Maria da Conceição Tavares sugere a Dilma controle de capitais

A 1a Conferência do Desenvolvimento, que termina hoje em Brasília, prestou uma homenagem aos 80 anos da professora e economista Maria da Conceição Tavares. 

Em retribuição, a professora fez uma palestra sobre Macroeconomia para o Desenvolvimento para um público que a aplaudiu de pé ao final de sua fala. Pontuada por palavras no superlativo, a economista defendeu para o governo Dilma Rousseff uma preocupação especial com a política externa econômica.

Maria da Conceição alerta Dilma para política externa econômica
“Pedimos um caminho duro de seguir: eu quero que distribua, mas não quero que a indústria vá para o espaço”, afirmou a economista.
Ela manifestou confiança na presidente eleita, a quem definiu como alguém de “coragem, sensibilidade e competência, que navegará nessas águas complicadas, principalmente no primeiro ano”, avaliou.


“Tenho muita fé na presidente, mas uma coisa é saber, outra é operar – não sei se a proporção de forças dos industriais pesam tanto quanto a dos banqueiros”, lembrando que “para sair dessa encrenca (crise econômica mundial), agora mais do que nunca, não dá para deixar para o mercado ou a divina providência. A solução é humana e de todo o governo”, enfatizou.

A economista acredita que até o fim dessa década vamos erradicar a miséria e nos aproximar dos países desenvolvidos, mas “para que isso ocorra não podemos fazer coisas que abortem essas intenções.” Ela admitiu que a macroeconomia está em estado cataléptico e é preciso estar atento para que as políticas adotadas pelos demais países não prejudiquem o desenvolvimento das nações que dele precisam. 

Evitar contaminação

Para que o Brasil não seja contaminado pela crise econômica de 2008/2009, que colocou na insolvência os países da Europa, Maria da Conceição sugere que o governo Dilma Rousseff faça o controle de capitais. “O controle quantitativo”, explica, acrescentando que “deve aumentar o compulsório, controlar o crédito, mas não puxar as taxas de juros, porque é ineficiente e piora a situação.”

Ela lembrou que esta sugestão já foi dada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) que admitiu que “a situação está tão preta que é preciso controlar capitais”. Ela elogiou a formação da equipe econômica anunciada pela presidente eleita, “formada de gente discreta, que não são vedetes, que vão colaborar para não fazer uma política para lá e outra para cá”, em crítica velada a disputa entre Henrique Meirelles, no Banco Central e Guido Mantega, na Fazenda, durante o Governo Lula. 

Santo de barro

Também admitiu que a presidente eleita tem razão quando diz que vai baixar a taxa de juros lentamente e o câmbio devagar. E usou o ditado “cuidado com o andor que o santo é de barro”, para afastar a possibilidade de algum choque econômico.

Ela elogiou a posição do Brasil, dizendo que ao contrário dos países da Europa, não é nada catastrófica. No entanto, destacou que “não quero que se fique esperando sentado até o G20 resolva a nova ordem mundial. Está uma desordem e vai continuar uma desordem”, afirmou, dizendo que a posição do governo internamente deve ser a mesma adotada nos fóruns internacionais.

“O Brasil pode e deve falar nos fóruns internacionais com autonomia e agir para dentro com autonomia, que é o que se quer de um país soberano”, afirmou. Segundo a professora, a defesa soberana do Brasil tem que se basear na política cambial e balanço de pagamento, senão, não conseguiremos ter o desenvolvimento sustentável desejado, anuncia Maria da Conceição.

Caminho duro

Disse que “o eixo social está correto, mas se não cuidar da parte cambial não conseguiremos fazer política industrial e tecnológica, vamos regredir na industrialização, que é o contrário do desenvolvimento”. Ao mesmo tempo lembrou que não acredita que apenas o crescimento da indústria represente distribuição: “você pode crescer a 7% e não distribuir porcaria nenhuma.” 

E explicou: “Pedimos um caminho duro de seguir: eu quero que distribua, mas não quero que a indústria vá para o espaço. Não dá para recuar no econômico”, disse, destacando que o Brasil não deve copiar modelos macroeconômicos que atrapalhem o seu desenvolvimento. 

E apontou como outra decisão importante a ser adotada pelo governo o corte no gasto não produtivo. O que precisa, na opinião dela – opinião muito aplaudida pela platéia –, é cortar despesas irrelevantes como salários dos juizes e deputados. “O Congresso e a Justiça não geram receita, portanto não podem gerar despesas.” E, indignada, indagou porque não pode subir o salário mínimo.

Para ela, o governo tem que estar atento para fazer política macroeconômica. Como o dólar se desvalorizou e os produtos brasileiros de exportação são cotados em dólar, subiu tudo, e os fornecedores são os mesmos que abastece o mercado interno. Essa é a contradição do câmbio, disse, lembrando que “a saída para atacar a inflação não é subir a taxa de juros, porque a inflação é de custo e não de demanda, a subida da taxa de juros tira a possibilidade de desenvolvimento.”

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