Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista com Alberto Carlos de Almeida Diretor do Instituto Análise e doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).
Boca de Urna – Com as críticas às ligações do PT com as Farc, com o bolivarianismo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o MST, a campanha de José Serra parece ter partido para um acirramento ideológico à direita. Essa mudança de tom pode dar certo do ponto de vista eleitoral?
Alberto Carlos de Almeida – Acho que não. O maior porém dessa estratégia é dar munição à campanha da Dilma e ao PT para mostrar que o Serra é contra o governo Lula. Há três semanas, Serra e a campanha tem feito um somatório de críticas. Não só às Farcs, mas também à construção de Belo Monte, às obras de Copa. Para mim, isso mostra falta de rumo porque o Serra começou a campanha, dizendo que daria continuidade ao governo Lula, com o slogan “O Brasil pode mais”. No começo da campanha, a Dilma disse que o Serra agia que nem biruta de aeroporto. No final das contas, ele está meio sem rumo mesmo. O Serra está fazendo o equivalente ao que o Lula fez em 1994 ao criticar o Plano Real. O Lula disse que o Plano Real era o Plano Cruzado dos ricos. Quando falou aquilo, ele ajudou o Fernando Henrique. Agora é a mesma coisa. Como há uma aprovação avassaladora do governo Lula, quando mais você o critica, mais você ajuda o governo. Do ponto de vista estratégico, a campanha do Serra, no fundo, está ajudando a campanha do governo.
Boca de Urna – O Serra começou a campanha com uma estratégia de não fazer críticas ao governo Lula. Por que houve essa guinada?
Almeida – A campanha é muito difícil para o Serra por conta da elevada aprovação do governo. Em 2002, quando ele disputou pela primeira vez a Presidência, ele foi candidato do governo, mas queria se afastar do governo FHC, que era impopular. Agora, ele é um candidato de oposição que, teoricamente, para ter sucesso, teria de se aproximar do governo, numa estratégia semelhante à adotada pelo Sebastián Piñera (político de direita, que foi eleito presidente do Chile em janeiro deste ano), que se colocou como continuidade do governo da ex-presidente Michelle Bachelet (socialista). Lá, o Piñera usou grandes símbolos, como a duplicação da licença maternidade, para mostrar essa continuidade. Essa inflexão da campanha do Serra mostra um conservadorismo. É uma campanha que não vai ousar. Ousar seria se aproximar em termos simbólicos do governo. Na pré-campanha, houve uma espécie de carta de intenções de fazer uma campanha próxima do governo, mas essa intenção não está sendo realizada nessa fase atual da campanha, em que o bicho pega. Imagino que deve ter havido muitos debates internos na campanha tucana sobre o posicionamento do candidato. Deve ter vencido a tese de que não adianta tentar mudar o posicionamento, porque o campo governista já está dominado pela Dilma.
Boca de Urna – O Serra deveria continuar então a linha de forçar uma comparação com a candidata Dilma Rousseff em termos de perfil e currículo?
Almeida - Sim, desde que isso não fosse algo abstrato. Não adianta dizer apenas que eu sou melhor do que a Dilma, vocês vão se dar conta disso e vão votar em mim. Você é melhor para quê? Com que objetivo? Por isso, eu digo que não pode ser uma comparação biográfica em abstrato. Comparação biográfica tem de visar a um objetivo concreto, que seria dar continuidade ao Lula em um tema específico: o aumento da capacidade do poder de compra da população. Esse é um tema que não tem estado na agenda de campanha do Serra.
Boca de Urna – Esse seria um discurso capaz de atrair a nova classe média emergente?
Almeida – Não só a classe média, mas também a classe mais baixa. Esse discurso pega todo mundo que seja do meio para baixo. As pessoas são muito sensíveis ao poder do aumento de compra. Quando o Serra enfatiza a questão da segurança pública e da saúde, é uma decisão equivocada em termos de obtenção de votos. Na hora de escolher um candidato, o que mais pesa para o eleitor brasileiro é saber quem acha que irá comprar aumentar a sua capacidade de compra. Não é segurança pública, nem saúde, porque o eleitor sabe que, no sistema brasileiro, essas atribuições são mais dos Estados e municípios que do governo federal.
Guilherme Evelin
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