José Paulo Kupfer
Pode ter sido apenas um passo ‘simbólico’, como afirmaram alguns analistas, mas a decisão do banco central americano de estender a política chamada de afrouxamento quantitativo sinaliza que algo não cheira bem na maior economia do mundo. Ainda é cedo para apostar no duplo mergulho, mas, em compensação, a probabilidade de que aconteça está aumentando.
A política de “afrouxamento quantitativo” consiste na compra, pelo Banco Central americano (Fed), de títulos no mercado. No auge da crise, a instituição comprou bônus lastreados em hipotecas de alto risco. Parte desses papéis está vencendo e o Fed, em vez de liquidar a operação, decidiu usar os recursos para comprar títulos do próprio governo americano. O objetivo é jogar mais dinheiro na economia. Com isso, acredita, continuará estimulando a atividade econômica.
Só se prolonga uma medida, digamos, heterodoxa como essa, se a economia não responde como se esperava. É o que parece estar acontecendo. O PIB americano do segundo trimestre, por exemplo, mostrou números bem inferiores ao dos três primeiros meses do ano.
O aumento da perspectiva de um novo mergulho dos Estados Unidos numa deflação não é uma boa notícia para economia global – Brasil incluído. A esperança é que, depois desse primeiro sinal, se confirme a disposição do Fed para romper com dogmas econômicos.
Nesses tempos de exacerbação fiscalista, um dos principais complicadores para uma saída da crise é o fato singelo de que, numa conjuntura de deflação, não é possível, por definição, defender a ideia de que sempre devemos perseguir um pouco menos de inflação.
Mesmo assim, políticas deflacionárias continuam sendo aviadas. É difícil entender como políticas deflacionárias – de contenção de déficits públicos e contração monetária – possam operar, positivamente, num quadro de deflação. Se, como afirmam seus defensores, tal política é eficaz para conter surtos inflacionários, fará sentido recorrer a ela para fazer o serviço inverso?
O mais sensato, para escapar de uma deflação, pareceria ser, simplesmente, inverter o roteiro: elevar os gastos públicos e afrouxar a política monetária. É o que têm martelado analistas de prestígio, como o Prêmio Nobel Paul Krugman (lei o blog do Krugman, publicado aqui no site E&N do Portal Estadão) e o colunista do Financial Time Martin Wolf. Não sem levar bordoadas.
Será que a cartilha vencerá o bom senso? O Fed – ufa! – parece responder com um ainda tímido, mas esperançoso “não”.
L3R ? 3NT40 CL1K N0 4NÚNC10 QU3 T3 1NT3R3SS4 ! 4GR4D3Ç0 !
Nenhum comentário:
Postar um comentário