim analisa o programa de governo do presidenciável do Psdb

Eu ameacei fazer isso em 2012 com os programas de governo dos candidatos à prefeitura de São Paulo, mas me enrolei e desisti.
Ontem eu abri o site do TSE e resolvi que não podia deixar de analisar o programa de governo dos PSDB. (clique no link  Aécio Neves da Cunha e na aba Propostas de Governo).
Antes que você prossiga: esta é uma análise de uma simpatizante do PT. Obviamente, a análise será parcial. Teje avisado e não me encha o saco, se continuar a ler estarás por tua conta e risco.
Enfim. Sabe quando você tem (tinha) que caprichar no trabalho final da escola pra passar de ano, mas você tá(va) pouco se lixando pra matéria, daí você faz(ia) um trabalho nas coxas, dando pouca atenção ao assunto?
Qualquer estudante conhece a receita: você copia(va) um monte de troço legal de tudo quanto é canto, mas não dá(va) a liga final no texto. O professor, óbvio, percebe(ia) suas intenções, mas ele tá(va) doido pra se ver livre de você, então te dá(va) uma nota qualquer pra você passar de ano?
Pois é. Cabei de descrever o plano de governo do PSDB, disponível no site do TSE. Sim, eu li tudo. De cabo a rabo. Não, não estou passando mal. O texto é bacana. Mal redigido, mas bacana. O problema é que o troço é um arrazoado de boas e teóricas intenções, que por vezes se tornam risíveis quando a gente pensa na prática dos governos do PSDB.
Como eu já disse, o texto é bem bacana. Tem um monte de propostas lindas e vagas. Mas metas, métodos, formas e maneiras de implementação de propostas? Virei, fucei, revirei, botei de cabeça pra baixo e sacudi. Encontrei nada.
Voltando pra metáfora do aluno ixperrto. Imagine que, além de querer se safar da matéria, o aluno em questão resolveu copiar o que o melhor aluno da sala está fazendo pra ver se consegue fazer que o professor lhe dê nota mais alta. Não entendeu a alusão? Traduzo:
- a expressão nos moldes aparece duas vezes, em alusão ao Minha Casa Minha Vida e ao Pronatec. No meio do texto, encontramos a sugestão de aprimoramento” do programa Ciência sem Fronteiras
- A palavra aprimoramento surge em dois momentos, em ambos com complementos nominais diferentes: do modelo do Pronatec e do Enem.
- a expressão Manutenção e aprimoramento surge junto de Prouni e Fies.
- PSDB se garrô de amor pela expressão marco regulatório. Somando singular e plural, a bicha é citada sete vezes. No singular, são quatro vezes, para cuidar das regulações de Terceiro Setor, mineração, administração (no ponto de macroeconomia) e setor sucroalcoleiro. No plural, aparece em três momentos: regularização de imóveis ocupados por sem-teto, de maneira genérica no quesito empreendedorismo (Simplificação dosmarcos regulatórios que impactam as atividades acadêmicas e empresariais de inovar e empreender.) e para regular o trânsito em pequenas cidades.

A receita da redação do texto é a seguinte:

Tarja branca

Para despertar a criança que existe em você

Daniel acorda porque o olho pulsa. Eu acordo porque o despertador toca.
Quando anda, pula e imita sapo. Sobe na mesa e pula no chão. Dou risada, quanta energia, vem sapinho! “Sou dinossauro!” Inventa um pulo novo (de canguru, denomina de imediato). Dá cambalhota, estrela, fica de cabeça pra baixo. Não anda: oscila entre correr e inventar passos novos. Canso de olhar, encosto na cadeira, que fôlego Daniel tem!
Eu não pulo. À noite tenho uma hora e dez minutos na academia. Cronometrados. Passo séries agachando olhando minha própria imagem no espelho, separando meus movimentos em exercícios. Puxo uma barra para o bíceps, quase morro. De tédio. Acabo rápido para mais trinta minutos de caminhada feito rato de laboratório. Na televisão alguma bobagem me entretém enquanto conto os segundos para fugir de carro daquele lugar iluminado.
Passo o dia me arrastando entre compromissos. Olhar pro lado não posso, já são dez pra alguma hora, em cinco tenho que chegar, se não chegar em dois tenho que ligar, daí preciso correr mais. Chego e tenho compromisso. Não tenho tempo para o ócio, olhar no olho não consigo, desculpa, estou atarefada.
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Não acredito em ninguém na entrada do metrô. Dos que pedem dinheiro ou informação. Sou ressabiada, passo reto, converso pouco, seguro a bolsa, pego o celular: me divido entre me esconder nele e esconder ele. Sou triste no metrô.
Daniel vai para a escola sem se importar com o meio de transporte. Ele olha o mundo. Dorme no ônibus, cantarola pelo caminho. Quando a pé, conhece os cachorros de todas as casas, as árvores das quais mais caem folhas, os chãos de todas as calçadas.
Não romantizo a infância. Daniel se irrita. Sabe que pode mandar. Sabe ser cruel. Diz que não gostou do presente, que o bolo da tia é ruim, chora a alma porque está cansado e nem sabe. Mas quando acorda irritado não engole o choro e vai trabalhar. Não esconde o que sente. Grita, chora, se joga no chão, às vezes não consegue ouvir não.
Daniel tem a vida toda para aprender a se comportar. Tomara que ele entenda que crescer não é esconder sentimentos. Tomara que ele continue a fluir, tomara que a gente reaprenda com ele a brincar.

Tarja Branca: a revolução que faltava“, é um documentário brasileiro dirigido por Cacau Rhoden e feito pelo mesmo time dos incríveis “Criança, a alma do negócio” e “Muito além do peso“.
Para além da infância, o documentário fala do remédio que nossas sociedades estão esquecendo de tomar. Crianças e adultos cada vez mais distantes da cultura popular, da ludicidade, do senso de comunidade, de pertencimento a um grupo: estamos todos perdendo qualidade de vida junto com nossa capacidade de brincar.
Num equívoco imenso, associamos o brincar a não-seriedade, zombaria, imaturidade. Mas brincar é essencial para nossa sobrevivência e o documentário traz relatos de gente encantadora contando de suas infâncias e de suas brincadeiras de gente grande.
Tarja Branca é um filme para sair do cinema querendo pular corda, dançar na chuva, correr pelo parque, ser mais leve e reaprender a despertar o lúdico dentro da gente. Recomendo para a criança que existe dentro de você.
Isabella Ianelli


Pedagoga interessada em arte e educação. Escreve no blog Isabellices e responde por @isabellaianelli no Twitter.

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Definição do beijo

1 - Em física: Contração da boca devido à expansão do coração.
2 - Contabilidade: É um crédito, porque é lucrativo quando se recebe de volta.
3 - Em economia: Um artigo para o qual a procura é maior que a oferta.
4 - Em odontologia: É contagioso e antisséptico. (Autor desconhecido)
pinçado da coluna É de Neno Cavalcante no Diário do Nordeste

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Paul Krugman - o dogma da incompetência

Tivesse o economista trocado o assunto do artigo abaixo (Lei de saúde a preço acessível - por organização da Copa) daria no mesmo. Por que de fato a essência do texto diz respeito ao título. Onde tiver reforma da saúde, leia "organização da Copa", o resultado será o mesmo. Confiram:


Você tem acompanhado as notícias sobre o Obamacare? A Lei de Atendimento de Saúde a Preço Acessível (a reforma da saúde de Obama) saiu da primeira página, mas as informações sobre como está se saindo continuam chegando – e quase todas as notícias são boas. De fato, a reforma da saúde prossegue bem desde março, quando ficou claro que as inscrições superariam as expectativas apesar dos problemas no site federal.

O que é interessante a respeito dessa história de sucesso é que tem sido acompanhada a cada passo por gritos de desastre iminente. A esta altura, no meu entender, os inimigos da reforma da saúde estão tomando de 6 a 0. Isto é, eles fizeram pelo menos seis previsões distintas sobre como a Obamacare fracassaria – e todas elas erraram.

"Errar é humano", escreveu Sêneca. "Persistir é diabólico." Todo mundo faz previsões incorretas. Mas estar tão errado de modo tão consistente exige um esforço especial. Logo, do que se trata isso?

Muitos leitores não ficarão surpresos com a resposta. Trata-se de política e ideologia, não de análise. Mas apesar dessa observação não ser particularmente surpreendente, vale a pena apontar o quanto a ideologia pisou nas evidências no debate da política de saúde.

E não estou falando apenas de políticos; eu estou falando dos especialistas. É impressionante o quanto os supostos peritos em saúde fizeram alegações sem base a respeito da Obamacare. Por exemplo, lembra do "choque de preços"? No final do ano passado, quando recebemos as primeiras informações sobre os prêmios dos planos de saúde, os analistas conservadores de saúde se apressaram em alegar que os consumidores sofreriam um aumento enorme de gastos. Estava óbvio, mesmo àquela altura, que as alegações eram enganadoras; nós agora sabemos que a grande maioria dos americanos que compraram planos pelas novas bolsas está obtendo cobertura a preço mais baixo.

Ou lembre das alegações de que as pessoas jovens não se inscreveriam, de modo que a Obamacare sofreria uma "espiral de morte" de alta dos custos e encolhimento das inscrições? Não está acontecendo: uma nova pesquisa Gallup aponta que mais pessoas obtiveram seguro-saúde por meio do programa e que o mix etário dos novos segurados é muito bom.

O que era especialmente estranho a respeito das previsões incessantes de desastre da reforma da saúde é que já sabíamos, ou deveríamos saber, que um programa na linha da Lei de Atendimento de Saúde a Preço Acessível provavelmente funcionaria. A Obamacare foi modelada mais ou menos de acordo com a Romneycare, que funciona no Estado de Massachusetts desde 2006, e tem forte semelhante com sistemas bem-sucedidos no exterior, como na Suíça, por exemplo. Por que o sistema seria inviável nos Estados Unidos?

Mas uma convicção firme de que o governo não é capaz de fazer nada útil – uma crença dogmática na incompetência do setor público – agora é uma parte central do conservadorismo americano, e o dogma da incompetência evidentemente impossibilitou uma análise racional das políticas.

Nem sempre foi assim. Se você voltar duas décadas, até a última grande batalha em torno da reforma da saúde, os conservadores pareciam relativamente cientes das perspectivas da política, apesar de profundamente cínicos. Por exemplo, o famoso memorando de William Kristol de 1993, pedindo aos republicanos para matarem a reforma da saúde de Clinton, alertava explicitamente que a Clintoncare, se implantada, poderia ser vista como bem-sucedida, o que, por sua vez, desferiria "um duro golpe contra as alegações republicanas de defesa da classe média ao restringir o governo". Logo, era crucial assegurar que a reforma nunca acontecesse. De fato, Kristol dizia para algumas pessoas que as histórias sobre a incompetência do governo são coisas vendidas aos eleitores para fazê-los apoiar cortes de impostos e desregulamentação, não algo em que você necessariamente acredita.

Mas isso foi antes dos conservadores recuarem plenamente para seu próprio universo intelectual. A "Fox News" ainda não existia. Os analistas de políticas dos centros de estudos de direita costumavam iniciar suas carreiras em empregos relativamente não políticos. Ainda era possível entreter a noção de que a realidade não era o que você desejava que fosse.

Agora é diferente. É difícil pensar em alguém na direita americana que já tenha considerado a possibilidade de que a Obamacare pudesse funcionar ou que esteja disposto a admitir essa possibilidade em público. Em vez disso, até mesmo os supostos especialistas continuam vendendo histórias improváveis de desastre iminente, mesmo após suas chances de deter a reforma da saúde terem acabado, e eles vendem essas histórias não apenas para os caipiras, mas também uns para os outros.

E vamos ser claros: apesar de ter sido divertido ver a direita se agarrar às suas ilusões a respeito da reforma da saúde, também é assustador. Afinal, essas pessoas mantêm uma capacidade considerável de promover estragos políticos e, algum dia, podem retomar a Casa Branca. E você realmente não quer ali pessoas que rejeitam os fatos de que não gostam. Quero dizer, elas poderiam fazer coisas impensáveis, como começar uma guerra sem motivo. Oh, espere...

O pig como ele é

Os jornalecos O Globo, Folha, Restadão e demais veículos de comunicação capitaneados pela (in)Veja, passaram os últimos dois anos malhando o governo federal por usar dinheiro público nas "obras da Copa". Pois bem, sabe qual é a crítica agora?...

Estão criticando os altos juros que os bancos públicos cobraram pelos financiamentos destas obras. São um bando de sem-vergonhas mesmo esses penas de aluguel e seus chefões. Mas, o que me diverte é ver um punhado de jênios concordarem, curtirem e compartilharem estas babaquices de mafiosos.
Corja!

Charge do dia

No Império Oriental do Fah-Bulah

[...] A exemplo do Brasil, Fah-Bulah decidiu começar tudo de novo. A soberana Hou-Sefi 2ª, da dinastia Peh-Teh, herdeira política de Luh-Lah 1º, 'O Grande', disputa o amor do povo com os jovens Hae-Cioh e Duh-Duh-Kã-Pos.

O povo de Fah-Bulah, de tradição pacífica, deu para protestar nas ruas. O que levou Hou-Sefi 2ª a concluir que o império padece de excesso de felicidade. Farto de tanto progresso econômico e social, o povo exige mais prosperidade. Daí o anúncio de que a soberana deseja uma nova Fah-Bulah —com povo mais otimista e com comerciantes dispostos a lucrar menos, pelo bem do império.
Hae-Cioh e Duh-Duh-Kã-Pos alegam que uma nova Fah-Bulah só será possível se a dinastia Peh-Teh for arrancada do poder. Espécie de imperador emérito, Luh-Lah 1º, 'O Grande', defende com tenacidade o seu legado.
Ele afirma que, sob a aparência jovial de Hae-Cioh, esconde-se um abominável homem das Neves, que ameaça mastigar os benefícios sociais e engolir os empregos criados na Era Peh-Teh. Quanto a Duh-Duh-Kã-Pos, Luh-Lah 1º insinua que ele cospe no prato em que comia até ontem.
Um dos principais obstáculos para o surgimento de uma nova Fah-Bulah é a proliferação de ratos. Eles estão em toda parte, sobretudo nas proximidades dos cofres. Para cada homem, existem pelo menos dez ratos no império.
São ratos diferentes. Em vez de roer, sugam. Em maioria, os ratos lutam por uma Fah-Bulah mais, digamos, ratocêntrica. Não querem mais ser chamados de ratos, mas de “aliados''. O povo vai ratificar?, eis a grande dúvida que o repórter tentará elucidar durante o recesso. A experiência do Império oriental de Fah-Bulah pode ser muito útil para compreender o que sucede no Brasil.

by Josias de Souza
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