Eles não conseguem esquecer

A tucademopiganalhada não consegue esquecer Lula...

Faz uma semana hoje que o Brasil mudou de presidente. Como todo mundo viu, saiu Lula, entrou Dilma, um novo governo assumiu, a roda da história girou, a fila andou. Para certos setores da imprensa brasileira, no entanto,  que até hoje não se conformam com a vitória de Lula em 2002 e 2006, e o sucesso dos oito anos de seu governo, aprovado ao final por 87% da população, é como se nada houvesse mudado.

Parece obsessão _ e é. Entre as perturbações mentais mais comuns, a obsessão compulsiva caracteriza-se pela presença de ideias, de imagens ou de impulsos recorrentes, segundo o Manual Muck da Biblioteca Médica Online.

Dia sim, noutro também, eles não conseguem virar o disco, mudar de assunto. Lula continua sendo o assunto dominante nas manchetes, nas colunas, nos blogs. A única diferença é que, quando ele ainda estava no governo, o presidente respondia aos ataques no mesmo tom, dando a sua versão dos fatos, o que levava a imprensa a falar em ameaças à liberdade de expressão.

Agora, não. É um monólogo do pensamento único. Só um lado investiga, denuncia e julga, sem dar tempo para que as instituições se manifestem. Até entendo o comportamente de editores, colunistas, blogueiros e repórteres da grande mídia, que afinal ganham para isso ou pensam mesmo aquilo que escrevem em seu nicho de mercado.

Mas o massacre é de tal ordem que atingiu até alguns leitores do Balaio, principalmente aqueles que usam codinomes; não importa o tema tratado, escrevem comentários com a mesma ferocidade dos tempos da campanha eleitoral que acabou faz mais de dois meses.

Neste clima, pouco importa se o ex-presidente tem ou não razão ou direito nos atos adotados em seus últimos dias de governo e na primeira semana depois de passar a faixa. Nem tudo o que a lei permite é eticamente recomendável, eu sei. Não estou aqui para julgá-lo ou defendê-lo, não ganho para isso. Posso discordar dele em várias coisas, mas me espanta o tratamento raivoso e vingativo dado a Lula fora do governo em comparação aos seus antecessores.

Qualquer coisa que o agora ex-presidente faça ou deixe de fazer é motivo de críticas, denúncias, editoriais irados, como se devesse simplesmente desaparecer do mapa para ter um pouco de paz.

Nestes primeiros dias de 2011, procurei tratar de assuntos mais amenos, fugir da eterna pauta política de confronto entre governo e oposição, mas está difícil. Cada um entende o que quer, enxerga intenções que não tive e usa qualquer argumento para avivar a guerra ideológica. Até quando?

Agora vou à praia, atendendo a um convite do sol.

Bom dia a todos.

Ricardo Kotscho



“SP está cada vez mais preparada para as chuvas”

Diz o secretário Ronaldo Camargo, nomeado por Gilberto Kassab
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PIG é contra a democracia

Trechos do artigo de Silvio Waisbord, professor de Jornalismo e Comunicação Política na  George Washington University. La Nacion (12).
            
1. O que é jornalismo militante? É o que defende um governo ou partido independente dos erros? É ideologicamente puro ou é uma criatura da realpolitik disposta a tolerar qualquer negociação política? É o jornalismo que informa sobre questões que estritamente combinam com a agenda política de um governo?
            
2. A ideia de um jornalismo militante como apêndice de um governo é problemática para a democracia, que não precisa de uma imprensa que sirva de porta-voz de nenhum oficialismo. Idealmente, o jornalismo deve ser cético frente ao poder e não ser crítico apenas segundo a cor política ou ideológica de quem detém o poder. Deve mostrar os dados da realidade porque os governos tendem a produzir e crer nas suas próprias realidades.
           
3. Deve investigar o governo porque o poder quase sempre mantém lugares obscuros. Deve estimular os cidadãos a conhecer o que ignoram, em vez de confirmar suas preconcepções militantes. Deve incrementar oportunidades para a expressão da cidadania e organizações da sociedade civil e não ser ventríloquo dos que estão rodeados de microfones.
           
4. Como destacou Walter Lippmann, um dos colunistas mais influentes nos EUA durante o século passado: "Sem jornalismo crítico, confiável e inteligente, o governo não pode governar". O melhor jornalismo não é aquele que marcha perfilado junto com um governo. A última década da imprensa mundial confirma que o bom jornalismo não joga rosas na passagem das autoridades ou varre a sujeira para debaixo do tapete da lealdade com o governo.



Ex-blog do Cesar Maia

UPP: Também um programa contra a remoção de favelas


Cesar Maia

linha

                 
1. Desde o Plano Agache -1928/1932- que a discussão sobre urbanização/fixação versus remoção/reassentamento de favelas está posta. Ganhou destaque no início dos anos 40, com a remoção das favelas do 'Largo da Memória' (25/05/1942), onde hoje é o BMP da Bartolomeu Mitre no Leblon, e 'Cidade Maravilhosa' (onde hoje é o CR. Flamengo). O prefeito Dodsworth ofereceu como alternativa os Parques Proletários, condomínios fechados de reassentamento popular. O primeiro desses ficava entre -hoje- os Pilotis da PUC e o Planetário da Gávea.
                    
2. O debate seguiu nos anos 40, com o vereador Carlos Lacerda -paradoxalmente- em uma série de artigos, propondo urbanização/fixação. As ações dos proprietários de áreas favelizadas -Mangueira, Turano, Salgueiro...-, pedindo a retomada de posse, foram derrotadas no Supremo Tribunal, defesa que antecipa o uso capião feita por advogados ligados aos movimentos populares. O prefeito Mendes de Moraes realiza o primeiro censo de favelas, chegando a uma proporção de 17% da população. Pressões levaram a  mudar os critérios em relação à altura e número de barracos, de forma a baixar o número encontrado. O censo de 1950, com este novo critério, acusou 9% de favelados no Rio-Distrito Federal.
                    
3. Entre 1957-1958 o debate ganha intensidade com estudo de campo realizado pela PUC e publicado pelo Estado de SP e grupo nomeado pelo prefeito Negrão de Lima com vistas à urbanização, com a primeira experiência em Brás de Pina. Mais tarde, seria Negrão de Lima -governador- que realizaria o maior programa de remoção de favelas (na zona sul), ampliando o programa iniciado pelo governador Carlos Lacerda. Portanto, entre 1960 e 1970 a tese da remoção, apoiada pelo regime de 1964 e recursos da USAID e Aliança para o Progresso, ganha destaque.
                    
4. Com o processo de democratização nos anos 80, o debate retorna, mas já com a hegemonia dos que defendem a urbanização/fixação. Isso soma sociólogos urbanos, urbanistas -de tendências mais a esquerda- que afirmam que as favelas são equipamentos  constituintes da cidade e que, portanto, caberia urbanizá-las e corrigir abusos (áreas de risco, de preservação ambiental...) na margem. O governo Brizola dá base política à tese da urbanização/fixação e implanta um programa de urbanizações pontuais, o Mutirão Remunerado. Nos anos 90, o BID e a Prefeitura do Rio assinam contrato dando a urbanização de favelas -médias e pequenas- o caráter de integração urbana e social à cidade. 600 mil pessoas foram atendidas.
                    
5. Mas o debate retorna nos anos 2000, curiosamente quando o crescimento da população em favelas -conforme mostrou o censo de 2010- passou a ser igual a taxa de natalidade, considerado um piso para o crescimento e um objetivo urbano. Fotos e matérias publicadas voltaram a excitar a tese da remoção, a partir da justificativa de áreas de risco como elemento de legitimação.
                   
6. No entanto, a entrada das UPPs volta a dar destaque, e hegemonia, à tese da urbanização/fixação. Com a saída dos traficantes e o foco nessas comunidades -praticamente todas em bairros de classe média- levando a elas personalidades, eventos, serviços, ideias..., as UPPs têm como desdobramento a percepção de que o problema não eram essas favelas, mas sim o domínio do tráfico de drogas.
                    
7. A cobertura feita pela imprensa -jornais, rádios e TVs- os depoimentos, artigos escritos, análises..., em nenhum deles foi colocado por quem quer que seja que a alternativa seria a remoção. Inclusive, aquela que ocupa morro com a maior inclinação e, portanto, de complexa urbanização, é a que ganhou o maior destaque quanto ao sucesso da UPP e a sua fixação definitiva, intensificada pelas ações que se sucederam. Desta forma, a UPP é hoje um elemento chave que legitima a tese da urbanização/fixação das favelas existentes.
                  
8. Um elemento a mais de atratividade para que a população delas demande suas UPPs. Será a garantia de fixação/urbanização.

                                          

INTRIGANTE AVALIAÇÃO DE PREFEITOS DE CAPITAIS DO NORDESTE!
                    
1. O Nordeste deu ao governo Lula as melhores avaliações entre todas as regiões do Brasil. Deu a maior proporção de votos a Dilma para presidente. A avaliação dos governadores de três grandes estados do Nordeste, feita pelo Datafolha no final de novembro, repetiu essa tendência. Veja só a avaliação de ótimo+bom: Pernambuco 80%, Ceará 65%, Bahia 60%.
                    
2. Mas, no mesmo momento, as avaliações dos prefeitos das capitais desses três estados do Nordeste foram muito negativas. Prefeito de Recife teve 24% de ótimo+bom e 34% de ruim+péssimo. Prefeita de Fortaleza teve 22% de ótimo+bom e 50% de ruim+péssimo. E prefeito de Salvador 18% de ótimo+bom e 45% de ruim+péssimo.
                    
3. Esses três prefeitos são da base do governo, sendo que os de Recife e Fortaleza são do PT. No mínimo, não contribuíram nada -ao contrário- para a vitória de Dilma.

                                                * * *

TAXA DE CÂMBIO E TAXA DE JUROS!
            
(Delfim Neto - Folha SP, 12) Enquanto a diferença entre a taxa de juros real interna e a externa continuar superior ao "risco Brasil", a taxa de câmbio nunca será o velho preço relativo que assegurava o valor do fluxo dos importados com o dos exportados. Continuará a ser o que é hoje: um ativo financeiro nos milhões de portfólios dos agentes que frequentam o imenso mercado internacional de moeda, cerca de 20 vezes maior que o valor dos de bens e serviços comercializados.


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Um BC mais humilde

A grande construção
Antonio Delfim Netto – VALOR

A eleição da presidente Dilma Rousseff foi mais uma sólida manifestação do regime democrático que está em construção desde a Constituição de 1988. Sem nenhum embaraço e sem nenhuma surpresa, o povo expressou livremente e com toda a tranquilidade a sua opinião: escolheu quem deve conduzi-lo. A veracidade e a velocidade da apuração deram a maior demonstração externa do nosso progresso em direção à democracia.

A partir da Constituição, as instituições estão cada vez mais sólidas. Os três poderes têm exercido suas funções de forma aceitável e independente. Temos um Estado-indutor bastante satisfatório (talvez um pouco inchado). Adotamos uma política econômica canônica (usada por uma centena de países) e ninguém mais se propõe a inventar a roda! Temos um equilíbrio fiscal razoável e uma redução lenta da relação dívida/PIB.

Podíamos ter feito um pouco melhor, mas estamos bastante bem quando nos olhamos com relação ao mundo. Temos um Banco Central operacionalmente autônomo, que realiza uma política monetária que pode ser criticada pontualmente, mas que, se deve reconhecer, tem se comportado moderadamente bem. E temos um sistema de câmbio que flutua de forma exagerada por conta do diferencial de juros interno e externo, de forma que não há muito o que fazer, a não ser reduzi-lo.

Há pelo menos seis meses, temos um BC mais humilde

Essas políticas correspondem à preferência revelada pela sociedade brasileira na Constituição de 1988: dar aos brasileiros igualdade de oportunidades para que cada um possa construir a sua vida independentemente do controle do Estado. Precisamos que o governo entenda isso, porque ele também está regulado constitucionalmente. Estamos construindo uma sociedade republicana onde ninguém está acima da lei: nem o Estado, nem o cidadão.

É preciso chamar a atenção para esse fato, porque, provavelmente, nenhum país emergente importante tem uma instituição como nosso Supremo Tribunal Federal que funciona como o "garante" das nossas liberdades individuais. Tem resistido à gritaria das ruas que muitas vezes, indevidamente informada, quer "vingança", enquanto ele deve fazer "Justiça".

Trata-se, agora, de continuar a aperfeiçoar o funcionamento de nossas instituições (tanto no nível macro como micro), e de harmonizar as políticas fiscal e monetária para poder reduzir a nossa taxa de juro real até o nível da taxa de juro real do mundo. Para acelerar o desenvolvimento do país sem criar problemas internos (inflação) e externos (déficit em conta corrente que um dia se torna não financiável), é preciso que o Estado-indutor seja amigável com relação ao setor privado, mas suficientemente forte para arbitrar com inteligência e justiça a distribuição do excedente entre o capital e o trabalho, de maneira a acomodar o intransponível "trade-off" entre a velocidade da distribuição e a velocidade do crescimento.

Essas são questões importantes, porque o mundo está mudando muito depressa. Não tenhamos ilusão: o vento a favor que soprou de 2003 a 2008 terminou! Teremos agora vento contra (pelo menos nos próximos anos) e precisamos nos preparar para enfrentá-lo externamente. Internamente, temos todas as condições para continuar a construir um mercado bastante ativo e robusto.

Por outro lado, ao contrário do terrorismo que temos visto das analises financeiras, o setor real da economia mundial dá sinais de recuperação. Em dezembro de 2010, dos 22 países que divulgaram índices de atividade industrial, 12 revelaram forte expansão, 8 expansão moderada (incluindo Brasil) e apenas 2 (Grécia e Japão) ainda registravam contração. Nos EUA, que talvez cresçam mais do que 3% em 2011, o setor de construção começa a dar sinais de vida e (depois do resultado das eleições) parece que os empresários (com US$ 2 trilhões em caixa) começam a ampliar os investimentos.

Um ponto positivo é que há pelo menos seis meses temos um Banco Central mais humilde, mais cuidadoso e menos dogmático, que reconhece: 1) que a taxa de juros real de equilíbrio no Brasil é menor do que aquela que indicam os "cientistas" do mercado financeiro; 2) que a distância temporal entre a causa (o aumento do juro) e o seu efeito (a queda da inflação) é muito variável; e 3) que o cálculo do produto potencial é problemático, para dizer o menos.

O ilustre professor Bacha disse, em recente entrevista a este jornal, que eu não acredito que exista um produto potencial. Eu acredito. O que não acredito é que nem o mais sofisticado economista, com toda a sua econometria e dispondo do mais avançado computador da Nasa, seja capaz de calculá-lo, mesmo porque, como é intuitivo, ele depende dos incentivos do setor privado. E os erros lineares dos economistas têm custos exponenciais para a sociedade!

Como faziam os velhos obstetras do passado, só o "toque" e a experiência de quem está fazendo a política monetária pode "senti-lo", porque ela é 90% de arte e 10% de ciência.

O importante é que, a pouco e pouco, com um processo lento, mas seguro, estamos construindo o aperfeiçoamento institucional que corresponde às necessidades da República Federativa que o Brasil explicitou na Constituição de 1988.

Antonio Delfim Netto

E-mail contatodelfimnetto@terra.com.br


Grandes desequilíbrios entre credores e devedores gerados pela crise mundial de 2007/2008 formam uma cicatriz planetária que ainda não se fechou

Qual é a bola da vez?...
Portugal, Espanha?...
A ferida continua aberta...

O rastilho de contaminação dos balanços chegou à contabilidade dos Estados nacionais. Pressionados a socorrer bancos, famílias e especuladores, governos assumiram dívidas privadas e agora são coagidos pelos próprios mercados a promover ajustes de gastos sociais para garantir o pagamento de juros sobre seus déficits. Arisco, o dinheiro especulativo exige mais e mais cortes, mais e mais  juros  na rolagem de dívidas públicas mais e mais explosivas.

O jornal Financial Times tomou o pulso desse confronto silencioso colhendo previsões e sentenças de conselheiros e gestores dos grandes fundos mundiais , cujos impulsos nervosos poderão decidir a sorte de povos, governos e nações nos próximos meses. A Europa é a usina da turbulência. Mas ninguém está a salvo. Quem será a bola da vez? Excertos das opiniões colhidas pelo FT, em tradução do Valor:

  • " Primeiro foram os lares, depois os bancos, o setor privado e agora os governos" ( Mohamed El-Erian, executivo-chefe do Pimco, um dos maiores fundos de investidores do mundo). 'Os próximos meses deverão se mostrar vitais. Governos da zona do euro precisam captar bilhões de euros; companhias dos chamados países periféricos da zona do euro, incluindo Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, têm necessidades parecidas" ( Steven Major, diretor de análises do HSBC).

  • Tudo isso está alimentando especulações de um conflito iminente entre credores e devedores globais, com grandes implicações para os países mais endividados. Teremos essas batalhas entre credores e devedores" (Matt King, diretor de estratégia de crédito do Citigroup).  

  • "Um grande fator diferenciador é a soberania ". (Steven Major, do HSBC, sobre o poder dos Estados de  responderem às pressões com medidas fiscais e monetárias em defesa do interesse social.) 


Eleição presidencial - 2014

Fosse a oposição tucademo menos incompetente se uniria e [contraditóriamente] lançaria dois candidatos a presidência. Pelo PSDB [Aécio Neves], pelo DEM [José Serra}. Perderiam a eleição do mesmo jeito, tanto faz que o candidato seja Dilma, Lula ou qualquer outro candidato(a) do governo PT. Mas, pelo menos nos daria o prazer de disputar. Ganhar fácil não tem gosto é insosso, sem sabor.