Respeitar às opiniões políticas dos adversários é um princípio básico da democracia, por isso, por exemplo, reproduzo aqui às opiniões pro-tucanas do articulista da Folha SP, Gilberto Dimenstein. Respeitar essas opiniões não significa concordar com elas, mas permitir que a divergência possa ficar evidenciada no conhecimento do que é exposto e defendido pelos argumentos pro-tucanos -no caso- de Dimenstein. Esse respeito, porem, não implica tolerar a proclamação de inverdades, como argumento para dar basamento a suas posições políticas.
Dimenstein utiliza uma pesquisa que mostra o grau de informação da população brasileira, ou de desinformação, para tentar explicar o porque da rejeição a FHC e ao que foi seu governo. Simplificando: FHC é rejeitado porque o povo é desinformado. Pior, nos critérios de Dimenstein, a própria elite rejeita FHC porque padece do mesmo mal que o povo, é desinformada.
Dimenstein poderia explicar o longo reinado dos tucanos em São Paulo e a eleição de Kassab com argumentos semelhantes. Mas não o faz, porque os tucanos sempre pretenderam que onde eles governam o povo é mais bem informado e que a ignorância é patrimônio exclusivo dos que apoiam Lula.
Para proceder a sua tentativa de reabilitação de FHC, Dimenstein nos “informa” sobre o que foi o governo FHC, repetindo o discurso do tucanato e ignorando os fatos que dão sustentação a informação que hoje uma grande maioria do povo brasileiro possui.
Como o povo e a elite não concorda com a informação que Dimenstein gostaria que ele engula, Dimenstein, arrogante, o acusa de ignorante.
Para ele “Lula não seria o Lula que está aí sem Fernando Henrique”, do qual ele seria a continuidade, como em “uma corrida de bastão” (Primeiro FHC, depois Lula, e agora…). Tudo progredindo no mesmo sentido, um melhorando o que o outro fez. E o Dimentein fala de desinformados?
O economista Delfim Netto também pensa que tudo mundo é desinformado, mas esse todo mundo soa como todos os da espêcie Dimenstein. Em entrevista de março de 2008, Delfim dizia: “O Fernando Henrique entregou o Brasil falido. Todo mundo se recusa a entender esse fato; em 2002, o Brasil estava (em tom enfático) fa-li-do”. (ver Delfim Neto abriu fogo: FHC entregou país “falido”). Contrariamente ao que “informa” Dimenstein, Lula herdou uma inflação em alta (projeção de 14%), juros altos, desemprego alto e endividamento alto. A pobreza estagnada e o crescimento econômico pifio.
Se a informação de Delfim não é válida para Dimenstein, ele poderia ao menos citar a do seu colega da Folha, Gustavo Patu, que dias atrás escreveu que o “crescimento econômico -goste-se ou não, o indicador mais universalmente utilizado para mensurar o sucesso das administrações nacionais.” e que desse ponto de vista “A renda nacional cresceu à média de 2,2% ao ano sob FHC e deve encerrar o período lulista com taxa anual de 3,7%”, ou seja quase o dobro. E Patu acrescenta, “Mais importante politicamente, o primeiro começou seu governo com expansão acelerada e terminou em estagnação, enquanto o segundo obteve o resultado inverso.” Segundo a informação de Patu, “dólar barato e gasto público sem amarras sustentaram a popularidade inicial de FHC e garantiram sua reeleição no primeiro turno, mas levaram o endividamento público de menos de 30% para quase 50% do Produto Interno Bruto.” Nem o famoso triplé da política econômica que os tucanos utilizam como argumento para pretender, como Dimenstein, que Lula copiou FHC, fica em pé na argumentação de Patu, pois ela foi ditada pelo FMI e só aceita a partir de 1999 depois do naufrágio do “populismo” cambial.
E a pobreza? segundo Patu, após o primeiro ano em 1994, “a pobreza permaneceu nos mesmos patamares no restante do governo tucano”.
Hoje, segundo Nakano (economista ligado ao PSDB) “O salário real médio aumentou em torno de 6% ao ano de 2004 a 2008. A isso se conjuga o fato de que entre 2003 e 2009 foram criados 8,5 milhões de novos postos de trabalho, gerando um poderoso círculo virtuoso de crescimento autossustetado”. E repete: com a ascensão da nova classe média, por causa do aumento do emprego com melhor remuneração, entraram 90 milhões de pessoas no mercado consumidor.”
“Marcelo Neri, PhD por Princenton e Chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV, comenta os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNDA). A partir de 2004, nada menos que 32 milhões subiram para as classes A e B e 19,3 milhões saíram da pobreza. “Dá para transformar o País rapidamente, aos saltos, embora a desigualdade continue grande. Precisa cair três vezes para convergir aos níveis dos EUA.”
(…) “O que cresceu foi a renda do trabalho e não aquela proveniente dos programas de socorro. O Bolsa-Família representa apenas 0,4% do PIB.”
Não estamos, portanto, afirmam ele e Nakano, diante de um processo passageiro (eu quase ia dar uma de cientista político e dizer “pontual”) que não tende a se sustentar, mas da criação de um círculo virtuoso de emprego-aumento de renda-consumo-produção e de novo emprego.”(Coluna de Alberto Tamer, Estadão de hoje).
Essa informação, sustentada nos dados da vida real e constatada por todos, constituí o fundamento da popularidade de Lula e da rejeição de FHC.
Demorou, mas mesmo uma boa parte da elite e os intelectuais acabou abrindo os olhos perante os fatos, e é isto que Dimenstein e FHC não suportam. Que Lula seja popular no Nordeste ou nos bairros pobres da periferia, tudo bem o povo é burro resmungam sottovoce, mas entre a elite, FHC ser menos popular que Gugu Liberato e Lula mais popular que Zezé de Camargo e William Bonner, e realmente demais.
Fica tranqüilo Dimenstein, Lula ainda é menos popular que FHC em uma certa elite paulistana.
Mas, para seu desconsolo, conhecendo essa elite paulistana e conservadora que prefere Brazil ao Brasil, daqui a pouco vai ser chique, como em Paris, Londres e New York, adorar o Lula. O que alias já está acontecendo na forma de “O Lula até que não foi tão ruim assim porque FHC deixou tudo direitinho e ele é muito sortudo, mas essa Dilma…”