Tão fascinante quanto nebuloso, segue o debate sobre o que há de ruptura ou continuidade no governo Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao de Fernando Henrique Cardoso. Neste fim de semana FHC voltou ao tema, com a bem humorada expressão “marca original do fabricante”.
FHC tem razão quando reivindica não ter havido no governo Lula mudança relevante na arquitetura institucional, especialmente nos mecanismos econômicos.
Segue firme o tripé responsabilidade fiscal, metas de inflação e câmbio flutuante (este último, meio de mentirinha). Vão intactos o esqueleto das agências reguladoras e as normas de como regular. E de tempos em tempos o Comitê de Política Monetária define autonomamente a taxa básica de juros.
Mesmo em relação às privatizações, a crítica do PT ao PSDB é essencialmente propagandística. O governo do PT não reestatizou nenhuma das empresas privatizadas por FHC. Esse é um fato. Nem tomou, uma vez no poder, qualquer iniciativa para que se investigasse a venda das estatais no governo tucano. Esse é outro fato.
Fez assim por estar convicto ou por ser mais conveniente? Mas a colocação de tal dúvida apenas reforçaria outra tese oposicionista: o PT está disposto a abrir mão de toda convicção, ou mesmo da defesa dos legítimos interesses nacionais, desde que haja conveniência.
Teorias à parte, é mesmo curioso que o PT não tenha tocado no assunto das privatizações, a não ser para constranger a oposição. Um argumento possível é o batido “vamos olhar para adiante, e não para trás”, mas ele é raso. Todo governo tem obrigação de corrigir o que encontra de errado ao assumir. Aliás, essa é uma das razões de o eleitor votar na oposição.
A não ser que falte força para tanto. Mas daí decorre outra suposição: se alguém deixa de fazer algo hoje só por debilidade política, é razoável supor que o fará quando reunir as energias suficientes.
O PT tornou-se o maior e mais forte partido brasileiro. Uma vez no governo, mostrou-se competente para levar o país a crescer algo mais que antes, ampliou os programas sociais, deu uma bela turbinada no salário mínimo e no crédito. E tem Lula, o comunicador.
Em condições tão favoráveis, seria ingenuidade o partido embrenhar-se agora pelo debate ideológico, programático. Muito mais inteligente é o que está fazendo. Pergunta a toda hora “se a situação está boa, por que mudar?”.
Mas aqui aparece a curiosidade do jornalista. Qual é hoje a ideia estratégica do PT para a sociedade brasileira? E para a economia brasileira? O que o partido deseja alterar na arquitetura institucional para o Brasil transformar-se numa nação como o PT acha que deve ser? Nada?
Fala-se da reforma política e da tributária. É um debate empobrecedor. A primeira tende a resumir-se ao voto em lista fechada (preordenada pelos partidos) e ao financiamento exclusivamente público das campanhas eleitorais. A segunda vai concentrar-se na supressão da guerra fiscal pelos estados.
É só isso mesmo? Então seria forçoso reconhecer que a proposta estratégica do PT se reduziu à “administração das coisas”. Governar de modo a incrementar a renda nacional e a distribuição dela, o que aparentemente (dizem os fatos do governo petista) seria possível sem rupturas no plano da propriedade e da democracia representativa (uma redundância).
Disse lá no começo que o debate é fascinante. Pois a lógica leva a concluir que a principal distinção entre PSDB e PT seria então gerencial. Com vantagem aparente para o segundo (dados os resultados). Discorda dessa redução? Então diga uma lei aprovada por FHC, das importantes, que o PT no poder mudou.
Claro que “gerencial” não pode ser tomado só pelo valor de face. Diferenças gerenciais costumam ter origem na política. Lula não apenas continuou os programas sociais de FHC, mas investiu neles um tanto que representou mudança de patamar. Haveria outros exemplos.
Mas todos quantitativos, no que a expressão é específica.
Ou esta coluna pode estar completamente na contramão. O Brasil com que sonha o PT será institucionalmente diferente do atual? Quem pode esclarecer? A candidata Dilma Rousseff.
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