O petróleo é nosso. O petróleo é da educação.
Dizer que a educação é o melhor investimento que um país pode fazer em benefício do seu futuro tornou-se um lugar comum, um surrado clichê. Mas nem por isso deixou ou deixará de ser a mais absoluta verdade. Uma verdade tão majestosa, tão óbvia, tamanha sua força, que deve ser sempre repetida.
Países que passaram por catástrofes, guerras civis, que protagonizaram ou se envolveram em conflitos internacionais, que se levantaram de derrotas monumentais, escolheram a educação como meio, como fim, como saída. Os Estados Unidos da América, arrasado pelo conflito do norte, avançado social e economicamente, contra um sul escravagista e empobrecido, levantou-se da Guerra da Secessão (1861-1865), investindo maciçamente na formação educacional de seus jovens, edificando escolas, inaugurando universidades. A educação uniu um povo traumatizado e serviu de base para a construção da maior das potências.
Não foi diferente com o velho, dogmático e oligárquico império do sol nascente. Devastado pela derrota, pelas bombas de Hiroshima e Nagasaki, atrasado pela estrutura latifundiária dos Shoguns, o Japão nasceu como gigante econômico apoiando-se no Plano Marshall, sob o comando de McArthur, um general com visão de estadista: reforma agrária, democratização da monarquia, opção pela vocação industrialista e... EDUCAÇÃO! O resultado está aí, mais de seis décadas depois, com a grande nação que sempre surpreende o mundo por sua tecnologia sempre inovada, força econômica e sólido regime democrático. E não foi diferente quando o formidável primeiro-ministro Konrad Adenauer, renascendo a Alemanhã arrasada pela derrota depois da aventura liberticida do nazismo, fez o mesmo. Dos escombros de um povo derrotado e faminto, nasceu – em muito poucos anos, por sinal – a potência que se firmou entre as maiores economias do mundo. Quase 20% de todo o orçamento do país que se reconstruía era direcionado à educação. Aos que crêem que apostar na educação é um bom investimento, a Alemanha em muito poucos anos respondeu afirmativamente.
Não há progresso econômico, nem desenvolvimento social, nem perenidade democrática, muito menos instituições duradouras e respeitáveis, se a base educacional de um país não for rigorosamente sólida. A educação não é a base de tudo: a educação é "apenas" tudo.
O Brasil, mais poderoso país da América Latina e uma das seis maiores economias do planeta, ainda se ressente de certas contradições. Uruguai, Argentina e o Chile, por exemplo, exibem alguns indicadores educacionais mais expressivos do que os nossos. Da alfabetização à universidade, dos bolsistas no exterior aos que cursam a pós-graduação ou fazem o mestrado. Como isso pode ocorrer? São países menores, menos ricos em suas dotações naturais e em suas estruturas econômicas. Mas, ocorre, sim. É que apostaram com mais vigor na educação de seus filhos, investiram mais, se preocuparam mais com a formação cultural e escolar de suas populações. Bom exemplo para nós, mas um sinal de alerta que não pode ser ignorado.
As iniciativas na área da educação no Brasil, ao longo de décadas, não deixaram de ser louváveis e devem merecer registro histórico. Foram isoladas, é verdade, mas aconteceram. Desde a preocupação de Pedro II com a formação universitária de nossos jovens, dotando o Brasil de uma base de profissionais com boa formação, até o apoio do governo autoritário de Getúlio Vargas ao trabalho de brasileiros geniais como Oscar Niemeyer (arquitetura), Heitor Villa-Lobos (música), Cândido Portinari (artes plásticas). Ai se definiu um formidável padrão estético para nossa cultura, já sacudida pela Semana de Arte Moderna de 1922. Nos anos 50 um baiano de larga visão, o reitor da UFBA professor Edgard Santos, reúne em Salvador renomados mestres brasileiros e europeus, da arquitetura à música, da medicina à engenharia, e dá largada à formação de gerações brilhantes de baianos que bebiam na fonte do ensino mais moderno e avançado, no primeiro e mais vigoroso experimento de fazer da educação um caminho seguro e rico para o futuro do país. Na Bahia dos anos 50, sob o comando de um príncipe da elite local, surgiu nossa mais revolucionária universidade!
O inesquecível Paulo Freire, com a pedagogia aplicada na alfabetização do povo, e o mestre Anísio Teixeira, revolucionando o ensino básico com suas escolas-parque e seu talento a serviço da educação e da liberdade, foram operários na construção desse país culto, sábio, letrado, democrático e exitoso que todos sonhamos. Seus ensinamentos, livros, iniciativas, continuam sendo aplicadas, atemporais e brilhantes.
A ditadura militar, em seus longos 21 anos, não reservou-nos boas surpresas na área. Legou-nos uma universidade amordaçada, cientistas no exílio, estudantes na cadeia, professores aposentados pelo AI-5. Nada mais. Nos anos 90, com o experimento do neoliberalismo de FHC, a educação não foi vista com lentes de aumento, nem mereceu um centavo a mais, só a menos. Foi uma década infame e perdida. A história, caprichosa e pontual, em 2002 começou a mudar o seu curso com a eleição do presidente Lula e a chegada do PT ao poder. Em menos de dois anos os indicadores da educação já se apresentam mais satisfatórios. Em 2006, quando Lula é reeleito, a universidade dá sinais de revigoramento e o ensino básico já mostra outra feição. A educação, enfim, passa a ser um investimento, uma aposta, um norte, uma saudável obsessão do governo federal.
Com os programas sociais, o país muda. A perversão de certa elite, que se mostrava indiferente diante da fome de milhões de irmãos brasileiros, é enfrentada pelo Fome Zero. As correntes que trancavam os portais de nossas universidades aos negros, aos pobres e aos indígenas, são rompidas. O fosso que separava o saber da cidadania, é aterrado pela política de cotas, não sem o protesto estridente, racista, soturno, de supostos intelectuais, da mídia conservadora, dos que passaram a dividir o espaço universitário com os filhos do Brasil profundo, sofrido e verdadeiro.
A decisão da presidente Dilma de destinar recursos da produção petroleira para a educação pública é uma das mais importantes ações de governo em todos os tempos. Dilma não fez política, fez história.
Os operários e engenheiros da Petrobrás, isolados nas plataformas oceânicas de exploração petrolífera, tem agora um motivo extra para continuar trabalhando pela riqueza de nossa Pátria: cada barril de nosso petróleo terá muito mais valor do que antes, pois agora financiam a formação do Brasil que nós sempre sonhamos.
O petróleo é nosso. O petróleo é da educação.